PERSONAGENS
Orfeu, filho de Deus Grego, Don Juan do Morro, motorneiro de profissão e
cantor, compositor e sambista negro nas horas vagas, Mira, a mais
recente amante de Orfeu, Eurídice, moça que chega ao Rio vinda do
interior onde é perseguida por misterioso homem de olhar frio, Hermes
negro velho alto e robusto, de cabelos brancos, personalidade no morro,
Serafina, prima de Eurídice que mora no morro onde é procurada por
Eurídice, Chico Boto, marinheiro, amante de Serafina, homem mascarado
que persegue Euridíce.
RESUMO
Era
sábado de Carnaval, vindo do interior chega ao Rio uma bela jovem
vestida de branco, à procura de sua prima. Foi até a parada do bonde,
assustada com tanta gente e movimentação, pessoas fantasiadas, com
máscaras, chapéus de palhaço, mas como o bonde estava lotado não
conseguiu entrar. Com o bonde se locomovendo foi içada para dentro por
dois rapazes. Depois de acomodada, olhava para o cordão que passava e
imobilizava o tráfego. Músicos de calças azuis e camisas vermelhas
batiam ritmadamente os tambores e caixas. Tocavam, cantarolavam ou
assoviavam várias melodias misturando-se aos sons ardidos dos apitos.
O
motorneiro do bonde era Orfeu, que apreciava sua vida de celibatário,
amava a profissão de motorneiro de bondes e adorava seu violão. Quando
tinha entre os braços o violão se sentia feliz, e muita mulher devia ter
ciúmes daquele instrumento dourado, polido, brilhante, que Orfeu
acariciava amorosamente e pelo qual as desprezava de boa vontade. Mais
de um samba cantado no morro ou mesmo pelos jornaleiros da Praça Mauá
tinha Orfeu como autor.
Feliz por ser sábado, amanhã seria
carnaval com desfile do qual ele ia participar fantasiado de Sol.
Durante três noites iria tocar violão, cantar, dançar e perder-se
naquela alegria frenética, que se renovava a cada ano. O trânsito volta
a andar e Orfeu conduz o bonde vazio até a estação, quando ao saltar,
percebe Eurídice sentada no banco, mãos cruzadas nos joelhos:
- Que você está fazendo ai?
- Disseram que era para ir até o fim
da linha...
- Pois bem, já chegou. Desça. Ela
desceu e Orfeu notou que tinha belas pernas.
- Onde pretende ir?
- Em casa de minha prima, que mora no
morro.
-
Você sabe ir até lá? Não? Procure o Hermes, o velho que está lá embaixo
que ele te indicará o caminhos. Preciso ir receber meu salário.
Eurídice, com a ajuda de Hermes encontra sua prima Serafina, a
costureira, que no entanto aguardava o regresso do Chico Boto, seu
amante. Para ficar a sós com Chico Boto, Serafina a leva para conhecer o
morro e o ensaio da Escola de Samba. No caminho cruzam com Orfeu que ria
retirar seu violão do prego, Serafina conta a prima que ele era noivo de
Mira com quem se casaria logo depois do carnaval. Orfeu e Eurídice
trocam sorrisos quando apresentados pela prima, já se conheciam daquela
tarde. Orfeu, ao sair da loja de penhores sentou-se num degrau da escada
e beliscou as cordas de seu amigo.
Tocava a melodia que lhe povoava a cabeça: "tristeza não tem fim/
felicidade, sim/ A felicidade do pobre parece ser/ a grande ilusão do
carnaval/ a gente trabalha o ano inteiro/ por um momento de sonho/ para
fantasiar-se/ de rei, de pirata ou jardineiro/ e tudo termina na
Quarta-Feira".
À
noite, no ensaio, Eurídice ficou admirada com a alegria e agitação dos
últimos preparativos para o desfile. Orfeu comandava quase tudo na
escola e mesmo assim achava tempo para trocar olhares com Eurídice, e
sua noiva Mira, muito ciumenta, percebia esses olhares.
