Acalentado pelo sol de verão, o mesmo que
brilha, ilumina a Cachoeira, a fantasia e ilusão.
Os sonhos e alegria explodem quando chega
fevereiro, celebrando o mês do Carnaval, marca a celebração
eventualmente para março.
Nessa época do ano, o ritmo do samba,
cultivado nos bairros populares, inunda as cidades em ondas sucessivas
de alegria, toma conta das largas avenidas, praças e clubes e acaba por
contagiar o país inteiro.
Os donos maiores dessa grande festa, sem
dúvida, as Escolas de Samba, que passam um ano inteiro preparando-se
para desfilar por horas apenas, no maior espetáculo cenográfico popular
do mundo, assistido por milhares de pessoas.
Sob o olho atento do povão, o Rei Momo, um
homem gordo, muito gordo e sempre sorridente, anuncia solenemente que
está aberto o carnaval.
Hoje eu vou vestir alegria, vou afogar a
dor, mergulhar na fantasia, ser profano nesta Cachoeira Império do
Samba, neste mar de amor.
É hora de deixar as tristezas de lado e
abraçar a folia, sair às ruas, desfilar na passarela, cantar, sambar,
dançar, pular e abraçar a poesia.
A cidade se transforma numa grande festa,
onde a palavra de ordem é esta: Deixa Sambar os Cinco Dias de Carnaval.
Conta-se que o Carnaval teve origem no
Egito, dois mil anos antes de Cristo. Foi inspirado, segundo alguns
autores, em rituais das festas do Boi Ápis e de Ísis.
Os gregos, duas vezes por ano,
entregavam-se às festas do Rei Baco ou Dionísio - "Deus do Vinho" -
aquele que liberta o espírito de qualquer cuidado e afugenta a mágoa.
Seu cortejo beirava a loucura; as damas
não coravam ao receber propostas indecentes e de coroar as menos
honestas. Os homens, disfarçados em pans, sílenos e sátiros, eram donos
de mil gestos bizarros, simulando as loucuras da embriaguez.
Nas gaias tais foram os abusos, que o
Senado promulgou um decreto, para remediar a orgia.
Há quem diga que o Carnaval provém
diretamente dos saturnais (antigas festas em honra de Saturno). Os
romanos celebravam com elas a virada do ano da primavera. No princípio
só duravam um dia, mas ordenou o Imperador Augusto, que durariam três
dias. Calígola aumentou-lhe 24 horas.
Durante estas festas, os senhores perdiam
o poder sobre os escravos, tudo era liberdade, alegria e prazer.
No começo do cristianismo a Igreja
procurou dar novo espírito a essas festividades, punindo com rigor os
mais enlouquecidos.
O carnaval reaparece na Idade Média, em
Veneza, onde era festejado com delirantes manifestações de alegria.
As damas elegantes usavam máscaras,
ocultando o rosto, a fim de serem escolhidas pelos cavalheiros. Fizeram
da mesma um instrumento de sedução. Amava-se de máscara. Zé Pereira, um
português com seu bumbo iniciou no Brasil o carnaval. No início uma
perigosa brincadeira: o entrudo que os portugueses trouxeram dos Açores
e no qual predominavam algumas manifestações de alegria, que beiravam à
violência, batalhas eram de ovo cru, de cartuchos de pó, de panelas, de
vários líquidos, de tremossos, milhos, feijão, soprados por tubos,
areia, quinquilharias e sobretudo, litros e litros de água e urina.
De proibição em proibição, o entrudo foi
decaindo até o desaparecimento.
Sua diluição obedecera a um processo;
primeiro os projéteis utilizados nas batalhas foram substituídos por
flores de todos os tipos, tornando-se mais gentil e sentimental. Além
disso, não causavam danos físicos, ao contrário das vassouras, borbotões
de água e até mesmo pancada com objetos de madeira, deram lugar ao limão
de cheiro.
Eram pequenos e inofensivos, recipientes
que continham água perfumada com pequena quantidade. Também o limão de
cheiro, foi substituído, sucedendo-se a lança-perfume, mais refinado e
galante, cujo custo e abuso se consagraram em pouco tempo.
Descendentes legítimos do entrudo são
ainda as serpentinas, os confetes, o talco e a farinha de trigo. Outros
recursos e brincadeiras foram criando-se com o tempo, amplas evoluções
do próprio Carnaval ou por foliões espirituosos e engenhosos. A tradição
da fantasia foi acentuando-se cada vez mais no decorrer dos tempos. E
hoje o desfile das escolas de samba é o maior espetáculo da Terra.
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