Nelson
Gonçalves, nascido Antônio Gonçalves Sobral, em 21 de junho de 1919, na
cidade de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, filho de pais
portugueses, que vieram logo para São Paulo, no Bairro do Pari, Brás,
Zona Leste. É hoje, senão o único, pelo menos o último dos cantores
populares do Brasil. Segundo ele "O último dos moicanos". Já na infância
destacavasse entre os demais alunos na escola ao cantar o hino nacional
brasileiro. Conhecido como "Caruzinho", de carta feita recusou-se a
cantar o hino nacional, pois acreditava que assim demonstraria à
professora que os amigos não cantavam o hino. Ao contrário do que
esperava, a professora ameaçou com a expulsão da escola e ao chegar em
casa, seu pai, já sabendo da história e furioso com o fato,
determinou-lhe o castigo; Iria com o pai, acompanhado do violão, a Praça
do Pari cantar o dia inteiro a passar a sacolinha para o ceguinho da
praça.
Após
terminar o primário, começou a trabalhar de garçom no bar do irmão mais
velho, o Quincas, na já então famosa esquina da Av. São João com a Al.
Nothiman. Aos 16 anos (+-1935) tenta sua primeira profissão Boxeur. Mas
passado algum tempo, já campeão amador, na categoria peso médio, desiste
da carreira durante a luta com o uruguaio conhecido como "Acosta".
Depois de muito apanhar, vai à lona e ainda consciente, ao ouvir o juiz
fazer a contagem, diz-lhe "Pode contar até mil que daqui eu não levanto
mais". E assim termina a carreira, prematura, de um pugilista, já
conhecido na época pelo público do pugilismo paulista, como "O Cantor".
Nesta época,
passou também por trabalhos como engraxate, polidor até chegar a garçom.
Em 1937 faz alguns testes em programas de calouros, nas rádios, Tupi em
São Paulo, no programa Aurélio Campos, com o Maestro Gabriel Milheri,
onde conseguiu, não na primeira vez, mas na segunda tentativa, um
contrato que rendeu-lhe uns bons trocados na época.
Mas em 1939,
dispensado da Rádio Tupi, por questões de corte, no "Cast" da rádio, em
função da crise econômica pela qual passava o país na época. Nelson
Gonçalves, já com 20 anos, aventura-se no Rio de Janeiro, então paraíso
das gravadoras. Com seu pouco dinheiro, parte do trabalho e parte
furtado do caixa do irmão, ao longo do trabalho, hospeda-se em uma
pensão, na Rua Alfândega. Começa então sua maratona nas rádios. Apesar
de bem conhecido no meio paulista como intérprete, Nelson Gonçalves tem
sérios problemas para empregar-se no Rio de Janeiro à época. Vai a Rádio
Mayrink Veiga com César Ladeira, a Rádio Clube com Renato Murce, a Rádio
Nacional com Celso Guimarães e a Carlos Frias na Rádio Ipanema, onde é
recusado em todos os programas, tendo inclusive, o caso notório já
lendário, tanto para a carreira de um como para a de outro, da Rádio
Cruzeiro do Sul, do então famoso Ari Barroso; que após o término do
teste de Nelson Gonçalves, em seu programa, pergunta-lhe a queima roupa:
"Qual era a sua profissão em São Paulo?" e ao ouvir de Nelson, "Sou
garçom" respondeu-lhe "Então volte para São Paulo e vá trabalhar de
garçom".
Desestimulado e já sem dinheiro, Nelson Gonçalves volta a São Paulo de
caminhão. Sua família contente, acreditando que houvesse desistido da
carreira, recebe-o de volta no lar e no emprego do irmão no bar. Como
garçom retorna à vida boêmia de São Paulo que já conhecera desde os seus
16 anos de idade. Na noite paulistana conhece vários músicos e
compositores. Dentre eles, Orlando Munello e Evaldo França, dois
compositores que conhecera no bar do seu irmão, disseram-lhe que
conheciam Cássio Muniz, dono de uma espécie de supermercado do disco,
que poderia ajudá-lo, caso fizessem uma boa gravação, mandando-lhes a
R.C.A. Victor (Hoje atual B.M.G./Ariola) no Rio de Janeiro para gravar
um disco. Nelson, Orlando e Evaldo não perdem tempo, vão à Rádio Record
e gravam um acetato, muito bem afinado, com duas músicas, "Sinto-me bem"
de Ataulfo Alves e "Se eu pudesse um dia" de Orlando Munello e Evaldo
França. Cássio Muniz ao ouvir a gravação, imediatamente escreveu uma
carta recomendando Nelson Gonçalves à gravadora R.C.A. Victor, e
pedindo-lhe uma cota até muito alta para a época, 10.000 cópias,
principalmente considerando-se que era o lançamento de um cantor.
