INTRODUÇÃO
De acordo
com informações de pessoas ligadas a religião africana, longe de ser
primitiva, como muitos julgavam apressadamente, ela é bastante complexa,
apresentando um verdadeiro pantheon de deuses principais e,
intermediários como podemos verificar na infinidade de candomblés na
Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Porto Alegre, Recife, etc.
Nossa
entidade escolheu este tema, justamente para homenagear nossa "madrinha
cambota", sem entretanto aprofundar-se na dogmática religiosa e muito
menos no sincretismo religioso, que assimilou os orixás com os santos
católicos.
Usando de
todas as imaginações, levamos ao povo estes deuses uma concepção toda
sua em formas estilizadas objetivando a beleza plástica visual e,
sobretudo, o impacto do espetáculo.
EXPLICAÇÃO DO TEMA
O Sai da
Frente, neste carnaval, realizará uma festa na avenida. "Ao Mundo
Encantado da Magia". O povo e os orixás são os convidados de honra. O
povo em toda extensão da avenida, participa da festa que é dele. Canta,
aplaude e vibra no centro, no tapete negro da avenida, com seu manto
negro que encarnados no próprio povo, pois a Sai da Frente é o povo,
contagiam com sua festa.
Os orixás
são a própria vida de cada um, pois eles são a essência da natureza cada
qual virá com sua força, mensagem e coisas do seu reino. Os autores
misturando arte e criatividade, provocará uma explosão de luzes, beleza
e cores, como sugere o próprio tema.
ABERTURA
Soam os
atabaques. O som frenético da bateria se faz ouvir. A uma só voz
eleva-se um coro. Movimento de luzes. É a natureza, com seus mistérios
que sintetiza, tornando-a forma de gente. O próprio tempo é desvirginado
pela mão do artista, aquela fração de tempo que ninguém viu, nem sentiu,
enfim não foi percebido pois, repentinamente abriu-se uma porta e, em
todas as mentes estabelece-se um mito de fantasia, realidade e mistério.
INÍCIO DO
DESFILE
E é neste
primeiro instante de encantamento que o povo vibra. Agitam-se tridentes.
Saldão "salve" nossa madrinha Cambota, salver Sr. San, salve Ogum, salve
a bateria.
São quem
abre o festejo. Eles são quem garantem a frente do cortejo, que tudo
fará a contento. Vem abrindo caminho cortando as demandas levando
consigo as más intenções. E o povo se agita, antes vendo o espetáculo...
Os orixás logo estarão a sua frente (E bom ressaltou, pois a Escola de
Samba é um veículo de cultura, que Orixá não é esperto ou alma como
muitos julgam, ele nada tem a ver com espiritismo; ele é sim, força
natural dos elementos da vida, é a síntese das marcas e forças que nos
transcendem), são orixás se apresenta; surge, rasgado com suas magias a
barreira das dificuldades do dia a dia. E o guerreiro que existe em cada
ser humano abrindo caminho a peito e a ferro.
É Ogam...
Ogam lhe patá cori auá negi (a sua saudação). Ogam vem trazendo a
mensagem da fé, na luta do cotidiano e o seu domínio é o ferro.
Ogam está
presente na primeira luz da aura, quando Exú lhe entrega as ruas e
encruzilhadas, por onde haverão de passar, agora milhares de
trabalhadores em busca de suas lídes Ogam é isto: essência protetora do
que rasga estradas constrói edifícios e ferrovias, planta e colhe, dos
pedreiros, ferreiros, metalúrgicos, enfim do homem que constrói o nosso
mundo.
Afinal, é ou
não uma beleza, descobrirmos os Orixás? Mas, a festa continua, e quem
acaba de chegar é Oxosse... (Oke Aro, Odé Golenin Cori Oté Salé) suas
saudações: Bonito e inquieto. Jovem, quase menino: apaixonado por Oxum,
gerou nela, Logum Edé (vale ressaltar que existem diversos orixás
intermediários ou de qualidades, às vezes raras como se costuma dizer
nos candomblés, mas não iremos nos aprofundar nestas sistemáticas para
não incorrermos em complexidade do tema). Oxosse é o senhor da caça e da
pesca. Dele é o reino animal. Comilão por excelência gosta de carnes em
geral. Seu reino está nas matas e na intimidade como Oxum herdou o
direito de pescar nas águas doces. Carrega arco e flecha "Ofa" e um rabo
de boi "Eru".
O cenário
muda subitamente na avenida, agora tudo é ouro. O autor da terra, quase
em toque de alquimia, traz Oxum... Ora Ye Yeo (sua saudação). A mais
bela, a mais faceira. Moça menina que a todos provoca com sua berjerice.
