A A.C.S.E.S. Mocidade Camisa Verde e Branco chama toda comunidade do samba para apresentar a historia de seu centenário, que a coloca no posto de primeira agremiação carnavalesca de São Paulo em plena atividade a atingir esse feito, repleto de lutas, alegrias, tristezas e muitíssimas Glórias.
Esse marco tem inicio em 1914. Foi nesse ano que Dionísio Barbosa, filho de escravo e um dos primeiros negros nascidos livres no Brasil, apaixonado pelos ranchos carnavalesco e inconformado com os cordões das grandes sociedades, uma folia exclusiva dos ricos e brancos, reuniu seus familiares e amigos para formar o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, posteriormente batizado de Cordão Barra Funda, que desfilava pelas ruas do bairro da Barra Funda e adjacências com camisas verdes e calças brancas. De certa forma, para época, esse grupo era considerado um Quilombo urbano devido às características e costumes de seus integrantes.
Em meados de 1936, confundidos com simpatizantes da Ação integralista brasileira de Plínio Salgado que era oposição ao regime militar, os foliões do grupo carnavalesco Camisa Verde são perseguidos pela polícia política de Getulio Vargas e deixam de aparecer publicamente e passam a viver na clandestinidade como uma forma de resistência aos anos de luta pela cultura do samba.
Esse grande Quilombo da Barra Funda se manifestava nos terreiros sobre a proteção de Obatalá, Orumilá e todos os outros deuses africanos, nos bares ao som do violão ou na palma da mão, nas ruas da Barra Funda e Campos Elíseos entre navalhas, bozó e ronda, nas casas dos negros ao ruído do cochicho e do cheiro do feijão e no Largo da Banana entre os gritos diurnos “Oia a banana oro i da terra” e as rodas noturnas com muito jongo, umbigada, samba rural e tiririca, que era uma espécie de capoeira paulista “Zum, zum, zum, zum, zum Capoeira mata um”.
Em 1953 com a benção dos orixás e de seu padroeiro, Ògún mèjeje lóòde Iré, “Salve São Jorge Guerreiro”, e pelas mãos de Inocêncio Tobias -o Mulata- a semente outrora plantada por Dionísio Barbosa germina com mais força e grandeza e vestida com as cores que lhe deu vida ressurge como o glorioso Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco.
Com seu estandarte em punho, a baliza pelos ares abrindo caminho, o bumbo marcando a batucada, a corte sendo reverenciada e homenageando São Paulo pelo seu aniversario o Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco logo na sua estreia em 1954 com o enredo “IV Centenário” se consagra campeão.
Em 1968 o então prefeito de São Paulo Faria Lima oficializa o carnaval paulistano. Nesse mesmo ano, para alegria do Kilombo, com o enredo “Há um nome gravado na história: Treze de Maio”, que contou sobre a abolição da escravatura no Brasil o Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco em plena Avenida São João torna-se novamente campeão. E ainda firme o Cordão arrebata mais dois campeonatos, em 1969 prestando uma linda homenagem ao samba e aos sambistas com o tema de enredo Samba através dos Tempos “Biografia do Samba” e em 1971 com o enredo “Sonho Colorido de um Pintor”, enredo lúdico que pintava um mundo todo colorido, encerrando com louvor seu ciclo na categoria Cordão.
Seguindo a tradição e sacramentando seu pavilhão, com o fim dos Cordões carnavalescos, o Cordão Camisa Verde e Branco é reorganizado e passa para a categoria Escola de Samba sendo batizada pela tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira.
No seu primeiro ano como Escola de Samba em 1972, reverencia os artistas do nordeste com o enredo “Literatura de Cordel” e no ano seguinte o de 1973 chega perto do titulo levando para avenida “As Quatro Estações do Ano”.
O primeiro campeonato como Escola de Samba não tardou a chegar, pois em 1974 novamente o Quilombo entra em cena e com o enredo “Essa tal Nega Fulo”, que conta a história de uma linda escrava que se tornou uma “Senhora de Engenho” a Camisa Verde e Branco é proclamada Campeã do Carnaval.
Cantando com a "Tropicália" em 1975, projetando na avenida o cinema popular da "Atlântida e suas Chanchadas" em 1976 e contando em 1977 a lenda "Narainã a Alvorada dos Pássaros" que fala de uma índia transformada em uma linda ave por um Pajé a Escola é coroada com o inédito tetracampeonato e quase foi pentacampeã em 1978 com a “Semana de Arte Moderna e os Contemporâneos do Futuro”.
Fechando a década de 70 com "Almôndegas de Ouro" e, com mais um carnaval impecável, a Camisa Verde e Branco saboreia seu quinto titulo.
Em 1980 Inocêncio ingressa nas galerias dos imortais ao lado de Seu Dionísio mesmo ano em que a Escola homenageou o sexo forte, com o tema “Acima de Tudo Mulher”, reverenciado mulheres batalhadoras como a inigualável Dona Sinhá.
Assumindo o comando da agremiação no lugar do pai Carlos Alberto Tobias, exímio tocador de surdo e apelidado carinhosamente de Tuba, sobe a avenida, com Seu Inocêncio no coração, falando de “Amor, Sublime Amor”. No ano seguinte enaltece a negra gente que nunca ficou chorando sempre viveu cantando com o Kilombo dos “Negros Maravilhosos”.
