CAPÍTULO I
Surgem das montanhas de pedras rochosas suas faces negras e límpidas de olhar brilhante no firmamento. Os grandes olhos negros com se vislumbrasse o infinito. Lábios grossos e nariz achatado esta esculpida em cada face desta montanha. Eles nossos Heróis em cada mente reluz uma trajetória, um caminho, caminhos de lutas em formas e tempos diferentes. Duas vidas ligadas a um povo a uma comunidade. Cada um deixou o seu legado de honra, liberdade, altruísmo, cultural em suas materializações.
O otimismo era meta para estes homens que cumpriram muito bem suas missões, um povo uma comunidade guerreiros e filósofos, lanceiros e estudiosos, assim cruzaram em épocas diferentes e fizeram suas histórias, deram suas vidas por um ideal. Nasceram e cresceram neste imenso País, um ao nordeste no Pernambuco, outro no Sudeste em São Paulo. Orgulhosamente a Academia do Samba, nós dos Acadêmicos coroamos estes Homens ZUMBI e BERTÃO e como nossos heróis fazemos derramar nesta passarela seus ideais na coroação de um Carnaval.
CAPÍTULO II
ZUMBI nome de origem do quilombo “N ZUMBI” que quer dizer fantasma ou espírito viajante. Nasceu em Palmares por volta de 1655, dizem alguns historiadores que foi neto da rainha Aquautune, aos sete anos de idade em meio a uma das batalhas foi capturado por soldados portugueses e entregue ao padre Antonio Melo na capitania do Pernambuco. Como acontecia a índios e negros na colonização, o catolicismo foi imposto ao menino e recebeu o nome de Francisco, sendo iniciado nos ritos da religião romana aprendendo os ofícios da missa, o português e o latim.
Aos 15 anos por volta de 1670, ZUMBI foge para o quilombo do Palmares entrando para a fileira de defesa e logo se torna um militar do quilombo. Aos 20 anos já era reconhecido como um grande estrategista sob seu comando impõe serias perdas as investidas dos Portugueses sobre Palmares. Participava assiduamente das celebrações afro em danças e festas em vários mocambos (cidades) de Palmares. Era também um excelente dançarino.
Em 1673 surge o primeiro registro de guerra sobre ZUMBI e seu nome começa a virar lenda, já em 1678 acontece a primeira grande cisão em Palmares, o líder das armas Ganga-Zumba e chefe de estado aceita e assina um acordo de Paz com os portugueses. Neste acordo tinha como cláusula não aceitar em Palmares negros fujões o que provocou uma grande revolta e descontentamento em vários mocambos. Nesta cisão ZUMBI tornou-se um grande líder de oposição a este acordo.
Com esta divisão que ocasionou a morte de Ganga-Zumba por envenenamento e ZUMBI é proclamado líder dos Palmarinos e como primeiro ato rompe o acordo com o governador Pedro de Almeida, este acelera grandes investidas contra a região negra da serra da barriga que a partir de 1680 começa se enfraquecer por outras disputas internas, alguns líderes se levantam contra ZUMBI. Palmares resiste mais uma vez, mas a partir de 1685 com estes problemas vai enfraquecendo as forças Palmarinas e aumentando cada vez mais o poder bélico português que em 1693 contrata o bandeirante Domingo Jorge Velho, famoso por aniquilar muitas aldeias de índios nos Sudeste, comanda um grande contingente militar e em dois anos de guerra Palmares é devastada.
Foram mais de um ano de buscas até que 20 de Novembro de 1695 por um ato de traição ZUMBI é capturado e morto em uma grande batalha final, morre seu corpo, mas seus ideais de liberdade cruzaram séculos e hoje ele é referência de luta e um herói do povo negro.
CAPÍTULO III
João Roberto Aniceto, nascido em 22 de Dezembro de 1944 na zona leste da maior cidade do hemisfério Sul, filho da capital dos Paulistas, desde criança sempre ligado a musicalidade e aos blocos Carnavalescos, nos dias de folia se juntava aos foliões anônimos e curtia a grande festa e só aparecendo em casa na quarta-feira de cinzas. Vestia sua melhor roupa e ia para a Igreja se benzer para ter uma quaresma tranqüila.
Quando adulto mudou-se para o Ipiranga e 30 de Setembro 1977 ao lado de Tio Mario, Dona Didi, Valdir Pastel, Jorge Costeleta, Ico Branco e outros (as) fundaram uma casa de sambista chamado Acadêmicos do Ipiranga. Ai fez morada o seu coração, sua vivência, sua vida. Na entidade aprendeu a administrar, a conduzir e pela emoção do seu pavilhão colecionou muitas alegrias e muitas tristezas, mas nunca perdeu a esperança e a confiança na condução de uma entidade Carnavalesca permitindo aos foliões um instrumento de cultura através dos seus Enredos.
Fez dos Acadêmicos uma Escola de raiz negra em suas manifestações, na sua luta persistente levou a Escola a grande sagração, ao grupo principal das Escolas de Samba da cidade com o Enredo: Festa Popular da Bahia encantou os jurados com o rodopio hilariante das negras baianas que de branco simbolizando a lavagem do Bonfim. Assim escreveu com caneta de ouro a página mais rica desta comunidade e na elite do Carnaval encantou a Avenida Tiradentes com o Enredo: Dona Beija a princesinha do Araxá. Este foi 1980, uma década de ouro para os seus comandados. Nosso REI BERTÃO continua sua sagra de sambista colecionando bônus e aprendizado para a sua Academia, segue um caminho de Enredos que canta com muita propriedade a cultura negra em um momento em que esta massa buscava a sua conscientização na nossa sociedade.
Dizia o grande negro, nada de reclamar só seremos discriminados se acharmos que somos inferiores, o negro é lindo, o negro é belo, como é belo o índio e como é belo o branco. Assim o Ipiranga cantou Sabará Terra do Ouro, Sonho e libertação, Frutos do ébano, Legados dos Iorubas, Filhos negros de hindu gandhi, esta foi à linha afro.
BERTÃO não esqueceu a natureza na sua caminhada cultural, materializou em sua vida Ecologia, A Dança da natureza, Brasil Tropical. Exaltou a cultura indígena através de Nacões, Maira o Supremo e a Supremacia, Porominare o dono da Terra. Como grande e boêmio que foi, nosso rei negro contou e cantou muitas alegrias em seus Enredos, fez de sua vida um grande Carnaval, a musicalidade esteve presente em todos os momentos, uma hora sereno para explodir de épocas em épocas. Deu origem a varias vidas agasalhou os que vieram de si e os que a vida lhe deu para ser o grande guardião, amou a negra baiana Ana Maria e fez dela sua companheira de jornada. Vislumbrou o Pierro e a Colombina no desfile triunfal das máscaras e marchinhas, fez de sua vida um show de confete e serpentina.
Hoje o Ipiranga encerra esta passagem promovendo mais uma explosão de alegria porque a vida deste nosso herói foi feita de conquistas, ele viveu em um ideal de ser e de fazer seu povo festeiro, consciente em seu trabalho para fazer seu povo feliz e como nosso rei ZUMBI, BERTÃO não morreu, partiu a 29 de Julho de 2000 para as esferas daqueles que deixaram um rico legado, hoje cuidado pelos seus filhos e amigos vendo lá do céu o tremular festivo do pavilhão dos Acadêmicos do Ipiranga que hoje tremula em sua memória e na memória do grande Rei ZUMBI.
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