O imaginário é a nossa via de saída,
mergulhamos num Oceano de Mitos e Lendas, o homem defronta-se com
monstros, serpentes marinhas, deuses e demônios...
"Mas navegar era preciso..."
Em busca de novas conquistas e de um sonho
de felicidade, o homem envolveu-se num mar de mistérios e magias,
descobrindo Novas Terras e Novos Povos. Ao satisfazer os seus anseios e
inquietações, surpreendeu-se e fascinou-se por um Ser Místico com a
metade do corpo para cima em forma de mulher e rosto de virgem e a outra
metade em forma de peixe. O homem apaixona-se e encanta-se pelas belas e
sedutoras Sereias.
Sereias: Consideradas Musas da Morte,
célebre pela doçura de seu canto. Ninfas que têm o poder de cativar e
seduzir com suas canções, todos aqueles que as ouvissem, que encantados
irresistivelmente eram atraídos e levados à morte.
Ao longo do tempo, as Sereias mudavam de
forma, por vezes surgiam como aves de plumagem avermelhada e feições de
uma meiga e linda mulher. Convictas de seus poderes, as Sereias
enfrentaram e desrespeitaram as Musas, filhas do Soberano Deus Júpiter.
Por tal atrevimento, elas foram castigadas, sendo dispensadas e
arremessadas ao Mar, assumindo definitivamente a imagem de meio mulher e
meio peixe. Desta maneira passaram a viver entre pedras e rochedos, da
onde chamam e atraem para a morte os navegantes enfeitiçados pelo som
suave de suas vozes.
Divas de marinheiros e pescadores, foi
fonte de inspiração para poetas, músicos e escritores. Coincidência ou
não, sua imagem e seus símbolos estão presentes em Mitos, Contos e
Lendas de vários países, culturas e povos de tradições e religiões
diferentes, sempre narrando naufrágios, desafios e paixões.
Homero, poeta grego autor de "Odisséia",
descreve as Sereias como: "... Sedutoras de todos os homens que delas se
acercam..."
Ulisses, rei lendário e herói grego, para
ouvir o canto das Sereias e não padecer, seguiu os conselhos de Circe, a
feiticeira, tapou com cera os ouvidos dos remadores e de sua tripulação
e ordenou que o amarrassem ao mastro de seu navio, para que resistisse à
tentação de lançar-se ao mar.
Anfitrite, divindade marinha, que por sua
intensa beleza, conquistou Netuno, Deus do Mar, que para provar o seu
grande amor, realizou um cortejo com golfinhos, estrelas e luas.
Orfeu, com os sons melodiosos da sua lira,
cantou mais suave e belo que as Sereias do Mediterrâneo, fazendo que
elas se precipitassem ao Mar, transformando-as em rochas, pois era
preciso morrer quando alguém não sentisse os efeitos dos seus feitiços.
Em Gales, durante o século VI, pescadores
conseguiram capturar uma Sereia, que foi batizada e cultuada como Santa,
sob o nome de Murgen.
Nas sagas narradas pelos Vikings,
guerreiros e navegadores escandinavos que realizavam longínquas
expedições marítimas, encontramos a presença das Sereias, que os
acompanhavam durante suas viagens. Para evitar tal presença, os Vikings
ornavam com esculturas de Deuses e Monstros as proas de seus barcos,
acreditando que tais imagens assustariam as Sereias, assim como os
espíritos do mal.
Nos canais e diques da Antiga Escócia,
vivia uma Sereia que triste não cantava. Ninguém a compreendia, porém
ensinaram-na a fiar e a venerar como por instinto a cruz. Mais tarde,
tal Ser surgia na Noruega, onde muitos argumentavam que não era um peixe
pois sabia fiar e não era mulher pois podia viver nas águas.
Iemanjá, principal divindade feminina das
religiões afro-brasileiras, que segundo as tradições é a Deusa das
Águas, que rege o Mar e o Amor. Também é conhecida pelos nomes de
Janaína, Inaê, Aioca e Sereia do Mar. Durante a passagem do Ano Novo,
tradicionalmente os fiéis, lançam flores e oferendas nas ondas do mar em
sua homenagem.
Na cultura e folclore dos indígenas
brasileiros, também encontramos a presença de símbolos e divindades
associados às Sereias.
Iara, é uma índia de rara beleza, metade
mulher metade peixe. Rainha das águas, que enfeitiça os homens entoando
canções mágicas, ao ouvirem seu cantar os homens são atraídos para morte
nas profundezas dos rios, lagos ou mares, pois ao olharem para ela
ficavam cegos pelo esplendor de sua beleza. Os índios contam que Iara
permanecia sobre os bancos de areia dos rios ou lagos, brincando com os
pequenos peixes ou alisando seus longos cabelos com um pente de ouro,
mirando-se no espelho de água, na espera de um valente namorado.
Em versos e prosas, poetas, músicos e
escritores narram e descrevem as sensações e a satisfação que estar
apaixonado pelas Sereias ou a tristeza e melancolia de não poder
concretizar este amor impossível.
"Como é doce morrer no Mar... nos braços
de Iemanjá..."
É neste universo de magia e sedução, entre
mistérios e lendas, que o Bloco Carnavalesco da Torcida Jovem do Santos,
vem transformar o Polo Cultural do Anhembi, num imenso Oceano de
Paixões, onde navegantes, marujos, marinheiros e pescadores, provam o
seu grande amor por estas Deusas e Musas que os seduziram e
enfeitiçaram, unindo alegria e sofrimento com dor e prazer, num Cortejo
Místico de luzes e cores.
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