Nelson
Gonçalves munido de uma cópia do acetato e da carta de recomendação de
Cássio Muniz retorna ao Rio de Janeiro e dirige-se à gravador R.C.A.
Victor. Seu diretor ao ouvir o acetato, ficou abismado com a qualidade
do cantor, apesar da simplicidade da gravação. Até então Nelson
Gonçalves estava calado. Premido pela ansiedade e incerteza, aliado ao
nervosismo peculiar a essas situações, qualquer mortal gaguejaria. Mas
para Nelson que já era gago de nascença, começou a gaguejar e tropeçando
nas palavras, mal conseguia falar, no que foi interrompido abruptamente
pelo diretor "Seu gago sem vergonha, dê-me logo essa carta e ponha-se
fora daqui".
Desorientado
e nervoso Nelson volta para a pensão, onde desabafa com os amigos de
quarto, que de imediato querem ir com ele de volta a gravadora para
quebrar a cara do diretor. Mas um pouco mais calmo, Nelson dispensa a
ajuda deles, dizendo que amanhã iria sozinho à gravadora quebrar a cara
do diretor. No dia seguinte dirige-se à gravadora R.C.A. Victor e já na
sala do diretor Vitório Lattari, ouve-o falar a uma pessoa na sala,
chamado Benedito Lacerda "Veja você, esse gago sem vergonha vem de São
Paulo aqui para dizer-me que é cantor". Benedito Lacerda, homem muito
experiente disse ao diretor: "Eu viajo muito por esse mundão e conheço
alguns gagos que são cantores, vamos fazer um teste com ele!". Levou
Nelson Gonçalves a um estúdio e pediu-lhe que cantasse alguma canção.
Nelson canta-lhe um tango e na metade da canção, Benedito manda-lhe
parar. Pronto é o fim, pensa Nelson Gonçalves e ainda apreensivo ouve o
Benedito dizer a Vitório: "Pode contratá-lo, vai ser o maior cantor do
Brasil". Nelson quase desmaia.
Então pela
primeira vez em 04/08 de 1941, Nelson Gonçalves entra em um estúdio para
gravar seu primeiro disco. Nele grava a música que Ataulfo Alves lhe
oferecera em noites passadas no Café Nice, "Sinto-me Bem" que torna-se
seu primeiro sucesso. Muito tocada em rádios na época, ficou conhecida
como "21", pois esse era o seu número nas máquinas que tocavam músicas
nos bares, bastando para isso colocar uma moeda. Conhecida como
caça-níqueis, esses "juke-box", não cansavam de tocar "21" de Nelson
Gonçalves. Depois grava o "Foz-trote", "Renúncia" de Roberto Martins e
Mário Rossi, que tornou-se sucesso e até hoje é solicitada em todos os
seus shows. Seu nome torna-se tão popular que assina, em 1941 mesmo, um
contrato com a R.C.A. Victor e logo em seguida com a Rádio Mayrink
Veiga, para onde foi levado pelo cantor Carlos Galhardo. Ainda esse ano
41, é indicado pela revista do Rádio, como o "Rei da Voz". Diz-se que a
época da indicação a capa da revista já estava pronta com a foto de
Francisco Alves, e que essa fora cancelada em virtude do recente estouro
de Nelson Gonçalves e sua indicação como o "Rei da Voz".
