Quando e onde o homem
sentiu a necessidade física de resguardar os pés,
quer do clima, quer das asperezas do solo, criou o
calçado. Não lhe bastava já envolvê-los para tal
fim, em peles ou lanugens.
Os povos primitivos
andavam descalços, tendo o pé perfeitamente adaptado
às necessidade da vida. Portanto, a invenção do
calçado, mais do que uma necessidade, deve
atribuir-se a um requinte da civilização. A primeira
matéria que se usou para cobrir o pé foi, sem
dúvida, um pedaço de couro por curtir atado com
tiras do mesmo material, ou folhas e cascas de
árvores presas com fibras vegetais. Com efeito, o
calçado mais antigo de que há notícia, são as
sandálias egípcias, feitas com folhas de palmeira ou
de papiro.
Nos monumentos da
antiguidade, salvo os etruscos e romanos, as pessoas
raras vezes apareciam calçadas, ao contrário do que
se vê na iconografia da Idade Média e Moderna, cujas
figuras só por exceção se apresentam descalças.
Nos monumentos do
antigo Império Egípcio, anteriores à 5ª dinastia,
homens e mulheres aparecem com o pé nu. A classe
média usava frequentemente calçado. Reis e altas
individualidades calçavam sandálias ricamente
adornadas com ouro e prata. As sandálias eram
preferidas por todo mundo. Os sacerdotes de Isis,
nesse período, andavam descalços. Os Assírios também
adotarem as sandálias, geralmente de cor encarnada.
Os persas vêem-se nos baixos-relevos de Persépole
com um calçado que lhes cobre todo o pé.
As altas
individualidades hebraicas e fenícias adotaram a
sandália egípcia, mas sem adornos, feitas de couro,
linho, junco ou madeira. As antigas judias usavam
calçado de luxo feito de madeira de cores berrantes.
As sandálias de Judite encantaram os olhos de
Holofernes.
Os hebraicos tiravam
as sandálias quando entravam em casa e sobretudo no
templo, bem como os árabes e chineses, que nunca
entram nas mesquitas calçado.
Os mesopotâmicos
descalçam-se ao pé da tumba dos seus santos, assim
como o pé descalço era sinal de luto, sinal ou
respeito.
Deus ordenou a Moisés
que se descalçasse ao chegar às silvas que ardiam
por estar em lugar sagrado.
Davi postou-se
descalço diante da arca, e descalços também
oficiavam os sacerdotes no templo.
Os samaritanos
escalavam descalços a montanha de Garizim e
descalços caminhavam os prisioneiros judeus em sinal
de humilhação.
Na Grécia, o calçado
primitivo era uma bota de pele de boi atada por cima
do tornozelo, com correias entrelaçadas, aparecendo
depois as formas artísticas, especialmente entre os
lacedemônios, que tinham a preocupação do calçado
elegante.
Até o século V, os
etruscos usavam sapatos de modelo próprio,
amarrados, de cano alto e bico revirado. Mas foram
os romanos que primeiro moldaram sola e gáspea, e
fizeram formas diferentes para os pés direito e
esquerdo - um grande processo. Tais fôrmas (de
madeira) foram esquecidas, e tiveram de ser
reinventadas pelos ingleses em 1818. Os calçados
romanos variavam com o sexo e a classe social do
usuário. As mulheres usavam sapatos fechados, em
branco, vermelho, verde ou amarelo; os patrícios,
sandálias escarlate com um ornamento em forma de
meia-lua no contraforte; os senadores, sapatos
rasos, marrons; os cônsules, sapatos brancos e os
militares, pesadas botas ferradas, que deixavam os
dedos à mostra.
O Imperador Caio,
criado entre os soldados de seu pai Germânico,
adotou pelo resto da vida a sandália do exército
conhecida como calígula e passou á história com esse
nome.
Na Idade Média, pobres
e camponeses usavam tamancos e mesmo os sapatos dos
ricos não eram pretensiosos: inteiriços, de couro
cru, só mais tarde ganhariam fivelas ou cadarços.
Eram feitos em casa ou por artesãos locais. A
indústria inglesa data de 1305, quando Eduardo I
decretou que uma polegada (2,5 cm) equivaleria a
três grãos secos de cevada postos ponta a ponta.
Como um sapato de criança mede 15 grãos, ficou sendo
tamanho 13' (ainda é).
Nos séculos XIV e XV
os sapatos alongaram-se em demasia e ficaram
pontiagudos. Até as armaduras tinham compridos
sapatos de ferro de bico revirado. Em vão, outro Rei
da Inglaterra, Eduardo III, decretou que o bico não
podia exceder 2 polegadas (5cm).
Também se tornaram
comuns por essa época os sapatos-polaina, de origem
polonesa e cracoviana.
No fim do século XV e
começo do século XVI, esses e os demais sapatos
pontudos caíram de moda, cedendo lugar aos "bicos de
pato". Desde então, os dois estilos se alternam nas
Ilhas Britânicas e no resto do mundo.
No século XVII
predominaram as botas. Os sapatos tinham salto, de
tamanho moderado. Luís XIV lançou o salto alto, que
o neto conservou e tem seu nome: salto Luis XV. Os
sapatos era enfeitados de fita, em rosetas ou
laçarotes.
Na América colonial e
puritana, homens e mulheres usavam sapato preto de
verniz, com meio salto. No século XVIII, as fitas
foram substituídas por fivelas de ouro e prata, com
ou sem pedrarias.
Com o advento das
máquinas de costura americanas no século XIX - a de
Walter Hunt, a de Elias Howe e, finalmente a de
Isaac Merrit Singer, a sola era presa ao corpo do
sapato com pregos, e toda costura tinha de ser feita
à mão. A máquina de costura não só acelerou o
processo de produção, como levou à confecção de um
sapato melhor e mais barato. Surgiram depois, as
operatrizes especializadas, como a de McKay. O
aparecimento de máquinas, revolucionou a indústria
de calçados, fazendo-a entrar na era de produção em
massa.
O SAPATEIRO
O ofício de sapateiro
é de origem muita antiga. Entre os egípcios, os
sapateiros eram considerados de casta inferior, por
usaram materiais provenientes de animais
sacrificados. Os romanos também manifestavam
desprezo por esse profissão e, por esse motivo, os
sapateiros eram obrigados a residir em bairros
isolados, juntamente com açougueiros e curtidores. O
Cristianismo, com sua valorização dos humildes em
geral, provocou uma mudança radical no conceito em
que eram tidos os sapateiros. Vários foram
considerados Santos pela Igreja, sendo o primeiro
deles Santo Aniano, bispo de Alexandria, que é até
hoje o patrono dos profissionais desse ofício.
Todavia, os sapateiros Santos que se tornaram mais
populares foram: São Crispim e São Crispiniano.
Durante a Idade Média,
a corporação dos sapateiros teve organização
bastante complexa. Havia leis que regulavam as
condições de competência e proibiam a indústria
clandestina. Cada mestre possuía sua freguesia que
devia ser respeitada pelos demais.
Muito poucas pessoas
em todo o mundo, tiveram sua figura ligada ao uso do
sapato. No Brasil, uma que se destacou foi Carmem
Miranda. Com seu estilo plataforma, tornou-se
conhecida em todo o mundo, onde seu estilo é sempre
moda. Moda também tornou-se o uso do tênis, modelo
de calçados difundido como um adereço esportivo, mas
que com sua utilização no esporte, difundiu-se pelo
mundo como um modismo.