No
meio das pessoas Eurídice se depara com o mesmo homem que a perseguia,
desde a cidadezinha onde morava. Amedrontada sai correndo sem conhecer o
caminho estreito e escuro da favela. Orfeu percebendo que havia algo
errado sai correndo atrás de Eurídice e quando a alcança o homem
misterioso também a tinha alcançado.
Eurídice estava desmaiada e Orfeu atracou-se com o desconhecido, que
conseguiu atacá-lo e fugir. Orfeu perde os sentidos por alguns segundos
e quando volta a si ajuda Eurídice a se recompor, tranquilizando-a;
Voltam para o ensaio pelas ruas estreitas e escuras da favela.
Eurídice resolve voltar para o barraco da prima, mas encontrando-a com o
amante, resolve esperar um pouco para não incomodar, quando ouve o som
do violão. Era Orfeu que tocava e cantava um samba. O rapaz convida
Eurídice para ir com ele, ela aceita e passa a noite com Orfeu.
Na
manhã seguinte Orfeu sente-se realizado como homem, depois de tantas
conquistas havia encontrado a mulher de sua vida. Quando Eurídice
acordou, assustada, Orfeu que estava a admirá-la, tranquiliza-a: não
precisa ter medo de nada pois estou aqui para defende-la, e a convida
para participar do desfile da Escola de Samba.
Eurídice então perguntou-lhe: e Mira? Pois ele já havia dado para ela o
anel de noivado e tinham marcado casamento. Orfeu disse que após o
carnaval terminaria tudo com Mira. Eurídice volta ao barraco da prima,
conta da noite que passou com Orfeu e do convite para desfilar com a
Escola de Samba. A prima acha boa a idéia e a convence a desfilar com
sua fantasia de Rainha da Noite, pois assim ninguém a reconheceria.
Na
grande hora do desfile, escola concentrada na avenida, fantasias
impecáveis, prontos para o desfile e para levar o título de campeã. Mira
comenta com uma amiga, durante o desfile, que Serafina estava diferente
na fantasia de Rainha da Noite. A amiga conta que não era Serafina mas
sim Eurídice. Mira começa a reparar mais e percebe que Orfeu e Eurídice
parecem mais do que amigos, morta de ciúmes vai tomar satisfação com
Orfeu que acaba tudo com ela. O desfile prossegue e ao final já de
madrugada sai o resultado do concurso. A escola do morro venceu e Orfeu
é chamado para receber o prêmio da campeã. Enquanto Orfeu recebe o
prêmio e Eurídice o espera, vê no meio da multidão o perseguidor
mascarado, sai correndo em direção à garagem dos bondes onde se esconde,
mas é perseguida por ele.
Depois de receber o prêmio Orfeu procura por Eurídice e avisado por
amigos corre em direção a garagem dos bondes. Encontra o mascarado quase
agarrando sua amada, entra em luta corporal, mas o mascarado leva
vantagem e Orfeu desmaia. Quando acorda vê Eurídice levada para a
ambulância. As pessoas seguem para o hospital sem avisar Orfeu e ele
fica desesperado sem saber o que aconteceu com seu amor e para onde o
levaram. Vai procurá-la em hospitais, centros de umbanda e depois foi ao
necrotério. Lá, ficou contente e desesperado ao mesmo tempo, tinha
encontrado sua amada mas ela estava morta. Paga as taxas, carrega o
corpo da amada e volta ao morro.
Lá
chegando é avistado por Mira, que deduz que ele a está carregando por
paixão, chamego e pensa: além de carregá-la nos braços, o bobo ainda vem
pelo terreno baldio e perto do abismo. Morta de ciúmes, abaixa-se, pega
uma pedra grande e atira-a com força em direção a Orfeu; atinge a testa,
ele perde o equilíbrio, vacila e cai no precipício. Os moradores vão
para a beira do abismo e vêem os corpos de Orfeu e Eurídice rolarem pelo
precipício. Quando os corpos acabam de rolar ficam juntos, Eurídice fica
nos braços de Orfeu.
Mira solta um grito de dor e
despeito. Eurídice mesmo depois de morta tomou-lhe o lugar nos braços de
Orfeu.
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