Junho de 1553:
Um vento frio entrava pela janela da taipa
e enregelava a pequena assembléia, onde alguns jesuítas davam a
importância de reunir seus pupilos numa só aldeia. Por serem poucos, os
padres poderiam mais facilmente catequizar os índios, juntando-os num
mesmo local.
Todos de acordo separaram-se para procurar
um sítio adequado que tivesse clima ameno e vastos campos. Acharam-no
dois dias depois num planalto de 700 metros de altitude, onde
construíram um colégio e ao lado uma capela. Na capela, o jesuíta Manuel
da Nóbrega rezou a primeira missa, no dia 25 de janeiro de 1554, dia de
São Paulo "santo da data". Por esse motivo o pequeno povoado situado no
planalto de Piratininga, passou a ser chamado de São Paulo de
Piratininga.
A VILA DOS CONFLITOS
Pouco distante do colégio vivia um certo
João Ramalho, casado com a índia Bartira, filha do chefe Tibiriçá.
Associado, a alguns brancos e mamelucos, Ramalho dedicava-se à caça e ao
comércio de índios.
Essa gente formava um núcleo, Santo André
da Borda do Campo, elevado a vila em 1553. A vizinhança dos jesuítas não
foi vista com bons olhos por Ramalho e seu grupo, pois os padres eram
inimigos dos caçadores de índios. Não tardaram as brigas entre os dois
povoados.
O Governador Geral do Brasil, Mem de Sá,
tentando eliminar os conflitos transferiu a sede de Santo André para São
Paulo e ao mesmo tempo elevou à categoria de Vila (1560), mas isso de
nada valeu, pois as escaramuças (pequenos conflitos) atravessaram todo
um século e no período de 1612 a 1660 esses conflitos chegaram a
paralisar o progresso do lugar. Nessa época a região de São Paulo estava
desligada da Coroa e não recebia atenção de Portugal.
A única atividade rendosa era mesmo
comercializar com os silvícolas. Em 1609, promulgou-se uma lei proibindo
a escravização indígena. Os paulistas provocaram tal celeuma que a lei
foi revogada em 1611.
Nem mesmo a Igreja com suas ameaças de
excomunhão, aos mercadores de índios, conseguiu mantê-la. Esse era mesmo
o único meio de vida da humilde Vila de São Paulo.
O OURO ATRAÍ E REPELE
Pela vila correu a notícia do ouro em
Minas Gerais. Os paulistas largaram tudo e se embrenharam sertão a
dentro rumo às minas, deixando em suas casas suas mulheres com alguns
poucos escravos. As plantações ficaram praticamente abandonadas.
As boas novas também atraíram para a vila
gente de toda espécie e de todo canto. Mas durou pouco o movimento na
vila. Fim da euforia do ouro, os paulistas retornaram a sua vila, a
maioria de bolso vazio, pois não encontrou o tão sonhado ouro. Nessa
época São Paulo parou, nos primeiros séculos após a fundação da vila
viviam gente mais humilde. Eis que os bandeirantes partem em busca de
desbravamento e riquezas.
Enquanto isso, os proprietários de terras
mantinham as casas em São Paulo apenas para descansar, tratar de
negócios ou assistir uma festa. A população da vila fabricava
utensílios, fiava, confeccionavam roupas e criavam gado. Plantavam
trigo, algodão, cana, uva, banana, lima, laranja, tudo para
subsistência. Cultivavam rosas para fazer água de rosas, que na época
começava a florescer como produto comercial.
Começava a mudança de Vila de São Paulo
para São Paulo e com o passar do tempo e a expulsão dos jesuítas em
1759, outros padres, franciscanos e beneditinos, foram encarregados da
educação de São Paulo, mas só com o cultivo do café ampliou-se o campo
da educação.
