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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.E.S. BOÊMIOS DA VILA - CARNAVAL 2014
Enredo: Eu sou o samba desde que o samba é semba

O Grêmio Recreativo
Autor: J. Ivo Brasil

“....o samba ainda vai nascer,
o samba ainda não chegou
o samba não vai morrer,
veja o dia ainda não raiou
o samba é o pai do prazer,
o samba é o filho da dor
o grande poder transformador.”
(Caetano Veloso - Desde que o Samba é Samba)

Controvérsias à parte, seja ela de ordem histórica ou gosto pessoal, aquilo que tinha tudo para não dar certo passou a ser considerado Patrimônio Cultural da Humanidade, mas o caminho até ai foi longo, muita coisa aconteceu, muitas notas rolaram, muitos estilos surgiram e muita gente persistiu, e persiste, na luta pela sua preservação, assim é o samba: o grande poder transformador.
Historicamente a origem do nome é uma controvérsia geral, pois tem gente que diz que a origem é da língua árabe, outros dizem que é da língua quimbundo, entretanto, no Brasil, a versão mais aceita é de que samba é uma corruptela da palavra semba (umbigada ou batuque) de origem africana, assim como quimbundo, possivelmente oriunda de Angola ou Congo, locais de onde veio a maior parte de escravos para solo brasileiro.
No início do séc. XIX a palavra samba se estendeu como designação de qualquer tipo de baile e/ou dança popular: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave, samba-de-barravento, coco, tambor-de-crioula, trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado, bambelô, miudinho, jongo, caxambu, samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho, jongo, dentre outras, mas que assumiam características próprias em cada região, tanto pela diversidade de escravos, como pelas particularidades de cada uma destas regiões.
O primeiro registro da palavra samba (pelo menos que se tem notícia) deu-se em fevereiro de 1838, na revista pernambucana O Carapuceiro, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama (beneditino secularizado) também conhecido como o Padre Carapuceiro, escrevia contra o que chamou de "samba d'almocreve" (samba de almocreve) um tipo de folguedo praticado pelos almocreves (comerciantes que viajavam sobre jumentos, animais de carga da época, abastecendo de “bens” às vilas e as cidades, e sempre acompanhados de suas violas. Quatro anos depois, em 12 de novembro de 1842, o religioso escreve na mesma publicação uma quadra, de grande importância histórica, em que fala de samba e dança. “Aqui pelo nosso mato/ Qu'estava então mui tatamba/ Não se sabia outra coisa/ Senão a dança do samba”
Outros registros surgem, e um deles vem do compositor, pianista e regente brasileiro, Alexandre Levy, que registrou em 1892 a primeira partitura que se conhece em que o samba (gênero musical) é focalizado, e já de forma erudita, entretanto, só a partir do início do século XX é que nasceria o samba propriamente como gênero musical (como um estilo descendente do lundu, das festas dos terreiros entre umbigadas e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão)
A medida que o samba se popularizava crescia também a população negra e mestiça na cidade do Rio de Janeiro, gente vinda de diversos lugares do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos, nas imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça Onze, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária, formando assim as “favelas”.
Estas “favelas”, e principalmente as casas das “tias baianas”, seriam cenário de uma parte significativa da cultura negra brasileira, especialmente com relação ao candomblé e ao samba amaxixado daquela época e é justamente no meio desta “efervescência”  que nasce a composição "Pelo telefone" (de Donga e Mauro de Almeida), que entraria para a história da música brasileira como o primeiro samba a ser gravado, em 1917, pela gravadora Odeon, número de série 121313.
Dentre as principais "tias baianas", destacaram-se Tia Amélia (mãe de Donga), Tia Bebiana, Tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmem Xibuca), Tia Prisciliana (mãe de João da Baiana), Tia Rosa Olé, Tia Sadata, Tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana) e TIA CIATA (avó do compositor Bucy Moreira e a mais conhecida das “tias baianas”, uma das responsáveis pela sedimentação do samba carioca. Segundo o folclore da época, para que um samba alcançasse sucesso, ele teria que passar pela casa dela e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias).
A medida que a cidade crescia e a partir da chegada do rádio no Brasil (salve Guglielmo Marconi,  “descobridor do rádio”, natural de Bolonha, Itália) o samba se espalha e chega também às casas da classe média, revelando novos talentos musicais, consolidando o samba urbano carioca e trazendo a tona muitas inovações tão importantes que perduram até os dias atuais.

