
ESCLARECIMENTOS:
Um dos ícones de maior expressão do mundo do samba completou, em 2023, quatro décadas de sua morte. Apesar de sua ausência física, seu legado musical e espiritual podem ser sentidos e apreciados por todos.
Rompeu barreiras quebrando os tabus religiosos de uma sociedade fechada, se expressava como mulher livre e, ainda mais, caminhava pelos becos e vielas de comunidades a fazer música e dançar com pés descalços em rendas feitas para os "santos".
Para 2024, a Flor de Liz acende o candeeiro e traz para a avenida, um canto forte que ecoa como as vozes do céu. Em seu manto sagrado brilhará Clara Nunes, a guerreira que brilhou feito estrela e retumbou como o trovão.
SINOPSE
Mesmo a 40 anos após a sua morte, Clara Nunes se mantém viva em nossa cultura. Talvez porque seja uma mulher à frente de seu tempo. Destemida, autêntica e dona de suas escolhas.
Quando saiu de Minas Gerais, a jovem menina foi para Belo Horizonte cantar Bolero nas rádios. Se fez como uma grande e premiada cantora de rádio. Recebeu o título de "A mais bela voz de Minas Gerais".
A garota mineira de voz potente que ganhou vários prêmios de a mais bela voz do em destaque 4 troféus imprensa o oscar Brasileiro o Brasil com o seu pulmão repleto de notas musicais. Cantava como canta um sabiá. Não à toa que lhe rendeu este apelido.
Ao desembarcar no Rio se encantou com o mar.
Ah, o mar!
Aquela imensidão azul repleta de mistérios e magias que tanto a inspirou. O mar de Iemanjá e de tantos outros encantos que brindam de suas ondas.
Em terras cariocas, não teve o mar somente como paixão. Teve aos ouvidos, a musicalidade brasileira in natura: o samba. Ouviu samba no cais, esteve na Gamboa, mas, foi em Madureira que se apaixonou de vez pelo samba.
No Rio de Janeiro, conheceu as batucadas que não somente lhe deram inspiração como artista, bem como, foi fomento para a alma. Espiritualizou-se em identificação rápida com o universo dos orixás. Se encontrou com sua espiritualidade.
Direta, objetiva e muito certa de quem era, Clara Nunes se tornou um ícone de afro-brasilidade. Cantou as três raças e arrepiou aos brasileiros e marejou os olhares.
Tão bela e tão jovem, todos os jornalistas queriam saber quem era ela. Ela apenas respondeu da melhor forma que sabia fazer -- cantando: "Se vocês querem saber quem eu sou; eu sou a tal mineira. Filha de Angola, de Ketu e Nago. Não sou de brincadeira" -, se apresentava. "Sou Clara guerreira. Filha de Ogum com lansă".
DE MINAS PARA O RIO:
E, lá se foi ela.
Pé na estrada, mala na mão. A menina de 15 anos levava na bagagem a coragem e muita saudade. A caçula do marceneiro Mané Serrador levava consigo na memória os acordes de viola do pai que participava das comitivas dos Santos Reis na região de Paraopeba.
A menina que perdera o pai aos 06 anos de idade fora criada pela irmã mais velha, Dindinha. Cresceu ouvindo as cantoras de rádio e gostava de cantar. Aos 14 anos participou de um concurso ao qual ganhou um vestido azul.
Começou a trabalhar na mesma fábrica em que o pai trabalhou, mas, logo depois, assustada, mudou-se às pressas para Belo Horizonte.
O Seu irmão, para defender a sua honra dos maus falatórios de um namoradinho de Clara o assassinou e, assim, foi a menina morar com os demais irmãos na capital mineira.
Por influência familiar Cristä, frequentava a igreja e participava do coral. Logo aboliu o catolicismo para imergir no Kardecismo. Foi quando conheceu Jair, violinista que a levou para o Programa Degraus da Fama.
Ganhou concursos em São Paulo e Belo Horizonte. Começou a trabalhar na Rádio Inconfidência. Fez muitas viagens como cantora crooner e conheceu Milton Nascimento com quem trabalhou por um período.
Sua estrela começou a brilhar e fez a sua primeira aparição na tevê no Programa de Hebe Camargo.
Na expectativa de fazer mais fama e ganhar mais espaço como cantora, a mesma sob conselho de outros artistas, mais uma vez pegou a sua mala e mudou para o Rio de Janeiro. E, lá se foi a jovem para terras cariocas.
SAMBA, MARE RELIGIOSIDADE: Defesa dos Povos - Branco-Preto- Índio
Clara acertou em cheio na decisão. Passou a fazer diversos programas de tevê no Rio de Janeiro e brilhou no em todas que se apresentou. Além disso, percorreu quadras de escolas de samba se apresentando como artista até conhecer o samba e os tambores africanos. Ritmo indígena - afro - brasileiro.
Ali, se apaixonou pelo samba. Quis ser do samba. Se encantou com a religiosidade africana. Em 1965, pela primeira vez teve a sua voz gravada em Long Player (LP).
Gravou samba de grandes compositores e cada vez mais se tornou um símbolo do que era o Brasil. A sua real consagração como sambista veio de vez quando subiu ao palco em Luanda - Capital de Angola.
Mais tarde, grava o grande sucesso nacional "É Baiana!". Ano seguinte, grava "Ylu Aye", samba-enredo da Portela. Ao frequentar as comunidades cariocas, acabou conhecendo a umbanda pelos lados de Madureira e se converteu definitivamente praticando a fé e a caridade.
Por causa de sua fé, realizava retiros por, dias e meses na Casa de Vovó Joana. Além de filha de Santo da casa, tornou-se amiga e confidente da ialorixá.
Quando não estava nas rodas de samba, gostava da paz. Dos pés a areia. De olhar a imensidão do mar e contemplar o horizonte. O mar, assim como a Portela, foi um rio que passou em sua vida.
DISCOGRAFIA E PARTIDA:
Inúmeros foram os sucessos de Clara. De sambas enredos à sambas-canções, Clara Nunes interpretou com maestria cada nota musical. Em sua vida, o "mar serenou quando ela pisou na areia, pois quem dança na beira do mar é sereia".
Além de tudo, com Arco de Flores na cabeça e mão na cintura, "a morena de Angola levava o chocalho amarrado na canela" sem saber se mexia o chocalho ou o chocalho que mexia com ela.
Mas, aos poucos, Clara deixava a sua marca em tudo: Na Feira de Magaio, no Alvorecer, no Juízo Final. Como uma força da natureza, cantou Menino Deus e ljexá. Cantou também As Forças da Natureza e se tornou a "Deusa dos Orixás".
E, foi assim que, sem um prévio de se despedir do povo iria nos deixar sem dizer adeus. Dizem os mais apaixonados por Clara que ela é um anjo que canta no céu, é uma das estrelas que mais brilha entre milhares.
Eternamente "CLARA GUERREIRA".
Mas, que, acima de tudo, se tornou uma estrela que aparece a brilhar ao lado da lua para nos brindar com o seu sorriso e sua força. Principalmente nesta noite de desfile em que a Flor de Liz resgata um ícone do que é considerado um dos terrenos mais sagrados da cultura popular: Clara Nunes.
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