Abertura: A Origem da Civilização Segundo os Indianos
Desde as mais remotas civilizações conhecidas, tanto as citadas nos Sagrados Arquivos Indianos quanto as admitidas pela Ciência Ocidental, um símbolo fortemente presente é o Zebu. Segundo o Hinduísmo, o touro é o “símbolo do poder gerador da natureza”.
Dada a importância do Zebu, considerado um dos símbolos da antiguidade na Terra, vamos analisar sua história, sem no entanto precisarmos a origem deste gado, dadas as controvérsias advindas do estudo da “Proto-história” do Zebu, onde agregamos comparativamente a evolução da humanidade segundo os critérios da Ciência Ocidental com informações constantes em Livros Sagrados do Oriente, repletos de relatos fantasiosos e mirabolantes e, quem sabe, verdadeiros.
A Literatura Indiana armazenada por milênios nos mostra o interessante caminho percorrido pelo Zebu e nos explica o porquê deste animal ser considerado, até os dias de hoje, como sagrado na Índia.
Esta literatura baseia-se na crença de que o Homem está em constante evolução e que a humanidade descende diretamente de “Raças Mães” evolutivas. Começaremos nossa viagem mítica descrevendo a “Quarta Raça”, que teria ocupado o misterioso continente da Atlântida, tão citado e mistificado na moderna literatura fantástica. Esta “Quarta Raça” teria surgido a 8 milhões de anos atrás, descendentes dos mais adiantados elementos da “terceira Raça Mãe”. Segundo relatos, a Atlântida cobria totalmente o norte e o sul do Oceano Atlântico atual, assim como algumas regiões do norte e do sul do Oceano Pacífico, compreendendo ilhas situadas até no Oceano Índico. Esse enorme continente inicialmente bipartiu-se e muito tempo depois fragmentou-se em sete ilhas continentes. Várias civilizações surgiram e desenvolveram-se separadamente, entretanto, os descendentes mais diretos dos “Atlânticos” que sobreviveram ao grande cataclisma, quando acredita-se que o continente submergiu, foram, entre outros, os “Arianos”, que se instalaram inicialmente na Ásia Central. Esse povo, enfrentando a precariedade da situação, através de milênios de migrações, fez surgir várias novas civilizações. Construíram cidades, organizaram povoados sempre contando com seu inseparável companheiro de sobrevivência: o boi.
Este período coincide com o surgimento dos primeiros vestígios da civilização tal qual é aceita hoje pelos arqueólogos e paleontólogos estudiosos da Ciência Ocidental.
Parte 1: O Boi e a Construção das Civilizações
Tal qual na mitologia indiana, o boi foi preponderante para a sobrevivência e desenvolvimento da humanidade através dos tempos, fornecendo comida, utensílios e proteção para o corpo.
No período Paleolítico médio, o homem começa a ganhar terreno na cadeia evolutiva; vários “Homos” habitaram o planeta, entretanto, um deles iria sobrepujar toda a sorte de perigos e dificuldades que a natureza lhes impunha, incluindo o início da primeira era glacial: o Homo Sapiens, que marcaria até os dias atuais sua presença como senhor dos animais.
Naqueles primórdios, assim como o homem, os taurinos ainda estavam evoluindo. Seriam descendentes ancestrais dos “Uros”, animais muito retratados em pinturas rupestres, cuja importância se faz notar pela grande quantidade de registros em cavernas e rochas espalhadas por todo o planeta, iconizados em maior número que outros tipos de animais existentes.
No norte da África a mais ou menos em 5.510 a.C. surge o faraó “UNAS”, o primeiro que é anotado pela “moderna história” do Egito. Logo mais, “MENES” promoveria a unificação do reino egípcio. É nesta época que se encontraram mais indícios da total potencialidade do uso do boi incluindo o endeusamento da figura com o “BOI ÁPIS”, tamanha a importância do animal no cotidiano dos egípcios.
A seguir, com o surgimento dos “ASSÍRIOS”, o boi ganha status de moeda, nos escambos entre si e também com outros reinos, além das várias utilidades inerentes a um animal tão versátil.
Neste meio tempo os arianos bárbaros descem da Ásia Central e também se espalham pela Europa e Ásia Oriental, chegam na região do norte da Índia e ali fixam núcleos de povoamento.
