INTRODUÇÃO (Argumento)
“Chegou quem faltava chegar, chegou
A Mooca mandou me chamar, eu vou
Salve o santo guerreiro
Jorge meu padroeiro
A luz de Aruanda clareou...”
Pixinguinha é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva.
Era filho do músico Alfredo da Rocha Viana, funcionário dos correios, flautista e que possuía uma grande coleção de partituras de choros antigos. Pixinguinha aprendeu música em casa, fazendo parte de uma família com vários irmãos músicos, entre eles o China (Otávio Viana). Foi ele quem obteve o primeiro emprego para o garoto, que começou a atuar em 1912 em cabarés da Lap e depois substituiu o flautista titular na orquestra da sala de projeção do Cine Rio Branco. Nos anos seguintes continuou atuando em salas de cinema, ranchos carnavalescos, casas noturnas e no teatro de evista.
Pixinguinha integrou o famoso grupo Caxangá, com Donga e João Pernambuco. A partir deste grupo, foi formado o conjunto Oito batutas, muito ativo a partir de 1919. Na década de 1930 foi contratado como arranjador pela gravadora RCA Victor, criando arranjos celebrizados na voz de cantores como Francisco Alvesou Mário Reis. No fim da década foi substituído na função por Radamés Gnattali. Na década de 1940 passou a integrar o regional de Benedito Lacerda, passando a tocar o saxofone tenor. Algumas de suas principais obras foram registradas em parceria com o líder do conjunto, mas hoje se sabe que Benedito Lacerda não era o compositor, mas pagava pelas parcerias.
Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz, enquanto hoje em dia podem ser vistas como avançadas demais para a época. Além disso, "Carinhoso" na época não foi considerado choro, e sim uma polca. Outras composições, entre centenas, são "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1 x 0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres".
No dia 23 de abril comemora-se o Dia Nacional do Choro, trata-se de uma homenagem ao nascimento de Pixinguinha. A data foi criada oficialmente em 4 de setembro de 2000, quando foi sancionada lei originada por iniciativa do bandolinista Hamilton de Holada e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello.
SINOPSE DE ENREDO
“Se você tem 15 volumes para falar de toda a
música popular brasileira, fique certo de que é pouco.
Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo
está perdido; escreva depressa: Pixinguinha.”
ARI VASCONCELOS
Uma rápida passagem pela sua vida e sua obra seria
suficiente para verificar que ele é responsável por
façanhas surpreendentes, como a de estrear no disco aos
13 anos de idade revolucionando a interpretação do choro.
É que naquela época (1911) a gravação de disco ainda
estava em sua primeira fase no Brasil e os
instrumentistas, mesmo alguns ases do choro, pareciam
intimidados com a novidade e tocavam como se tivessem
pisando em ovos, com medo de errar. Pixinguinha
começou com segurança total e improvisou na flauta com
a mesma tranquilidade com que tocava nas rodas de
choro ao lado do pai e dos irmãos, também músicos, e
dos muitos instrumentistas que formavam a elite musical
do início do século XX.
A flauta e as rodas de choros não impediram que
tivesse uma infância como as outras crianças, pois jogava
bola de gude e soltava pipa nos primeiros bairros em que
morou, Piedade e Catumbi. O pai, flautista, não só deu a
ele a primeira flauta como o encaminhou para os
primeiros professores de música, entre os quais o grande
músico e compositor Irineu de Almeida, o Irineu Batina.
Seu primeiro instrumento foi cavaquinho mas mudou logo
para a flauta. Sua primeira composição, ainda bem
menino, foi Lata de leite, um choro em três partes como
era quase obrigatório na época. Também foi em 1911 que
se incorporou à orquestra do rancho carnavalesco Filhas
da Jardineira, onde conheceu os seus amigos de toda a
vida, Donga e João da Baiana.
“... Fui nascido e criado no samba
No choro, nas rodas de bamba
Fiz serenatas ao luar
Tão “carinhoso” no prazer da poesia
Nem se quer eu vi o dia clarear
Rodei na Lapa, malandragem, boêmia
Um batuque de melodias
Saudades que não se desfaz...”
O pai preocupava-se também com os estudos
curriculares do menino, que, antes de frequentar os
bancos escolares , teve professores particulares. Ele,
porém, queria mesmo era a música. Tanto que,
matriculado no Colégio São Bento, famoso pelo seu rigor,
matava aula para tocar no que seria o seu primeiro
emprego, na casa de chope A Concha, na Lapa Boêmia.
