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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
S.R.C.E.S. IRACEMA MEU GRANDE AMOR - CARNAVAL 1995
Enredo: Nelson Gonçalves (O Cantor das Multidões) - A Boêmia Também Mora no Iracema

O Grêmio Recreativo
Autores: João Carlos de Oliveira (Neno), Marcão Sombra e João "Pulga"

 

Nelson Gonçalves, nascido Antônio Gonçalves Sobral, em 21 de junho de 1919, na cidade de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, filho de pais portugueses, que vieram logo para São Paulo, no Bairro do Pari, Brás, Zona Leste. É hoje, senão o único, pelo menos o último dos cantores populares do Brasil. Segundo ele "O último dos moicanos". Já na infância destacavasse entre os demais alunos na escola ao cantar o hino nacional brasileiro. Conhecido como "Caruzinho", de carta feita recusou-se a cantar o hino nacional, pois acreditava que assim demonstraria à professora que os amigos não cantavam o hino. Ao contrário do que esperava, a professora ameaçou com a expulsão da escola e ao chegar em casa, seu pai, já sabendo da história e furioso com o fato, determinou-lhe o castigo; Iria com o pai, acompanhado do violão, a Praça do Pari cantar o dia inteiro a passar a sacolinha para o ceguinho da praça.

Após terminar o primário, começou a trabalhar de garçom no bar do irmão mais velho, o Quincas, na já então famosa esquina da Av. São João com a Al. Nothiman. Aos 16 anos (+-1935) tenta sua primeira profissão Boxeur. Mas passado algum tempo, já campeão amador, na categoria peso médio, desiste da carreira durante a luta com o uruguaio conhecido como "Acosta". Depois de muito apanhar, vai à lona e ainda consciente, ao ouvir o juiz fazer a contagem, diz-lhe "Pode contar até mil que daqui eu não levanto mais". E assim termina a carreira, prematura, de um pugilista, já conhecido na época pelo público do pugilismo paulista, como "O Cantor".

Nesta época, passou também por trabalhos como engraxate, polidor até chegar a garçom. Em 1937 faz alguns testes em programas de calouros, nas rádios, Tupi em São Paulo, no programa Aurélio Campos, com o Maestro Gabriel Milheri, onde conseguiu, não na primeira vez, mas na segunda tentativa, um contrato que rendeu-lhe uns bons trocados na época.

Mas em 1939, dispensado da Rádio Tupi, por questões de corte, no "Cast" da rádio, em função da crise econômica pela qual passava o país na época. Nelson Gonçalves, já com 20 anos, aventura-se no Rio de Janeiro, então paraíso das gravadoras. Com seu pouco dinheiro, parte do trabalho e parte furtado do caixa do irmão, ao longo do trabalho, hospeda-se em uma pensão, na Rua Alfândega. Começa então sua maratona nas rádios. Apesar de bem conhecido no meio paulista como intérprete, Nelson Gonçalves tem sérios problemas para empregar-se no Rio de Janeiro à época. Vai a Rádio Mayrink Veiga com César Ladeira, a Rádio Clube com Renato Murce, a Rádio Nacional com Celso Guimarães e a Carlos Frias na Rádio Ipanema, onde é recusado em todos os programas, tendo inclusive, o caso notório já lendário, tanto para a carreira de um como para a de outro, da Rádio Cruzeiro do Sul, do então famoso Ari Barroso; que após o término do teste de Nelson Gonçalves, em seu programa, pergunta-lhe a queima roupa: "Qual era a sua profissão em São Paulo?" e ao ouvir de Nelson, "Sou garçom" respondeu-lhe "Então volte para São Paulo e vá trabalhar de garçom".