De 1941 à
1946, Nelson Gonçalves ganhava o equivalente a 600 mil réis da Rádio
Mayrink Veiga, e já contava na constelação da música popular brasileira
como Chico Alves, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Sílvio Caldas. Além
disso já emplacara várias músicas, por ele interpretada, nas paradas de
sucessos. Sempre pela Victor, gravava sucessos como "Maria Bethânia" de
Capiba, que veio a influenciar o então jovem Caetano Veloso a colocar o
nome de sua recém-nascida irmã de Maria Bethânia dado o sucesso da
música. Gravou também sambas canções como "Normalista" de Benedito
Lacerda e Davi Nasser, "Caminhemos" de Herivelton Martins e Davi Nasser,
o fox trote "Renúncia" de Roberto Martins e Mário Rossi e o tango
"Carlos Gardel" de Herivelton Martins e Davi Nasser.
Na segunda
metade da década de 40, mais precisamente em 1946 ganha um programa da
Rádio Nacional, somente seu chamado "Nelson Gonçalves Canta". Começa a
época de ouro de Nelson; A Rádio Nacional à época era como a Rede Globo
hoje, e Nelson Gonçalves tinha um salário somente inferior a Chico Alves
que era de 30 mil contos de réis, enquanto ele recebia 25 mil contos de
réis, o que era suficiente para comprar uma casa. Nelson mantinha seu
programa, fazia suas excursões e colocava mas sucessos nas paradas,
principalmente suas marchas de carnaval como "Espanhola", "Serpentina",
"Ai, morena" e outros.
Nessa época
conhece também Adelino Moreira de Castro, então compositor obscuro, e
que apresentava-se como cantor em programa de seleções portuguesas na
Rádio Clube do Brasil, patrocinada por seu pai. Adelino que procurava um
grande cantor para interpretar suas canções, pressionado por sua mulher
que insistia que Nelson Gonçalves era um grande cantor como Orlando
Silva, que Adelino adorava, resolveu procurá-lo no programa de César
Alencar, onde ele estaria entre os grandes de sua época, como Emilinha
Borba, Carlos Galhardo, Nora Ney, Jorge Goulart, Silvio Caldas, Chico
Alves e outros. Ao encontrá-lo no elevador da rádio, apresentou-se e
fez-lhe então sua proposta, ao que Nelson pediu-lhe que o aguardasse no
bar em frente. Ao chegar, Nelson já foi lhe pedindo que cantasse uma
canção e meio sem jeito Adelino cantou-lhe "A Última Seresta". Nelson ao
ouvi-lo, pediu-lhe que o procurasse em seu programa na rádio para a
gente mandar fazer uma partitura para essa música. Adelino atendeu-lhe o
pedido e quase desmaiou, quando, uma semana depois, ouviu sua música,
não só no programa de Nelson Gonçalves, mas também em outro programa da
Rádio Tamoio, onde era anunciada como o novo disco de Nelson Gonçalves.
A outra surpresa de Adelino foi ao receber os direitos autorais que para
a época já era um grande dinheiro. Estava selada uma parceria que
duraria muito tempo e daria aos dois muitos sucessos como, "Meu Vício é
Você", "A Volta do Boêmio", "Fica Comigo Essa Noite", "Manicure" e
"Deusa do Asfalto". Seus direitos autorais vinham de várias capitais
importantes do interior do país, bem como do Uruguai, Argentina e
Estados Unidos por onde Nelson Gonçalves integrou uma caravana de
artistas brasileiros que se apresentavam num show da Rádio City de Nova
York.
Alias era
nesse período em excursão pela Rádio City, que Nelson vem a receber o
seu maior elogio. Sua temporada nos E.U.A, com lotação esgotada, tinha
entre seus espectadores o ilustre Frank Sinatra, que não perdera nenhuma
de suas apresentações. Ao terminar um de seus shows, Frank Sinatra, já
então o conhecido como "The Voice" (A Voz) dirige-se ao camarim de
Nelson e diz-lhe "It's impossible for me to sing like you" (É impossível
para mim cantar como você) dito isso abraçou-lhe fortemente e retirou-se
do seu camarim deixando-o só. Nelson que não acreditava no que ouvira,
embora fosse verdade, pois havia uma testemunha que presenciara.
