São Paulo na virada do século XIX para o
XX era uma cidade em expansão. A riqueza originada do café e o início da
industrialização faziam acumular riqueza nas mãos da elite local, os
"barões do café", que sentiam falta de local apropriado para um convívio
social mais refinado. A colônia italiana, sempre ligada às artes cênicas
e ao canto - como prova a popular tarantella - estava enraizada. Além
disso, os italianos, exímios artesãos, supriam mão de obra nas artes
industriais, área sempre carente por aqui. Some-se a obsolescência dos
teatros locais e terrenos aí um quadro propício para a construção de uma
nova casa de espetáculos: recursos e operários especializados. O público
estava assegurado, pois havia na Capital Paulista um claro gosto pelas
artes sucessoras da commedia dell'arte, das tradições dos arlequins.
Assim, em 1903, por iniciativa do Vereador
Gomes Cardim foi lançada a pedra fundamental da obra, com projeto de
Cláudio Rossi e Domiziano Rossi, em estilo predominantemente barroco. Os
delicados vitrais da fachada e a suntuosa escada do saguão principal
continuam sendo grandes marcas do prédio do Theatro Municipal. Em 1911,
concluída a obra, o Prefeito Raimundo Duprat nomeou a comissão que
tratou da abertura do teatro, afinal ocorrida em 12 de setembro, com
apresentação de Hamlet de Ambroise Thomas, pela companhia do grande
barítono Titta Ruffo.
Desde então o Municipal tem sido
referência nas artes cênicas. Entre tantos momentos marcantes,
registrem-se O Guarani, com a magistral Bidu Sayão interpretando árias
como "Sento uma forza indômita", e de clássicos do balé, com os
inesquecíveis Nijinski e Ana Pawlova. Teatro de prosa, nacional e
internacional, não podem ser esquecidos, dignificados por Marcel Marceau
e por estupendas montagens de clássicos como Hamlet e inovações como Véu
de Noiva, de Nelson Rodrigues, que inaugurou o moderno teatro nacional.
Isso sem contar com o Teatro Nô japonês e
outras atrações inolvidáveis, que dignificam a profissão de ator,
herdeiros das tradições das bacantes, que exaltam a tragédia e comédia.
E o municipal marcou definitivamente a
história da cultura nacional, ao sediar a Semana de 22, que abalou as
estruturas da arte brasileira, sendo comparável em importância à
produção de Aleijadinho para o barroco e à missão francesa para o
classismo. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e um
Villa-Lobos regendo de chinelos fizeram o Brasil repensar a produção
artística.
Hoje ainda o Municipal tem enorme
influência nas artes, por suas duas orquestras, seus dois corais, seu
quarteto de cordas e seu corpo de baile. O municipal permanece mais vivo
do que nunca, por seus artistas e sua loboriosa técnica, que faz o
grande espetáculo do povo desta capital.
O Theatro Municipal está mais preparado
que nunca para o futuro, para viver mais uma grande produção das artes
de São Paulo, testemunhando o engrandecimento de nosso espírito.
Parabéns Municipal. Parabéns São Paulo.
|