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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.B. PARAÍSO DO SAMBA - CARNAVAL 2003
Enredo: Lendas e Folclores do Maranhão

O Grêmio Recreativo
Autor: Da Silva

 

Maranhão Estado do Nordeste cuja capital é São Luis é um estado que encanta com seus casarões, becos, histórias, lendas e folclore. Vou contar-lhes algumas lendas:

A LENDA DO RIO CAJARI: Certo dia, um índio estava à espreita de uma caça, quando surgiu em sua frente, uma gigantesca ave de nome Ararapapá. Sem perder tempo, o índio flechou a enorme ave e colocou-a no ombro, rumando para a sua aldeia. No caminho, o bico da ave, que era muito pesado, veio arrastando pela terra abrindo um sulco profundo por onde as águas do lago Viana escorreram, dando origem ao rio Cajari.

LENDA DA PRAIA DO OLHO D'ÁGUA: Conta-se que primitivamente houve ali uma aldeia indígena, cujo chefe era Itaporama. Sua filha apaixonou-se ardentemente por um jovem da tribo. Mas este, por ser muito belo, igualmente provocou a mais acesa paixão da Mãe d'Água, que, por seus encantos e poderes sobrenaturais, conquistou-o definitivamente, levando-o para seu palácio encantado, nas profundezas do mar. Perdendo para sempre seu grande amor; a filha de Itaporama caiu em grande desolação. Disposta a não mais alimentar-se, foi para a beira da praia, onde se entregou, resignada, a seu martírio sentimental, chorando copiosa e interminavelmente, até morrer. Surgiram, de suas lágrimas, duas nascentes que até hoje correm para o mar; formando o riacho perene em que os banhistas vão "tirar o sal do corpo", como popularmente se diz. É o eterno pranto da filha de Itaporama por seu amado que a lara lhe roubou.

O MILAGRE DE GUAXENDUBA: Conta-se que no principal combate entre portugueses e franceses, no dia 19 de abril de 1614, no forte de Santa Maria de Guaxenduba, quando os portugueses estavam por ser derrotados por sua inferioridade de homens, armas e munições, surgiu entre eles uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos em projeteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente e derrotassem os franceses. Em memória deste feito, foi a virgem considerada a padroeira de cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória.

LENDA DA SERPENTE DA ILHA DE SÃO LUIS: A serpente da Ilha. Subersa nas águas que circundam a Ilha de São Luis haveria uma descomunal serpente sempre a crescer, enquanto dorme, gigantesca e feroz serpente, camuflada pelo limo e pelo musgo grudados sobre suas grossas escamas. Ninguém sabe por quanto tempo esse animal dormirá. Um dia a cabeça desse monstro encontrará a ponta de sua própria cauda. Nesse dia, a desgraça dos habitantes de São Luis, essa fenomenal criatura acordará. Então, produzindo rugidos ensudercedores, soltando enormes labaredas pelos olhos e pela boca, o monstro reunirá todas as suas forças para, num abraço estupendo, e, com fúria diabólica comprimir a porção de terra envolvida, a arrastará para as profundezas do mar, afogando, de maneira trágica, todos os habitantes da cidade provocando o completo desaparecimento de São Luis, que será tragada pelo oceano.

POR QUE O NOME PALÁCIO DAS LÁGRIMAS? Na Rua de São João, de frente para a Igreja sob a invocação do mesmo santo e fazendo canto com a Rua da Paz, antes que fosse edificado o imóvel que serviu de sede à Escola Modelo Benedito Leite e, posteriormente, à antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia de São Luis, havia um vasto sobrado de três pavimentos e que, durante muitos anos, permaneceu em ruínas. Correm, ligadas a esse imóvel, diversas lendas, a principal das quais vamos reproduzir: dois irmãos portugueses resolveram "fazer a América" e vieram ter ao Maranhão. Um deles - Jerônimo de Pádua, comerciante e cujas atividades também compreendiam as de traficante de escravos - enriqueceu bastante, enquanto o outro jamais conseguiu sair da pobreza. Cheio de inveja do rico, o irmão probre concebeu o plano macabro de assassiná-lo, com a finalidade de herda-lhe a grande fortuna, pois o irmão rico não tinha herdeiros legítimos, vivendo amasiado com uma preta sua escrava, com quem teve diversos filhos. Praticado o nefando crime, e na posse dos dos imensos bens herdados de sua própria vítima, a fratricida passou a tratar os escravos com muita crueldade, notadamente a amásia e os filhos de seu irmão assassinado. Informado, certo dia, acerca de quem fora o verdadeiro assassino do seu progenitor, um dos filhos lançou-se indignado contra o tio e, de uma das janelas, arremessou-o violentamente à rua, provocando-lhe a morte súbita. Descoberto o criminoso, e por ser escravo, foi ele condenado à morte na forca lavantada em frente ao sobrado. Ao subir no cada falso, o condenado proferiu, como últimas palavras, esta maldição: - Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos! Daqui por diante serás conhecido como Palácio das Lágrimas. E assim o sobrado passou a ser chamado.