Desestimulado e já sem dinheiro, Nelson Gonçalves volta a São Paulo de caminhão. Sua família contente, acreditando que houvesse desistido da carreira, recebe-o de volta no lar e no emprego do irmão no bar. Como garçom retorna à vida boêmia de São Paulo que já conhecera desde os seus 16 anos de idade. Na noite paulistana conhece vários músicos e compositores. Dentre eles, Orlando Munello e Evaldo França, dois compositores que conhecera no bar do seu irmão, disseram-lhe que conheciam Cássio Muniz, dono de uma espécie de supermercado do disco, que poderia ajudá-lo, caso fizessem uma boa gravação, mandando-lhes a R.C.A. Victor (Hoje atual B.M.G./Ariola) no Rio de Janeiro para gravar um disco. Nelson, Orlando e Evaldo não perdem tempo, vão à Rádio Record e gravam um acetato, muito bem afinado, com duas músicas, "Sinto-me bem" de Ataulfo Alves e "Se eu pudesse um dia" de Orlando Munello e Evaldo França. Cássio Muniz ao ouvir a gravação, imediatamente escreveu uma carta recomendando Nelson Gonçalves à gravadora R.C.A. Victor, e pedindo-lhe uma cota até muito alta para a época, 10.000 cópias, principalmente considerando-se que era o lançamento de um cantor.

Nelson Gonçalves munido de uma cópia do acetato e da carta de recomendação de Cássio Muniz retorna ao Rio de Janeiro e dirige-se à gravador R.C.A. Victor. Seu diretor ao ouvir o acetato, ficou abismado com a qualidade do cantor, apesar da simplicidade da gravação. Até então Nelson Gonçalves estava calado. Premido pela ansiedade e incerteza, aliado ao nervosismo peculiar a essas situações, qualquer mortal gaguejaria. Mas para Nelson que já era gago de nascença, começou a gaguejar e tropeçando nas palavras, mal conseguia falar, no que foi interrompido abruptamente pelo diretor "Seu gago sem vergonha, dê-me logo essa carta e ponha-se fora daqui".

Desorientado e nervoso Nelson volta para a pensão, onde desabafa com os amigos de quarto, que de imediato querem ir com ele de volta a gravadora para quebrar a cara do diretor. Mas um pouco mais calmo, Nelson dispensa a ajuda deles, dizendo que amanhã iria sozinho à gravadora quebrar a cara do diretor. No dia seguinte dirige-se à gravadora R.C.A. Victor e já na sala do diretor Vitório Lattari, ouve-o falar a uma pessoa na sala, chamado Benedito Lacerda "Veja você, esse gago sem vergonha vem de São Paulo aqui para dizer-me que é cantor". Benedito Lacerda, homem muito experiente disse ao diretor: "Eu viajo muito por esse mundão e conheço alguns gagos que são cantores, vamos fazer um teste com ele!". Levou Nelson Gonçalves a um estúdio e pediu-lhe que cantasse alguma canção. Nelson canta-lhe um tango e na metade da canção, Benedito manda-lhe parar. Pronto é o fim, pensa Nelson Gonçalves e ainda apreensivo ouve o Benedito dizer a Vitório: "Pode contratá-lo, vai ser o maior cantor do Brasil". Nelson quase desmaia.

Então pela primeira vez em 04/08 de 1941, Nelson Gonçalves entra em um estúdio para gravar seu primeiro disco. Nele grava a música que Ataulfo Alves lhe oferecera em noites passadas no Café Nice, "Sinto-me Bem" que torna-se seu primeiro sucesso. Muito tocada em rádios na época, ficou conhecida como "21", pois esse era o seu número nas máquinas que tocavam músicas nos bares, bastando para isso colocar uma moeda. Conhecida como caça-níqueis, esses "juke-box", não cansavam de tocar "21" de Nelson Gonçalves. Depois grava o "Foz-trote", "Renúncia" de Roberto Martins e Mário Rossi, que tornou-se sucesso e até hoje é solicitada em todos os seus shows. Seu nome torna-se tão popular que assina, em 1941 mesmo, um contrato com a R.C.A. Victor e logo em seguida com a Rádio Mayrink Veiga, para onde foi levado pelo cantor Carlos Galhardo. Ainda esse ano 41, é indicado pela revista do Rádio, como o "Rei da Voz". Diz-se que a época da indicação a capa da revista já estava pronta com a foto de Francisco Alves, e que essa fora cancelada em virtude do recente estouro de Nelson Gonçalves e sua indicação como o "Rei da Voz".

