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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. PROVA DE FOGO - CARNAVAL 2006
Enredo: Da Essência à Fragrância: História e Evolução do Perfume

Carnavalescos
Carnavalesco:

INTRODUÇÃO

Dos magos da Antigüidade, passando pelos alquimistas, até chegar aos perfumistas atuais; as fragrâncias percorreram um longo e surpreendente caminho. Se em um momento foram usadas para aproximar os homens dos deuses, em outro tinham um poder de afastar as doenças, e a partir de épocas mais recentes passaram a ser instrumentos de sedução e conquista. Em toda a sua história o perfume sempre esteve ligado a uma aura de encantamento e mistério. Envolvida neste clima de magia, a Escola de Samba Prova de Fogo vai contar um pouco da história da perfumaria no mundo e no Brasil.

DESENVOLVIMENTO

O enredo foi dividido em três partes:
1) Perfumaria na Antiguidade;
2) Da Idade Média à Perfumaria na Europa
3) Perfumaria no Brasil.

1. PERFUMARIA NA ANTIGÜIDADE

O olfato é o mais íntimo de todos os sentidos, capaz de guardar em nosso coração os momentos mais marcantes da nossa vida. O olfato é nosso sentido mais primário e talvez o mais apurado. Há séculos o homem aprendeu a acentuar e conservar as fragrâncias da natureza com resinas e bálsamos capazes de capturar-lhes a alma e dar-lhes o corpo. A fumaça aromatizada era usada para evocar os espíritos em rituais. Essa prática explica a origem do nome perfume, extraído do latim per (pelo, através) fumum (fumo, fumaça). Em toda a história são encontrados registros da conexão entre perfume e espiritualidade. Não por acaso as palavras “espírito” e “essência” fazem parte da nomenclatura do perfume.
Hoje, a expressão óleo essencial se aplica a fragrância de uma planta, denotando a idéia de que nela reside a essência da flor.
Desde a descoberta do fogo, ou pelo menos da interferência do cheiro da fumaça por meio da adição de plantas e ervas, são muitos os exemplos de civilizações, ou mesmo tribos, a dominar o perfume como elemento de religação do homem com o sagrado. Os mais antigos cheiros de que se tem notícia remetem fumaça resultante da queima de madeiras, especiarias, ervas e incenso, a princípio, prerrogativas de reis e personagens deificados. O perfume se firmou como um canal de comunicação com os céus, um aliado na grande busca do divino. Logo identificado como respiração das flores, personificou a alma da natureza, ou seja, tornou-se o próprio sinal da presença divina no mundo. Nessa óptica, inalar um perfume corresponde a nutrir-se espiritualidade com a poderosa força do Cosmos.
Mas nem só de cerimônias religiosas vive o perfume. Ao contrário, também desde cedo ele foi cultuado por suas propriedades sedutoras. O perfume aproxima pessoas e, em especial, sexos opostos. Povos antigos já sabiam disso e as artimanhas de Cleópatra. Símbolo de sedução, ela eternizou a arte de perfumaria. Mestre na arte de seduzir, Cleópatra seduziu o general romano Marco Antônio. Usar um perfume equivale a dar vazão a um sonho, revelando algo que emana do nosso interior.
As primeiras referências ao perfume remontam as antigas civilizações do Oriente próximo, especialmente a do Egito. Para os egípcios, o perfume era o néctar dos Deuses. Os antigos egípcios reservaram fragrâncias para os Mortais e os Deuses, a ponto de instalarem dentro dos templos os laboratórios destinados à preparação desses perfumes.É impressionante a importância da civilização árabe na Antigüidade. E nos tempos que vieram depois e, sobretudo, graças ao seu talento especial para o comércio que os conhecimentos foram espalhados favorecendo a perfumaria. O vasto império conquistado pelos romanos contribuiu muito para a expansão da perfumaria, pois eles consumiam aromas de maneira intensa. O comércio de matérias primas perfumadas foi estimulado pela criação de rotas comerciais para a Arábia, Índia e China. Foi justamente nessa época que começou a pirataria de perfume. Conta a lenda que os piratas guardavam os perfumes nos porões dos navios, considerando-os riquezas tal como o ouro e o diamante.

