Introdução
Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, com quase um terço das reservas florestais e um quinto de toda água doce do planeta. Muitas vezes lembrada como patrimônio natural da humanidade, é também um patrimônio histórico e cultural.
Entende-se como cultura toda expressão artística, musical, literária, tradições, gastronomia, de crenças, costumes, mitos e rituais de um determinado povo, sociedade ou civilização.
A União Independente da Zona Sul revisita e enaltece ludicamente os principais pontos que permeiam e encantam esta floresta. A complexidade do folclore, o misticismo da floresta e seus rios e as tradições indígenas compõem o enredo do Carnaval 2020.
Um retrato que vai além de seus mitos e lendas folclóricas já conhecidas no imaginário popular, decanta também suas riquezas naturais e ancestrais. As plantas usadas como alimentos e medicamentos também muito presentes nos rituais ancestrais liderados por seus pajés, vem a tona sob encantamento da “Pajelança” que abre os caminhos da escola na avenida.
Saudando seus Deuses Mitológicos, mais que uma exaltação. De pé no chão a União faz de seu desfile um grito expressivo de socorro por preservação.
“Salve a Mãe Natureza”
Um convite a uma imersão encantada , em que o real e o fantástico se misturam, de forma fascinante tornando quase impossível saber onde termina a verdade e começa a fantasia.
Sinopse e Desenvolvimento
Pajelança e Misticismo sob as bênçãos do Trovão
Iniciando essa viagem que aguça o imaginário popular, trazemos a tona toda magia nativa da Amazônia através da ritualistica Pajelança. Uma prática ancestral ministrada por Pajés curandeiros que propõe a cura e o saber através do misticismo simbólico e religioso.
Adentrando o universo mitológico dos encantamentos, apresenta-se Jaci, Deusa da Noite que é guardiã e protetora dos amantes. Irmã-esposa de Guaraci, o Deus Sol que reluz na manhã dia após dia. Trazendo o equilíbrio do pôr-do-sol e proteção aos caçadores. Ambos são filhos de Tupã – O Deus do Trovão! Os três elementos se juntam para formar a tríade dos Deuses da Amazônia.
Ecoa o tambor na mata , e anuncia as mais belas lendas, possuidoras de elementos maravilhosos ou sobre-humanos, transmitidas e conservadas na tradição popular. São índios que protagonizam e guardam lindas histórias de amor, guerra e despertam emoções por onde passam.
E a primeira história a ser retratada é a de Coacyaba.
Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se em borboletas. Por este motivo, elas voam de flor em flor, alimentando-se e fortalecendo-se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu. Coacyaba, uma bondosa índia, que ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para fazer sua filhinha Guanamby feliz. Todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Desta forma pretendia minimizar a falta que o esposo lhe fazia. Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para permanecer a seu lado. Enquanto isto, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu então ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. Tupã com a força do trovão. atendeu ao pedido e ordenou: “ Voa, beija-flor e realiza seu desejo”. Desde então, quando morre uma criança índia órfã de mãe, sua alma permanece guardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para juntas voarem ao céu, onde estarão eternamente.
Com a beleza dos pássaros, seguimos com as histórias de amor. Quaraçá adorava passear pelas matas tocando sua flauta de bambu. Ele era apaixonado por uma bela índia chamada Anahí, que era casada com o cacique da tribo.
Sofrendo muito pelo amor impossível, o jovem índio resolveu entrar no meio da floresta para buscar a ajuda do Deus Tupã. Entendendo o sofrimento de Quaraçá, Tupã resolveu transformá-lo num pequeno pássaro colorido (vermelho e amarelo com asas pretas), para assim livrá-lo do sofrimento.
Quaraçá, que ganhou o nome de Uirapuru , voou pela floresta com seu forte e lindo canto. Toda vez que via Anahí, pousava e cantava para a jovem índia, que ficava maravilhada com o som daquele pequeno e lindo pássaro.
O cacique da tribo também ficou encantado com o canto do pássaro e, com o objetivo de aprisioná-lo, se perdeu na floresta e nunca mais voltou. Sozinha, restava a Quaraçá ouvir o canto de seu pássaro favorito. E ao jovem índio, agora transformado em pássaro, restava que a índia amada descobrisse quem ele era para desfazer o encanto.
