O início do samba paulista aconteceu há
cerca de cinqüenta quilômetros de São Paulo, em Pirapora do Bom Jesus. O
samba desta cidade, que ocorria durante sete dias, recebia os nomes de
samba campineiro e samba de bumbo.
Quem chegou primeiro a Pirapora foi o
mameluco Afonso Sardinha, que fora explorar a Serraria do Voturuna.
Em um mil, seiscentos e vinte e cinco, o
Conde de Monsanto instala um pelourinho em Santana do Parnaíba, sede do
Município de Pirapora do Bom Jesus, e concede sesmarias a três
moradores. José de Almeida Naves comprou destes as sesmarias em um mil e
setecentos e passou a cultivar a cana-de-açúcar.
Pirapora, em Tupi-Guarani, quer dizer
peixe que pula. Pira: peixe, Pora: pula.
As palavras do Bom Jesus foram anexadas ao
nome Pirapora porque, as margens do Rio Tietê, no Beco do Rio Santo,
José de Almeida Naves encontrou a imagem do Senhor Bom Jesus em madeira,
em vinte de maio de um mil, setecentos e vinte e cinco. Tornou-se,
então, o padroeiro da cidade. As primeiras romarias de devotos que iam a
Pirapora cumprir as suas promessas, banhavam-se nas águas milagrosas do
Beco do Rio Santo.
O Rio Tietê foi importante fator na
fundação da cidade de Pirapora. Serviu durante muito tempo de via de
transporte e comunicação. Foi, também, importante fator na produção de
energia elétrica, devido as várias quedas d'água existentes em seu
curso, levando progresso e conforto às cidades.
Os dias quatro, cinco e seis de agosto são
chamados de: Os dias da festa do Bom Jesus. Nesses dias, são rezadas
missas especiais.
No dia quatro, é comemorado o dia de São
José.
No dia cinco, há uma procissão em louvor a
Nossa Senhora das Dores. Tempos atrás, era uma procissão fluvial,
organizada pelos barqueiros da cidade.
No dia seis, é comemorado o dia do Bom
Jesus. Inúmeros romeiros, autoridades e artistas comparecem à cidade,
irmanados na demonstração de fé ao Senhor Bom Jesus.
No mês de agosto, durante os dias de
festa, romeiros, de vários pontos do estado, participam do samba de
rosa, também chamado de samba paulista. Originou-se em Pirapora com os
negros que, nos barracões, dançavam e tocavam numa maneira particular
para demonstrarem sua crença. O batuque primitivo e com ritmo apressado
era feito com bumbo (bumbão) e acompanhado com ganzás. As negras dançam
frente ao bumbo, sacudindo todo o corpo num gingado próprio e rítmico,
enquanto os negros cantam versos engraçados e zombeteiros alusivos à
festa, às pessoas e ao santo. Os personagens históricos do samba
piraporano foram: Honorato Missê (o fundador do samba de bumbo); Adolfo
Missê; Norberto de Oliveira, o Bertinho; Sebastião, o Bastião Preto; Nhô
Abel; Norberto Martins e Maria Esther.
O batuque, avô do samba moderno, também
foi reprimido em Pirapora, reduzindo a festa do Bom Jesus a seu caráter
exclusivamente religioso. Este batuque era um protesto contra a
religião, que discriminava o samba. A formação instrumental do batuque
de Pirapora determinou a formação instrumental dos primeiros Cordões
carnavalescos: Grupo Barra Funda, fundado por Dionísio Barbosa, o pai do
samba em São Paulo, em um mil, novecentos e quatorze, cores branca e
verde. É através de Dionísio, que o negro começa a ter um pouco de
chance em participar do carnaval; Campos Elisios, fundado em um mil,
novecentos e dezessete, cores branca e roxa; Cordão Esportivo e
Carnavalesco Vai-Vai, fundado em um mil novecentos e trinta, cores
branca e preta; Cordão Carnavalesco Paulistano, fundado em um mil,
novecentos e quarenta e quatro, cores branca e verde.
Nesta época, até valsa era tocada nos
Cordões; porém o ritmo predominante era a marcha e o carnaval ainda era
uma festinha de inspiração européia.
A primeira escola de samba paulista
fundada foi a Primeira de São Paulo, em um mil, novecentos e trinta e
cinco, cujas cores eram branca, preta e vermelha. A segunda escola,
Lavapés, fundada em um mil, novecentos e trinta e sete, com as cores
branca e vermelha, existe até hoje.
Entretanto, se um dia alguém contar uma
história pra valer do samba no Brasil, vão ter que falar do Geraldo
Filme, uma figura fantástica, porque brota desta terra paulista. Ninguém
como ele pra falar dos negros aqui em São Paulo. Era um craque. Compôs
muitos sambas-enredo para as escolas paulistas. Era um profundo
apaixonado por esta cidade.
Geraldo Filme nasceu em São Paulo, em um
mil, novecentos e vinte e sete, quando o samba já existia no carnaval,
mas ainda era marginalizado.
Os negros paulistas teimavam e faziam
samba o dia inteiro, em diversos lugares da cidade. Um dos principais
lugares era o Largo da Banana, na Barra Funda. Este local foi o núcleo
de formação do batuque em São Paulo, pois acontecia o movimento de
samba, oriundo da cidade de Pirapora do Bom Jesus. Os funcionários da
estrada de ferro, que ficava no Largo da Banana, iam para Pirapora e, de
lá, traziam o batuque e o samba de bumbo. Nas adjacências deste extinto
largo, fazia-se samba de roda e jogava-se tiririca (jogo de pernadas,
semelhante ao jogo da capoeira, com duas pessoas se defrontando, fazendo
visagens, aplicando golpes e sambando no pé, ao som da batucada na caixa
de engraxate).
Revoltado pela admiração, a seu ver
exagerada, que o pai possuía pelo samba carioca, Geraldo compôs, aos dez
anos, seu primeiro samba. No eu caso, acabou sendo uma espécie de carta
de intenção da sua vida de sambista.
Adolescente, Geraldo passa a fazer parte
da bateria do famoso Cordão Paulistano que, mais tarde, tornou-se o
G.R.C.E.S. Paulistano da Glória, deixando de existir em um mil,
novecentos e oitenta e um.
Durante o período em que ficou afastado do
Paulistano, Geraldo Filme fez parte da ala de compositores do G.R.C.E.S.
Unidos do Peruche. Ao lado de Benedito Lobo, o Belobo, foi autor do
samba-enredo Festas e Tradições de Pirapora.
Em um mil, novecentos e setenta e cinco,
Geraldo começa a freqüentar a escola que ele já admirava como Cordão,
desde os tempos de menino, Deste ano em diante, passa a ser mais
conhecido como Geraldo, compositor do G.R.C.E.S. Vai-Vai para esta
escola, a fim de prestar uma homenagem ao poeta Solano Trindade. É autor
do famoso samba "Quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bexiga pra
ver, vai no Bexiga pra ver".
A maioria das agremiações carnavalescas de
São Paulo tem a influência direta de Geraldo Filme.
Em janeiro de um mil, novecentos e noventa
e cinco, morre Geraldo Filme. Deixa como testamento, um disco intitulado
Reencarnação. Nele, Geraldo reafirma seu desejo de ser negro e sambista
novamente, caso fosse possível ter outra vida.
Agora que você já conhece um pouco mais
sobre onde, como e quem foram os baluartes do samba paulistano, cante e
sambe com o G.R.C.E.S. Tradição da Zona Leste.
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