"O circo é como o trem: uma coisa
romântica, de uma grande ternura, do passado. É uma coisa prática para o
povo. Você vai a vontade. O circo tem de ser preservado. É uma dessas
coisas que jamais deveriam terminar"
Dercy Gonçalves
INTRODUÇÃO
O circo uma cultura única. Formado por
pessoas nômades, que precisão se encontrar com o público para o show
continuar. Que tipo de cultura é esta? A verdade é que muito já se falou sobre o
circo e continuarão a falar e a fazer as mesmas perguntas, matrizes
raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais
inestimável, as apresentações circenses nos renovam a cada espetáculo.
Antiga por criação, mas nova por adaptações, que surgem como uma
proposta nacional diferenciada.
Culturalmente nossas matrizes circenses
são formadoras de outro espetáculo, fortemente mestiçada, dinamizada por
um contexto sincrético e singularizada pela redefinição da alegria
contagiante que são traços culturais oriundos do nosso povo. Novo
inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa felicidade, de gente
batalhadora e trabalhadora, que mesmo sacrificado, atenta, comove e
diverte a todos sem distinção, com apenas um truque ou simplesmente um
sorriso.
Mostraremos como o circo surgiu, o caminho
árduo que o mesmo segue, e sua perspectiva para o futuro. Segundo o
autor Antonio Torres em seu livro “O circo no Brasil” A presença dessas
instituições no futuro, estarão em risco, depende de nós, não deixamos
esquecidos, os astros do picadeiro e a arte de brindar a cada
espetáculo, com a sua alegria ao ver nossa presença.
Isso é o circo, isso é o carnaval, isso é
o Brasil. Uma festa colorida, porque é democrática, mestiça, livre,
lavada em sangue de trabalhadores, sofrida e exaltada a cada espetáculo.
Com a vantagem de sempre ter no riso a paz que a alma procura, um clima
perfeito que fortalece os laços do simples mortal com o divino, deixando
a vida muito mais bela. Só quem acompanha esse ambiente sabe o
significado do sorriso de uma platéia.
Esse país tropical, que se orgulha da sua
cultura, hoje verá com muita dignidade, nossa agremiação orgulhosamente
apresentar em apenas quarenta e cinco minutos um espetáculo circense.
Enaltecendo, enriquecendo e valorizando, na visão de um conjunto único,
neste universo que também é sem igual: O Nosso Carnaval.
1º SETOR - SURGIU ASSIM...
Há registros, de que a arte circense
remonta ao período antes da era cristã, descobertas na China pinturas
rupestres com mais de quatro mil anos, em que aparecem acrobatas,
contorcionistas e equilibristas, mostram que esta arte pode ter sido
inventada na Ásia. Nas pirâmides do Egito, pinturas de malabaristas,
paradistas e de domadores também foram encontradas. Na Índia, há
milhares de anos, números de contorção e saltos faziam parte de
espetáculos sagrados e na Grécia Antiga, as paradas e os números de
força eram bem apreciadas, sendo os sátiros os primeiros palhaços, que
já faziam o povo gargalhar.
Os espetáculos desse período eram como as
procissões, que tinham o objetivo de saudar os generais vitoriosos.
Nesses cortejos, havia a doma, o desfile de animais exóticos e soldados
conduzindo os novos escravos, além de apresentações em argolas e barras,
que lembravam números da moderna ginástica olímpicas, a arte circense
nesta época tinha forte relação com esse esporte, com números baseados
em saltos e acrobacias. Os espetáculos tomaram impulso ainda no Império
Romano, quando seus anfiteatros recebiam apresentações de habilidades
dos gladiadores contra os leões, a importância e a grandiosidade desse
evento pode ser atestada pelo Circo Máximo de Roma, construído onde hoje
estão as ruínas do Coliseu Romano. Com a decadência do Império Romano,
os artistas ganham espaço nas praças públicas, nos adros das igrejas e,
sobretudo nas feiras, local onde a arte circense permaneceu. Esses
circos agrupados em pequenas companhias rodavam vilas, cidades e
castelos, em busca de lona, arquibancadas e de sustento. Para melhor
compreensão, deve-se fazer separação entre o circo e a arte circense.
A arte circense é o resultado de
performances incluem: habilidades físicas, equilíbrio na corda bamba,
saltos mortais, contorcionismo, elementos de teatro e dança, habilidades
em geral como andar de monociclo, domar animais, etc.