Mas nem todas as lendas de pássaros são lindas, existe também a parte sombria na floresta. Eis que surge em nosso caminho, Matinta Pereira, uma senhora idosa que se transforma em uma criatura assustadora. Podendo ser um pássaro que voa ao redor das moradias, ou simplesmente, não ter asas e andar acompanhada de um pássaro. Se um longo assovio te perturbar durante a noite, é sinal da passagem de Matinta Pereira. Dizem que quem ouve o som durante a noite, deve responder “Matinta, pode passar amanhã aqui pra pegar o seu tabaco”. E, no dia seguinte, uma senhora idosa aparece em busca de seu tabaco.
Mas não há o que temer, existe o protetor da aldeia e ele é chamado de Muiraquitã.
As belas índias nas noites de luar clareando a terra, se dirigiam a beira do lago mais próximo e colhiam bonitas pedras facilmente modeladas e ofereciam aos seus amados, como um verdadeiro talismã. Seus maridos os levavam para caça, acreditando que traria boa sorte e felicidade ao guerreiro. Conta a lenda que, até nos dias de hoje, muitas pessoas acreditam que o Muiraquitã traz felicidade, sendo considerado um amuleto de sorte para quem o possui.
Do encanto das águas ao folclore popular
Protegidos e seguindo pelos encantos da beira do rio, vamos desvendar a famosa lenda do Boto . A sedução que envolve as belas índias em noite de lua cheia, vem através de seu estilo comunicativo, galã e conquistador, O boto escolhe a moça solteira mais bonita da festa e a leva para o fundo do rio. Lá a engravida e depois a abandona. Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente.
E por falar em sedução e paixão em águas cristalinas, nos deparamos com uma das mais belas e famosas lendas da região: Vitória Régia!
Conta a lenda que uma índia chamada Naiá, ao contemplar a lua (Jaci) que brilhava no céu, apaixona-se por ela. Segundo contam os indígenas, Jaci descia à terra para buscar alguma virgem e transformá-la em estrela do céu. Naiá ao ouvir essa lenda, sonhou em um dia virar estrela ao lado de Jaci. Assim todos as noites, Naiá saia de casa para contemplar a lua e aguardar o momento dela descer no horizonte e sair correndo para tentar alcançá-la. Todas as noites Naiá repetia essa busca, até que uma vez, decidiu tentar pegá-la. Nessa noite, Naiá vê o reflexo da lua nas águas do igarapé e sem exitar mergulha na tentativa de tocá-lo e acaba afogando-se. Jaci se sensibiliza com o esforço de Naiá e a transforma na grande flor do Amazonas, a Vitória Régia, que só abre suas pétalas ao luar.
São grandes lendas e maravilhas que habitam as nossas águas amazônicas. Todas elas são guiadas por Iara, Mamãe Sereia. Iara ou Yara, do indígena Iuara , significa “aquela que mora nas águas”. É uma sereia (metade mulher, metade peixe) que vive nas águas amazônicas. Com longos cabelos pretos e olhos castanhos, a sereia Iara emite uma melodia que atrai os homens, os quais ficam rendidos e hipnotizados com seu canto e sua voz doce.
Iara era uma índia guerreira, a melhor da tribo, e recebia muitos elogios do seu pai que era pajé. Os irmãos de Iara tinham muita inveja e resolveram matá-la à noite, enquanto dormia. Iara, que possuía um ouvido bastante aguçado, os escutou e os matou. Com medo da reação de seu pai, Iara fugiu. Seu pai, o pajé da tribo, realizou uma busca implacável e conseguiu encontrá-la, como punição pelas mortes a jogou no rio, mas alguns peixes levaram a moça até a superfície e a transformaram em uma linda sereia que canta e emite lindas melodias após o arrebol.
Outro ser que habita a região dos rios e beira-rios amazônicos é o Boitatá. Cobra de fogo, que é temido por homens e animais e que quando morre, libera toda a sua luz por onde habita. De acordo com a lenda, o boitatá protege as matas e florestas das pessoas que provocam queimadas. O boitatá vive dentro dos rios e lagos e sai de seu " habitat " para assombrar e queimar as pessoas que praticam incêndios nas matas. Este animal passa grande parte do tempo pelas florestas na escuridão da noite, pois acreditam se tratar de uma alma penada que deve pagar seus pecados desta forma.
Mas não é somente o Boitatá que protege e defende esse lindo cenário. Nas matas, do outro lado do rio, bem próximo da cachoeira, podemos nos deparar com afugentadores de caçadores e animais. Os sacis fazem isso por pura diversão. Já as caiporas de cabelos vermelhos, fazem para espantar os caçadores que ameaçam os nativos.