Mas o peso
de seu passado recente de viciado ainda pesa sobre suas costas. Quase
nenhuma grande casa de espetáculo quer recebê-lo, o que o obriga a
cantar praticamente em circos, o que ele faz com muito prazer porque
acima de tudo Nelson gosta de estar em contato direto com o público.
Apesar de alguns dissabores durante o show, onde sempre um gaiato, em
meio ao público, perguntava: "Ei seu Nelson, onde é a bocada boa". Mas
Nelson resoluto, segue seu caminho e no início da década de 70 já
recuperado plenamente de seu vício leva uma vida regrada mesmo curtindo
a boêmia. Vivia então dos 5.000 cruzeiros que recebia mensalmente de sua
sociedade arrecadadora que cuidava de seus direitos. Assim levava uma
vida sossegada em sua casa de praia em Itaipu no Rio de Janeiro onde
cultivava hábitos noturnos, como tomar banhos nus, na beira da piscina,
sem ser incomodado por ninguém.
Em 1965
volta a dominar as paradas de sucesso com seu disco "A Volta do Boêmio
nº 1", onde começa a guinada para a consagração final do cantor que como
homem foi exemplo de conduta indo de réu a herói. Acertou na vida, errou
na droga, mas venceu, não só o vício mas o medo de tornar público um
deslize do homem Nelson. Ao contrário, participou com seu público de
suas dores e amarguras fortalecendo assim o laço existente entre eles,
não só do mito Nelson Gonçalves mas do homem Antônio Gonçalves Sobral.
Nelson
desentende-se com seu parceiro e amigo Adelino Moreira e ficam sem
falar-se por longo tempo, de 1967 à 1972, voltando depois a
relacionarem-se fazendo então novas composições. Nelson até passa a seu
amigo a função de empresário de sua carreira, dizendo ser justo ganharam
o mesmo dinheiro que semearam através de suas composições.
Antônio
Gonçalves Sobral vivia a dúvida do nome artístico a adotar. Até que seu
amigo, o Aloísio (Aloísio Silva Araújo, conhecido cômico da década de
40, como Recruta Zero e a cadeira do barbeiro), lhe disse que Antônio
era nome de padeiro e que Nelson era nome de herói da história inglesa;
Então entre padaria Lisboa e o "Trafalgar Square", é lógico ficou com a
segunda opção.
Nelson, até
hoje conhecido pelas suas idiossincrasias, disse que ainda grava um LP
em apenas 4,30 hs. Diferente da maioria dos cantores de hoje que levam
dias e até meses para gravar um LP. Nelson é do tempo em que se você
errasse alguma canção, na gravação, tinha que esperar 3 meses para
chegar um novo acetato, dado a dificuldade que era conseguir o material
naquela época. Como diz Nelson "Minhas gravações são de "prima", gravo
sempre na primeira, não como esse povo que entra no estúdio, toma uma
depois outra e passado algumas horas, ainda não gravou nada; Sou do
tempo que sequer tínhamos aparelhagem para show, muito menos para
gravação".
Nelson
Gonçalves vem de um tempo aonde ainda eram influenciados pela "Operetas"
que predominavam na época e determinavam frases longas nas canções, o
que exigia vozes potentes para sustentá-las. O que mudou com o advento
da Bossa Nova que eram composições de frases curtas. Como ele mesmo diz
"Sou um baixo cantante, eu canto conforme falo, até hoje minha voz não
mudou nada, é só observar os outros cantores da minha época e você verá
que a voz deles mudaram com o tempo. A minha não só não mudou, como
hoje, com toda essa tecnologia, eu uso somente um terço da minha voz.
Nelson toma muita vitamina, faz exercícios matinais, pula corda, para
não esquecer que foi Boxeur, e nada pela manhã, as vezes com sua
netinha, outras vezes com o filho que é formado em educação física.