Para todas as civilizações o boi foi um alicerce para o desenvolvimento em um mundo onde a importância de se plantar e tratar o solo era uma questão de sobrevivência, pois, as metrópoles fizeram com que o homem da época deixasse a sua prática nômade para assentar-se em volta ou nas próprias cidades.
Curiosamente tanto os Chineses quanto os Gregos viram na figura do taurino um símbolo de força e virilidade, humanizando o seu caráter e aplicando esta característica no próprio ser humano através do Horóscopo na China e do Zodíaco na Grécia.
Na Índia, assim como acontecera no Egito, os hindus eternizaram o seu fascínio pelo boi, enaltecendo-o como animal sagrado. Um dos seus mais importantes Deuses, Krishna, é freqüentemente simbolizado tocando uma flauta enquanto cuida do gado de sua região. Ali era criada a raça “HARIANA”, mãe do “ONGOLE” e também, “NANDI”, um touro branco que carregou o Deus Shiva nas costas pelos céus. Descreve-se o mesmo touro levando “BUDA” durante suas pregações por todo o território indiano. Nos templos e praças existem várias representações deste belo animal. Esta homenagem foi feita com um touro tipo “ONGOLE”. Protegido dos Deuses, cultuado como sagrado. Esta é a origem do touro que, no Brasil, será conhecido como “NELORE”.
Parte 2: O Boi Como Alavanca do Progresso da Colônia (Brasil)
Partindo a primeiro de fevereiro de 1549, a expedição de Tomé de Souza com três navios: Conceição, Salvador e Ajuda, acompanhados de duas caravelas que deveriam voltar carregados de pau-brasil chegava na Bahia em 29 de março do mesmo ano, com ordem expressa do rei de Portugal D. João III para fundar a cidade de Salvador, a primeira capital do Brasil e ser seu primeiro Governador Geral.
Os colonos em número de mil pessoas, muitos deles condenados, cristãos novos e pessoas expulsas de Portugal vieram acompanhados de seis Jesuítas, quatro padres e dois irmãos e de toda a máquina administrativa; provedor-mor (finanças), ouvidor-mor (justiça), capitão-mor (guerra), médicos, arquitetos, etc. Entre eles veio Garcia d'Ávila que era o almoxarife-mor, rico, temperamento forte de bandeirante e com espírito empreendedor.
A cidade fortificada foi construída no prazo recorde de oito meses e oficialmente inaugurada em 1º de novembro de 1549. Para dinamizar a economia local, o governador resolveu mandar buscar gado nas ilhas de Cabo Verde, na África. As primeiras reses do Brasil chegaram no dia 6 de dezembro de 1551 e foram distribuídas entre os colonos.
Garcia D'Ávila pediu e foi atendido. Ganhou duas vacas. Entregou então o cargo de almoxarife e foi cuidar do gado. Não existem registros sobre a fórmula mágica que usou, mas é fato que, um ano depois, já era dono de duzentas cabeças de gado. Precisava de terras mais amplas. E Tomé de Souza cedeu a ele, em nome do rei, duas léguas de beira mar, entre a foz do rio Vermelho, nos limites da cidade, e a ponta de Itapoan. Os índios tupinambás, que viviam em volta, não impediram a expansão da fazenda. Até porque, Garcia D'Ávila tratou logo de amancebar-se com uma índia, a quem deu o nome cristão de Francisca Rodrigues, e com quem teve uma filha batizada como Isabel D'Ávila.
Ataques piratas eram um perigo constante. Por sugestão do governador, Garcia D'Ávila construiu ao norte de suas terras uma torre alta e, do alto dela, por meio de sinais luminosos, avisava à cidade de São Salvador a aproximação de navios inimigos. A partir de então, sua propriedade ganhou fama, prestígio e passou a ser conhecida como Casa da Torre.
Por volta dos 40 anos, Garcia D'Ávila já era um dos homens mais ricos do Brasil. E sua amizade com Tomé de Souza foi lhe rendendo novas e maiores sesmarias. Não tardou muito, e os domínios da Casa da Torre se estendiam por todo o litoral Norte. Iam da foz do rio Vermelho, em Salvador, até a do rio Real, em Sergipe.
