Contava Tia Maria do
balaio grande que, há muitos anos, no tempo do
cativeiro, lá pelas bandas do Cafundó, perto de
Caxambu, as lavadeiras e os negros da senzala diziam
que os tropeiros, o padre, os coroinhas e o
sacristão falavam que em breve todos os escravos
seriam alforriados, iriam virar gente... Com
direitos e obrigações como qualquer pessoa!
Muito já se tinha
rezado, implorado, pedido por essa tal liberdade!
Negros já haviam rezado, louvado aos orixás,
realizadas as obrigações necessárias! Brancos de
alma nobre e boa vontade pediam a Jesus, a Virgem
Maria, enfim, a todos os santos conhecidos.
Políticos e
intelectuais também eram sensibilizados pela causa
abolicionista, e frequentemente, ocupavam as
tribunas pelo país a fora em discursos veementes em
defesa da emancipação do povo negro!
Porém, nas terras
bandas do Cafundó, Joaquim Manoel de Oliveira, era
dono de terras e muitas outras coisas, inclusive dos
negros. Mas, também era uma dessas boas almas que,
contagiadas por todo esse movimento social, cultural
e religiosos, resolveu se antecipar libertando seus
escravos e doando-lhes terras para que delas
tirassem seu sustento!
Assim, nesse clima de
expectativa, e em meio a esses felizardos, estavam
João Congo e Ricarda, que através do casamento
viriam a se tornar semente da combativa e orgulhosa
Vila do Cafundó, baluarte do trabalho comunitário,
da harmonia com a natureza, e das tradições
africanas de onde, inclusive, foi criada uma língua
própria!
Sim, juntando
vocábulos das mais variadas etnias formadoras do
povo das senzalas surgiu a cupópia, língua que preto
falava e branco não entendia! Obs: continua não
entendendo!
Essa linguagem tem
merecido estudos sociais, culturais e antropológicos
por ser um fenômeno de preservação cultural da
comunidade quilombola do Cafundó!