“Às vezes, ia lá com a farda do São Bento”, recordou
Pixinguinha em seu depoimento ao Museu da Imagem e
do Som. Tudo isso, antes de completar os 15 anos,
quando inclusive trabalhou como músico na orquestra do
Teatro Rio Branco. Em 1914, com 17 anos, editou pela
primeira vez uma composição de sua autoria, chamada
Dominante. Na edição da Casa Editora Carlos Wehrs, seu
apelido foi registrado como Pinzindim. Na verdade, o
apelido do músico ainda não contava com uma grafia
definitiva, pois fora criado pela sua avó africana. O
significado de Pinzindim teve várias versões. Para o
radialista e pesquisador Almirante, significava “menino
bom” num dialeto africano, mas a melhor interpretação,
sem dúvida, é a do pesquisador de cultura negra e grande
compositor Nei Lopes, que encontrou a palavra psi-di
numa língua de Moçambique, que significa comilão ou
glutão. Como Pixinguinha já carregava também o apelido
caseiro de Carne Assada, por ter sido surpreendido
apropriando-se indevidamente um pedaço de carne
assada antes do almoço que seria oferecido pela família a
vários convidados, é provável que a definição encontrada por Nei Lopes seja a mais correta.
Em 1917, gravou um disco do Grupo do
Pixinguinha na Odeon com dois clássicos da sua
obra de compositor, o choro Sofres porque queres e a
valsa Rosa, sendo que esta última tornou-se mais
conhecida em 1937, quando foi gravada por Orlando Silva.
Naquela altura, ele já era um personagem famoso não só
pelo seu talento de compositor e de flautista como por
outras iniciativas, entre as quais sua participação no
Grupo do Caxangá, que saía no carnaval desde 1914 e era
integrado por músicos importantes como João
Pernambuco, Donga e Jaime Ovale. E era também uma
das figuras principais das rodas de choro na famosa casa
de Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida), onde o choro
ocorria na sala e o samba no quintal. Foi lá que nasceu o
famoso Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida,
considerado o primeiro samba gravado. Em 1918,
Pixinguinha e Donga foram convocados por Isaac Frankel,
proprietário do elegante cinema Palais, na Avenida Rio
Branco para formar uma pequena orquestra que tocaria
na sala de espera. E nasceu o grupo Oito Batutas,
integrado por Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China,
irmão de Pixinguinha (violão e canto), Nélson Alves
(cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Jacob Palmieri
(bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, Zezé
(bandolim e ganzá). “A única orquestra que fala alto ao
coração brasileiro”, dizia o letreiro colocado na porta do
cinema. Foi um sucesso, apesar de algumas restrições de
caráter racista na imprensa. Em 1919, Pixinguinha gravou
Um a zero, que compusera em homenagem à vitória da
seleção brasileira de futebol sobre a uruguaia, dando ao
país seu primeiro título internacional, o de campeão sul-americano.
É impressionante a modernidade desse choro,
mesmo quando comparado a tantas obras criadas mais de
meio século depois.
“... Rosa, o teu perfume não esqueço mais
Inspiração para meus carnavais
És graciosa como a flor
Flor, majestosa da vida
Enfeita avenida, essência do amor...”
Os Oito Batutas viajaram pelo Brasil e, em fins de
1921 receberam um convite irrecusável: uma temporada
em Paris, financiada pelo milionário Arnaldo Guinle. E, no
dia 29 de janeiro de 1922, embarcaram para a França,
onde permaneceram até agosto tocando em casas
diferentes, sendo a maior parte do tempo no elegante
cabaré Sheherazade. Foi em Paris que Pixinguinha ganhou
de Arnaldo Guinle o saxofone que iria substituir a flauta no
início da década de 1940, e Donga recebeu o banjo, com o
qual faria muitas gravações. Na volta da França, o grupo
fez várias apresentações no Rio de Janeiro (inclusive na
exposição comemorativa do centenário da independência)
e, em novembro de 1922, novamente os Oito Batutas
viajaram, dessa vez para a Argentina, percorrendo o país
durante cerca de cinco meses e gravando vários discos
para a gravadora Victor. Na volta ao Brasil, a palavra
Pixinguinha já ganhara sua grafia definitiva nos discos e
na imprensa. Novas apresentações em teatros e em vários
eventos e muitas gravações de disco, com seu grupo
identificado com vários nomes: Pixinguinha e Conjunto,
Orquestra Típica Pixinguinha, Orquestra Típica
Pixinguinha-Donga e Orquestra Típica Oito Batutas.