Mas segundo
o próprio Nelson o segredo de seu vigor físico está nos exercícios
sexuais. Pelo menos duas vezes ao dia Nelson o pratica. Diz ser esse o
responsável pelo seu equilíbrio psico-emocional e por que não dizer
profissional. Diz que nunca deixou suas parceiras na "saudade", até hoje
todas que vieram pela primeira vez, sempre voltaram. Sinal de
satisfação. Com certeza é daí que vem sua fama de "Macho". Além de
gaúcho e briguento, esse traço machista se apresenta claramente em suas
músicas. Diz ele que as mulheres adoram serem dominadas e esse seu lado
machista é aceito até pelo seu público masculino que se identifica com
isso, ao ouvi-lo.
Aliás essa
fama de brinquedo vem desde o começo de sua carreira na mocidade. Em São
Paulo era boxeur, mas foi no Rio de Janeiro, mais precisamente na Lapa,
que de certo feita estava em um bar bebericando uma bebida e beliscando
umas sardinhas com um amigo, quando um crioulo bem avantajado
esbarrou-lhe no braço derrubando sua sardinha, e Nelson, na discussão,
deu-lhe um direto de direita, e o negrão estatelou-se no chão não
levantando-se mais; Nelson assustado e aconselhado pelo amigo retirou-se
do bar, temendo tê-lo matado. Ao encontrar com "Madame Satã" em uma
esquina, pediu-lhe que fosse ao bar para ver o que tinha acontecido.
Passados alguns minutos ele vê "Madame Satã" retornando com o negrão a
tira-colo, sem saber o que fazer os dois se aproximam, o negrão
estende-lhe a mão e assim tornam-se amigos. Ai é que Nelson veio a
entender o que se passava; Tratava-se de "Miguelzinho Camisa Preta", o
maior valentão da Lapa, que caíra pela primeira vez, na vida, na mão do
"Italianinho", como era conhecido todo paulista que chegava na Lapa. E
"Miguelzinho" passara a ser seu amigo porque apesar de tê-lo derrubado
não quebrou-lhe nenhum dente, nem costelas, como era de praxe na época.
Esse feito
deu-lhe fama de "bom de briga" e passara então a ser chamado para
resolver qualquer parada na Lapa. Passado alguns meses na Lapa
resolvendo todos os problemas, achou melhor sair dali, pois poderia
acabar levando a pior. Apesar de as mulheres "fazerem fila" pelo
italianinho bom de briga, avisou a "Madame Satã" (O único travesti que
respeitara na vida, pois era capaz de quebrar a cara, sozinha, de 5 ou 6
marinheiros que a azucrinassem), que iria embora da Lapa, para ficar
mais perto de uma casa de espetáculos onde cantava na época. Por essas e
outras é que Nelson Gonçalves se diz respeitado até hoje quando chega em
rodas de malandros, e principalmente por não ter caguetado ninguém
quando esteve preso, na cadeia, como traficante o que nunca fora na sua
vida.
Mas apesar
da sua fama e de seu temperamento explosivo, (Nelson diz que sua
educação depende da do outro, se gritar comigo eu também grito, se me
tratar bem eu também o trato bem), Nelson Gonçalves é um homem simples e
discreto. Desde o começo de sua carreira, quando morava no Rio de
Janeiro, sempre que precisava hospedar-se em São Paulo, trocava a suíte
presidencial no Maksoud Plaza, pelo seu quarto no Motel Jandaia, na
Duque de Caxias onde sempre foi bem atendido pelo seu gerente Douglas,
que lhe arrumava tudo o que precisa-se, inclusive dinheiro se fosse o
caso. Segundo Nelson preferia fugir daqueles hospedes "ficção econômica
paulista" e ficar com o popular da antiga estação rodoviária, atrás do
seu hotel, pois era da vida deles que Nelson tratava em suas canções. O
que ele adorava era tomar uma e outras no Bar do Bigode ao lado do Hotel
Jandaia, além das belas mulheres que por ali passavam.
Essa
simplicidade vem seguida de uma preocupação com o futuro, pois afinal de
contas, já no 2º casamento com 10 filhos, sendo 2 do primeiro e 8 do 2º
e mais 4 netos, tem que pensar em aposentadoria.
