A mistificação da
Loucura foi um dos maiores objetos de ignorância do
homem. Desde a crença nos espíritos maus até o
enclausuramento dos anormais em condições
sub-humanas, o mundo não soube conviver com a
loucura.
Por muitos e muitos
séculos, oráculos, curandeiros, xamãs,
médicos-sacerdotes, papas e o povo em geral, viram a
loucura como uma maldição. Na Grécia Antiga, berço
do conhecimento, acreditava-se que uma pessoa
formada por acessos de demência, era vítima de um
capricho dos insatisfeitos deuses do Olimpo.
Isso perdurou até a
Idade Média, época em que a Europa viveu uma de suas
maiores perseguições com o Tribunal da Inquisição,
criado pela insana Igreja Católica. Nesse período,
os loucos, principalmente as mulheres, eram
confundidos como hereges e feiticeiros. Na verdade,
pessoas que falavam em voz alta pelas ruas, eram
consideradas possuídas pelo demo. Imagine como os
loucos sofriam.
Com a Revolução
Francesa, onde a liberdade, fraternidade e igualdade
se propagaram, a loucura finalmente começou a ser
vista como uma doença mental e não mais variações da
mistificação.
Surge o médico Philip
Pinel, o primeiro a ver o louco como doente da
cabeça e que, curiosamente tornou-se uma denominação
popular de maluco. Foram criados os hospícios, que
no Século XX, mesmo contrariando os ideais de Pinel,
se transformaram em verdadeiras casas de horrores em
suas formas pouco humanas de tratamento.
Envolvida no manto do
medo e da ignorância (acreditava-se, por exemplo,
que doente mental transmitia o seu mal pela baba), o
louco foi marcado pela sociedade: discriminado por
representar perigo e marginalizado por significar um
estorvo.
Mas beirando entre o
trágico e o cômico, a loucura foi se personificando,
criando formas no nosso dia-a-dia, redescobrindo até
sem saber, a nossa verdadeira alma de vivermos além
de nossos limites.
E a cultura geral
absorveu a loucura de maneira crítica e irreverente.
Esta forma tornou-se a mais clássica definição para
as situações de extravagância, forado-comum,
ousadas, corajosas, incompreensíveis, e até
temíveis.
Vivemos um cotidiano
tão absurdo que em muitas situações recriamos e
inovamos a loucura. É a loucura do trânsito, a
lunática violência, o velho caduco, a bicha louca, o
drogado doidão ou mesmo o bicho louco, variadas
formas disfarçadas no preconceito e discriminação.
Até como forma de
rebeldia e questionamento, a perda do juízo é
reverenciada. Como no caso do "Maluco Beleza" e do
"Samba do Crioulo Doido". Nestes casos, o louco
traduz-se nas palavras de protesto.
Inventamos em nosso
cotidiano o biruta, doido, pirado, pancada, mundo da
lua, desvairado, parafuso solto, lelé da cuca, e
tantos outros que entraram em forma de deboche para
o nosso vocabulário.
Na verdade, todos nós
temos as nossas loucuras, quaisquer sensações e
sentimentos que nos deixe dor de si, sem controle e
que muitas vezes nos trazem grandes conseqüências.
Assim acontece no dinheiro/miséria, poder/ausência
de liberdade, amor/ciúme, crença/fé cega e outros.
CONCLUSÃO
Com o decorrer dos
anos, no Brasil foi aceitando o louco como uma
pessoa que deveria ser integrada à sociedade.
Projetos como a Rádio Tam Tam de Santos e a TV Pinel
do Rio de Janeiro provam à sociedade que os doidos
são pessoas comuns e não monstros.
As histórias de terror
vividas nos hospícios deram lugar a um mundo sem
muros, sem camisas-de-força ou choques elétricos. A
luz entrou e revelou um gente alegre que brinca com
a dor, mas não quer ser esquecida.
Mesmo condenada nos
exageros de nossos atos, a loucura tem uma essência
brincalhona, irreverente, puramente emocional. Assim
é o Carnaval, uma explosão de alegria, a qual a
fantasia veste as nossas pirações e desvarios,
afinal, ele é a felicidade plena de todos nós
malucos pelo samba, uma "coisa de louco".