De 1941 à 1946, Nelson Gonçalves ganhava o equivalente a 600 mil réis da Rádio Mayrink Veiga, e já contava na constelação da música popular brasileira como Chico Alves, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Sílvio Caldas. Além disso já emplacara várias músicas, por ele interpretada, nas paradas de sucessos. Sempre pela Victor, gravava sucessos como "Maria Bethânia" de Capiba, que veio a influenciar o então jovem Caetano Veloso a colocar o nome de sua recém-nascida irmã de Maria Bethânia dado o sucesso da música. Gravou também sambas canções como "Normalista" de Benedito Lacerda e Davi Nasser, "Caminhemos" de Herivelton Martins e Davi Nasser, o fox trote "Renúncia" de Roberto Martins e Mário Rossi e o tango "Carlos Gardel" de Herivelton Martins e Davi Nasser.

Na segunda metade da década de 40, mais precisamente em 1946 ganha um programa da Rádio Nacional, somente seu chamado "Nelson Gonçalves Canta". Começa a época de ouro de Nelson; A Rádio Nacional à época era como a Rede Globo hoje, e Nelson Gonçalves tinha um salário somente inferior a Chico Alves que era de 30 mil contos de réis, enquanto ele recebia 25 mil contos de réis, o que era suficiente para comprar uma casa. Nelson mantinha seu programa, fazia suas excursões e colocava mas sucessos nas paradas, principalmente suas marchas de carnaval como "Espanhola", "Serpentina", "Ai, morena" e outros.

Nessa época conhece também Adelino Moreira de Castro, então compositor obscuro, e que apresentava-se como cantor em programa de seleções portuguesas na Rádio Clube do Brasil, patrocinada por seu pai. Adelino que procurava um grande cantor para interpretar suas canções, pressionado por sua mulher que insistia que Nelson Gonçalves era um grande cantor como Orlando Silva, que Adelino adorava, resolveu procurá-lo no programa de César Alencar, onde ele estaria entre os grandes de sua época, como Emilinha Borba, Carlos Galhardo, Nora Ney, Jorge Goulart, Silvio Caldas, Chico Alves e outros. Ao encontrá-lo no elevador da rádio, apresentou-se e fez-lhe então sua proposta, ao que Nelson pediu-lhe que o aguardasse no bar em frente. Ao chegar, Nelson já foi lhe pedindo que cantasse uma canção e meio sem jeito Adelino cantou-lhe "A Última Seresta". Nelson ao ouvi-lo, pediu-lhe que o procurasse em seu programa na rádio para a gente mandar fazer uma partitura para essa música. Adelino atendeu-lhe o pedido e quase desmaiou, quando, uma semana depois, ouviu sua música, não só no programa de Nelson Gonçalves, mas também em outro programa da Rádio Tamoio, onde era anunciada como o novo disco de Nelson Gonçalves. A outra surpresa de Adelino foi ao receber os direitos autorais que para a época já era um grande dinheiro. Estava selada uma parceria que duraria muito tempo e daria aos dois muitos sucessos como, "Meu Vício é Você", "A Volta do Boêmio", "Fica Comigo Essa Noite", "Manicure" e "Deusa do Asfalto". Seus direitos autorais vinham de várias capitais importantes do interior do país, bem como do Uruguai, Argentina e Estados Unidos por onde Nelson Gonçalves integrou uma caravana de artistas brasileiros que se apresentavam num show da Rádio City de Nova York.

Alias era nesse período em excursão pela Rádio City, que Nelson vem a receber o seu maior elogio. Sua temporada nos E.U.A, com lotação esgotada, tinha entre seus espectadores o ilustre Frank Sinatra, que não perdera nenhuma de suas apresentações. Ao terminar um de seus shows, Frank Sinatra, já então o conhecido como "The Voice" (A Voz) dirige-se ao camarim de Nelson e diz-lhe "It's impossible for me to sing like you" (É impossível para mim cantar como você) dito isso abraçou-lhe fortemente e retirou-se do seu camarim deixando-o só. Nelson que não acreditava no que ouvira, embora fosse verdade, pois havia uma testemunha que presenciara.