LENDA DA CARRUAGEM DE ANA JANSEN: No século XIX viveu em São Luis a Senhora Dona Ana Joaquina Jansen Pereira, comerciante que, tendo acumulado grande fortuna, exerceu forte influência na vida econômica, social, administrativa e política da cidade. Esta lenda corresponde a severa pena que o inconciente coletivo aplicou à memória de Dona Ana Jansen, poderosa e discutida matrona maranhense. Era voz corrente, então, que Ana Jansen, cometia as mais bárbaras atrocidades contra os seus numerosos escravos, aos quais submetia a toda sorte de suplícios e torturas em sessões que, não raro, terminava com a morte do castigado. Alguns anos após o falecimento de Ana Jansen, passou a ser contada na cidade a fantástica estória segundo a qual, nas noites escuras das sextas-feiras, boêmios e notívagos costumam deparar uma assimbrosa e apavorante carruagem, em desenfreada correria pelas ruas de São Luis, puxada por muitas parelhas de cavalos brancos sem cabeças, e tendo na função de cocheiro um escravo igualmente decapitado e com o corpo sangrando de monstruosas servícias, produz, por onde passa, horripilantes sons, combinação do atrito de velhas e gastas ferragens com o coro de lamentações de escravos em estertor. Quem tiver a infelicidade e a desventura de encontrar a diligÊncia de Dona Ana Jansen e, recolhido em abrigo seguro, deixar de fazer uma oração pela salvação da alma da maligna senhora, ao deitar-se para dormir receberá das mãos do seu fantasma uma vela de cera. Esta, porém, quando o dia amanhecer estará transformada em descarnado osso humano. A lenda do pervagar penado de Donana pelas ruas da Cidade, às noites de sexta-feira, teve larga difusão na primeira metade deste século, quando eram comuns as ruas mal-iluminadas ou completamente às escuras, pelos constantes cortes de energia elétrica, e também por causa dos desiúandos policialescos da ditadura estadonovista, que traziam medo e maus presságios às noites de São Luis. Esta lenda da carruagem de Dona Ana Jansen, deu às belas noites enluaradas da Cidade a contra face tétrica de negros em agonia e cavalos pavorosos que, ao toque de seus cascos no calçamento das ruas, arrancavam faíscas de fogo, nesse longo e aterrorizante suplício de Donana.

LENDA DA MANGUDA: Deu origem à lenda a farsa idealizada e mandada executar por comerciantes envolvidos no contrabando de mercadorias - principalmente tecidos europeus - introduzidas na praça local sem o pagamento dos tributos devidos. Para ludibriar a fiscalização, diversos portos alternativos foram usados. Mas a vigilância das autoridades punha em sérios riscos as descargas, não raro descobertas e frustradas por flagrantes e apreensões. O porto do Jenipapeiro, nas imediações da Quinta Vitória, em que residia, o poeta Joaquim de Sousa Andrade, apresentava-se como excelente opção, já que para lá não se dirigiam as patrulhas de policiamento. As autoridades jogavam desnecessária a providência, considerando o local suficientemente protegido pela guarnição permanente da Penitenciária, localizada onde hoje se acha o Hospital Presidente Dutra. O bairro dos Remédios passou, então, a ser o ponto predileto das aparições de uma figura fantasmagórica, logo batizada por Manguda, em virtude de trajar cambre alvo, de manga muito largas e compridas. O rosto era dissimulado por máscara, e da cabeça nascia uma nuvem de fumaça. Acerca da Manguda, os jornais da cidade publicaram diversas notícias e comentários.

O MILAGRE DE SÃO JOÃO BATISTA: Contam-se da invasão holandesa do Maranhão, em 1641, histórias de desrespeitos à população e de profanações, a primeira das quais, praticada logo no desembarque pelo desterro, cuja ermida, então de frente para o mar, os flamengos teriam invadido e depredado. Quando, após mais de dois anos de dominação, os portugueses, com o bravo concurso de índios e outros homens da terra, organizaram a revolta que terminaria expulsando definitivamente do Maranhão os enviados de Nassau, travaram-se diversos e rudes combates no interior e em São Luis. Aqui, sob o comando de Antonio Muniz Barreiros, que, morrendo, teve em Antonio Teixeira de Melo o competente e indispensável sucessor, as tropas portuguesas fizeram da Igreja do Carmo seu quartel-general. Lá, concentraram a ofensiva contra os hereges flamengos, como o tempo se dizia. Os holandeses, sediados no Forte de São Filipe (onde hoje está o Palácio dos Leões), contavam, como principais instrumentos de combate, com dois canhões assestados para a Igreja do Carmo. Notando que a artilharia portuguesa concentrava seu fogo na direção dessas armas, os holandeses colocaram junto a elas, em lugar bem visível, uma grande imagem de São João Batista. Pretendiam impedir que os portugueses atirassem, ou obrigá-los a cometer um sacrilégio que os atingiria moralmente. Diz Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão, na Poranduba maranhense, que "não só a imagem ficou ilesa dos nossos tiros, mas também no primeiro que disparou um dos referidos canhões, rebentou com tantos estragos daqueles iconoclastas, que, ficando confusos com semelhante sucesso, retiraram logo a santa imagem com menos indecência.

