Maranhão
Estado do Nordeste cuja capital é São Luis é um estado que encanta
com seus casarões, becos, histórias, lendas e folclore. Vou
contar-lhes algumas lendas:
A
LENDA DO RIO CAJARI: Certo dia, um índio estava à espreita de uma
caça, quando surgiu em sua frente, uma gigantesca ave de nome
Ararapapá. Sem perder tempo, o índio flechou a enorme ave e colocou-a
no ombro, rumando para a sua aldeia. No caminho, o bico da ave, que era
muito pesado, veio arrastando pela terra abrindo um sulco profundo por
onde as águas do lago Viana escorreram, dando origem ao rio Cajari.
LENDA
DA PRAIA DO OLHO D'ÁGUA: Conta-se que primitivamente houve ali uma
aldeia indígena, cujo chefe era Itaporama. Sua filha apaixonou-se
ardentemente por um jovem da tribo. Mas este, por ser muito belo,
igualmente provocou a mais acesa paixão da Mãe d'Água, que, por seus
encantos e poderes sobrenaturais, conquistou-o definitivamente,
levando-o para seu palácio encantado, nas profundezas do mar. Perdendo
para sempre seu grande amor; a filha de Itaporama caiu em grande
desolação. Disposta a não mais alimentar-se, foi para a beira da
praia, onde se entregou, resignada, a seu martírio sentimental,
chorando copiosa e interminavelmente, até morrer. Surgiram, de suas
lágrimas, duas nascentes que até hoje correm para o mar; formando o
riacho perene em que os banhistas vão "tirar o sal do corpo",
como popularmente se diz. É o eterno pranto da filha de Itaporama por
seu amado que a lara lhe roubou.
O
MILAGRE DE GUAXENDUBA: Conta-se que no principal combate entre
portugueses e franceses, no dia 19 de abril de 1614, no forte de Santa
Maria de Guaxenduba, quando os portugueses estavam por ser derrotados
por sua inferioridade de homens, armas e munições, surgiu entre eles
uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de
suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos
em projeteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente
e derrotassem os franceses. Em memória deste feito, foi a virgem
considerada a padroeira de cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da
Vitória.
LENDA
DA SERPENTE DA ILHA DE SÃO LUIS: A serpente da Ilha. Subersa nas
águas que circundam a Ilha de São Luis haveria uma descomunal serpente
sempre a crescer, enquanto dorme, gigantesca e feroz serpente, camuflada
pelo limo e pelo musgo grudados sobre suas grossas escamas. Ninguém
sabe por quanto tempo esse animal dormirá. Um dia a cabeça desse
monstro encontrará a ponta de sua própria cauda. Nesse dia, a
desgraça dos habitantes de São Luis, essa fenomenal criatura
acordará. Então, produzindo rugidos ensudercedores, soltando enormes
labaredas pelos olhos e pela boca, o monstro reunirá todas as suas
forças para, num abraço estupendo, e, com fúria diabólica comprimir
a porção de terra envolvida, a arrastará para as profundezas do mar,
afogando, de maneira trágica, todos os habitantes da cidade provocando
o completo desaparecimento de São Luis, que será tragada pelo oceano.