Mas o peso de seu passado recente de viciado ainda pesa sobre suas costas. Quase nenhuma grande casa de espetáculo quer recebê-lo, o que o obriga a cantar praticamente em circos, o que ele faz com muito prazer porque acima de tudo Nelson gosta de estar em contato direto com o público. Apesar de alguns dissabores durante o show, onde sempre um gaiato, em meio ao público, perguntava: "Ei seu Nelson, onde é a bocada boa". Mas Nelson resoluto, segue seu caminho e no início da década de 70 já recuperado plenamente de seu vício leva uma vida regrada mesmo curtindo a boêmia. Vivia então dos 5.000 cruzeiros que recebia mensalmente de sua sociedade arrecadadora que cuidava de seus direitos. Assim levava uma vida sossegada em sua casa de praia em Itaipu no Rio de Janeiro onde cultivava hábitos noturnos, como tomar banhos nus, na beira da piscina, sem ser incomodado por ninguém.

Em 1965 volta a dominar as paradas de sucesso com seu disco "A Volta do Boêmio nº 1", onde começa a guinada para a consagração final do cantor que como homem foi exemplo de conduta indo de réu a herói. Acertou na vida, errou na droga, mas venceu, não só o vício mas o medo de tornar público um deslize do homem Nelson. Ao contrário, participou com seu público de suas dores e amarguras fortalecendo assim o laço existente entre eles, não só do mito Nelson Gonçalves mas do homem Antônio Gonçalves Sobral.

Nelson desentende-se com seu parceiro e amigo Adelino Moreira e ficam sem falar-se por longo tempo, de 1967 à 1972, voltando depois a relacionarem-se fazendo então novas composições. Nelson até passa a seu amigo a função de empresário de sua carreira, dizendo ser justo ganharam o mesmo dinheiro que semearam através de suas composições.

Antônio Gonçalves Sobral vivia a dúvida do nome artístico a adotar. Até que seu amigo, o Aloísio (Aloísio Silva Araújo, conhecido cômico da década de 40, como Recruta Zero e a cadeira do barbeiro), lhe disse que Antônio era nome de padeiro e que Nelson era nome de herói da história inglesa; Então entre padaria Lisboa e o "Trafalgar Square", é lógico ficou com a segunda opção.

Nelson, até hoje conhecido pelas suas idiossincrasias, disse que ainda grava um LP em apenas 4,30 hs. Diferente da maioria dos cantores de hoje que levam dias e até meses para gravar um LP. Nelson é do tempo em que se você errasse alguma canção, na gravação, tinha que esperar 3 meses para chegar um novo acetato, dado a dificuldade que era conseguir o material naquela época. Como diz Nelson "Minhas gravações são de "prima", gravo sempre na primeira, não como esse povo que entra no estúdio, toma uma depois outra e passado algumas horas, ainda não gravou nada; Sou do tempo que sequer tínhamos aparelhagem para show, muito menos para gravação".

Nelson Gonçalves vem de um tempo aonde ainda eram influenciados pela "Operetas" que predominavam na época e determinavam frases longas nas canções, o que exigia vozes potentes para sustentá-las. O que mudou com o advento da Bossa Nova que eram composições de frases curtas. Como ele mesmo diz "Sou um baixo cantante, eu canto conforme falo, até hoje minha voz não mudou nada, é só observar os outros cantores da minha época e você verá que a voz deles mudaram com o tempo. A minha não só não mudou, como hoje, com toda essa tecnologia, eu uso somente um terço da minha voz. Nelson toma muita vitamina, faz exercícios matinais, pula corda, para não esquecer que foi Boxeur, e nada pela manhã, as vezes com sua netinha, outras vezes com o filho que é formado em educação física.

