"Uma ostra baila,
Bem no meio de sua concha;
Ela recebe a gota d'água,
Que endurece, e vira pérola.
O céu lança às vezes o que se vê de mais belo...”.
Do poema Gota d'água (Jean Frain du Tremblay)
A pérola, símbolo da beleza natural perene, desde a noite dos tempos vai ser cobiçada como um tesouro precioso, um dos mais desejáveis da história da humanidade. Por ser a única que já nasce pronta, "lapidada", foi chamada de Rainha das Gemas, a primeira a ter o status de "preciosa".
Os mitos que tentaram explicar sua origem, a apresentavam como produto de alguma ação divina.
Para os hindus elas eram formadas quando gotas de água caídas do céu tocavam as águas dos oceanos. As primeiras teriam sido retiradas do fundo do mar por Krishna, encarnação do amor, que as usou nas jóias de casamento de sua filha Pandaya.
Segundo os gregos, das ondas do mar emergiu Afrodite, a bela deusa do amor. As gotas d'água que caíram de seus cabelos dourados se cristalizaram, se transformando em preciosas pérolas, que herdaram da deusa a beleza e a sensualidade.
Os chineses acreditavam que as ostras eram fecundadas pelos raios durante as tempestades, dando origem às pérolas, que cresciam sob o efeito da luz da lua. Para os persas elas eram as lágrimas dos deuses.
Com o status de criação mística e portadora de poderes sobrenaturais, a obsessão dos homens pelas pérolas era alimentada, sobretudo por motivações espirituais e supersticiosas.
Símbolo de pureza, ela foi mencionada nos principais livros sagrados da antiguidade. Hebreus e árabes as usaram com significados simbólicos.
No Antigo Testamento são mencionadas no Livro de Jó, nos Provérbios de Salomão e no Livro dos Salmos: “... Entra agora a princesa, belíssima, vestida com pérolas e brocados."
São citadas também no Novo Testamento: "Não dêem aos cães o que é santo, nem atirem pérolas aos porcos..." (São Mateus 7, 6); O Apocalipse diz que no paraíso (a Nova Jerusalém) "as doze portas são doze pérolas. Cada uma das portas é feita de uma só pérola... "
A profundidade da afeição dos árabes pelas pérolas está consagrada no Alcorão, especialmente dentro de sua descrição do Paraíso, que diz: "As pedras são pérolas e jacintos; os frutos das árvores são pérolas e esmeraldas e cada pessoa admitida para as delícias do reino celestial é fornecida com uma tenda de pérolas, jacintos e esmeraldas; é coroado com pérolas de brilho incomparável, e é atendido por lindas donzelas que se assemelham a pérolas escondidas”.
Também serão usadas pra enriquecer os objetos de culto religioso. A partir da cristianização do Império Romano, a esplendorosa joalheria bizantina se voltou para os altares, imagens, relicários, cálices, crucifixos e ostensórios, confeccionados em ouro e cravadas de muitas pérolas e gemas coloridas.
Seja como símbolo de poder, de status ou de luxo, vão exercer grande fascínio sobre o homem, da antiguidade aos dias de hoje.
Os gregos as conheceram através dos fenícios, que as comercializavam a partir do Golfo Pérsico. Homens e mulheres as usaram em colares e braceletes. "Essas gemas cintilantes pendiam de suas orelhas como três gotas luminosas", escreveu Homero na Ilíada, ao mencionar os brincos de Hera.
Cleópatra, que tinha origem grega, para convencer Roma de seu poder e riqueza, apostou com Marco Antonio que ofereceria o jantar mais caro da história. Esmagou uma das enormes pérolas que compunham seus brincos, dissolveu-a em uma taça com vinagre e bebeu, ganhando a aposta.
Os romanos herdaram dos gregos a admiração por elas, e o seu nome "margarita". Eram usadas enfileiradas nos diademas imperiais romanos, alternadas com gemas coloridas e folhas de louro.