Mas beira de praia nunca foi um bom lugar para criar gado. A floresta também não. E como, à época, uma densa floresta cobria toda a costa do Brasil, a Casa da Torre precisava encontrar campos abertos para alimentar seu rebanho.
Em 1555 , os índios Tupinambás decididamente atacaram os currais e mataram dois ou três vaqueiros, começando assim um episódio sangrento que iria se estender por muitas décadas.
O ódio aos índios já era grande e, agora, ia começar uma guerra sem tréguas. Garcia D’Ávila irá avançando sobre as tribos indígenas, erguendo o maior império pecuário até hoje já documentado. Antes de morrer, os currais da família D’Ávila irão ocupar do sertão baiano até o Piauí. “Tatuapara” seu nome indígena, mantinha um exército de vaqueiros que, durante as guerras com os holandeses, chegaria a Ter mais de dois mil homens. A ferro e fogo os bovinos eram levados para os currais onde antes só haviam choças indígenas.
O “exército de vaqueiros” chegava, destruía os índios e ali fixava um curral fortemente armado. Era a civilização branca tomando posse da nova colônia. Foi assim, tocando suas reses para o Oeste que Garcia D'Ávila e, mais tarde, os seus descendentes promoveram uma invasão lenta e gradual do sertão baiano. Um pouco hoje, um pouco amanhã, as reses iam se multiplicando e entrando Bahia adentro.
Grandes divergências surgiram entre Garcia D'Ávila e os missionários, que se opunham à captura dos índios que, como escravos, eram braços para os trabalhos agrícolas, principalmente para as lavouras de cana de açúcar, pois o escasso número de pretos importados da África ainda não satisfaziam às necessidades do campo. Em geral, no entanto, os cariris e os caetés não opunham resistência. E, por volta de 1670, um curral da Casa da Torre foi finalmente instalado nas barrancas da barra do rio Grande, no local onde esse rio deságua no São Francisco.
Garcia d'Ávila e seus descendentes mais próximos atingiam com ingentes sacrifícios e de certo modo por etapas o Rio São Francisco, deixando em cada ponto que se prestava para a pecuária, um casal de índios com algumas matrizes e um reprodutor de bovinos, com uma choupana, um curral de pau-a-pique, às vezes até um casal de eqüinos.
Durante quatro gerações os Ávilas estenderam seus domínios por quase todos os estados do Nordeste, da Bahia ao Maranhão, com uma área de cerca de 800 mil quilômetros quadrados, equivalente a 1/10 do território brasileiro de hoje, o que eqüivale às áreas, somadas, de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Suíça.
Os Ávila foram, antes do mais, criadores de gado, isto é, colonizadores e civilizadores por excelência. Entretanto Garcia D’Ávila teve a garra aventureira dos Bandeirantes ao se entregar a tamanha saga em busca de terras para o seu gado e para si próprio.
Outros também participaram para a consolidação e demarcação de muitas paragens do nordeste e do norte, porém nenhuma família representou tão bem o espírito desbravador e altaneiro quanto os Ávila.
Parte 3: O Gado sem fronteiras
Aos bandeirantes do ciclo baiano deve-se a exploração e colonização do Nordeste. O São Francisco e grande parte dos Territórios de Pernambuco, Piauí, Maranhão e Ceará foram devassados pelos nossos intrépidos sertanistas. O ciclo do gado no Nordeste vai levar a manifestações folclóricas tais quais as da antiguidade, representando a importância do boi na vida cotidiana do nordestino.
É certo dizer que, a figura do boi ou festejos envolvendo-o, é o tema ou o personagem mais lembrado depois das influências das três raças que formam a nossa identidade multicultural e a nossa base folclórica.
Cabe dizer que no Maranhão a influência do boi não fica restrita somente ao campo. Na cidade e logradouros outro tipo de manifestação popular, vinculado com demonstrações de fé consolidam folguedos os quais se incorporam esses aspectos religiosos divididos entre o sagrado e o profano que, deram origem, por sua vez, a danças e brincadeiras populares, tais como as de Espanha e Portugal, exemplo disso a festa que remete ao séc. XII (as Tourinhas de Lisboa) de onde vem a influência européia do Bumba-Meu-Boi, provavelmente do Monólogo do Vaqueiro que o poeta Gil Vicente apresentou em 1502 aos reis de Portugal, ou ainda da famosa Fiesta de La Vaca de São Pablo de Los Montes, em Espanha. O afro-negro contribuiu fundamentalmente para a formação do auto popular do Bumba-Meu-Boi. Este folguedo folclórico mitifica o boi, constante nos ciclos agrários como divindade que representa força e fertilidade. Ao difundir-se no Brasil, recebeu denominações, formas e enredos diferentes.
