O
enredo da Colorado do Brás para
1997 vai falar de uma região
muito importante do Estado de
São Paulo e do Brasil, a Baixada
Santista, composta pelas cidades
de Santos, São Vicente, Praia
Grande, Cubatão e Guarujá. Vamos
abordar vários aspectos como a
história, a importância da
região para o desenvolvimento do
Brasil, a ecologia, o turismo e
a religiosidade.
O
tema, porém, não será
desenvolvido como uma narrativa.
A idéia é pegar um sentimento
que representa todos estes
aspectos. Um estudo da Baixada
revela que toda a sua história
foi construída dentro de um
espírito de busca pela
liberdade, seja ela pelos seus
primeiros habitantes, os índios
tamoios e tupiniquins, amantes
do mar e do espaço aberto; seja
a liberdade do branco europeu,
que cruzou o mundo em busca de
novos horizontes e ali se
instalou; seja pelos negros
africanos, que ali construíram
um quilombo na esperança de,
diante do oceano, um dia cruzar
o mar a voltar à África.
Vamos também enfocar a liberdade
da natureza exuberante do mar e
da serra, e a liberdade
religiosa, já que nas praias da
Baixada estão presentes todas as
manifestações sendo a principal
a festa de Iemanjá e das
oferendas para o mar. Por fim, a
Colorado vai retratar a
liberdade do homem moderno,
preso ao escritório e que
encontra seu refúgio nos finais
de semana na praia. Ou seja,
desde o índio primitivo,
passando pela história do Brasil
até os dias de hoje, as várias
formas de liberdade foram se
expressando na Baixada, sempre
se aperfeiçoando e se ajustando
ao momento presente. Resumindo,
a palavra-chave do enredo é
"liberdade".
A
primeira imagem que vem à cabeça
do paulistano quando se fala na
Baixada é o verão ou um feriado
emendado. Se não, pelo menos um
fim de semana. Baixada é
sinônimo de sol, de mar, de
chopinho descontraído enquanto o
tempo vai passando preguiçoso. É
biquíni, mulher bonita, surf,
caipirinha. É aquela sensação de
esquecer que o chefe existe, que
o despertador vai tocar cedo no
dia seguinte. É ver o horizonte
sem janelas, sem estar de pé no
ônibus lotado. É achar que vale
a pena enfrentar o
congestionamento de horas na
estrada em troca da sensação de
pisar na areia quente. E
desfrutar a tal liberdade de
curtir a vida, mesmo que seja
por algumas horas.
Mas a Baixada é coisa muito
séria, como conta sua história.
Foi ali que o Brasil começou a
nascer, do encontro dos bravos
tamoios e tupiniquins com os
primeiros portugueses que
queriam subir a serra em busca
de riqueza. Junto com eles,
vinham os jesuítas, comandados
por Manoel de Nóbrega, abrindo
caminho para a civilização. José
de Anchieta é um dos nomes mais
importantes deste momento. Nesta
primeira fase, a relação entre
brancos e índios misturava
período de convívio pacífico com
fases de guerra sangrenta. A
primeira cidade do Brasil é São
Vicente, que os índios chamavam
de Goaió, cujo significado é
"pedaço de terra separado do
continente", uma referência ao
fato de São Vicente ser uma
ilha.
O
Ciclo do Açúcar trouxe à Baixada
a riqueza e, por causa dela, os
africanos escravizados. A
contradição marcante deste
período é que foram justamente
os escravos que deram à região o
mais forte significado de
liberdade. Assim como os
canaviais, logo os quilombos
também começaram a se espalhar
pela região, sendo o mais
importante deles o do bairro do
Macuco, em Santos. Essa união de
raças, brancos, índios e negros,
fez começar a surgir ali o
sentimento de igualdade. José
Bonifácio, que era de Santos,
foi um dos primeiros a levar
para as cortes o sentimento pelo
fim da escravidão.
O
Imperador Pedro I também via em
Santos seu refúgio de liberdade.
Ele fazia longas viagens do Rio
de Janeiro até a Baixada para
ver sua amante, a Marquesa de
Santos. Era nos lençóis da
Marquesa que Dom Pedro se
libertava de um casamento
arranjado por conveniência. E
foi na volta de uma destas
viagens que ele proclamou a
independência do Brasil no
Bairro do Ipiranga, ponto de
ligação do litoral com a estrada
que levava de São Paulo para o
Rio.
Durante o século passado a
Baixada conheceu sua fase de
maior desenvolvimento. O café,
nosso ouro negro, transformou-se
em nossa principal riqueza. Para
tirar a frutinha dos cafezais no
interior do Estado e levá-las
para a Europa, foi preciso
construir ferrovias que levavam
a carga até o mar, e um porto,
onde navios cada vez maiores
pudessem atracar. A SPR,
ferrovia construída em 1867,
ligou de vez a Baixada ao resto
do Brasil, e o porto de Santos
ligou o Brasil ao mundo. Em
Paranapiacaba, onde havia a
baldeação para os trens
funiculares que desciam e subiam
a serra, os ingleses construíram
uma grande estação no melhor
estilo britânico que poderia ser
tranquilamente chamado o
primeiro shopping center
brasileiro. As antigas trilhas
dos bandeirantes foram se
modernizando e ganhando novos
nomes: Estrada Velha de Santos,
Calçada do Lorena, Caminho do
Mar, Anchieta, Imigrantes.
O
porto também veio modificar a
cara das cidades. Navios de
todas as partes do mundo fizeram
da Baixada um ponto de encontro
de todos os povos. Muitos dos
marinheiros se apaixonavam pelo
local e ficavam, formando novas
famílias e trazendo sobrenomes
cada vez mais diferentes para a
região. Santos e Cia. se
transformavam num pólo de
encontro de povos.
Na
virada do século, o clima e as
praias foram dando à cidade de
Santos uma cara diferente. Gente
bem sucedida de São Paulo foi
espalhando casarões pela orla.
Surgiram os clubes para europeus
e difundiu-se a prática dos
esportes. No Miramar havia o
cinema e um rinque de patinação.
Em Santos foi instalada a
primeira linha de bondes do
país. A presença marcante da
intelectualidade européia e
paulistana deu à cidade ares de
vanguarda. É nesta fase que
surge o Guarujá, uma cidade toda
construída em pinho importado
para ser um centro de lazer para
as classes de maior poder
aquisitivo, com hotéis e
cassino.
Hoje, uma das formas mais
marcantes de liberdade da região
é a natureza. A Baixada tem
milhares de espécies de pássaros
que vivem entre a serra e o mar.
Principalmente nos arredores de
Cubatão, os manguezais, onde se
reproduzem outras milhares de
espécies de animais marinhos e
plantas, é um santuário
ecológico universal. Sem falar
no próprio mar, que no futuro
será a principal fonte de
alimento do homem e produção de
energia. Em suas águas, está a
maior esperança da humanidade.
Por isto, é importante levar a
mensagem da preservação
ambiental e da limpeza das
praias.