Já em 1976
começava a entrar no estúdio pelo menos uma vez por semana onde sempre
gravava uma música inédita, acompanhado de um instrumento geralmente um
violão ou piano, com o objetivo de que a gravadora a partir de 1990,
pudesse lançar um disco seu a cada ano, garantindo assim uma renda
extra. Para mostrar que não foi em vão essa preocupação Nelson tem hoje,
material para ser gravado com o acompanhamento de grandes orquestras e
com arranjos modernos até o ano de 2013. O que lhe garantirá uma boa
aposentadoria.
É também
nesse período, 75/76 que Nelson, preocupado em presentear seus fãs com o
melhor de seu trabalho, lança o seu, então, 82º disco, que era na
verdade uma trilogia. Fruto de um hábito curioso, Nelson guardava todos
os bilhetes que eram enviados em seus shows, pedindo-lhe músicas, desde
o começo da década de 70. Baseado nesses quase 10.000 bilhetinhos ele
escolhe as 36 músicas mais solicitadas nesse período e as grava em disco
chamado "Nelson Gonçalves em Três Gerações" onde quem escolhe as
melhores músicas de sua carreira, não foi ele nem a gravadora, mas os
seus próprios fãs.
Nelson é
hoje um mito vivo. Com mais de 126 discos gravados, 312 compactos
simples, 400 fitas e 172 discos em 78 R.P.M. é o cantor com mais discos
vendidos na América Latina, com aproximadamente 40 milhões de discos e
20 milhões de fitas. E com certeza foram essas cifras de vendas que lhe
garantiram o prêmio NIPPER, concedido pela gravadora apenas mais uma
estrela de seu "Cast", Elvis Presley. Fundador do Hospital Renascer em
Belo Horizonte, demonstra sua preocupação permanente com a recuperação
de alcoólatras e toxicômanos, especialidades desse hospital.
Já gravou a
maioria dos compositores brasileiros, como Vinícius de Moraes, Nelson
Cavaquinho, Orestes Barbosa, Dolores Duran, Tom Jobim, Ary Barroso e
Jonny Alf. É um dos raros cantores que respiram com o diafragma, já
gravou com os grandes intérpretes do momento como, Milton Nascimento,
Lobão, Tim Maia, Rita Lee e outros. Com tanto tempo no auge, atravessou
gerações sem perde-las de vista e também sem perder a própria
identidade. Tanto influenciou como foi influenciado.
Para
finalizar essa sinopse vamos desfazer alguns "mal entendidos", segundo o
próprio Nelson. Por exemplo; Sua música é brega? Não segundo ele, "Eu
sou um cantor romântico, falo do amor e do desamor de um povo, de ciúmes
e desavenças num relacionamento e lógico de mulher, a razão da vida".
"Se falo errado é porque o povo assim o faz, meu papel é o de cantar e
distrair o povão, quem tem que educar é o Governo". Depois que surgiu o
Vando, passaram a entender que a música de Nelson não é brega. Ele é o
cantos do 4º wisk. Depois do 4º gole todo bacana quer ouvir "aquela do
Nelson Gonçalves". Outro, Sua música é do passado? Não, simplesmente as
rádios, e não é de hoje, tocam mais músicas americanas do que
brasileiras; e dentre as brasileiras que tocam somente algumas e muito
poucas são românticas, por exemplo, eu e o Silvio Caldas somos tocados,
mas somente de madrugada, quando todo mundo está dormindo. Problemas do
imperialismo da indústria fonográfica no Brasil. Até dias mais recentes,
Nelson tinha de "Caitituar" suas músicas nas rádios cariocas e
paulistas, com seus discos embaixo do braço, pedindo aos programadores
que tocassem suas músicas. E por último; O que é boêmio? Boêmio é aquele
que passa a noite toda, tomando sim umas e outras e cantando, mas sem
perder a compostura; esses cidadãos que saem com um violão embaixo do
braço e tomando todas até cair, não são boêmios, mas sim "biriteiros". E
finalmente nas palavras do próprio Nelson Gonçalves "inventaram isso, o
Brasil inteiro pensa que sou gago, mas é que adoro falar e me estrepo
quando quero falar na mesma velocidade e rapidez com que penso. O nome
científico disso, dito por um médico amigo meu é Taquilárico; Não sou
gago, sou taquilárico, pronto e chega".
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