O universo folclórico é vasto, contendo
três influências: a européia, indígena e a africana. Ao criar um enredo
de carnaval, o cuidado com a pesquisa se faz dobrado, pois o Brasil é
rico em sua cultura popular e a cada região deparamos com vários tipos
de influências culturais. O folclore é fundamentado em: lendas, danças,
bailados, festas típicas, ritos, folguedos, recreação, arte em geral,
literatura popular, técnicas tradicionais e o artesanato. A cultura
folclórica é a mais pura expressão do homem, que passa a narrar a sua
experiência dentro de tudo aquilo em que convive em sociedade, no
sentir, no agir e no ser social.
A criação deste enredo enfoca apenas cinco
fontes do folclore: danças, festas, folguedos, ritos e bailados.
Com a vinda das caravelas portuguesas,
trazendo Dom João VI / Dona Carlota Joaquina, a corte de Portugal e a
pomba do divino Espírito Santo, para se instalarem no Brasil, mais a
vinda dos colonizadores, tráfico de escravos da África e a cultura
indígena aqui encontrada, dá-se a miscigenação da raça, da cultura e da
religião.
Dentro das influências européias
destacamos:
Folia de Reis - festa de origem italiana e
realizada pelos brasileiros do Centro-Sul. No início do cristianismo,
São Jerônimo e São João Crisóstomo, lutaram muito para que os fiéis
deixassem de misturar as festas da Natividade com as festas da Epifania
(que aborda vários fatos da vida de Jesus). Por este motivo a igreja
adotou o dia 06 de janeiro para comemorar a Adoração de Reis que celebra
a manifestação da divindade de Cristo.
Reisado - folguedo de origem portuguesa e
realizada pelos brasileiros do Nordeste. O Reisado foi introduzido no
Brasil-Colônia e uma festa popular por ocasião do natal e reis, é
realizado em praças públicas com canto e dança. Os participantes
acreditam ser continuadores dos Reis Magos que vieram do Oriente para
visitar o menino Jesus em Belém.
Dança das Fitas - dança de origem alemã e
realizada pelos brasileiros do Sul. É a representação ritualística do
passado, rememorando o renascimento da árvore de maio. São realizadas em
salões e em praça públicas, por ocasião dos festejos da natividade.
Fazem um pau de fitas, cujo mastro é sustentado no centro da dança por
um homem. Da ponta do mastro saem pares de fitas, que são segurados por
homens e mulheres.
Festa Junina(Quadrilha) 0 Festa de origem
francesa e realizada pelos brasileiros de Norte à Sul. Dança própria dos
festejos juninos, a quadrilha nasceu aristocrática, oriunda dos salões
franceses, depois foi difundida por toda Europa. Aqui no Brasil foi
introduzida como dança de salão, que logo em seguida foi apropriada pelo
gosto popular e florescendo na zona rural, atualmente está presente em
festas urbanas.
Festa do Divino Espírito Santo - Festa de
origem portuguesa e realizada pelos brasileiros de São Paulo. Nasceu de
um voto coletivo da população ribeirinha, das margens do Tietê. O povo,
desolado pelas febres, pede a proteção do Divino Espírito Santo, a qual
se tornou uma das mais lindas e tradicionais manifestações de gratidão
dos tieteenses. Os trajes dos romeiros são semelhantes aos uniformes
usados pelos portugueses antigamente. São duas irmandades, canoas dos
irmãos do rio acima e do rio abaixo. No último domingo do ano, há o
encontro das duas canoas, formando uma só irmandade.
Festa do João Paulino e Maria Angu -
Festa de origem portuguesa e realizada pelos brasileiros do Sudeste,
mais especificamente no interior de São Paulo. Nas festas do Divino
Espírito Santo, na cidade paulista de São Luiz do Piratininga; são
bonecos gigantes que revivem a tradição portuguesa. Logo após a
procissão do Divino, João Paulino e Maria Angu, saem para alegrar a
cidade.