POR
QUE O NOME PALÁCIO DAS LÁGRIMAS? Na Rua de São João, de frente para
a Igreja sob a invocação do mesmo santo e fazendo canto com a Rua da
Paz, antes que fosse edificado o imóvel que serviu de sede à Escola
Modelo Benedito Leite e, posteriormente, à antiga Faculdade de
Farmácia e Odontologia de São Luis, havia um vasto sobrado de três
pavimentos e que, durante muitos anos, permaneceu em ruínas. Correm,
ligadas a esse imóvel, diversas lendas, a principal das quais vamos
reproduzir: dois irmãos portugueses resolveram "fazer a
América" e vieram ter ao Maranhão. Um deles - Jerônimo de
Pádua, comerciante e cujas atividades também compreendiam as de
traficante de escravos - enriqueceu bastante, enquanto o outro jamais
conseguiu sair da pobreza. Cheio de inveja do rico, o irmão probre
concebeu o plano macabro de assassiná-lo, com a finalidade de herda-lhe
a grande fortuna, pois o irmão rico não tinha herdeiros legítimos,
vivendo amasiado com uma preta sua escrava, com quem teve diversos
filhos. Praticado o nefando crime, e na posse dos dos imensos bens
herdados de sua própria vítima, a fratricida passou a tratar os
escravos com muita crueldade, notadamente a amásia e os filhos de seu
irmão assassinado. Informado, certo dia, acerca de quem fora o
verdadeiro assassino do seu progenitor, um dos filhos lançou-se
indignado contra o tio e, de uma das janelas, arremessou-o violentamente
à rua, provocando-lhe a morte súbita. Descoberto o criminoso, e por
ser escravo, foi ele condenado à morte na forca lavantada em frente ao
sobrado. Ao subir no cada falso, o condenado proferiu, como últimas
palavras, esta maldição: - Palácio que viste as lágrimas derramadas
por minha mãe e meus irmãos! Daqui por diante serás conhecido como
Palácio das Lágrimas. E assim o sobrado passou a ser chamado.
LENDA
DA CARRUAGEM DE ANA JANSEN: No século XIX viveu em São Luis a Senhora
Dona Ana Joaquina Jansen Pereira, comerciante que, tendo acumulado
grande fortuna, exerceu forte influência na vida econômica, social,
administrativa e política da cidade. Esta lenda corresponde a severa
pena que o inconciente coletivo aplicou à memória de Dona Ana Jansen,
poderosa e discutida matrona maranhense. Era voz corrente, então, que
Ana Jansen, cometia as mais bárbaras atrocidades contra os seus
numerosos escravos, aos quais submetia a toda sorte de suplícios e
torturas em sessões que, não raro, terminava com a morte do castigado.
Alguns anos após o falecimento de Ana Jansen, passou a ser contada na
cidade a fantástica estória segundo a qual, nas noites escuras das
sextas-feiras, boêmios e notívagos costumam deparar uma assimbrosa e
apavorante carruagem, em desenfreada correria pelas ruas de São Luis,
puxada por muitas parelhas de cavalos brancos sem cabeças, e tendo na
função de cocheiro um escravo igualmente decapitado e com o corpo
sangrando de monstruosas servícias, produz, por onde passa,
horripilantes sons, combinação do atrito de velhas e gastas ferragens
com o coro de lamentações de escravos em estertor. Quem tiver a
infelicidade e a desventura de encontrar a diligÊncia de Dona Ana
Jansen e, recolhido em abrigo seguro, deixar de fazer uma oração pela
salvação da alma da maligna senhora, ao deitar-se para dormir
receberá das mãos do seu fantasma uma vela de cera. Esta, porém,
quando o dia amanhecer estará transformada em descarnado osso humano. A
lenda do pervagar penado de Donana pelas ruas da Cidade, às noites de
sexta-feira, teve larga difusão na primeira metade deste século,
quando eram comuns as ruas mal-iluminadas ou completamente às escuras,
pelos constantes cortes de energia elétrica, e também por causa dos
desiúandos policialescos da ditadura estadonovista, que traziam medo e
maus presságios às noites de São Luis. Esta lenda da carruagem de
Dona Ana Jansen, deu às belas noites enluaradas da Cidade a contra face
tétrica de negros em agonia e cavalos pavorosos que, ao toque de seus
cascos no calçamento das ruas, arrancavam faíscas de fogo, nesse longo
e aterrorizante suplício de Donana.