Sambista de raiz Tuba levou para Tiradentes outros enredos memoráveis seja falando da natureza com “Verde Que te Quero Verde”, ou dos Orixás com os “Três Encantos dos Reis” e até mesmo da pátria amada com “Ginga Brasil Moreno – Menino Cor de Canela”.
Em 1986 Tobias quis ladrilhar a avenida com pedrinhas de brilhante para a Camisa passar, lembrando seus tempos de criança na “Fantasia Sonho Sem Fim”. Em seguida homenageando o bairro de encantos e magias, do samba futebol e feitiçaria passeou do trem ao metrô até a “Barra Funda Estação Primeira”.
Depois de encher a cara de cachaça, dar “Boa Noite São Paulo” e de ressaca pela falta de títulos a Camisa em 1989 volta ao topo esbanjando euforia com “Quem gasta tudo num dia no outro assovia”, conquistando seu sexto caneco.
As vésperas do carnaval de 1990 Tobias também se tornam um imortal e ao lado do pai Inocêncio, assiste da arquibancada superior outro titulo que havia encomendado com os “Barões do Café a Sarney onde foi que Eu errei".
Em 1991, Magali dos Santos e Simone Tobias, mãe e filha respectivamente, sem decepcionar a sua nação e regado com muita cerveja conquistam o Tricampeonato com o “Combustível da Ilusão”, sendo a primeira campeã no recém-inaugurado sambódromo paulistano obra entregue pela prefeita Luiza Erundina.
Antes de ganhar mais um troféu a Camisa lava a alma com “Banho de Luz que me Seduz", para no ano de 1993 com um samba inesquecível se consagra novamente campeã no Anhembi com seu "Talismã" o seu Trevo da sorte.
Com nove títulos chega com 80 anos de historia “Eternamente Jovem” e experiente faz “Do palco ao Asfalto – O Resumo da Opera”. Mesmo com sua experiência não pode evitar o ano esquizofrênico de 1996 e contrariando as expectativas sofre seu primeiro descenso com os “Loucos da Corte”. Mas retorna rapidamente ao grupo especial tomando guaraná e dando um “Alo Mauês Taí o Nosso Carnaval”.
Retratando o Carnaval com muita “Fotografia os Olhos do Mundo nas Lentes da Verde e Branco” a mais querida encerra a década de 90 “Escancarando Corações Verde e Branco Elymar mais popular”.
Nos 500 anos do Brasil desfilou em “Mares Liberum, nas Terras de Ibirapitanga” e entusiasmada pela virada do século leva para passarela a cultura indígena com Orlando Villas Bôas “Um Sertanista e Indianista Sim, Mas Por Que Não?” e posteriormente faz o folião raciocinar com o “Quatro: Vamos Pensar... Isso Vai Dar o Que Falar!”.
Em 2003 com sua bateria “Furiosa” o Quilombo com seu Sonho de Liberdade navega no Anhembi com o almirante João Candido e com Coragem e Bravura Luta contra os preconceitos e injustiças promovendo a “Revolta da Chibata”, revisitando o enredo censurado pelos militares na década de 1970 e conquistando o vice-campeonato do carnaval paulistano.
De 2004 com o “Reinado da Folia”, fazendo uma ligação em 2005 com o “Disque Camisa Linha Direta com o Samba” e chegando a 2006 “Das Vinhas aos Vinhos” a agremiação mantem seu “Chão” e sem querer tropeça e vai para o acesso, más em 2007 encontra o caminho de volta na “Rua 25 de Março”.
Continuando sua jornada mexe com a cabeça da arquibancada e mostra a “Historia do Cabelo” para depois como “Guerreiros a Camisa Verde faz a Festa e Prega a Paz Universal” e independente de ganhar ou perder avisa: “Tô No Jogo, Me Respeite!”.
Em 2011 a Verde e Branco soa a camisa para ligar a passarela do samba com “A Mais Paulista das Avenidas” e passear com os corações apaixonados no carnaval de 2012 com o tema “É o Amor”.
No Carnaval de 2013 com muita imaginação aos noventa e nove anos o Cordão que virou Escola volta a ser criança e no seu sonho Verde e Branco “Era uma vez, outra vez!”.
Ansiosamente chega a 2014 depois de muito pisar no barro, bater tambor, correr da policia, mudar de endereço, enfrentar o preconceito, ajudar os excluídos, tomar chuva, dormir na rua, apanhar da ditadura, brigar pela democracia, virar referencia, cantar versos, ouvir desaforo, sorrir com lagrimas, falar verdades brincando, passar noites em branco, ver o raiar do dia, empurrar alegorias, costurar fantasias, ficar atrás da corda, subir na arquibancada, levantar troféus, cair em pé, chorar a perda de sambistas, pontos e títulos e mesmo assim fazer Carnaval, porque pra nossa gente de janeiro a janeiro o ensaio é geral o samba é o nosso ideal.
Nesse Carnaval de 2014 para entrar na passarela do samba, pedimos licença a todos os Orixás, Deuses, Santos e aos Mestres Dionísio Barbosa, Seu Inocêncio Tobias, Dona Sinhá e Carlos Alberto Tobias, pois o Quilombo está em festa e a Camisa Verde e Branco celebra 100 anos de história.
Axé!
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