Marujada - Bailado de origem portuguesa e
realizado pelos brasileiros do Nordeste. Bailado antigo é uma
dramatização das lutas portuguesas, da tragédia que foi a conquista
marítima, revivendo a vitória sobre os mouros invasores e celebrando a
vitória do catolicismo sobre os muçulmanos; cânticos de pescadores,
marinheiros e homens acostumados à luta do mar, pelos grandes feitos
náuticos.
Carnaval - Festa de origem européia e
realizada pelos brasileiros de Norte à Sul. Chamado de entrudo,
divertiam-se com água, farinha de trigo e polvilho em suas algazarras.
Com o passar do tempo o entrudo foi proibido. Em 1840 o Rio de Janeiro
assistia ao primeiro baile de salão. Em 1846 nasce o "Zé Pereira", um
grupo de foliões de rua, com bumbos e tambores, a partir daí começa a se
organizar os desfiles de carnaval de rua, os cordões. Mais tarde o
corso: desfile realizado por carros, com foliões cantando e dançando,
daí surgem as famosas batalhas de confete e serpentina. Em 1928 surge a
primeira escola de samba no bairro do Estácio.
Dentro das influências indígenas
destacamos:
A Festa da Moça Nova - Ritos de origem
indígena e realizada pelos Brasilíndios do Norte e Centro-Oeste. Uma
cerimônia da tribo dos tucuna que se realiza anualmente. Na lua cheia
uma menina virgem, entra no cubículo para a iniciação de se tornar
mulher. Durante a festa, alguém anuncia, que da mata vem um demônio
mascarado, que ronda o cubículo da virgem, mas ela é protegida pelos
vigias. Quando o perigo passa ela sai do cubículo pronta para se tornar
mulher e assumir o papel de esposa.
Os Mistérios da Magia - Ritos de origem
indígena e realizada pelos Brasilíndios de Norte e Centro-Oeste. O
menino Carajá ao entrar na adolescência passa a viver na casa das
máscaras dos mistérios. O jovem índio entra para o mundo da iniciação,
das artes plumárias e dos segredos masculinos, que são da fertilidade,
da mitologia Carajá. Dá-se então a Festa de Aruanã (deusa das aves),
danças e ornamentos com penas de aves.
Ritos de Morte - Ritos de origem indígena
e realizada pelos Brasilíndios de Norte e Centro-Oeste. Com a morte de
um índio bororó, seus parentes executam o ritual fúnebre. O morto é
enterrado na praça da aldeia, em uma cova de pequena profundidade. Acreditam
que, quem o matou, foi o espírito de uma onça. O pajé sai de sua oca
todo enfeitado, entoando cânticos em louvor a onça, para o
encaminhamento do espírito que partiu.
Caiapó - Bailado de origem indígena e
realizada pelos brasileiros do Sudeste. Os índios Caiapó, viveram em Saõ
Paulo, mas foram duramente combatidos pelos bandeirantes. A história
enfoca um curumim (menino) sendo cruelmente atacado por um homem branco
(bandeirantes), o pequeno curumim morre. Em desespero os outros curumins
imploram ao pajé para ressuscitá-lo com suas artes mágicas e seus
rituais, o curumim é ressuscitado.
Caboclinhos de Lança - Dança de origem
indígena realizada pelos brasileiros do Nordeste. Foi através da
dança, cantos e peças teatrais religiosos que os jesuítas conseguiram
catequizar os índios. Os caboclinhos, filhos dos caboclos (índios),
dançam com seus instrumentos musicais. A dança consiste mais em desfile,
não falam, mas gesticulam em abundância. Na Paraíba, Alagoas, Ceará e
Rio Grande do Norte aparecem no carnaval.
A Festa dos Pássaros - Folguedo de origem
indígena e realizada pelos Brasilíndios do Norte. São pequenos dramas
musicados um misto de bailado. Um índio caça um pássaro, e por
desconhecer, caça a ave de estimação de sua amada. Desconsolado tenta
achar uma solução: conseguir a ressurreição do pássaro. Os participantes
enfeitam-se com penas coloridas, com arco e flecha.
