Um facho de luz
envolve repentinamente Obá, jovem negro brasileiro e
o leva numa viagem pelo tempo. Transportado ao país
longínquo de seus ancestrais africanos, e chega a
Aluanda, o paraíso negro, de onde vieram os
principais contingentes bantos e nagôs que povoaram
o Brasil.
Embevecido pelas
histórias fantásticas sobre ouro, pedras preciosas e
suntuosos reinos onde viviam homens de estirpe
divina e afamada sabedoria, Obá vê-se no seio da
selva africana, com seus mistérios, magia e
maravilhas da fauna e flora tropical.
Ao ouvir um canto
mágico compassado pelo ritmo frenético de tambores,
Obá chega a uma aldeia em festa. A Rainha Jinga
comandou seu povo numa grande batalha contra
invasores europeus e a tribo comemora a vitória.
Entre cantos e danças, a festa no matriarcado
angolano vara a noite.
No romper da aurora,
Obá distingue melhor o lugar. Extensas plantações e
pastagens. Vê também artesãos criando verdadeiro
"relicário cultural", fazendo máscaras e estátuas,
adornos e utensílios diversos. Emocionado, Obá sente
o encanto, a força e o poder de sua raça.
Na época do Brasil
colônia, os africanos foram os grandes e principais
trabalhadores. Trouxeram seus costumes e tradições,
"africanizando" toda a cultura do Novo Mundo. Obá
lembra-se dos milhões de negros arrancados da Mãe
África e atirados na incerteza ao cruzarem o Oceano
Atlântico.
A crueldade do tráfico
de escravos deixou marcas seculares, mas registrou
também a epopéia de muitos heróis negros. Obá,
imaginando-se um deles, embarca em um navio rumo ao
desconhecido. Já no Novo Continente, Obá encontra um
sistema opressor e não se conforma com tanta
injustiça e miséria. Alinha-se com seus irmãos
revoltosos, africanos orgulhosos de sua liberdade e
dignidade humana. Obá agora é quilombola proclamando
a queda do sistema escravagista.
No céu rajado de
ofuscantes relâmpagos, Obá antevê a tão sonhada nova
aurora de seu povo. Essa é a trilha a seguir, buscar
nas raízes da Mãe África a seiva para fortalecer os
ideais de sua raça. Obá agora sabe: "Sem negros não
teria existido o Brasil".
Não foi apenas um
sonho. Obá desperta em pleno desfile de Carnaval
onde sua Escola de Samba, a Acadêmicos do Ipiranga,
mostra flagrantes raros da cultura afro, cultura que
tanto contribuiu para a formação da sociedade
brasileira.
GLOSSÁRIO
Obá: Príncipe
Banto: Raça negra
sul-africana a qual pertenciam, entre outros, os
negros escravos chamados no Brasil de angolanos,
cabindas, benguelas, congos e moçambiques.
Nagô: (Ou Yorubá) Povo
negro do grupo sudanês da África Ocidental, que
habita o sudeste da Nigéria, no Daomé e no Togo.
Aluanda: (Aruanda,
Alunguê dos macumbas, Aruandê de capoeira, Zaluanda
ou Aruenda do maracatu) São Paulo de Luanda, capital
de Angola.
Jinga: (Njunga Ubandi
ou Ngola Jinga, 1581-1663) Rainha de Angola.
Matriarcado:
Organização social e política na qual a mulher
exerce autoridade predominante.
Quilombola: Escravo
refugiado em quilombo.