Quanto à influência cabocla no Ceará e Pernambuco, há um verdadeiro ciclo do gado, com os romances do boi e as festas das vaquejadas e apartações, tão valentemente típicas do sertão brasileiro, onde a lírica dos troveiros populares, esses humildes gênios poéticos, que criaram "os dramas e as farsas da gadaria", no dizer de Luís da Câmara Cascudo, vai buscar os mais fortes motivos.
Os reisados e os atuais guerreiros, autos populares que nas Alagoas apresentam grande pujança coreográfica, são outras ricas sobrevivências totêmicas. "há, porém, um entremeio que não pode faltar em nenhum reisado: é o boi e que bem mostra a sua filiação ao bumba-meu-boi dos outros estados do Nordeste". Considera-se o "entremeio" do boi de notável dramaticidade, "o mais rico de conteúdo dramático". E, de fato, dos "entremeios" tradicionais (que são vários quer no Reisado ou Congo, quer nos guerreiros) o do boi joga com maiores elementos dramáticos, culminando na cena da morte do animal, e, finalmente, na ressurreição ou cura do boi. Sinal de boa aventurança, pois é uma figura cuja existência interliga-se a sobrevivência do próprio homem do campo.
Pelo Tratado de Tordesilhas, o atual Estado Mato Grosso pertence à Espanha. As primeiras incursões feitas no território remontam a 1525, quando Pedro Aleixo Garcia, atravessa os Rios Paraná e Paraguai avançando até a Bolívia. Posteriormente, várias incursões são feitas e sempre trazem relatos de grandes riquezas, desencadeando o interesse de portugueses e espanhóis.
Bandeirantes e jesuítas espanhóis se lançam nas novas terras, cada qual com objetivos e percursos diferentes. Os bandeirantes sempre se chocam com os índios da região que se deixam aprisionar, fazendo com que notícias de que estes são pouco ariscos e descuidados logo se espalhe.
O gado teve durante dois séculos importância relevante para a região, sendo alicerce para os novos exploradores que encontram planícies favoráveis e clima ameno para a criação, ainda mantenedora, provocando também os primeiros focos de assentamento do homem no lugar. Que, por sua vez, faria surgir as várias vilas organizadas da região.
No século XIX, observa-se um desenvolvimento da criação de gado, destinado à produção de charque.
As trilhas das rotas dos bovinos, tal qual aconteceu com outras paragens brasileiras, seria uma demarcação para as novas ferrovias.
No início do século XX, com a chegada das ferrovias, interligando a região Centro-Oeste à região Sudeste, torna-se comum a criação de gado no Mato Grosso, que eram transportados vivos até os frigoríficos de São Paulo e Rio de Janeiro.
O apoio à exportação e à ocupação e desenvolvimento da Amazônia e do Centro-Oeste, levam a novo surto de progresso no Mato Grosso. Brasília contribuiu para isso, pois leva o Mato Grosso a atrair mão-de-obra agrícola.
Entende-se como colonização toda atividade oficial ou particular destinada a dar acesso à propriedade da terra, através da divisão em lotes ou parcelas, visando o aproveitamento econômico, através da implantação de atividades agrícolas, pecuárias e agro-industriais.
Em 1977 desmembra-se o Estado em duas partes, o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. No Norte, menos populoso, mais pobre, sustentado ainda pela agropecuária extensiva.
A colonização de Goiás deveu-se também à migração de pecuaristas que partiram de São Paulo no século XVI, em busca de melhores terras para o gado. Dessa origem ainda hoje deriva a vocação do estado para a produção pecuária.
Durante os séculos XVI e XVII, em razão das condições econômicas vigentes no País, essencialmente orientadas para o comércio exportador, a grande lavoura litorânea foi a base da economia nacional, determinando a mais tardia ocupação das regiões interiores.