A Lenda do Boto - Folclore de origem
indígena e realizada pelos Brasilíndios de Norte à Sul. O boto embora
seja amigo do homem e ao mesmo tempo seu maior rival, pois em noite de
lua cheia, ele se transforma em um homem de rara beleza. Galanteador,
vem para terra firme seduzir as moças donzelas. O boto é respeitado e
amado por todos que vivem às margens dos braços de rios e dos mares.
Dentro das influências africanas
destacamos:
Candomblé - Dança ritualística de origem
africana e realizada pelos brasileiros de Norte à Sul. Os rituais
executados no passado ainda hoje encantam os brasileiros que na maioria
se tornaram seguidores do Candomblé. Com os negros vieram muitos orixás,
neste enredo enfocamos: Oxalá que é o pai da criação, sincretizado como
Senhor do Bonfim, representa a paz e a pureza. Iemanjá, considerada a
soberana rainha do mar, Xangô, rei dos trovões e da justiça. Ogum,
senhor da guerra. Iansã, a rainha dos ventos e raios.
Afoxé - Festa ritualística de origem
africana e realizada pelos brasileiros do Nordeste. Afoxé é um candomblé
adequado ao carnaval, inicia-se com um despacho à Exu, a ele é dado
um padê: farofa com azeite de dendê, para que este não venha interromper
as festividades carnavalescas. É uma obrigação religiosa que os membros
do candomblé "Jejê-Nagô" terão que cumprir, um ritual conhecido como
"saída de carnaval".
A Lavagem do Bonfim - Rito festivo de
origem africana e realizada pelos brasileiros do Nordeste. O Senhor do
Bonfim é considerado o padroeiro do Brasil desde 1745, quando se deu o
sincretismo religioso afro-brasileiro, a pureza do Oxalá africano com a
pureza de Jesus Cristo. No século 18, esta festa era realizada dentro da
Igreja, com o passar do tempo foi proibida pelos padres e hoje apenas as
escadarias são lavadas, com potes de água de cheiro, vassouras e flores,
pelas baianas com suas vestimentas e balangandãs.
Maracatu - Folguedo de origem africana,
nascido no Recife e realizada pelos brasileiros do Nordeste. O Maracatu
é o filho legítimo das procissões em louvor a Nossa Senhora do Rosário
dos Negros, é um cortejo simples, que do sagrado passou para o profano,
para o carnavalesco. No começo deste século, tinha um cunho religioso,
hoje é uma mistura de música e teatro. Sua corte: a rainha e a dama do
paço e o rei Dom Henrique.
Capoeira - Dança de origem africana, hoje
praticada por brasileiros de Norte à Sul. Introduzida no Brasil pelos
negros Angolanos como uma luta de defesa pessoal, hoje é uma dança como
divertimento (brincadeira ao som de cantos, berimbau, palmas e simulam
uma luta coreografada com meneios de corpo, dentro de um semicírculo).
Influência das três raças:
Bumba-Meu-Boi - Dança de origem européia,
indígena e africana realizada pelos brasileiros do Norte e Nordeste. O
Bumba-Meu-Boi é de teor dramático, cujo dono de um boi, um homem branco,
é roubado e morto por um homem negro, porque sua mulher estava com
vontade de comer língua de boi, mas o homem branco exige o boi de volta,
cabe ao pajé ressuscitá-lo. Na dança o Boi é representado por grandes
pandeiros, chocalhos e a cantoria, acompanhados por atabaques ao som
africano. No traje de vaqueiro a influência das três etnias. A calça
(europeu), bata (africana), as penas (indígena).
O folclore brasileiro, rico em sua
cultura, não se restringe apenas em saci-pererê, curupira e lobisomem,
vai muito além do que as simples crendices populares.
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