FOLCLORE: O povo de São Luis é alegre e festeiro. Principalmente no Carnaval e durante os festejos juninos. Mal termina o carnaval, começam os ensaios ddos cordões de bumba-meu-boi e das quadrilhas que se apresentarão durante as festas juninas. Chegando o mês de junho, São Luis transforma-se em imenso arraial. Em todos os bairros e nas vilas dos arredores, armam-se barracas nos largos e nas praças enfeitadas de coloridas bandeirinhas. Muitos deles têm sua própria quadrilha ou seu próprio cordão de bumba-boi (também chamado Boi-de-São-João). Nesses lugares o povo canta, dança, bebe, come iguanas de milho, mingaus, cocadas, pés-de-moleque, pastilhas e toda a sorte de pratos da culinária maranhense. Então, é quando se pode apreciar a riqueza e o colorido dos chapéus, dos peitilhos e dos aventais dos brincantes do boi, cheios de fitas, penas, canutilhos, paetês, vidrilhos e lantejoulas, artística e caprichosamente bordados, quase sempre em padrões florais ou reproduzindo imagens de santos do culto católico-romano. Existem, em São Luis, quase 100 grupos de bumba-meu-boi, que guardam e reproduzem as características básicas desse auto popular oriundo de Portugal, aqui impregnado, de modo sincrético, de valores culturais africanos e indígenas. Mas não é só no São João e Carnaval. Festas tem o ano inteiro. Tem Tambor de Crioula, dança de origem africana; Tambor de Mina, variação maranhense para o candomblé; Festa do Divino; Dança de São Gonçalo; Dança do Lelê; Festa de São Benedito; Cacuriá; Dança do Caraça... E o Reggae, ritmo jamaicano que se popularizou nas últimas décadas e já se tornou uma nova atração turística.

BUMBA-MEU-BOI: Os brancos trouxeram o enredo da festa; os negros, escravos, acrescentaram o ritmo e os tambores; os índios, antigos habitantes, emprestaram suas danças. E a cada fogueira acesa para São João, os festejos juninos maranhenses foram se transformando no tempo quente da emoção, da promessa e da diversão. É nesta época de junho, que reina majestoso o Bumba-Meu-Boi. O auto popular do Bumba-Meu-Boi conta a estória da Catirina, uma escrava que leva seu homem, o negro Chico, a matar o boi mais bonito da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de grávida, de comer língua de boi. Descoberto o malfeito, manda o amo (que encarna o fazendeiro, o latifundiário, o "coronel" autoridade) que os índios capturem o criminoso, o qual, trazido à sua presença, representa a cena mais hilariante da comédia (e também mais crítica no sentido social). Para ressuscitar o boi, chama-se o doutor, cujos diagnósticos e receitas estapagúrdias ironizam a medicina. Finalmente, ressurgido o boi e perdoado o negro, a pantomima termina numa grande festa cheia de alegria e animação, em que se confundem personagens e assistentes. Com traços semelhatne ao dos autos medievais, a brincadeira do Bumba-Meu-Boi existe em outras regiões do país, mas só no Maranhão tem três estilos, três sotaques, e um significado tão especial. É mais que uma explosão de alegria. É "quase uma forma de oração", servindo como elo de ligação entre o sagrado e o profano, entre santos e devotos, congregando toda a população.

SOM DA TERRA: TAMBOR DE CRIOULA: A tradição do Tambor-de-Crioula vem dos descendentes africanos. É uma dança sensual, excitante, que apresenta variantes quanto ao ritmo e a forma de dançar, e que não tem um calendário fixo, embora seja praticada especialmente em louvor à São Benedito. É dançado apenas por mulheres que fazem uma roda, em cujo centro evolui apenas uma delas. O momento alto da evolução é a "punga" ou umbigada. A punga é uma forma de convite para que outra dançarina assuma a evolução no centro da roda. O tambor de crioula é ritmado por 3 tambores, que recebem os nomes de grande ou roncador (faz a marcação para a punga), meião ou socador (responsável pelo ritmo) e pequeno ou crivador (faz o repicado).

REGGAE: O reggae nasceu na Jamaica e se consagrou nos anos 70 com Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh, entre outros. Hoje esse mesmo som quase não se ouve nas ruas de Kingston. Em compensação, é só o que rola em São Luis. Uma verdadeira febre que tomou conta da cidade há mais de 20 anos, quando dizem os entendidos, o "radioleiro" Riba Macedo trouxe de Belém do Pará um disco importado e começou a tocar na "radiola" e toca disco, amplificador, caixas de som empilhadas formando verdadeiras paredes de som, com até o placar luminoso. Resultado: foi uma "pedra". Caiu no gosto do povo, irresistivelmente. E de maneira original, virou uma mania que se dança agarradinho.

 


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