Enquanto o século XVII representou etapa de investigação das possibilidades econômicas das regiões goianas, durante a qual o seu território tornou-se conhecido, no século seguinte, em função da expansão da marcha do ouro, foi ele devassado em todos os sentidos, estabelecendo- se a sua efetiva ocupação através da mineração, o boi foi amplamente utilizado como equipamento, já que era como meio de transporte, o que se tinha mais a mão, além da produção para a subsistência.
Ao longo do século XVIII, graças à expansão do bandeirismo e à catequese jesuítica, estabeleceu-se ampla linha de penetração: uma oriunda do Norte que, pela via fluvial do Tocantins penetrou a porção setentrional de Goiás; e outra,a segunda paulista, advinda principalmente do Centro-Sul, ambas com o intuito de disseminar o gado na região, além da contínua exploração do solo em busca de novos filões de ouro.
No final do século XIX, há a introdução de reses com o intuito de aprimoramento de raça e consolidação de uma criação mais organizada, o que se tornaria no século XX uma referência de bovinos de alta qualidade e produtividade, lançando o estado como um dos maiores produtores de carne e derivados do Brasil.
Na década de 80, o estado apresenta um processo dinâmico de desenvolvimento. grande exportador de produção agropecuária,
A criação pecuária inclui 18,6 milhões de bovinos, 1,9 milhão de suínos, 49,5 mil bubalinos, além de eqüinos, asininos, ovinos e aves.
No centro-oeste as manifestações folclóricas dos autos, notadamente incluem a figura do boi, quer seja na encenação ou em ações periféricas do festejo.
Resgatando o cunho histórico da festa da cavalhada em Pirenópolis, no estado de Goiás, vemos uma encenação de luta entre mouros e cristãos, em uma alusão temática à batalha de cruzados liderados por Carlos Magno em tempos longínquos.
Tal como em outras regiões do país, o boi participa da festa representado por máscaras pintadas em tons fortes e vibrantes, adornadas com flores e fitas. Estes personagens brincam em tom jocoso e quebram o comportamento ritualístico e solene do folguedo.
A presença do boi como elemento motivador dos grupos étnicos nacionais continua entre meados do século XVI e início do século XVII, como resultado de um processo de transformações sociais, ocorridos neste período. Alguns autores aliam a origem e desenvolvimento do Ciclo do Gado, também chamado Civilização do Couro, ou seja, um período em que o gado vacum - introduzido pela segunda vez no país por Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa - transforma-se em importante fator da economia colonial, tanto como mão-de-obra auxiliar dos escravos nos engenhos de açúcar, quanto como produtor de alimentos (carne e leite, principalmente) para as populações das fazendas e povoados.
A região sudeste, principalmente os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, por serem o eixo Político da colônia, sempre foram mais suscetíveis as necessidades da coroa e depois da República, moldado-se a economia principalmente voltada a exportação.
Em principio São Paulo, Rio de Janeiro e Olinda, na região nordeste, ficaram restritas em sua pecuária, aos grandes canaviais e aos pujantes núcleos populacionais que nasciam, enquanto que, na Bahia, o gado penetrava nos sertões.
Nas muitas campanhas realizadas pelos Bandeirantes e Entradistas rumo a interiorizarão do pais ao longo de dois séculos, partindo principalmente de S. Paulo e, com o ciclo do ouro em Minas Gerais e em toda a região centro-oeste, o gado era item obrigatório nas incursões.
Somente com o declínio da produção de cana de açúcar e antes do ciclo do Café, o boi passou a interessar comercialmente para a região sudeste.
Novamente S. Paulo apareceria no cenário econômico como força de expansão de criadores, mas nada se compararia na região, como Minas Gerais, a exemplo da região centro-oeste, também tem vastas áreas de pasto e clima ameno propício para a criação.
De forma diferenciada o estado de Minas se torna o maior produtor de laticínios do país, isso em meados do século XIX.
A política vinda da pecuária mineira e a força dos Barões do café do Rio e São Paulo manobrava na Segunda metade do século as decisões dos seus chefes maiores, sempre visando seus interesses. Esta política viria a ser chamada de “Café com Leite”.