2º SETOR - O CIRCO MODERNO
"O circo, como nós conhecemos - um
picadeiro, lonas, mastros, trapézios, desfiles de animais - é a forma
moderna de antiqüíssimos entretenimentos de diversos povos e culturas"
Castro, 1998 pg. 16
O local físico, onde são feitas as
apresentações de arte circense, sofreu várias modificações. O seu
conjunto, com formato arredondado, picadeiro, cobertura de lona e
cercado de arquibancadas, só foi criado em 1770, dando origem ao circo
moderno, que é o que conhecemos hoje. Sendo reconhecido como pai do
circo moderno Phip Astley, suboficial inglês que comandava apresentações
da cavalaria, em seu circo, além das atrações com cavalos, Astley abriu
uma filial em Paris, colocou Saltimbancos, saltadores e palhaços.
Entretanto, este circo tinha uma estrutura fixa, diferente dos circos
modernos atuais. Mais tarde, alguns países da Europa como Suécia,
Espanha, Alemanha e Rússia, começaram a desenvolver sua arte circense.
Vale destacar a chegada do circo aos Estados Unidos, primeiro país das
Américas a receber a atração. Foi lá que o circo moderno tornou-se
móvel. Também ganhou números esdrúxulos, como a famosa mulher barbada.
3º SETOR - NO BRASIL
Antes mesmo da criação do circo moderno,
já haviam grupos circenses no Brasil, como apontam documentos do século
XVIII, essas companhias eram formadas por ciganos, expulsos da Península
Ibérica. Em suas apresentações eles faziam de tudo: doma de animais,
números de ilusionismo e até teatro de bonecos. O circo moderno só
chegou ao Brasil a partir de 1830. Incentivados pelos ciclos econômicos
do café, borracha e cana de açúcar, grandes companhias européias vinham
apresentar-se nas cidades brasileiras. Foram essas companhias que
ajudaram a formar as primeiras famílias de circo, que passaram a ser as
responsáveis pelo desenvolvimento do circo no Brasil.
Até pouco tempo, esta era a situação dos
circos no Brasil, diversos fatores levaram a uma mudança na sua
organização e administração. Com o surgimento dos grandes centros
urbanos e o desenvolvimento tecnológico, apareceram também novas formas
de entretenimento, como a televisão, cinema, teatro e parques de
diversão. Com isso o circo foi perdendo espaço público. A primeira
mudança foi na relação familiar. Agora, os pais preferem que seus filhos
se dediquem aos estudos, ao invés de se dedicarem apenas a arte
circense. Os pais começaram a perceber que, com estudo, seus filhos
continuariam trabalhando no circo, mas agora como proprietários de uma
empresa e não apenas como artistas. Para suprir a demanda de artistas,
surgiram as escolas de circo, que formam novos artistas. Eles não fazem
parte da família, a relação é apenas de patrão e empregado, igual a um
funcionário, que trabalha em troca de salário.
Hoje, estas mudanças se refletem em vários
circos brasileiros, como Beto Carreiro, Circo Garcia, Olando Orfei,
Circo Vostok e outros. As velhas famílias, que faziam de tudo, ainda
continuam nos circos, mas administrando verdadeiras empresas.
As mudanças ocorridas na administração do
circo moderno ajudaram a criar também uma nova categoria de circo,
conhecidas como "novo circo", estas companhias não tem picadeiro, nem
lona, nem arquibancadas e se apresentam, na maioria das vezes, em
teatros ou casas de espetáculo. Nas apresentações, há inovações na
linguagem, com incorporação de elementos de dança, teatro e música. Um
exemplo desse tipo de circo é o Cirque du Soleil, do Canadá. No Brasil,
há vários grupos desse gênero, como o Intrépida Trupe, Fratellis, Teatro
de Anônimos e Nau de Ícaros.
CONCLUSÃO
Porém, à margem de todas estas grandes
transformações, ainda há os pequenos circos, que não conseguiram esta
"modernização", mas que resistem, fazendo apresentações nas pequenas
cidades do interior e bairros da periferia das grandes cidades. Nesses
circos, com pequenas estruturas, as famílias ainda trabalham como
antigamente, fazendo de tudo. Os espetáculos são simples, são raras as
apresentações com animais, que custam caro, ou com equipamentos grandes
e sofisticados. Esses pequenos circos, ainda com sentimentalismo e,
certamente, um pouco de saudosismo, continuam no picadeiro, com certeza
de que fazer sorrir ainda é o melhor remédio pra não deixar a tradição
acabar.
É um dever não deixar que nossas heranças
culturais se apaguem no tempo pela terrível força do capitalismo. Somos
um "povo heróico do brado retumbante". Nesta ocasião, onde o rei recebe
a chave para abrir a grande festa popular do país, onde todos são
convidados a divertir-se sem distinção e preconceito, sem mágoas ou
tristezas, sem ódio ou rancor, sem violência ou guerra.
Aproveitamos o momento de paz e harmonia,
amor e alegria, solidariedade e esperança, garra e união, para
festejarmos nesta avenida a nossa raiz sambística, enfim, o circo não é
só um negócio da China, ele faz parte da nossa cultura, e que bela
cultura tem este país.
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