Preocupado com a preservação das memórias de ontem, da vivência de hoje e garantia do amanhã desse cenário, Tupã escolhe um grande personagem para cumprir essa tarefa. Estamos falando do Curupira. O Curupira é o responsável por manter a herança da floresta viva! Eis aí, um índio menino que no seu destino tem a nobre missão da preservação da magia que reluz.
Tantas histórias despertam o folclore popular até aportar no Festival de Parintins do Boi Garantido e Boi Caprichoso. O Festival de Parintins tem como anfitriões dois bumbás, nascidos das tradicionais brincadeiras de ruas, das promessas e das lendas, que passaram pelos tablados e hoje são os donos da festa na arena do Bumbódromo. No enredo central das apresentações está “O Auto do Boi”. Movimento esse que conta a saga de um boi que morre e ressuscita dando vida a um grandioso e mágico espetáculo a céu aberto. Esse é o evento mais tradicional e que mais gera receita na região.
Além de festas, a Amazônia nos proporciona grandes dádivas com sua alimentação. Mas sempre carregada de histórias fascinantes contadas pelos povoados dessa terra.
Por exemplo: O Guaraná
Tudo aconteceu quando um casal de índios que não tinha filhos pediu ao deus Tupã que tornasse possível o seu desejo de serem pais. O pedido foi atendido e o casal teve um menino bonito e saudável que era estimado em toda a tribo. Invejoso de suas qualidades, Jurupari , o deus da escuridão, resolveu matar o indiozinho. Um dia, enquanto o menino colhia frutos na floresta, Jurupari se transformou em serpente. Tupã mandou trovões ensurdecedores alertando os pais do perigo que o menino corria, mas não houve tempo até que a serpente matasse o menino com o seu veneno. Assim, Tupã mandou plantar os olhos da criança para que deles nascesse uma planta. O fruto dessa planta deveria ser dado para as pessoas comerem com o objetivo de lhes dar energia. No local onde os olhos foram plantados nasceu o guaraná, o fruto precioso vindo das lágrimas que o fizeram brotar.
A magia das histórias amazônicas, não fica restrita somente a um espaço pequeno. Ela se estende por quilômetros e rompe barreiras dos estados brasileiros. Antes das cidades se levantarem, em Belém do Pará, existia uma tribo indígena muito grande, e a fome começou a assolar essa tribo sendo necessário que o pajé anunciasse que todas as crianças nascidas seriam sacrificadas. Mas Iaçã, teve uma filha tão linda, que não conseguiu sacrificar sua criança, e pediu a Tupã que ajudasse seu povo e cessasse a fome. Eis então que a filha de Iaçã, aparece ao pé de uma palmeira, desaparece, e sua mãe, chora tanto, que desfalece. Aos pés dessa palmeira, o amor de mãe e sorriso de criança deram nascimento ao açaí , o fruto que se encontra nas folhas da árvore.
Pelos quatro cantos do país, podemos ver a cultura sendo difundida, muitas vezes mudando até mesmo de nome. Mas sem perder sua essência. Como por exemplo: A lenda da Mandioca. Mani, que nasceu com a pele branca como leite, encantou a todos que acreditavam que ela era um presente de Tupã, mas quando faleceu, foi enterrada num bela oca, e lá nasceu a Mandioca, alimento muito a preciado no nosso país. Mas os nomes se difundem pelo orgulho brasileiro de nossas lendas. Com o passar do tempo ganhou apelidos que se espalham pelos cantos do Brasil. Às vezes mandioca, às vezes macaxeira ou simplesmente Aipim.
São inúmeras culturas, povos, lendas e mitos que habitam esse lugar maravilhoso. Fascínios naturais e que pertence a todos aqueles que o vivenciam com respeito. Porém, existe a necessidade de um verdadeiro e imponente grito de alerta.
SALVE A MÃE NATUREZA!
Por nossas crianças e o futuro dos povos da nossa terra, a União Independente da Zona Sul é a voz desse povo guerreiro, que tem orgulho de ser brasileiro.
“ Viajo nos teus rios Amazônia
Teus mistérios lendários a desvendar
Tu és a sobrevivência de um povo
É a voz do coração de um mundo novo
Sou a garantia do amor
Sou pétala da vida
Não sou lágrimas sofridas
Inspiração do índio ‘amazônida’
Chorei ao ver-te devastada
O verde a desbotar
Em minhas lágrimas
Clamei sobre tuas águas
Vi o sofrer em cada dádiva
Amazônia, Amazônia minha vida”
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