2. DA IDADE MÉDIA À PERFUMARIA NA EUROPA

Durante a idade média, a perfumaria ficou adormecida. Havia apenas vestígios de medicina e farmácia praticadas com ervas aromáticas nos mosteiros. Neles, os jardins tiveram grande importância para o estudo e a descoberta das propriedades terapêuticas das plantas. A descoberta do álcool foi especialmente útil para fins terapêuticos e de higiene, pois muitos dos extratos alcoólicos vegetais eram usados na luta contra as epidemias, como a peste negra — que assolou a Europa durante séculos, a partir de 1347.
Os extratos alcoólicos, contendo alecrim e resinas, eram administrados por via oral com fins medicinais. Os médicos da época visitavam seus pacientes paramentados com uma indumentária muito particular. Usavam uma máscara de formato igual ao de um longo bico de pássaro. No interior dessa máscara eram colocados diversas espécies aromáticas, que tinham a função de evitar o contato do médico com o ar contaminado. Pelas crenças da época, o banho devia ser evitado a qualquer custo, pois a água era considerada uma fonte de contaminação. Hoje se sabe que os agentes transmissores da peste eram as pulgas dos ratos. Surgia então, em 1370, a precursora da água de colônia: a Água da Rainha da Hungria, o primeiro preparado perfumado em base alcoólica.
Fértil na arte, na moda, na arquitetura e na jardinagem durante os séculos XIV e XV, a Itália era conhecida rainha da Europa. Em Veneza, porta de entrada de artigos de luxo, tudo era perfumado: luvas, sapatos e roupas. Também em outras cidades italianas eram cultivados os prazeres do olfato. Assim, a perfumaria crescia, principalmente graças à receptividade a novas idéias e a paixão por substâncias exóticas e aromáticas. Em 1533, a nobre italiana Catarina de Médicis se mudou para a França para se casar com o Rei Henrique II. Na caravana que acompanhou Catarina estava seu perfumista pessoal, Renato Bianco, conhecido como René Blanc, le florentin René Blanc deu à França as primeiras lições na arte da perfumaria, e fundou a primeira boutique de perfumes em Paris, dando um impulso decisivo para a produção e comercialização de produtos aromáticos. A França ganhou notoriedade mundial pelas essências e matérias-primas produzidas na cidade de Grasse, levando à formação de sólidas e tradicionais empresas.
A criação de um perfume é uma arte comparável à criação de uma música. Exige inspiração, harmonia, mistério e, principalmente, sensibilidade. Os perfumistas sabem interpretar as nuances de uma essência, imaginando o papel que cada ingrediente terá na composição olfativa final. Até os termos usados por estes maestros da perfumaria, se assemelham às notas musicais: cada aroma é chamado de “nota” e suas misturas compõem os “acordes” ou“harmonia” da fragrância. A diferença é que as notas musicais são objetivas, traduzidas em sinais impressos e movimentos distintos. Na perfumaria, as notas estão no ar — saída, corpo e fundo — do começo ao fim da sinfonia perfumada. Os acordes devem estar em perfeita harmonia, num equilíbrio sutil e delicado. Cabe ao perfumista analisar as possibilidades de combinações e interpretar o mistério da transformação que cada nota (ou tom) em um novo acorde. A força de um perfume depende da concentração de fragrância e das matérias-primas utilizadas em sua composição.
As matérias primas naturais utilizadas na fabricação de perfumes podem ser de diversas origens: flores, raízes e rizomas, folhas e caules, musgos, madeiras e cascas de arvores, resinas, gomas e bálsamos, especiarias, condimentos e ervas aromáticas, sementes e grãos e frutas. Com a evolução da química, vários ingredientes naturais, começaram a ser produzidos sinteticamente, como réplicas dos aromas naturais. Graças a estes avanços, matérias primas de origem animal, hoje são sintetizadas e não precisam mais, ser extraídas diretamente dos animais. As práticas de extração bastante difundidas passaram a ser estritamente regulamentadas para assegurar a sobrevivência das espécies envolvidas Para se ter uma idéia, no final do século XIX, existiam cerca de 150 ingredientes conhecidos para a composição de perfumes. Hoje, são quase 1000 extratos naturais e, graças às pesquisas químicas, há mais de 3.000 opções de essências sintéticas. A embalagem de um perfume tem papel fundamental. É a responsável para definir um conceito. Além disso, a embalagem deve conquistar as pessoas a partir de elementos como forma, cor e textura. Artistas e designers criam verdadeiras obras-primas, elevando a criação dos frascos de perfumes à categoria de arte. Desde os primórdios foram muitos os materiais utilizados para criação dos frascos de perfume: argila, pedra, bronze, couro, porcelana, metais e até pedras preciosas. Mas o vidro, em especial o cristal, constitui a mais versátil e elegante matéria-prima para acondicionar fragrâncias.