O grande propulsor destas mudanças e inovações, foi o bairro Estácio de Sá, que já era popular e com grande contingente de pretos e mulatos (reduto de malandros). Bairro que gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "Turma do Estácio", entre os quais: Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistas Baiaco , Brancura, Mano Edgar e Mano Rubem (turma que marcou a história do samba brasileiro por imprimir uma nova identidade ao gênero).
“.......A cultura se renovando naquele momento de forma mais rápida.......Os outros sambistas examinavam o tamborim, o surdo, a cuíca, o reco-recco que a turma do Estácio inventou ou recriou. O ritmo mais quente, as notas mais longas, a cadência acertada pela primeira e a segunda do surdão, o tamborim brincando . O reco-reco também é outro que pode tudo nesta vida.......”
(Paulo Lins – Desde que o Samba é Samba)
Outra mudança estrutural foi a valorização das segundas partes da letra e música das composições (diferente do partido-alto que tinha a improvisação como elemento típico) além da consolidação de seqüências preestabelecidas, que teriam um tema (hoje conhecido por nós como enredo).
Com todas essas novidades é normal que o gênero começasse a chamar a atenção de gente como Francisco Alves, o Rei da Voz, e posteriormente, os então jovens, Ary Barroso, Noel Rosa (dentre outros) que endossaram estas mudanças, esta difusão e nacionalização do samba, que deixou de ser uma expressão urbana carioca para alcançar status de simbolo nacional (final da década de 1920 a meados de 1940).
No final da década de 1920 a turma do Estácio, apresenta mais uma mudança ao estado, pois criam a primeira escola de samba do país, em 12 de agosto de 1928 nasce a DEIXA FALAR.
“....... – Aqui no Estácio não tem a escola normal? Então nós não somos professores de samba? Se eles formam professores, a gente forma sambistas. A gente não inventou a música nova e ensinamos ao pessoal da Mangueira, Vila Isabel, Oswaldo Cruz e todo mundo? Então aqui no Estácio estãos os profesores de samba. – falou Silva (Ismael Silva)
           Todos encheram os copos com as mais variadas bebidas. Brindaram o nome da primeira escola de samba do Brasil. Era uma dessas páginas definitivas da História  que se virava naquele momento. O samba acabava de nascer e já tinha uma escola para sempre. Samba e escola para os quais Bide inventou o surdo e recriou o tamborim para mudar tudo no batuque brasileiro. Samba e escola que fizeram um velho ritmista, João da Mina, criar a cuíca , de tão inovador que era o ritmo que mudou nosso dançar.
(Paulo Lins – Desde que o Samba é Samba)
As cores escolhidas para a DEIXA FALAR (inicialmente um rancho carnavalesco, posteriormente um bloco carnavalesco e por fim, uma escola de Samba)  foram o vermelho e o branco.
“..... – Qual vai ser a cor do bloco? – perguntou Baiaco
– Só pode ser  vermelho e branco, e vou explicar o porquê. Nosso time da área é o América, que é vermelho e branco, certo? Então a gente já fica formado na cor dele. Outro motivo também é o pessoal do União Faz a Força, que já tem um monte de fantasia vermelha e branca. Também é uma forma de homenagear o falecido Rubem, que tinha organizado e escolhido a cor do antigo bloco – completou Silva
(Paulo Lins – Desde que o Samba é Samba)
Depois da fundação da Deixa Falar o cenário carioca mudou completamente, em 1929 surge a segunda escola de samba, Estação Primeira de Mangueira (resultado da junção de vários blocos existentes no bairro da Mangueira – RJ) e a capacidade de aceitação, admiração e paternalização das escolas começaram a galgar outros estágios.
O samba espalhava-se por outras áreas da cidade, não apenas com os sambas de carnaval, mas também como novas formas musicais dentro do estilo moderno carioca, como o samba-canção e o samba-exaltação. Estes estilos tiveram como grandes aliados de difusão, o rádio e os projetos do Estado Novo de Getúlio Vargas, 1937 – 1945, que foi responsável não só pela elevação do gênero à condição de samba "nacional" como também, pela oficialização do desfile de carnaval, em 1935. Assumindo esta organização, o Estado Novo passa a obrigar as escolas de samba a usarem como enredo a história do Brasil, surge assim o chamado samba-enredo, já que inicialmente os sambas de carnaval não tinham enredo, tinham tema.
No período de consolidação do samba carioca como "samba nacional", surgiu uma nova safra de interprétes que obtiveram grande sucesso radiofônico, que conduziram esse samba para caminhos ao gosto da industria musical, dentre eles, Ary Barroso, com Aquarela do Brasil, em 1939,  (que só foi realmente reconhecido aqui no Brasil depois de um enorme sucesso no estrangeiro, aliás, primeiro sucesso musical brasileiro no exterior) e Carmen Miranda (a pequena notável), cantora luso-brasileira, bastante popular à época, que conseguiu projetar esse samba internacionalmente a partir de filmes (todos apoiados pelo governo Getúlio Vargas e a política da boa vizinhança norte-americana, ajudando assim a retirar a imagem de marginalidade do samba carioca, outrora negativamente associada "como antro de malandros e desordeiros".)
