O G.R.E.C. Os Bambas vem apresentar para o carnaval 2008 a história de um bamba. Bamba na luta abolicionista. Bamba em francês. Bamba no estilo literário conhecido como simbolismo sendo seu maior representante no qual o seu nome consta na avenida principal do Bairro Jd. das Rosas, sede de nossa entidade.
Vamos contar a história de um negro nascido em 24 de novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro, capital da província de Santa Catarina, atualmente Florianópolis. Ele nasceu escravo filho de escravos. Seu pai Guilherme, era pedreiro e sua mãe Eva Carolina da Conceição, cozinheira e lavadeira. O nome de João da Cruz foi dado pois a data de seu nascimento corresponde à data santa comemorativa de San Juan de La Cruz. Por uma grande sorte na época os pais de João da Cruz foram alforriados pelo coronel Guilherme Xavier de Souza que viria se tornar Marechal na Guerra do Paraguai e sua esposa Clarinda Fagundes de Souza que não tiveram filhos. João da Cruz e Souza não só obteve uma educação proporcional a dos brancos abastados de seu tempo, mas também o nome da família Souza sendo batizado com quatro meses na Igreja Matriz de sua cidade natal. Apesar de todas as sortes que cercaram João da Cruz e Souza, a Cruz foi um "carma" em sua vida. Aos nove anos João é um menino prodígio recitando seus poemas para os familiares porém é nessa idade que perde seu protetor. A condição de vida começava a ficar desconfortável para o jovem João da Cruz.
Ao tempo da infância e adolescência, o menino João da Cruz pôde ver o mundo com relativo otimismo e preparar-se para ser o grande poeta que efetivamente chegou a ser. Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, a melhor escola da capital da Província.
Com 16 anos de idade as obras de João da Cruz passam a ser publicadas e começam a circular em jornais de Santa Catarina. Ao lado dos amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, João da Cruz fundou um jornal literário intitulado "O Colombo" em 1881. No ano seguinte funda "A Folha Popular".
Aos 20 anos de idade, João da Cruz resolve excursionar pelo Brasil. Engajado numa Companhia Teatral passara ao emprego de "ponto" ou seja, declamaria seus poemas entre uma apresentação e outra. De volta a Santa Catarina, foi nomeado pelo presidente da província, Dr. Francisco Luis da Gama Rosa, promotor da cidade de Laguna. Mas, o poeta não chegou a assumir o cargo devido ao furor preconceituoso de chefes políticos da região que lhe impugnaram o cargo com argumentos que João da Cruz era um poeta, era negro, com apenas o curso secundário, sem formação superior.
Em 1885 publica seu primeiro livro de co-autoria de Virgílio Varzea, intitulado, Tropos e Fantasias. Em tempos de abolição da escravatura, lei promulgada pela Princesa Isabel "A Redentora", Cruz e Sousa atuou em jornais, revistas e no centro de imigração da Província de Santa Catarina, em 1891. João da Cruz decide transferir-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Em 1893 publicou dois livros Missal e Broqueis, obras que marcaram o lançamento do movimento simbolista no Brasil.
Depois de consagrado com a publicação de dois livros marcantes, o simbolismo brasileiro, casa-se João com Gavita em 9 de novembro de 1893.
Em dezembro de 1893 se estabelece como praticamente na Estrada de Ferro Central do Brasil e um ano depois em dezembro de 1894 é promovido a arquivista.
Dificuldades lhe vieram, já não resultante dos problemas da cor, no ano de 1896 é um início dos desgraçados acontecimentos. Gavita enlouquecera em março, ainda que passageiramente por seis meses, e a saúde de João da Cruz também recebe abalos. Todas as desgraças se armavam de uma só vez, mal ia chegando ao fim o mal desta loucura, vem um telegrama comunicando o falecimento de seu velho pai.
Em março de 1897 em meio à tantas desgraças que o abatem, conclui um livro de prosa poética denominada Evocações, quando preparava-se parta publicá-los viu-se abatido pela tuberculose.
Dois enterros, duas vezes a forte imagem do que breve iria acontecer com ele mesmo. Triste é fazer o enterro dos próprios pais; mais triste, são os pais enterrarem seus próprios filhos.
Em dezembro de 1897 adoecia o poeta definitivamente, revelando-se uma tuberculose galopante. Três meses apenas completariam a tragédia, e morre João da Cruz e Sousa, poeta maior do simbolismo no Brasil, aos trinta e seis anos de idade.
O pobre poeta foi acomodado num vagão de transporte de animais, anexado à composição do trem.
João da Cruz e Sousa, o poeta negro, o Dante Negro, o Cisne Negro, mais que isso, o maior representante do simbolismo no Brasil.