Por volta de 1830, o café irrompeu nos
campos de São Paulo, a vila foi elevada à categoria de cidade em 1771. A
face de São Paulo transfigurou-se, surgiram belos jardins, o mais
antigo, o da Luz e belas mansões na região da Paulista e Campos Elíseos.
Mais tarde fundou-se a Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, por onde passaram célebres como Castro
Alves, Fagundes Varela, João Nabuco, Rui Barbosa e outros.
Na década de 1850 apareceram os primeiros
jornais, o mais antigo era o Correio Paulista (1854), porém o mais
importante era o Província de São Paulo (1854), que a República mudou o
nome para Estado de São Paulo.
Em 1867, inaugurou-se o Mercado Municipal
e em 1872 o serviço de bonde puxado à burro e a iluminação a gás.
Ergueram-se monumentos, um dos mais belos
o Monumento do Ipiranga. Na extinta plantação de chá foi construído o
Viaduto do Chá.
Em 1911, inaugurou-se o Teatro Municipal.
Com a construção da represa de Santa Amaro
(Guarapiranga), as possibilidades industriais aumentaram graças a
energia elétrica.
Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
São Paulo devido aos produtos importados iniciou um processo de
industrialização inédita no Brasil e nunca mais parou.
Durante muitos anos o centro da cidade era
o triângulo formado pelas ruas Quinze de Novembro, Direita e São Bento.
Ali ficavam os bancos, repartições, lojas, etc.
Do outro lado do Viaduto do Chá ficava a
Rua Barão de Itapetininga com suas lojas, seus cafés rodeados por
teatros e posteriormente cinemas. Era o ponto de encontro de pessoas
elegantes.
Hoje tudo mudou, o centro de atividades
está na Avenida Paulista com famosos arranha-céus.
No entanto em 1930, o Edifício Martinelli
pasmava por sua altura e seus 29 andares.
Hoje São Paulo é uma das cidades mais
povoadas do planeta e continua sendo o centro financeiro do Brasil.
"Já não tem garoa, nem lampião de gás e
nem muita paz, mas é querida por todos que aqui habitam, não é triste
nem alegre, é autentica.
Parabéns querida cidade que já foi dos
pardais e madrigais, das bancas de flores, de muita poesia e amores.
Será sempre e para sempre o coração do
Brasil.
BANDEIRA DA CIDADE FOI CRIADA NUM
ESTALO
Num estalo. Foi assim que Lauro Ribeiro
Escobar, estudioso de heráldica (símbolos genealógicos) e vexilogia
(bandeiras), criou a bandeira de São Paulo, no ano de 1987. "É uma
bandeira simples e discreta, mas que fiz tudo sobre a cidade", afirma o
criador, de 74 anos que admite sentir imenso orgulho quando a vê
hasteada. "Só não chego ao ponto de ficar contando que fui eu quem
criou, mas não escondo quanto tenho oportunidade".
Ele concebeu a bandeira seguindo a linha
do brasão de armas da cidade, elaborado em 1917. Segundo ele, o brasão e
a bandeira tem de estar em harmonia. Por isso, as cores vermelho e
branco vieram do brasão. A inscrição em latim, Non Ducor, Duco (Não sou
conduzido, conduzo) também na bandeira, Lauro colocou a cruz da Ordem de
Cristo. "Por dois motivos. O primeiro pela influência portuguesa e o
segundo por causa dos padres jesuítas".
Em 1958 a necessidade de ter uma bandeira
na cidade ficou evidente. Caio de Alcântara Machado, fundador da
Alcântara Machado Feiras e Negócios, estava realizando a primeira Fenit
e mandou hastear quatro bandeiras no Viaduto do Chá: do Brasil, do
Estado, da Fenit e da cidade. Mas não tinha.
Para contornar o problema, ele acabou
improvisando uma bandeira branco com um retângulo, mandada fazer às
pressas. Mas foi só em 1986 que Jânio Quadros nomeou uma comissão para a
criação da bandeira. No ano seguinte, ela saiu do papel.
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