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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. ACADÊMICOS DO IPIRANGA - CARNAVAL 1997
Enredo: O Sonho da Liberdade

O Grêmio Recreativo
Autor: Dorinho Marques

 

Um facho de luz envolve repentinamente Obá, jovem negro brasileiro e o leva numa viagem pelo tempo. Transportado ao país longínquo de seus ancestrais africanos, e chega a Aluanda, o paraíso negro, de onde vieram os principais contingentes bantos e nagôs que povoaram o Brasil.

Embevecido pelas histórias fantásticas sobre ouro, pedras preciosas e suntuosos reinos onde viviam homens de estirpe divina e afamada sabedoria, Obá vê-se no seio da selva africana, com seus mistérios, magia e maravilhas da fauna e flora tropical.

Ao ouvir um canto mágico compassado pelo ritmo frenético de tambores, Obá chega a uma aldeia em festa. A Rainha Jinga comandou seu povo numa grande batalha contra invasores europeus e a tribo comemora a vitória. Entre cantos e danças, a festa no matriarcado angolano vara a noite.

No romper da aurora, Obá distingue melhor o lugar. Extensas plantações e pastagens. Vê também artesãos criando verdadeiro "relicário cultural", fazendo máscaras e estátuas, adornos e utensílios diversos. Emocionado, Obá sente o encanto, a força e o poder de sua raça.

Na época do Brasil colônia, os africanos foram os grandes e principais trabalhadores. Trouxeram seus costumes e tradições, "africanizando" toda a cultura do Novo Mundo. Obá lembra-se dos milhões de negros arrancados da Mãe África e atirados na incerteza ao cruzarem o Oceano Atlântico.

A crueldade do tráfico de escravos deixou marcas seculares, mas registrou também a epopéia de muitos heróis negros. Obá, imaginando-se um deles, embarca em um navio rumo ao desconhecido. Já no Novo Continente, Obá encontra um sistema opressor e não se conforma com tanta injustiça e miséria. Alinha-se com seus irmãos revoltosos, africanos orgulhosos de sua liberdade e dignidade humana. Obá agora é quilombola proclamando a queda do sistema escravagista.

No céu rajado de ofuscantes relâmpagos, Obá antevê a tão sonhada nova aurora de seu povo. Essa é a trilha a seguir, buscar nas raízes da Mãe África a seiva para fortalecer os ideais de sua raça. Obá agora sabe: "Sem negros não teria existido o Brasil".

Não foi apenas um sonho. Obá desperta em pleno desfile de Carnaval onde sua Escola de Samba, a Acadêmicos do Ipiranga, mostra flagrantes raros da cultura afro, cultura que tanto contribuiu para a formação da sociedade brasileira.

GLOSSÁRIO

Obá: Príncipe

Banto: Raça negra sul-africana a qual pertenciam, entre outros, os negros escravos chamados no Brasil de angolanos, cabindas, benguelas, congos e moçambiques.

Nagô: (Ou Yorubá) Povo negro do grupo sudanês da África Ocidental, que habita o sudeste da Nigéria, no Daomé e no Togo.

Aluanda: (Aruanda, Alunguê dos macumbas, Aruandê de capoeira, Zaluanda ou Aruenda do maracatu) São Paulo de Luanda, capital de Angola.

Jinga: (Njunga Ubandi ou Ngola Jinga, 1581-1663) Rainha de Angola.

Matriarcado: Organização social e política na qual a mulher exerce autoridade predominante.

Quilombola: Escravo refugiado em quilombo.

 


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