3. PERFUMARIA NO BRASIL

O hábito de perfumar-se veio com a corte portuguesa, que chegou ao Brasil em 1808 e revelou pequenos luxos acondicionados em frascos. Os negros levaram da Senzala para a Casa Grande, hábitos de higiene como o hábito de banhar-se com flores e ervas, acreditando que um corpo limpo e fragrante estava protegido tanto das doenças (“banho de cheiro”) quanto da influência negativa de maus espíritos (“banho de descarrego”). O Brasil Imperial consumia perfumes com incrível avidez, figurando entre os maiores importadores de perfumes franceses: 252 mil quilos por ano.
Começava então a manipulação, restrita às boticas, de remédios e perfumes cuja história esta ligada à chegada de imigrantes como o português José Antônio Coxito Granado, fundador da Casa Granado um dos fornecedores oficiais da corte. Da Hungria chegaria o casal fundador da Perfumaria Kanitz, conhecida pelos primorosos sabonetes de refinado acabamento e Eugênia Ludovig que implantou o Laboratório e Instituto Ludovig, para produzir cremes, loções de limpeza e artigos fragrantes. O italiano José Milani faria progredir uma pequena fábrica de sabões, a José Milani & Cia, que se transformaria em breve na Gessy.
Produtos dedicados à toalete, como águas-de-colônia, pós-de-arroz, dentifrícios, talcos, loções capilares e creme de barbear proliferavam-se na primeira década do Século XX. Embora a Gessy fosse líder absoluto na preferência nacional os sabonetes Eucalol conquistariam o mercado na década de 30 com o lançamento das “estampas Eucalol”, que traziam desenhos com temas variados. O sucesso foi estrondoso! Paralelamente, surgia no Brasil uma “modalidade exclusiva de perfume”: o lança-perfume. Utilizado para aromatizar os salões de bailes de carnaval e refrescar os corpos suados de tanto dançar, fez do Brasil o maior consumidor de “éter fantasiado”: mais de 30 toneladas por ano.
A perfumaria florescia no Rio de Janeiro e a demanda estimulada fez com que surgissem novas perfumarias como a Lopes, Itamarati, Valery e Dyrce, cujos produtos, ganhavam destaque no mercado. Em São Paulo proliferavam os estabelecimentos comerciais como as Casas Fachada, Alemã e Sloper. Nascia em São Paulo a Bozzano, responsável por produtos importantes. Os anos dourados (década de 50) terminaram trazendo para o contexto social feminino uma verdadeira revolução: a Avon bateu às portas do Brasil, oferecendo oportunidade de trabalho com vendas domiciliares para as mulheres. Na década de 80, a Avon seria consagrada como a maior do setor, colecionando inúmeros sucessos na perfumaria e por seu trabalho pioneiro nas mais remotas regiões do país. Na esteira da Avon, surgiu a Christian Gray, cujos frascos, exploravam formas inéditas. Na década de 60, surgia então o primeiro perfume de luxo 100% nacional: Rastro, criado por Aparício Basílio da Silva. No final da década, Luiz Seabra, começou a modelar o fenômeno Natura. Contrapondo-se a todas as tendências da época, lançou o novíssimo conceito da cosmética terapêutica e instalou uma pequena loja na rua em São Paulo. Os perfumes da marca passariam a ser produzidos a partir da década de 80. Anos depois, o empreendedor Miguel Krigsner instalou em Curitiba, a primeira farmácia de manipulação com ares de butique: O Boticário. Começou a oferecer produtos prontos, deu certo. Era preciso expandir os negócios e Krigsner optou pelo sistema de franquia, chegando ao ano 2000 como a maior rede de franquias de perfumes mundial. O Brasil inaugurou o novo milênio com uma perfumaria moderna e com motivos de sobra para festejar uma nova era. O país que durante tantos anos se rendeu às influências estrangeiras, mostra suas característica forte e exuberante, como todos os frutos da terra – com uma indústria sadia e um mercado consumidor de potencial invejável. Com sua biodiversidade única, cobiçada no mundo inteiro, a Amazônia está repleta de matérias-primas a serem trabalhadas. Numa gestão socialmente responsável, as empresas ampliam cada vez mais sua participação na construção de um Brasil, de um mundo melhor.
Chegou a hora do Brasil se firmar no universo da perfumaria, cultivando uma crescente identificação com suas riquezas naturais, sua tropicalidade e miscigenação racial. Encerrando o desfile, a escola de samba Prova de Fogo vai levar uma mensagem de paz, saúde e proteção aos deuses em uma grande manifestação de fé, que envolve o perfume todos os anos na Bahia. Na manhã da terceira quinta-feira de janeiro, uma multidão de devotos segue em direção a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, para a cerimônia de lavagem da escadaria da igreja, onde as baianas vestidas de branco e com potes sobre a cabeça. Dentro deles tem a mais pura de todas as oferendas: a água de cheiro. Axé!

Autores: Renata Ashcar, Anselmo Brito e Rosana Pinto

 


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