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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.E.S. UNIÃO IMPERIAL - CARNAVAL 1995
Enredo: É Hoje, Maravilhoso Vendaval

O Grêmio Recreativo
Autora: Pedro Henrique

 

É Hoje: Cores e luzes enfeitam a cidade, e na grande Avenida o espaço está aberto para que por lá passem o atavismo popular refeito em canto e dança, e escorra a alegria represada durante um ano inteiro. Dos morros, por entre os barracos e vielas estreitas, salpicadas de poças e pobreza, vão descendo damas engalanadas, nobres com tricomios emplumados e peitilhos de renda cara, cavalheiros de ternos bem cortados, bengala e chapéu coco, baianas de imensas sais e jovens com mínimos trajes, purpurinizados deixando à mostra formas insuspeitas, contida até à véspera. Parece uma visão surrealista que vai tomando definição e forma pouco a pouco. O estivador de ontem, hoje é um personagem vivo que varou uma das páginas de nossa história. A lavadeira, de diálogo íntimo com a bacia, a água e a bica, surge com elegância num figurino que lhe redime a tristeza e o desconforto. E lá vão eles carregando o destino comum de ser povo, e mais que isto, de ser guardião e intérprete desta criação do povo, nascida da necessidade de expressar a variada gama de sentimentos, vividos e acumulados.

É Hoje: Pelos elevadores dos bairros urbanos, vão descendo escravos, índios e figuras de nossa mitologia mestiça, adornados com drapeados, e contas brilhantes, escondendo o sisudo gerente de empresa ou a conformada funcionária pública. Vão todos, e eles também são povo, ao encontro das descendências, sob o signo do mágico momento, contar cantando, na grande Avenida, fragmentos do imenso mosaico que vêm sendo montado há quase quatro séculos.

É hoje: Vermelho, verde e branco, vermelho e branco, verde e branco, e outras combinações cromáticas juntam-se e intercruzam-se pela cidade inteira em direção à concentração, lugar onde as escolas de samba se armam e partem para o desfile que configura o instante maior, ansiosamente esperado, para o qual nenhum esforço, nenhum sacrifício, é suficientemente grande para não ser pedido ou feito. A emoção é absoluta, total. São milhares de pessoas que vão realizar o milagre do espetáculo sem ensaio nem régisseur. O autor do enredo, aquele que dá forma e visual à escola, o carnavalesco, ordena as alas, os destaques e as alegorias, de acordo com a seqüência do que ele pretende mostrar. A bateria já começa a tocar, esquentando músculos e couros, os passistas tentam os primeiros passos, a porta-bandeira dá alguns giros testando o peso da fantasia e o mastro. De repente, ali o terreiro da Casa Grande, onde os Congos dançavam; o adro da Igreja onde os reis negros eram coroados; o quintal de uma tia baiana, onde os primeiros bambas começaram tudo. Descendentes de senhores irascíveis, de feitores insensíveis e de escravos humilhados, aí estão com o coração pulsando na mesma batida do surdo, sacramentando a identidade comum que o samba avaliza. É possível que não se ouça, porque se sente, o grito que ecoa pelos tempos afora:

É Hoje!

 


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