Na década de 1930, gravou também muitos
discos como instrumentista e várias músicas de sua
autoria (entre as quais as fantásticas gravações de
Orlando Silva de Rosa e Carinhoso), mas o mais
expressivo daquela fase (incluindo mais da metade da
década de 1940) foi a sua atuação como arranjador.
Um grande acontecimento foi o Festival da Velha
Guarda, que comemorava o quarto centenário da cidade
de São Paulo, em 1954. Pixinguinha reuniu o seu pessoal
da Velha Guarda (mais uma vez sob o comando de
Almirante) e realizaram várias apresentações no rádio, na
televisão e em praça pública com a assistência de dezenas
de milhares de paulistas. Antes da volta ao Rio, Almirante
recebeu uma carta do presidente do Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo, dizendo, entre outras coisas,
que, “dentre todas as extraordinárias festividades em que
se comemora o quarto centenário, nenhuma teve maior
repercussão em São Paulo, nem conseguiu tocar mais
profundamente o coração do seu povo”. Em 1955, foi
realizado o segundo Festival da Velha Guarda, mas sem a
repercussão do primeiro.
O mais importante de 1955, para Pixinguinha, foi a
gravação do seu primeiro long-play, com a participação
dos seus músicos e de Almirante. O disco recebeu o nome
de “Velha Guarda”. No mesmo ano, a turma toda
participou do show O samba nasce no coração, na
elegante casa noturna Casablanca. No ano seguinte, a rua
em que ele morava, no bairro de Ramos, a Berlamino
Barreto, ganhou o nome oficial de Pixinguinha, graças a
um projeto do vereador Odilon Braga, sancionado pelo
prefeito Negrão de Lima. A inauguração contou com a
presença do prefeito e de vários músicos e foi
comemorada com uma festa que durou dia e noite, com
muita música e bastante álcool. Em novembro de 1957,
ele foi um dos convidados pelo presidente Juscelino
Kubitschek para almoçar com o grande trompetista Louis
Armstrong no Palácio do Catete. Em 1958, depois de um
almoço no clube Marimbás e sofreu um mal súbito. No
mesmo ano, seu conjunto da Velha Guarda foi o escolhido
pela então poderosa revista O Cruzeiro para recepcionar
os jogadores da seleção brasileira, que chegavam da
Suécia com a Copa do Mundo conquistada. Em 1961, fez
várias músicas com o poeta Vinícius de Morais para o
filme Sol sobre a lama, de Alex Viany. Em junho de 1963,
sofreu um enfarte que o levou a passar várias internado
num casa de saúde.
“...Amor... Que invade a alma, me faz imortal
É a Mocidade nesse carnaval
Vem exaltar o meu valor
Sou carioca da gema, me faço poema
Sou Pixinguinha, sim senhor!”
Em 1968, seus 70 anos (que, na verdade, como
vimos, eram 71) foram comemorados com um espetáculo
no teatro Municipal que rendeu um disco, uma exposição
no Museu da Imagem e do Som, uma sessão solene na
Assembleia Legislativa carioca e um almoço que reuniu
centenas de pessoas numa churrascaria da Tijuca. Em
1971, Hermínio Belo de Carvalho produziu um disco
intitulado Som Pixinguinha, com orquestra e solos de
Altamiro Carrilho na flauta. Em 1971, um daqueles
momentos que levavam seus amigos e considerá-lo santo:
sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num
hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um
problema cardíaco, foi também internado no mesmo
hospital, mas, para que ela não percebesse que também
estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia
visitá-la como se estivesse vindo de casa. Por essa e por
outras é que Vinícius de Morais dizia que, se não fosse
Vinícius, queria ser Pixinguinha. Dona Beti morreu no dia
7 de junho de 1972, aos 74 anos de idade.
No dia 17 de fevereiro de 1973, quando se
preparava para ser o padrinho de uma criança na Igreja
Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, sofreu o último e
definitivo enfarte. A Banda de Ipanema, que fazia naquele
momento um dos seus mais animados desfiles, desfez-se
imediatamente com a chegada da notícia. Ninguém queria
saber de carnaval.
É com muito orgulho e satisfação que a família Mocidade Unida da Mooca trás para a avenida no carnaval de 2014 a vida e a obra desse grande cantor, músico, artista imortal: Pixinguinha. Sua história se confunde com a história da música popular brasileira e nesse carnaval, pelo manto verde vermelho e branco da Mooca, se fará imortal.
“Pixinguinha... Carinhoso como tema...
Imortal feito poema...”
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