Mas segundo o próprio Nelson o segredo de seu vigor físico está nos exercícios sexuais. Pelo menos duas vezes ao dia Nelson o pratica. Diz ser esse o responsável pelo seu equilíbrio psico-emocional e por que não dizer profissional. Diz que nunca deixou suas parceiras na "saudade", até hoje todas que vieram pela primeira vez, sempre voltaram. Sinal de satisfação. Com certeza é daí que vem sua fama de "Macho". Além de gaúcho e briguento, esse traço machista se apresenta claramente em suas músicas. Diz ele que as mulheres adoram serem dominadas e esse seu lado machista é aceito até pelo seu público masculino que se identifica com isso, ao ouvi-lo.

Aliás essa fama de brinquedo vem desde o começo de sua carreira na mocidade. Em São Paulo era boxeur, mas foi no Rio de Janeiro, mais precisamente na Lapa, que de certo feita estava em um bar bebericando uma bebida e beliscando umas sardinhas com um amigo, quando um crioulo bem avantajado esbarrou-lhe no braço derrubando sua sardinha, e Nelson, na discussão, deu-lhe um direto de direita, e o negrão estatelou-se no chão não levantando-se mais; Nelson assustado e aconselhado pelo amigo retirou-se do bar, temendo tê-lo matado. Ao encontrar com "Madame Satã" em uma esquina, pediu-lhe que fosse ao bar para ver o que tinha acontecido. Passados alguns minutos ele vê "Madame Satã" retornando com o negrão a tira-colo, sem saber o que fazer os dois se aproximam, o negrão estende-lhe a mão e assim tornam-se amigos. Ai é que Nelson veio a entender o que se passava; Tratava-se de "Miguelzinho Camisa Preta", o maior valentão da Lapa, que caíra pela primeira vez, na vida, na mão do "Italianinho", como era conhecido todo paulista que chegava na Lapa. E "Miguelzinho" passara a ser seu amigo porque apesar de tê-lo derrubado não quebrou-lhe nenhum dente, nem costelas, como era de praxe na época.

Esse feito deu-lhe fama de "bom de briga" e passara então a ser chamado para resolver qualquer parada na Lapa. Passado alguns meses na Lapa resolvendo todos os problemas, achou melhor sair dali, pois poderia acabar levando a pior. Apesar de as mulheres "fazerem fila" pelo italianinho bom de briga, avisou a "Madame Satã" (O único travesti que respeitara na vida, pois era capaz de quebrar a cara, sozinha, de 5 ou 6 marinheiros que a azucrinassem), que iria embora da Lapa, para ficar mais perto de uma casa de espetáculos onde cantava na época. Por essas e outras é que Nelson Gonçalves se diz respeitado até hoje quando chega em rodas de malandros, e principalmente por não ter caguetado ninguém quando esteve preso, na cadeia, como traficante o que nunca fora na sua vida.

Mas apesar da sua fama e de seu temperamento explosivo, (Nelson diz que sua educação depende da do outro, se gritar comigo eu também grito, se me tratar bem eu também o trato bem), Nelson Gonçalves é um homem simples e discreto. Desde o começo de sua carreira, quando morava no Rio de Janeiro, sempre que precisava hospedar-se em São Paulo, trocava a suíte presidencial no Maksoud Plaza, pelo seu quarto no Motel Jandaia, na Duque de Caxias onde sempre foi bem atendido pelo seu gerente Douglas, que lhe arrumava tudo o que precisa-se, inclusive dinheiro se fosse o caso. Segundo Nelson preferia fugir daqueles hospedes "ficção econômica paulista" e ficar com o popular da antiga estação rodoviária, atrás do seu hotel, pois era da vida deles que Nelson tratava em suas canções. O que ele adorava era tomar uma e outras no Bar do Bigode ao lado do Hotel Jandaia, além das belas mulheres que por ali passavam.

Essa simplicidade vem seguida de uma preocupação com o futuro, pois afinal de contas, já no 2º casamento com 10 filhos, sendo 2 do primeiro e 8 do 2º e mais 4 netos, tem que pensar em aposentadoria.

