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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.B. VOVÓ BOLÃO - CARNAVAL 1998
Enredo: 100% Louco

O Grêmio Recreativo
Autor:

 

A mistificação da Loucura foi um dos maiores objetos de ignorância do homem. Desde a crença nos espíritos maus até o enclausuramento dos anormais em condições sub-humanas, o mundo não soube conviver com a loucura.

Por muitos e muitos séculos, oráculos, curandeiros, xamãs, médicos-sacerdotes, papas e o povo em geral, viram a loucura como uma maldição. Na Grécia Antiga, berço do conhecimento, acreditava-se que uma pessoa formada por acessos de demência, era vítima de um capricho dos insatisfeitos deuses do Olimpo.

Isso perdurou até a Idade Média, época em que a Europa viveu uma de suas maiores perseguições com o Tribunal da Inquisição, criado pela insana Igreja Católica. Nesse período, os loucos, principalmente as mulheres, eram confundidos como hereges e feiticeiros. Na verdade, pessoas que falavam em voz alta pelas ruas, eram consideradas possuídas pelo demo. Imagine como os loucos sofriam.

Com a Revolução Francesa, onde a liberdade, fraternidade e igualdade se propagaram, a loucura finalmente começou a ser vista como uma doença mental e não mais variações da mistificação.

Surge o médico Philip Pinel, o primeiro a ver o louco como doente da cabeça e que, curiosamente tornou-se uma denominação popular de maluco. Foram criados os hospícios, que no Século XX, mesmo contrariando os ideais de Pinel, se transformaram em verdadeiras casas de horrores em suas formas pouco humanas de tratamento.

Envolvida no manto do medo e da ignorância (acreditava-se, por exemplo, que doente mental transmitia o seu mal pela baba), o louco foi marcado pela sociedade: discriminado por representar perigo e marginalizado por significar um estorvo.

Mas beirando entre o trágico e o cômico, a loucura foi se personificando, criando formas no nosso dia-a-dia, redescobrindo até sem saber, a nossa verdadeira alma de vivermos além de nossos limites.

E a cultura geral absorveu a loucura de maneira crítica e irreverente. Esta forma tornou-se a mais clássica definição para as situações de extravagância, forado-comum, ousadas, corajosas, incompreensíveis, e até temíveis.

Vivemos um cotidiano tão absurdo que em muitas situações recriamos e inovamos a loucura. É a loucura do trânsito, a lunática violência, o velho caduco, a bicha louca, o drogado doidão ou mesmo o bicho louco, variadas formas disfarçadas no preconceito e discriminação.

Até como forma de rebeldia e questionamento, a perda do juízo é reverenciada. Como no caso do "Maluco Beleza" e do "Samba do Crioulo Doido". Nestes casos, o louco traduz-se nas palavras de protesto.

Inventamos em nosso cotidiano o biruta, doido, pirado, pancada, mundo da lua, desvairado, parafuso solto, lelé da cuca, e tantos outros que entraram em forma de deboche para o nosso vocabulário.

Na verdade, todos nós temos as nossas loucuras, quaisquer sensações e sentimentos que nos deixe dor de si, sem controle e que muitas vezes nos trazem grandes conseqüências. Assim acontece no dinheiro/miséria, poder/ausência de liberdade, amor/ciúme, crença/fé cega e outros.

CONCLUSÃO

Com o decorrer dos anos, no Brasil foi aceitando o louco como uma pessoa que deveria ser integrada à sociedade. Projetos como a Rádio Tam Tam de Santos e a TV Pinel do Rio de Janeiro provam à sociedade que os doidos são pessoas comuns e não monstros.

As histórias de terror vividas nos hospícios deram lugar a um mundo sem muros, sem camisas-de-força ou choques elétricos. A luz entrou e revelou um gente alegre que brinca com a dor, mas não quer ser esquecida.

Mesmo condenada nos exageros de nossos atos, a loucura tem uma essência brincalhona, irreverente, puramente emocional. Assim é o Carnaval, uma explosão de alegria, a qual a fantasia veste as nossas pirações e desvarios, afinal, ele é a felicidade plena de todos nós malucos pelo samba, uma "coisa de louco".

 


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