Há muitos e muitos
anos, quando os brancos, ainda não tinham chegado ao
Brasil, viviam os índios Parecis nas margens do Rio
Guaporé, numa região hoje pertencente ao Estado de
Rondônia.
Ainotarê, já
alquebrado pela velhice, notava de que ano por ano a
caça diminuía, a pesca sumia e as colheitas
tornavam-se cada vez mais pobres.
Preocupado com a sorte
de seu povo, dirigiu-se para a mata e junto a
frondoso jequitibá elevou suas preces e a Guaraci, a
Mãe Lua, implorando o auxílio divino para afastar a
ameaça da fome pesando contra sua tribo.
Tempos depois,
sentindo que se aproximava a sua hora, abatido pela
doença e pela idade, chamou seu filho Kaleitoê e
ordenou que após sua morte, seu corpo fosse
enterrado próximo à taba e que três dias depois
nasceria uma planta que daria algumas espigas com
grãos dourados.
Não deveriam comê-los,
mas espalhar os grãos pela roça, e então, as plantas
que nascessem dariam o alimento prometido e o nome
dele seria Abati.
Surgiu então o milho,
e segundo a lenda Pareci, a planta alastrou-se por
toda a terra de Pindorama. Mais tarde os brancos
levaram-na pelos sete mares e cinco continentes,
transformada num dos alimentos principais dos homens
e dos animais.
Hoje, centenas de
milhões de habitantes do mundo inteiro, fazem do
milho seu alimento principal. E o saboroso grão,
seja branco, amarelo ou vermelho é consumido de
todas as maneiras que se possa imaginar.
O milho verde assado
ou cozido faz a delícia de muitos. O grão moído
transforma-se em fubá, farinha nutritiva
transformada no pão de milho ou na broa do
trabalhador humilde.
Dele faz-se o angu que
alimentou os escravos construtores de nossa riqueza
e hoje, alimento dos mais conhecidos. Os imigrantes
italianos trouxeram a polenta e na cozinha baiana
sob a forma de mungunzá ou acaçá.
Na forma de pamonha,
de pipoca, de canjica doce ou cuscuz, transforma-se
o milho na alegria da garotada.
E o milho humilde e
reverente, participa da mitologia afro-brasileira,
como comida dos orixás; a pipoca de Obaluaiê, a
canjica de Oxalá e o milho cozido de Oxossi.
Nas tradições e
festejos populares, como as festas juninas,
participa nos doces que não podem faltar nas
barraquinhas coloridas.
Até na literatura o
genial Monteiro Lobato criou, de um simples sabugo
de milho, o sábio e filosófico Visconde Sabugosa do
Sítio do Pica-Pau Amarelo.
E Zequinha de Abreu
vendo os pardais e tico-ticos comendo o fubá da
roça, compôs o chorinho famoso no mundo inteiro, o
"Tico-tico no Fubá", um dos símbolos da música
popular brasileira.
E é justamente nas
roças do interior, que o folclore apresenta as
figuras grotescas e esfarrapadas dos espantalhos a
afugentar os corvos e os pardais de nossos
milharais.
Mas o milho é sinônimo
de dinheiro e sua dourada cor lembra o ouro. Assim
como galinha de grão em grão enche o papo
transformando o milho nos ovos dourados da riqueza,
assim também o povo, de milho em milho chega ao
milhão.
E no imenso milharal
do Brasil o papagaio come o milho e o periquito leva
a fama.