APRESENTAÇÃO
Falar de Geraldo Filme é falar da nossa
gente, do nosso jeito sambista de ser, de nossas tradições, culturas e
ritmos. É falar de um povo sambista que mesmo na adversidade mantêm-se
firmes em seus propósitos e ideais.
JUSTIFICATIVA
É com muito orgulho que o Leão da Zona
Norte, vem apresentar ao público presente a historia de Geraldo Filme, o
menino marmiteiro de Campos Elíseos, que cresceu na Barra Funda vendo os
carregadores jogar tiririca e fazerem rodas de samba. O menino que viu
nascer em sua casa a Escola de Samba Paulistano da Glória. É essa
história de amor e dedicação ao Samba, que o Leão da Zona Norte, faz
questão de contar sentindo-se muito honrado e privilegiado. Geraldo
Filme tornou-se a referência da cultura negra paulistana. Um Sambista de
fato, que nasceu, cresceu, amou e morreu pelo nosso Samba.
SINOPSE DO ENREDO
Nascido em São João da Boa Vista, no
interior paulista, no ano de 1928, Geraldo Filme veio pequeno para a
Capital, O pai tocava violino, mas foi com sua avó que conheceu os
cantos de escravos que influenciaram sua formação musical. Aos 04 anos
de idade adoeceu e sua mãe fez uma promessa para Bom Jesus curá-lo. Com
a graça alcançada, a mãe de Filme foi impossibilitada de pagar sua
promessa. Anos mais tarde o compositor cantou o episódio: “Mamãe fez uma
promessa/ Para me vestir de anjo/ Me vestiu de azul celeste/ Na cabeça
um arranjo/ Ouviu-se a voz do festeiro/ No meio da multidão/ Menino
preto não sai/ Aqui nessa procissão”. Sua Mãe tinha uma pensão nos
Campos Elíseos e fazia marmitas que o menino Geraldo entregava em toda
região. Na Barra Funda, bairro vizinho, passava bom tempo nas rodas de
samba e tiririca (capoeira) que os carregadores improvisavam no Largo da
Banana.
Compôs o primeiro samba (Eu vou mostrar)
ainda garoto. Sua mãe fundou a Associação de Cozinheiras da Glória, que
futuramente transformou-se no cordão e de depois Escola de Samba
Paulistano da Glória. Geraldo cresceu participando dos festejos de
Pirapora, onde nos barracões os negros provenientes de Capivari,
Campinas, Piracicaba, Sorocaba, Tietê e de outras cidades, faziam
apresentações ali mesmo das formas de samba que originalmente eram
feitas em suas cidades. Ali se praticava o Samba de Umbigada, o Samba de
Lenço, o Jongo, O Tambu, o Samba Campineiro entre outros. A forte
presença do bumbo, aos poucos provocou a fusão da denominação dos sambas
que se praticavam nos barracões como Samba de Bumbo, ou Samba de
Pirapora, o que Mário de Andrade preferiu chamar Samba Rural Paulista.
Dentro deste ambiente fascinante e cheio de musicalidade, com muita
oração, com muito axé, cercado de gente bamba, como Dionísio Barbosa,
Madrinha Eunice, Pé Rachado, Pato N'água, Seu Carlão da Peruche, que
Geraldo Filme tornou-se um dos maiores compositores do samba de São
Paulo. Geraldo tem seu nome ligado à história do Carnaval Paulista,
passou pelo grupo Barra Funda, hoje Camisa Verde e Branco, Lavapés,
Acadêmicos do Tatuapé, e ajudou na fundação do Colorado do Brás. Muito
querido e respeitado por todas as escolas, marcou presença e ganhou
notoriedade na Unidos do Peruche, para quem compôs 12 sambas de avenida
(Festival do Rei Café, Guerra do Paraguai, Heróis da Independência etc.)
e mais de 10 sambas de quadra, sua maior parceria foi com o compositor e
sambista B. Lobo. Em 1972 após o desfile da Unidos do Peruche, Geraldo
Filme foi convocado pelos militares para prestar esclarecimentos sobre o
teor da letra do samba enredo da escola “Heróis da Independência”, pois
a letra era considerada subversiva para os padrões da época do regime
militar. Geraldo Filme é lembrado principalmente por sua ligação com a
Vai-Vai. O Samba Tradição “Quem nunca viu o samba amanhecer”, tornou-se
o hino da escola, e “Silêncio no Bexiga” homenageia o celebre Diretor de
Bateria da Vai-Vai, Pato N'Água. Com o samba enredo “Solano Trindade,
Moleque de Recife” levou a escola ao titulo de campeã em seu primeiro
ano de compositor da Bela Vista.
Geraldo Também participou de diversas
peças teatrais entre elas (Balbina de Iansã, e os Batuqueiros da
Paulicéia) de Plínio Marcos, que tiveram sua trilha musical gravada em
LP ao lado de Toniquinho Batuqueiro, Zeca da Casa Verde, Talismã,
Jangada, Carlão do Peruche, Silvio Modesto, Carlão da Vila Maria entre
outros sambistas. Um grande conhecedor da história de São Paulo, Geraldo
pesquisou e compôs o samba “Tebas”, que conta a história da origem deste
termo que significa “o bom” ou “o melhor”, e era muito usado pelos
paulistanos no século passado. Nos últimos anos de vida trabalhou na
organização do Carnaval da cidade de São Paulo, inclusive tornando-se
presidente da UESP. Geraldo é a maior referência da cultura negra
paulistana, sempre preservando e cantando seus costumes e tradições.
O LP “Geraldo Filme”, gravado em 1980,
demorou 23 anos para ser lançado em CD (Eldorado, 2003), e é uma
importante gravação de cunho documental e histórico. O Canto dos
Escravos, com Clementina de Jesus e Doca da Portela (Eldorado, 1982),
também já pode ser encontrado em CD.
O Samba Paulistano perde no ano de 1995, o
seu maior expoente, perde o menino, o compositor, o sambista, o artista
de rua e principalmente quem soube cantar, escrever e retratar a
realidade do samba e do negro paulistano. Viva o Eterno Geraldo Filme.
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