Seu reino são as águas doces, rios, riachos e fontes, o seu mundo
encantado. Veste-se e dança com graça e cobre-se de jóias, com grande
predileção pelo ouro, traz sempre na mão um espelho emoldurado em latão
(abebe) como cabo incrustado de jóias e pedras raras. Com este espelho
quando voltado para fora, Oxum reflete e faz retornar as intenções de
quem o mira.
Turbulência
no céu, filigrana em corisco dourados: Eparrê Oia. Saudamos Yansã.
Senhora das
tempestades, dom que divide com Xangô.
Quando ela
chega a natureza toda se agita, a ventania arranca sons e vozes das
matas, corredores e telhados, e Yansã passa comandando o seu séqüito de
Eguns (almas penadas ou espíritos) (como disse em princípio Orixás não
são espíritos, muito pelo contrário, fazem deles como o diabo da cruz)
somente Yansã tem o domínio sobre os Eguns e a sua principal função é
afastá-los dos redutos onde são cultuados os demais Orixás. Yansã
adquiriu o poder universal sobre os Eguns por ter sido o único Orixá que
vencera a morte. Como mulher de Xangô tem grande influência sobre o
raio. Ela é o Orixá do fogo, por ter comido às escondidas parte do
encanto dado por Oxalá à Xangô.
Atenção meu
povo, muita tenção... Pedras e meteoritos enchem a avenida.
Ao coro de
vozes, mucha-se o ruge de todos os leões da terra. é a trovoada, povoada
de raios, mais fortes agora, pois quem chega é o Orixá da Justiça (Kao-Cabecile,
Aziberrê, sua saudação).
É Xangô quem
chega, trazendo ao conto do seu "Ox" (machado de dois gumes) a medida
exata da justiça, única e verdadeira exatamente entre os dois gumes
afiadas e prontos a punir pela lei do universo, a mentira, a calúnia, a
inveja, o ciúme, etc... Sobre sua coroa, paira a justiça e a paz social
universal.
A festa
continua... O povo, já não sabe mais para onde olhar, se para o que já
passou ou se para o que vem, ao longe.
Um momento
de emoção e homenagem é indispensável a toda festa que se preze. Um
momento de profundo carinho, respeito e mistério. Eles se fazem
presente, entretanto, não se mostram. Vêm a festa porque amam o povo,
mas não gostam muito de festas.
À frente
Nanã... Salubá (sua saudação), veio mas não aparece, e todos sabendo que
ela está presente. É a divindade das chuvas.. Purificadora da atmosfera.
A mais antiga das mães d'água. Esposa mais idosa de Oxalá. Existe há uma
enormidade de milênios e já não pertence mais a terra. Ela está agora no
conselho do mundo.
A seguir
outro importante Orixá é Obaluaé... Atotô (sua saudação) todos lhe têm
profundo carinho e respeito. Gostam muito de saudá-lo. É o médico dos
negros e dos pobres em geral.
Controla
todas as doenças. É muito sério e, da mesma forma que espanta as doenças
com o seu xaxará (bastão de palha da costa com xaretas e búzios) ele
quando irritado, pode empestear o mundo, espargindo os males que ele
carrega em sua cabeça. Obaluaé apesar de muito sério, gosta de dançar o
"panize" sua dança.
Prestadas as
homenagens a estes dois importantes Orixás, a festa continua. O frescor
e o perfume do mar, tornam-se agora, bem acentuados. O marulhar das
ondas eleva-se e mistura-se ao canto da festa.
Odoiá... é
Yemanjá. Vem rolando como ondas encristada de espumas cintilantes. Tão
querida e tão venerada por toda gente no mar que brotou do seu ventre,
esta é a sua força. É a rainha do mar, o reino que alimentará a
humanidade, a doce mãe do mar, fonte inesgotável da natureza.
Toda a
natureza se fez presente a esta festa singular. E quem chega para fechar
as cortinas do espetáculo é a própria vida. É a luz que fecunda o vento
do infinito. É a apoteose da eternidade. É a explosão, que gerou o
universo. É o sol, que leva a vida a todos os recantos. É a lua, as
estrelas, o ar, a terra, a água. É a chama que pulsa. É Oxalá... Chevé
babá (sua saudação)
A alvorada
em festa, o canto dos pássaros, a pureza do Irilê (pombo), a paz do
entardecer em sinfonia de luzes da natureza... o bater batente do
coração de toda humanidade.
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