Portugueses, africanos e ameríndios tiveram o culto do fogo ou sua
veneração pelo caráter utilitário. Afugentava fantasmas noturnos em
qualquer parte do mundo. Os indígenas viajavam com o tição fumegante
como uma custódia contra os assombros da mata. Nenhum animal fantástico
jamais ousou enfrentar o seu clarão.
O
fogo é a representação do sol, aquece, assa e depois cozinha os
alimentos, prepara as peles, afia as armas, dando a impressão de
conforto, segurança e tranqüilidade criando assim um ambiente para a
vida em comum. Onde estava o lume, estava a família. A lareira se tornou
sede religiosa, centro irradiante de tradições, narradas pelos mais
velhos aos mais novos no calor reconfortante.
As
religiões mais primitivas tem no fogo a velocidade inicial. Em Portugal
a pedra em que se assenta o lume chama-se lar. Com o lume nasceu o culto
dos mortos, os deuses larários, penates, os antepassados. A chama
simbolizava a vida humana, a alma, efêmera e luminosa. Com o
cristianismo, as lâmpadas, velas, fogo-novo do sábado de aleluia dizem
na antiguidade desses cultos, vestígios poderosos de sua vitalidade
milenar e universal.
Os
portugueses trouxeram maior número de tradições capitalizadas através de
séculos nos vários povos que viveram no território lusitano. A
imaculabilidade do fogo é a exigência imediata e se conserva em todo
interior do Brasil. Nas cidades, onde apenas resistem as chamas breves
dos acendedores de cigarro, o homem não vê o fogo nos fogões elétricos,
a gás, fechados, brancos, limpos, sem a visão direta do enclausurado
deus destronado pela fada eletricidade.
Pelas praias e sertões onde há fogão de lenha e carvão, fogueira ao ar
livre, o culto ainda aparece nos fios de hábitos que são reminiscências
vivas, sobrevivências dos rituais mortos.
ALGUNS PROVÉRBIOS
Quem urina no fogo, morre de moléstia
nos rins ou na bexiga;
Quem queima os cabelos, fica doido;
Quem arruma fogueira com os pés, anda
para trás;
Quem brinca com fogo, faz xixi na
cama;
Apagar fogo com água é tentar a
sorte;
Quem queima couro fica pobre;
Quando se muda de casa, a primeira
coisa é acender o fogo;
Quem cospe fogo fica doente dos
pulmões.
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