LENDA
DA MANGUDA: Deu origem à lenda a farsa idealizada e mandada executar
por comerciantes envolvidos no contrabando de mercadorias -
principalmente tecidos europeus - introduzidas na praça local sem o
pagamento dos tributos devidos. Para ludibriar a fiscalização,
diversos portos alternativos foram usados. Mas a vigilância das
autoridades punha em sérios riscos as descargas, não raro descobertas
e frustradas por flagrantes e apreensões. O porto do Jenipapeiro, nas
imediações da Quinta Vitória, em que residia, o poeta Joaquim de
Sousa Andrade, apresentava-se como excelente opção, já que para lá
não se dirigiam as patrulhas de policiamento. As autoridades jogavam
desnecessária a providência, considerando o local suficientemente
protegido pela guarnição permanente da Penitenciária, localizada onde
hoje se acha o Hospital Presidente Dutra. O bairro dos Remédios passou,
então, a ser o ponto predileto das aparições de uma figura
fantasmagórica, logo batizada por Manguda, em virtude de trajar cambre
alvo, de manga muito largas e compridas. O rosto era dissimulado por
máscara, e da cabeça nascia uma nuvem de fumaça. Acerca da Manguda,
os jornais da cidade publicaram diversas notícias e comentários.
O
MILAGRE DE SÃO JOÃO BATISTA: Contam-se da invasão holandesa do
Maranhão, em 1641, histórias de desrespeitos à população e de
profanações, a primeira das quais, praticada logo no desembarque pelo
desterro, cuja ermida, então de frente para o mar, os flamengos teriam
invadido e depredado. Quando, após mais de dois anos de dominação, os
portugueses, com o bravo concurso de índios e outros homens da terra,
organizaram a revolta que terminaria expulsando definitivamente do
Maranhão os enviados de Nassau, travaram-se diversos e rudes combates
no interior e em São Luis. Aqui, sob o comando de Antonio Muniz
Barreiros, que, morrendo, teve em Antonio Teixeira de Melo o competente
e indispensável sucessor, as tropas portuguesas fizeram da Igreja do
Carmo seu quartel-general. Lá, concentraram a ofensiva contra os
hereges flamengos, como o tempo se dizia. Os holandeses, sediados no
Forte de São Filipe (onde hoje está o Palácio dos Leões), contavam,
como principais instrumentos de combate, com dois canhões assestados
para a Igreja do Carmo. Notando que a artilharia portuguesa concentrava
seu fogo na direção dessas armas, os holandeses colocaram junto a
elas, em lugar bem visível, uma grande imagem de São João Batista.
Pretendiam impedir que os portugueses atirassem, ou obrigá-los a
cometer um sacrilégio que os atingiria moralmente. Diz Frei Francisco
de Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão, na Poranduba maranhense, que
"não só a imagem ficou ilesa dos nossos tiros, mas também no
primeiro que disparou um dos referidos canhões, rebentou com tantos
estragos daqueles iconoclastas, que, ficando confusos com semelhante
sucesso, retiraram logo a santa imagem com menos indecência.
FOLCLORE:
O povo de São Luis é alegre e festeiro. Principalmente no Carnaval e
durante os festejos juninos. Mal termina o carnaval, começam os ensaios
ddos cordões de bumba-meu-boi e das quadrilhas que se apresentarão
durante as festas juninas. Chegando o mês de junho, São Luis
transforma-se em imenso arraial. Em todos os bairros e nas vilas dos
arredores, armam-se barracas nos largos e nas praças enfeitadas de
coloridas bandeirinhas. Muitos deles têm sua própria quadrilha ou seu
próprio cordão de bumba-boi (também chamado Boi-de-São-João).
