INTRODUÇÃO
Carnaval, a grande festa popular. A festa que enche de orgulho o brasileiro e de paixão os olhos do turista. Plumas, paetês, confetes, fantasias, esculturas e lindas mulheres. Hoje o sambista poeta se extravasa de amor e toda mulher se transforma numa flor. Neste ano comemoramos 120 anos da abolição da escravatura e na passarela lindas mulheres negras nos encantam trazendo consigo a força guerreira com o gingado vindo de seus ancestrais, numa luta sem igual, na raça, no peito, na alma e no coração.
Chega o navio negreiro em nossas terras, trazendo consigo a força da negra, mulher de beleza, de magia, de fé, de dança e sedução. Das cantigas de roda, das comidas e dos costumes africanos que foram passados de geração em geração. Guerreiras formosas, de coragem sem igual. Escravas quilombolas, maltratadas, relegadas. Nos casarões, servas gentis de filhos de branco, pois aos seus negros paridos lhe era negado o amor. Elas eram amas de leite, avós, parteiras, rezadeira, benzedeiras, preta velha. Amante forçada do senhor patriarcal, matriz reprodutora de nova escravidão. Passado o tempo nas asas da liberdade, essas mulheres cada vez mais, enaltecem e enchem de orgulho a miscigenação de nossa raça. Negras guerreiras, vitória da mulher brasileira, atrizes e atoras no palco da vida. São médicas, advogadas, professoras, enfim um exemplo de que a luta e a coragem vencem o sofrimento e a servidão. O Brasil se transformou num jardim no qual toda mulher é uma flor e no meio dessas flores surgem então, frágeis botões que se transformam em belíssimas rosas negras, mulheres que trazem a sedução à flor da pele e com coragem riscam o chão de poesia.
PARTE I - DO SEIO DA MÃE ÁFRICA, PARA A CRUELDADE DO SER... O NAVIO DO SOFRIMENTO NAVEGA NO MAR RUMO A UM PORTO CHAMADO ESCRAVIDÃO
Calam-se os atabaques. O ritual de festa é interrompido, pois algo no horizonte é avistado. A chegada de homens brancos na terra de Zambi. Uma tragédia na humanidade começa acontecer. Em diversos países da África chegam europeus e levam os negros para serem escravizados. Acorrentados feito animais, são colocados no navio negreiro. Em Moçambique, são ouvidos gritos, lançadas lanças e logo depois um silêncio após um disparo... Daundê, Manduwá e Daimbá, três mulheres nativas do quilombo Naquimba, se recusavam a deixar sua terra natal, e foram cruelmente executadas.
Desde então já se refletia para as demais mulheres, o que viria acontecer. Chegadas aqui em solo fértil são separadas de suas famílias, passam a fazer atividades domésticas para famílias portuguesas. Sofreram muito com os castigos maldosos de senhoras brancas, movidas pelo ciúmes de seus maridos. Quando muitas vezes eram vítimas de abusos sexuais. A mulher negra sempre foi notada pela diferença estupenda das curvas de seus corpos. Pelo gingado da dança e pela diferença notável de sua pele. Na época colonial, era popular os feitiços entre mulheres negras. Por vezes seduziam senhores e arrastavam para armadilhas, onde capturados eram obrigados a entregar armas para os quilombos. O tempo passa, e durante séculos o povo negro é escravizado. Mas, foi surgindo a indignação, e nasceram os quilombos, que com o passar do tempo ganharam resistência, e passaram a ter como integrantes mulheres corajosas. Que por final passam a ser respeitadas entre os quilombolas, e temidas pelos colonizadores.
SURGEM MULHERES NEGRAS, UNIDAS PELA LIBERDADE
O Quilombo de Palmares (1630-1694), foi fundado por Aqualtune. Ela era princesa do Congo na Ágrica e foi vendida como escrava para o Brasil, mas não aceitaram e por isso fundou o quilomno. Zumbi era seu neto. Dandara sempre foi perseguida por espanhóis pela sua beleza sem igual. Era também uma das guerreiras de Palmares, e foi capturada e não querendo voltar a ser escrava suicidou-se. Filipa de Aranha comandou um quilombo no Pará. Tereza de Quariterê liderou o quilombo em Minas Gerais, Zerafina comandou o Quilombo do Urubu (BA). Seus nomes corriam pelo território nacional, e eram temidas como poderosas revolucionárias negras. Daquela época já começavam a florescer em nosso chão, a beleza negra de nossas mulheres. Pois os rituais traziam belíssimas yaôs com trajes africanos, que faziam nascer a identidade afro-brasileira, trazidas nos passos da miscigenação. Mães de santo por todo o território nacional, as senhoras mais velhas da senzala, eram as pretas velhas, ou monzô-ganda que significava: a mais velha autoridade. Fluíam dessa época, os temperos e pratos como a feijoada, que atraíam atenção da corte.