O excêntrico Calígula, ao nomear cônsul o seu cavalo Incitatus, o enfeitou com riquíssimos colares de pérolas.
No auge do Império Romano, quando a febre de pérolas atingiu o seu ápice, o historiador Suetônio escreveu que eram tão valiosas que Vitélio financiou toda uma campanha militar vendendo apenas um dos brincos de pérola de sua mãe.
Em Bizâncio, capital do Império Romano do Oriente, durante o reinado de Justiniano seu uso só era permitido à família imperial. O imperador e a imperatriz Teodora usavam verdadeiras cascatas de pérolas, seja na coroa, nos colares e nos bordados de suas roupas.
Marco Polo escreveu sobre o Rei de Malabar, coberto de colares e braceletes de pérolas, todas colhidas em seu reino. Seu trono era todo de ouro, pérolas e outras pedras preciosas, e sobre ele pousava um pavão com uma enorme pérola em formato de pêra presa ao pescoço.
O luxo foi uma característica durante o renascimento na Europa, e como símbolo de poder e status, as pérolas adornavam os trajes e as jóias, além de enriquecer os penteados. Os mais poderosos mantinham pintores em suas cortes, e os maravilhosos retratos da época atestam o valor das pérolas. A mais bela mulher da época foi retratada por vários pintores, como musa, como ninfa, como madona, geralmente adornada com as belas gemas. Num dos quadros mais famosos, o "Nascimento de Vênus" de Boticcelli, ela encarnou a deusa da beleza saindo de uma concha, tal qual uma pérola. Seu nome era Simonetta Vespúcio, casada com um primo do navegador Américo Vespúcio.
Os navegadores, na era dos grandes descobrimentos, além de ouro e especiarias, procuravam pérolas.
Desde os primeiros contatos com os indígenas do Novo Mundo, os espanhóis encontraram nas pérolas dos colares e braceletes usados pelos índios do caribe, os primeiros símbolos da riqueza das Américas. E nas águas do Novo Mundo foi encontrada a mais famosa, a Peregrina, a "rainha das pérolas".
As pérolas americanas, de água doce ou salgada, vão se juntar às pérolas do Oriente, para iluminar a realeza. Na dinastia Ming da China Imperial, no Império Otomano, nos principados dos Marajás indianos, nos reinos e impérios da França e da Espanha o brilho das pérolas vai iluminar os palácios. Mas quanto ao seu uso, as cortes da Inglaterra e da Rússia serão insuperáveis.
A Rainha Elizabeth I da Inglaterra foi a monarca mais obcecada por elas na história. E os tesouros dos czares se tornaram lenda, pelo esplendor das jóias e dos famosos ovos de Fabergé. Desse tesouro fazia parte um colar de raríssimas pérolas negras, as "pérolas das rainhas".
No século XIX a demanda era muita, e elas cada vez mais raras. Já se sabia que eram formadas no interior das ostras como reação à presença de um corpo estranho. Esse corpo, que pode ser um grão de areia, será o núcleo da pérola. Em 1897 os japoneses Kokichi Mikimoto, Tokichi Nishikawa e Tatsuei Mise, introduzindo o objeto estranho nas ostras criam o processo de cultura perlífera, uma revolução na história.
As Pérolas de Akoya, as Pérolas Brancas dos Mares do Sul e as Pérolas do Taití, negras com reflexos acinzentados, esverdeados, azulados, dourados, de qualidade insuperável, vão emprestar seu brilho às novas deusas e rainhas, as do cinema, do teatro e da música.
No Brasil, além de estarem na Coroa Imperial e terem brilhado nos colares de Carmen Miranda, as pérolas são musas. Brilham nas ruas, na televisão, na música e nas passarelas.
Mas é na maior das passarelas que brilha a mais preciosa PÉROLA NEGRA, a Jóia Rara do Samba.
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