Nesses lugares o povo canta, dança, bebe, come iguanas de milho,
mingaus, cocadas, pés-de-moleque, pastilhas e toda a sorte de pratos da
culinária maranhense. Então, é quando se pode apreciar a riqueza e o
colorido dos chapéus, dos peitilhos e dos aventais dos brincantes do
boi, cheios de fitas, penas, canutilhos, paetês, vidrilhos e
lantejoulas, artística e caprichosamente bordados, quase sempre em
padrões florais ou reproduzindo imagens de santos do culto
católico-romano. Existem, em São Luis, quase 100 grupos de
bumba-meu-boi, que guardam e reproduzem as características básicas
desse auto popular oriundo de Portugal, aqui impregnado, de modo
sincrético, de valores culturais africanos e indígenas. Mas não é
só no São João e Carnaval. Festas tem o ano inteiro. Tem Tambor de
Crioula, dança de origem africana; Tambor de Mina, variação
maranhense para o candomblé; Festa do Divino; Dança de São Gonçalo;
Dança do Lelê; Festa de São Benedito; Cacuriá; Dança do Caraça...
E o Reggae, ritmo jamaicano que se popularizou nas últimas décadas e
já se tornou uma nova atração turística.
BUMBA-MEU-BOI:
Os brancos trouxeram o enredo da festa; os negros, escravos,
acrescentaram o ritmo e os tambores; os índios, antigos habitantes,
emprestaram suas danças. E a cada fogueira acesa para São João, os
festejos juninos maranhenses foram se transformando no tempo quente da
emoção, da promessa e da diversão. É nesta época de junho, que
reina majestoso o Bumba-Meu-Boi. O auto popular do Bumba-Meu-Boi conta a
estória da Catirina, uma escrava que leva seu homem, o negro Chico, a
matar o boi mais bonito da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de
grávida, de comer língua de boi. Descoberto o malfeito, manda o amo
(que encarna o fazendeiro, o latifundiário, o "coronel"
autoridade) que os índios capturem o criminoso, o qual, trazido à sua
presença, representa a cena mais hilariante da comédia (e também mais
crítica no sentido social). Para ressuscitar o boi, chama-se o doutor,
cujos diagnósticos e receitas estapagúrdias ironizam a medicina.
Finalmente, ressurgido o boi e perdoado o negro, a pantomima termina
numa grande festa cheia de alegria e animação, em que se confundem
personagens e assistentes. Com traços semelhatne ao dos autos
medievais, a brincadeira do Bumba-Meu-Boi existe em outras regiões do
país, mas só no Maranhão tem três estilos, três sotaques, e um
significado tão especial. É mais que uma explosão de alegria. É
"quase uma forma de oração", servindo como elo de ligação
entre o sagrado e o profano, entre santos e devotos, congregando toda a
população.
SOM
DA TERRA: TAMBOR DE CRIOULA: A tradição do Tambor-de-Crioula vem dos
descendentes africanos. É uma dança sensual, excitante, que apresenta
variantes quanto ao ritmo e a forma de dançar, e que não tem um
calendário fixo, embora seja praticada especialmente em louvor à São
Benedito. É dançado apenas por mulheres que fazem uma roda, em cujo
centro evolui apenas uma delas. O momento alto da evolução é a
"punga" ou umbigada. A punga é uma forma de convite para que
outra dançarina assuma a evolução no centro da roda. O tambor de
crioula é ritmado por 3 tambores, que recebem os nomes de grande ou
roncador (faz a marcação para a punga), meião ou socador
(responsável pelo ritmo) e pequeno ou crivador (faz o repicado).
REGGAE:
O reggae nasceu na Jamaica e se consagrou nos anos 70 com Bob Marley,
Jimmy Cliff, Peter Tosh, entre outros. Hoje esse mesmo som quase não se
ouve nas ruas de Kingston. Em compensação, é só o que rola em São
Luis. Uma verdadeira febre que tomou conta da cidade há mais de 20
anos, quando dizem os entendidos, o "radioleiro" Riba Macedo
trouxe de Belém do Pará um disco importado e começou a tocar na
"radiola" e toca disco, amplificador, caixas de som empilhadas
formando verdadeiras paredes de som, com até o placar luminoso.
Resultado: foi uma "pedra". Caiu no gosto do povo,
irresistivelmente. E de maneira original, virou uma mania que se dança
agarradinho.
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