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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. UNIÃO INDEP. VILA PRUDENTE - CARNAVAL 1995
Enredo: O Batuque Sai da Senzala e Vai à Missa - Axé da Bahia

O Grêmio Recreativo
Autoras: Tânia Maria Marques e Gildalva Silva Souza

 

“Passava a noite, vinha o dia

O sangue do negro corria, dia a dia

De lamento em lamento

De agonia em agonia

Ele pedia o fim da tirania...”

(Mano Décio e Silas de Oliveira)

Que essa tirania, ou escravidão, foi um terror, ninguém nega, e que até hoje, de formas menos ou mais sutis e abrandadas continua existindo, a gente sabe. Mas sabe também que, se não fosse a maciça presença do negro no Brasil não teríamos, entre outras boas coisas e boa gente o samba. Pois o abre-alas desse enredo começa quando os escravos, com sua ginga driblando os chicotes de seus senhores, conseguiram manter aqui muitos dos seus costumes nativos. Como os próprios deuses, os orixás reverenciados no Brasil através da identificação com os santos católicos. E com o passar dos anos, impuseram as comemorações religiosas dos brancos o caráter festeiro de seus rituais, como acontece até hoje, pelo menos na Bahia. E foi justamente em Salvador que, em procissões e missas (antes, durante ou/e depois), introduziram suas danças de origem, conhecidas por portugueses que os iam comprar na África pelo genérico batuque. Daí a batucada.

Bem antes da abolição, beneficiados pela Lei do Ventre Livre ou por cartas de alforria, na maioria das vezes compradas por eles mesmos, através de organizações que se assemelhavam a uma caixa econômica – numerosos eram os negros e mulatos que andavam livremente pelas ruas de Salvador. Quer dizer, livremente já e alegoria, pois eram sempre afastados das elites, concentrando-se em bairros populares, na orla marítima ou no centro da cidade.

Trabalhavam então por conta própria, em ofícios como carregador, lustrador, carpinteiro ou pedreiro. Ou não trabalhavam, já que o acesso a empregos estáveis lhes era negado.

Vem daí, quem sabe, sua fama de malandro. Desde então se sobressaem as tias baianas, que, além de sobreviverem através dos quitutes de seus tabuleiros, funcionavam como elementos de agregação da raça, chefiando famílias unidas, muitas vezes, apenas pela cor da pele, fundando terreiros de candomblé e naturalmente, dançando e cantando. E assim apesar da repressão crônica e sistemática das autoridades que organizavam batidas policiais nos terreiros ou dispersavam os grupos de negros que se concentravam em praças, vendendo seus produtos, dançando o lundu, a umbigada e promovendo batuques. o ritmo foi em frente.

Ajudado, ironicamente, pela própria pressão que, ao deslocar as manifestações religiosas dos negros para a época específica do carnaval, criou o próprio.

Aparecem então os cordões e clubes liderados por negros, mulatos e mestiços, e surge o samba baiano. Samba de roda, de partido, no qual o coro canta refrões e os solistas respondem de improviso. Como talvez por influência dos coronéis nordestinos, aqui, aliás, é bom registrar a opinião de alguns pesquisadores para quem o samba teria nascido com os índios do Nordeste, especialmente na tribo Cariri. Citam como prova uma cerimônia na qual os índios "dançavam, bebiam cachaça, comiam cagado" que, em seu idioma, se chamaria samba. Mas, para a grande maioria dos historiadores, a origem da palavra viria da umbigada, que evoca tanto a sensualidade do amor, quanto a mãe África, de cordão umbilical a força cortado. E no dialeto de Luanda, umbigo é samba.

Discussões à parte, a verdade é que os negros foram responsáveis, no mínimo, pela evolução e disseminação do ritmo, insistindo na música, na sua dança, resistindo a perseguição policial e a estigmação da sociedade. Defendendo, assim, a própria raça com uma arma nada ortodoxa: "a alegria".

Alegria que serve de parâmetro para demonstrar que a música baiana tem grande influência nos costumes e na musicalidade nacional, haja visto que todos seus ritmos e rituais são aceitos de uma maneira quase unânime por todas camadas sociais do país.

Começa com o samba, que saiu da Bahia para tomar corpo no Rio de Janeiro, depois em São Paulo e outros Estados, na Bossa Nova de João Gilberto, os Doces Bárbaros (Gil, Caetano, Bethania e Gal), os Novos Baianos. A Lambada que se tornou preferência nacional. Os Blocos de Afoxé (Filhos de Ghandi, Yle-Ayê, Olodum), o carnaval baiano com seus trios elétricos na Praça Castro Alves, e mais recentemente a Timbalada.

Todos esses personagens sintetizam a essência da mais pura alegria desse povo negro e seus descendentes, pois tem ingredientes muito importantes, com a inspiração, improvisação, malícia e, naturalmente poesia.

Mas, lembrando a poesia, impossível de esquecer Noel Rosa que entre tantos sambas maravilhosos, escreveria:

"... E quem suportar uma paixão

Sentirá que o samba então

Nasce do coração...".

 


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