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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.C.B.D.R.E.S. UNIDOS DO MORRO - CARNAVAL 1995
Enredo: O Guaraná e a Lenda dos Índios Maués

O Grêmio Recreativo
Autor:

 

Os índios Maués habitavam as margens do Rio Tapajós, no Amazonas.

Houve uma época de grande felicidade para a tribo, porque tudo era propício para aqueles índios. A caça, abundante, dava a impressão de procurá-los ao invés de ser procurada; os peixes congestionavam os rios e não se furtavam à ponta afiada da lança dos pescadores; os frutos amadurecidos que as mãos cansadas deixavam de apanhar, serviam de repasto à multidão de aves que ali podiam viver em paz, tal o desinteresse que recebiam dos índios, preocupados com caça mais rendosa.

Até o tempo parecia desejoso de proporcionar o melhor bem estar àquela tribo privilegiada; o Sol e as chuvas se alternavam em tão perfeito equilíbrio, que havia muitos anos os índios não se preocupavam em olhar o céu.

As doenças, então, já estavam apagadas na lembrança de todos, e não havia mais ninguém que solicitasse os serviços do feiticeiro.

E porque isso acontecia apenas naquela região, enquanto o resto do mundo continuava à mercê dos acontecimentos habituais do tempo e da vida?

A causa de toda a felicidade, era um menino, um Curumim que, ao vir ao mundo, trouxera com ele todos aqueles eventos de aventura. Era um menino-deus, e da sua presença dependia a continuidade daquele paraíso.

É claro que a sua segurança era motivo de grande preocupação. Era preciso que todos zelassem para que nada de mal lhe acontecesse.

Jamais o menino ficava sozinho. Se queria passear na floresta, experientes mateiros o precediam e rodeavam, atentos ao menor ruído que denotasse a proximidade de uma fera, os olhos perscrutando todos os recantos, na tentativa de surpreender com a devida antecedência a presença do perigo. Havia um temor constante de que fosse picado por cobra. Se desejava nadar, os mais exímios nadadores da tribo o precediam para verificar se estavam livres de piranhas, enquanto batedores experientes percorriam a margem à procura de jacarés. Só então o menino-deus se entregava às águas.

Mas havia alguém que não gostava do menino. Era Jurupari, o espírito do mal. Sua maldade não podia suportar a felicidade com que os índios tinham sido contemplados; sua inveja consumia-o diante do carinho com que a criança era tratada.

Apesar de todo o cuidado que dispensavam ao menino, os Índios haviam se esquecido de uma coisa muito importante: de ensinar-lhe o que era o perigo.

Jurupari, invisível, passou a seguir os passos do menino esperando impacientemente a oportunidade de realizar a sua maldosa intenção. Isso, porém, não era fácil, diante de tanta precaução com que cercavam o menino.

Mas tudo o que é humano, por mais perfeito que seja, tem sempre uma falha. E um dia... um dia, o menino sentiu o desejo de fazer algo proibido.

Perto da aldeia, várias castanheiras marcavam o início da parte menos explorada da floresta. Os índios mais velhos contavam estórias estranhas sobre seres fantásticos que ali habitavam. Havia muito que a imaginação do menino o empolgava, incitando-o a explorar a região proibida. E nesse dia, aproveitando a ausência dos guardiões, que o imaginavam dormindo, sorrateiramente deixou a cabana e partiu em direção às árvores.

Jurupari, ainda invisível, seguia-o exultante, pressentindo que era a oportunidade pela qual tanto ansiava.

O Curumim, chegado ás castanheiras, procurou a mais propícia à sua aventura e subiu nela rapidamente. Ofegante pela rapidez com que agira e pela emoção da aventura, perscrutou cuidadosamente a mata que se desenrolava adiante. Mas oh! desilusão! Nada do que havia criado na sua imaginação surgia ante os seus olhos curiosos. Desceu da árvore, desiludido pelo insucesso. Rente ao tronco, Jurupari esperava-o sob a forma de uma cascavel.

Ele viu a cobra, mas ficou indiferente diante do perigo, pois não o conhecia. E a cobra picou-o.

Surpreso, o menino procurou correr até a aldeia, mas logo foi vencido pelo veneno, caiu ao solo, e ali ficou até morrer.

Na aldeia haviam descoberto a falta do Curumim, e se fizera a maior confusão entre os índios, pois receavam que o pior tivesse acontecido. E todos que podiam andar espalharam-se freneticamente pela região à procura do menino.

Não demorou muito para que um grupo de índios retornasse com o pequeno corpo. Tão logo todos compreenderam que o irremediável acontecera, tomaram-se de desespero, e inconsoláveis se lamentavam.

- Agora - disse o pajé - voltaremos a ser um povo comum. Estaremos sujeitos à fome, às doenças, às intempéries. Nossa felicidade terminou com a morte de Curumim.

Foi aí que a voz de Tupã, o Deus dos Índios, se fez ouvir. De início, parecia o ribombar do trovão, mas logo as palavras se destacaram, tornaram-se claras, e os índios entenderam:

- Plantem os olhos do menino e reguem a terra com as lágrimas. Deles nascerá uma planta que dará frutos milagrosos. Serão os frutos da vida. Darão força aos jovens e rejuvenescerão os velhos.

O pajé plantou os olhos do menino, e lágrimas não faltaram para regar o pequeno pedaço de terra onde eles estavam enterrados.

Passados alguns dias, uma planta desconhecida rompeu a terra, e cresceu com tal força e exuberância que os índios não tiveram dúvidas: a promessa de Tupã transformava-se em realidade.

Mais alguns dias, e a planta deu frutos. Os índios partiram-nos e ficaram impressionados diante da semelhança com os olhos do menino.

Foi assim que nasceu o guaraná. Uma planta que procura alcançar as árvores próximas, lembrando a fatídica aventura do menino morto por Jurupari.

E seus frutos fortaleceram os jovens e rejuvenesceram os velhos, e eles puderam vencer as dificuldades, mantendo a prosperidade da tribo.

 


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