Já em 1976 começava a entrar no estúdio pelo menos uma vez por semana onde sempre gravava uma música inédita, acompanhado de um instrumento geralmente um violão ou piano, com o objetivo de que a gravadora a partir de 1990, pudesse lançar um disco seu a cada ano, garantindo assim uma renda extra. Para mostrar que não foi em vão essa preocupação Nelson tem hoje, material para ser gravado com o acompanhamento de grandes orquestras e com arranjos modernos até o ano de 2013. O que lhe garantirá uma boa aposentadoria.

É também nesse período, 75/76 que Nelson, preocupado em presentear seus fãs com o melhor de seu trabalho, lança o seu, então, 82º disco, que era na verdade uma trilogia. Fruto de um hábito curioso, Nelson guardava todos os bilhetes que eram enviados em seus shows, pedindo-lhe músicas, desde o começo da década de 70. Baseado nesses quase 10.000 bilhetinhos ele escolhe as 36 músicas mais solicitadas nesse período e as grava em disco chamado "Nelson Gonçalves em Três Gerações" onde quem escolhe as melhores músicas de sua carreira, não foi ele nem a gravadora, mas os seus próprios fãs.

Nelson é hoje um mito vivo. Com mais de 126 discos gravados, 312 compactos simples, 400 fitas e 172 discos em 78 R.P.M. é o cantor com mais discos vendidos na América Latina, com aproximadamente 40 milhões de discos e 20 milhões de fitas. E com certeza foram essas cifras de vendas que lhe garantiram o prêmio NIPPER, concedido pela gravadora apenas mais uma estrela de seu "Cast", Elvis Presley. Fundador do Hospital Renascer em Belo Horizonte, demonstra sua preocupação permanente com a recuperação de alcoólatras e toxicômanos, especialidades desse hospital.

Já gravou a maioria dos compositores brasileiros, como Vinícius de Moraes, Nelson Cavaquinho, Orestes Barbosa, Dolores Duran, Tom Jobim, Ary Barroso e Jonny Alf. É um dos raros cantores que respiram com o diafragma, já gravou com os grandes intérpretes do momento como, Milton Nascimento, Lobão, Tim Maia, Rita Lee e outros. Com tanto tempo no auge, atravessou gerações sem perde-las de vista e também sem perder a própria identidade. Tanto influenciou como foi influenciado.

Para finalizar essa sinopse vamos desfazer alguns "mal entendidos", segundo o próprio Nelson. Por exemplo; Sua música é brega? Não segundo ele, "Eu sou um cantor romântico, falo do amor e do desamor de um povo, de ciúmes e desavenças num relacionamento e lógico de mulher, a razão da vida". "Se falo errado é porque o povo assim o faz, meu papel é o de cantar e distrair o povão, quem tem que educar é o Governo". Depois que surgiu o Vando, passaram a entender que a música de Nelson não é brega. Ele é o cantos do 4º wisk. Depois do 4º gole todo bacana quer ouvir "aquela do Nelson Gonçalves". Outro, Sua música é do passado? Não, simplesmente as rádios, e não é de hoje, tocam mais músicas americanas do que brasileiras; e dentre as brasileiras que tocam somente algumas e muito poucas são românticas, por exemplo, eu e o Silvio Caldas somos tocados, mas somente de madrugada, quando todo mundo está dormindo. Problemas do imperialismo da indústria fonográfica no Brasil. Até dias mais recentes, Nelson tinha de "Caitituar" suas músicas nas rádios cariocas e paulistas, com seus discos embaixo do braço, pedindo aos programadores que tocassem suas músicas. E por último; O que é boêmio? Boêmio é aquele que passa a noite toda, tomando sim umas e outras e cantando, mas sem perder a compostura; esses cidadãos que saem com um violão embaixo do braço e tomando todas até cair, não são boêmios, mas sim "biriteiros". E finalmente nas palavras do próprio Nelson Gonçalves "inventaram isso, o Brasil inteiro pensa que sou gago, mas é que adoro falar e me estrepo quando quero falar na mesma velocidade e rapidez com que penso. O nome científico disso, dito por um médico amigo meu é Taquilárico; Não sou gago, sou taquilárico, pronto e chega".

 


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