PARTE II - DESABROCHAM FLORES PARA A LIBERDADE: NEGRAS, MARAVILHOSAS E OUSADAS... MESMO NOS BRAÇOS DO SOFRIMENTO NUNCA DESISTIRAM DE LUTAR
Pois a pele que brilha sobre o clarão do luar, revela perante os tempos identidades feministas que abalou pensamentos, causando polêmica em determinadas circunstâncias.
Como Chica da Silva, escrava que se fez rainha, considerada mandona e encantadora. A escrava do Tijuco que encantou o poderoso contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Sua história é um dos maiores mitos de Diamantina em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII. Ainda em Minas Gerais mais uma negra que fez história: a escrava Filomena do Araxá. Filomena conhecida como negra fascinação, pela beleza que chamava atenção, nos arredores de Araxá. Contraiu varíola, chamada na época de doença da bexiga preta. Pois seus senhores achavam por bem, enterrá-la viva.
Quem nunca ouviu falar na belíssima escrava Anastácia? Anastácia negava-se em deitar com seus senhores, sendo assim de veleza superior de outras escravas. Viveu durante anos com uma máscara de ferro em seu rosto, foi aprisionada, e segundo a lenda diz Anastácia foi vista subindo aos céus. Foi canonizada, considerada santa pela ordem católica mundial. E por falar em santidade, temos a nossa mãe negra; ela foi achada por pescadores, e daí narra-se uma trajetória de milagres, sendo hoje cultuada com louvor em diversas regiões do país: Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Ainda que de pele branca, porém filha de negra. Todas essas escravas rendem para nossa literatura, textos fabulosos em acontecimentos marcantes na época colonial.
PARTE III - EM NOSSOS DIAS, O BRILHANTISMO DESSAS MULHERES, NÃO ESTÁ SÓ NA PELE, E SIM NO SEU SER...
Feito o sopro do tempo, a liberdade veio em 1888, e o negro passa a lutar com a sua segunda escravidão, os grilhões do preconceito. E ao mesmo tempo, as mulheres (de todas as raças em geral) fazem nascer de si próprias, um sentimento de independência. A cada vez mais, as mulheres da raça negra, avançam na evolução de novos tempos.
Musicalmente, Clementina de Jesus que começou a fazer sucesso na sua 3ª idade, encantou pessoas de várias idades. Glória Maria jornalista que foi alvo de polêmica na época em que aparecia nas reportagens: uma jornalista negra! Não era comum... Pinah, destaque da Beija-Flor, que dançou com o príncipe Charles e ficou conhecida no mundo inteiro como: a Cinderela que ao príncipe encantou. Hoje é empresária. Também em nossos dias, entre outras vitórias das nossas mulheres negras, temos como orgulho Benedita da Silva; tem uma história humilde de luta e esperança: ex-moradora de favela conseguiu se formar, entrou na política e pelo seu carisma ganhou a confiança do povo carioca.
NO IMENSO JARDIM CHAMADO BRASIL, REFLORESCEM A CADA PRIMAVERA ROSAS NEGRAS, QUE EXALAM A HISTÓRIA DE UMA RAÇA...
E assim se sagra a história dessas maravilhosas mulheres. Com a evolução de novas eras, brilham em nossa pátria mãe gentil em diversas áreas do campo profissional, elas que exalam do caráter a força de vontade, por serem mulheres, por serem negras. E hoje o quilombo azul e branco de Dom Bosco transforma a passarela na Kizomba da alegria, pois a pele que brilha ao clarão da lua traz em seus ideais que à cada dia que amanhece é preciso nos tornar-mos mais livres. A vida nunca mais será um cativeiro, e temos cada vez mais de nos orgulhar-mos do nosso povo negro. Nossas rosas negras já perfumam a avenida, e a pomba branca da paz, traz o clamor da igualdade. É hora de a nossa raça transbordar felicidade. Parabéns e muito Axé!