A partir da década de 40 e 50 o samba, até por causa de sua massificação e por conta da disseminação internacional, passa a receber novas influências latinas e norte-americanas. Surgem as populares gafieiras (danceterias populares). Surgem os novos estilos de samba, o samba-choro, o samba de gafieira, o samba-canção, a bossa nova e o sambalanço, (ramificação popular da bossa nova que foi muito tocado em bailes suburbanos das décadas de 1960, 1970 e 1980).
Como o samba e sua batida tradicional estava perdendo terreno, já na década de 60, surge o “Movimento de Revitalização do Samba de Raiz” promovido pelo Centro Popular de Cultura, em parceria com a União Nacional dos Estudantes e apoio de diversos artistas da época. Com isso:  veteranos até então esquecidos, ressurgem (Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zé Keti....); aparece o bar Zicartola; espetáculos de samba são produzidos (Teatro de Arena e Teatro Santa Rosa); produções musicais como "Rosa de Ouro" vira sensação; Paulinho da Viola, da Portela, por suas atuações, passa a ser considerado uma espécie de embaixador do gênero tradicional diante de um público mais vanguardista (dentres eles os tropicalistas); acontece a Bienal do Samba; aparecem novos estilos de samba (o samba-empolgação e o samba-funk; é criado o Dia Nacional do Samba (2 de dezembro 1963)  por iniciativa do Verador Luis Monteiro da Costa (da Bahia) em homenagem a Ary Barroso, que havia composto "Na Baixa do Sapateiro" (1938) sem sequer conhecer o estado (2 de dezembro marcou a primeira visita de Ary Barroso a Salvador. Inicialmente, o Dia do Samba era comemorado apenas em Salvador, mas acabou transformado em feriado nacional)
Na década de 70, com a ajuda das rádios, o samba volta a viver um período de revalorização através de uma nova vertente, o partido-alto e projeta novos artistas como Alcione, Beth Carvalho,  Clara Nunes, Bezerra da Silva, Martinho da Vila (que daria uma nova face aos tradicionais sambas-enredo compactando-os e ampliando sua potencialidade no mercado musical popularizando assim o estilo do samba-de-partido-alto, isso no Rio de Janeiro). Já em São Paulo, nesta mesma década, Geraldo Filme, se destaca como um dos principais nomes no mundo do samba (frequentador das rodas de "Tiririca", no Largo da Banana e responsável pela montagem dos espetáculos "Balbina de Yansã" e "Pagodeiros da Paulicéia", em parceria com Plínio Marcos).
Depois de um período de esquecimento (década de 80) o samba volta a consolidar sua posição no mercado fonográfico através do novo movimento, chamado pagode (basicamente dividido em duas tendências, o partido-alto, ou pagode de raiz, e o mais popular,  pagode-romântico, de forte apelo comercial na década de 90 e que fez com que as músicas norte-americanas ficassem em segundo lugar em arrecadação de direitos autorais durante aquela década, algo inédito no Brasil). Ainda nos anos 90, apareceram mais duas fusões de samba com outros gêneros musicais, o samba-rap, e o samba-reggae, mas nada comparado ao estilo anterior com relação ao sucessso de vendagem.
A partir do  século XXI  surgiram alguns artistas que buscavam se reaproximar, contribuir para a renovação de novos talentos e/ou regiões  do samba, pelo samba e para o samba. Dentre esses movimentos podemos citar a  Mostra de Talentos do Carioca da Gema, o festival  mais importante da Lapa-RJ nos dias atuais, e em São Paulo o Samba da Vela, desenvolvido pelo grupo Quinteto em Branco e Preto, no bairro de Santo Amaro. Toda essa resistência resultou em algo até então inesperado,  pois nem de longe nossos “malandros” poderiam imaginar que algo pudesse ir tão longe, mas foi.

Conclusão.
“Quem não gosta de samba/ bom sujeito não é/ ou é ruim da cabeça/ ou doente do pé”.
(Dorival Caymmi - Samba da minha terra).

Esse gostar, é um sentimento subjetivo, pois não está ligado nem a dança nem a música. Está ligado à importância do samba, como um todo, dentro da sociedade brasileira no passar das décadas, pois SAMBA significa muitas coisas ao mesmo tempo: consolo, alegria, fuga da realidade, animação, liberdade, filosofia, cultura, tradição, sociabilização, arte, comida, moda, é indiferente às classes sociais, credo, sexo ou opção sexual, raça ou cor, enfim ele tem sobrevivido apesar dos pesares.

“......Desde que o samba é samba é assim/ A lágrima clara sobre a pele escura.....”
(Caetano Veloso - Desde que o Samba é Samba)

 


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