Todos os anos os pessimistas, ou profetas
do apocalipse anunciam a morte do samba. Mas todo ano ele ressurge
debochado das cinzas, revelando intensa vitalidade e singular
disposição. A verdade é que, com o passar do tempo mudam-se os
interesses ou a atração da grande festa popular que é o carnaval.
Para que isso aconteça, juntam-se alguns
negros. A eles se acrescenta uma dose de liberdade, uma pitada de
alegria e uma colher de passado. Motivação eles arranjam, animação
também, eles estão sempre prontos, só fica faltando a oportunidade para
que surja a escola de samba.
Todos sabem que o samba tem raízes
africanas. O som dos atabaques chegou ao Brasil com os primeiros
escravos que aportaram por aqui. Com os africanos, os brancos aprenderam
a umbigada e outras danças que acabaram resultando nas várias formas de
samba.
Foi assim na história. O samba já existia,
herdado e adaptado das origens africanas. Nas ruas os cordões, livres e
soltos, perdiam suas características ao evoluir para os ranchos. Os
blocos, perseguidos e proibidos na hora do samba esquentar acabaram
buscando a liberdade na procura da cópia do rancho. Daí, segundo algumas
versões, a presença ainda hoje da porta-bandeira e mestre-sala, em sua
fantasia fidalga, a protegerem, com passos suaves e elegantes, o símbolo
da escola. A bandeira que antigamente era apenas um pano simples, servia
para reunir os componentes, até com brutalidade, pois, como todo
símbolo, exigia e ainda é essencial, honra, respeito e principalmente
amor pelo pavilhão e pela escola.
Como o tempo ainda é implacável, muita
coisa mudou em nome da organização. A cada dia que passa, fica mais
sofisticada a disputa de um primeiro lugar, com muitos quesitos
dependendo basicamente de dinheiro na disputa dos pontos, isso torna
cada vez mais difícil em função da grandiosidade que as escolas impõem a
cada ano de desfile.
Para melhorar, a estrutura de comando, a
escola de samba teve que se apoiar nas alas que trabalha com a sua
própria diretoria sob a orientação do comando da escola. Dentre elas,
uma se destaca pelo vinculo à tradição: a ala das baianas, presença
obrigatória por força do regulamento. Também é especial a comissão de
frente, antes das modificações que a evolução das escolas impuseram
quebrando o significado que era, a diretoria da escola perfilada
agradecendo o apoio do público. Hoje dispensam-se os cumprimentos e em
alguns casos só se preocupam com o visual do grupo sem se importarem com
a escola.
Mas sem dúvida, o final ficou para a ala
mais importante da escola, é aquela composta por centenas de pessoas a
tocar os mais variados instrumentos de percussão. É a bateria que dá o
ritmo ao espetáculo, produzindo um som único e temperado dos vários
tipos de instrumentos: o som único do samba. Na agilidade de cada tipo
de batida, específica para cada instrumento, movimentam-se os passistas,
as alas, o público e até quem não gosta do samba.
Não há como negar a influência da
estrutura social no homem da escola de samba. Mais que uma demonstração
do enredo, as fantasias surgiram do sonho de transformação que se apossa
do sambista no carnaval. Ele não é o negro, branco, pobre ou rico que se
diverte, mas a figura que representa sua roupa e pela arte que empresta
à nossa cultura.
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