Na região sudeste principalmente no interior do triângulo São Paulo, Minas, Rio, as manifestações folclóricas recebem uma forte influência negra. Tanto nos autos natalinos quanto nas festas para a memória de tempos idos e terras distantes, como o Congado, entre outras.
A figura do boi aparece solitária, em grupos fantasiados, ou mesmo em estandartes ou adornos, porem sempre o espírito totêmico e o inconsciente da interdependência colonização e animal se fazem presentes.
No sul do continente americano, o gado foi introduzido pelos jesuítas espanhóis em suas missões religiosas às margens do rio Uruguai. Com os ataques realizados pelos bandeirantes paulistas apresadores de indígenas, as missões foram destruídas e o gado ficou solto pelos pampas, os campos do "Continente". Esse rebanho reproduziu-se rapidamente, passando a viverem estado selvagem.
No final do século XVII e início do século XVIII, os paulistas começaram a se interessar por esse gado. A necessidade de carne e couro para abastecer a região mineradora incentivou o deslocamento para os campos do sul.
Formaram-se duas correntes de penetração: uma pelo litoral, a partir de Laguna, e outra pelo interior, percorrendo os campos do planalto que unem Curitiba ao Sul.
Ao contrário do sertão nordestino, o sul apresentava condições muito favoráveis à criação: relevo plano, pastagens de boa qualidade, clima ameno e um grande número de rios e riachos. Nas extensas planícies do Continente do Rio Grande a pecuária desenvolveu-se rapidamente. Nem os conflitos com os índios, nem os problemas de fronteiras entre portugueses e espanhóis conseguiram deter sua expansão.
Desejando garantir a posse do território, numa região submetida a constantes lutas fronteiriças, a Coroa portuguesa distribuiu muitas sesmarias, o que determinou a concentração de terras nas mãos de alguns poucos colonos. Formaram-se imensas propriedades: as estâncias. Como no sertão nordestino, também no Sul uma sesmaria deveria ter três léguas (cada légua corresponde a 6600 metros). No entanto, esse limite nem sempre foi obedecido. Algumas chegavam a alcançar mais de vinte léguas. Os colonos acabavam ganhando muito mais, porque pediam terras em nome dos filhos. Alcides Lima, em "História Popular do Rio Grande do Sul", relata que um observador próximo dos acontecimentos escrevia em 1808: "Requeriam-se sesmarias não só em nome próprio, mas no das mulheres, filhos e filhas, de crianças que ainda estavam no berço e das que ainda estavam por nascer". No final do século XVIII já havia mais de 500 estâncias na Capitania do Rio Grande de São Pedro, atual estado do Rio Grande do Sul.
Nas estâncias o rebanho vivia solto e sem grandes cuidados. Como nas fazendas do Nordeste, não havia serviço permanente para a maioria das pessoas. Os peões pastoreavam o gado sob as ordens do capataz. Eram trabalhadores livres, brancos, índios ou mestiços, sempre prontos a se defender de ataques dos espanhóis, dos índios não submetidos, dos contrabandistas e dos ladrões. É essa a origem do gaúcho, misto de vaqueiro e soldado, sempre montado a cavalo.
Em caso de necessidade, como por ocasião da inspeção, marcação e castração do gado, eram recrutados peões extras entre a população nômade que circulava na campanha.
No início do século XIX, o viajante Saint-Hilaire dizia: "A pecuária nesta região pouco trabalho dá. O único cuidado que reconhecem necessário é acostumar os animais a ver homens... a fim de que não fiquem de todo selvagens, deixem-se marcar quando preciso for e possam ser laçados os que se destinarem ao corte ou à castração. Para tal fim o gado é reunido, de tempos em tempos, em determinado local. A essa prática chamam "fazer o rodeio" e ao local onde prendem os animais dão o nome de rodeio". O rodeio, realizado duas vezes por ano, era dia de diversão. Nele não faltavam as carreiras de cavalos, o churrasco e o chimarrão, até hoje elementos incorporados aos costumes do Rio Grande do Sul.
Inicialmente a principal atividade era a produção de couro, exportado em grande escala. Freqüentemente abatia-se o animal apenas para tirar-lhe a pele. Como no sertão nordestino, também para o gaúcho o couro foi muito importante, a ponto de o historiador Capistrano de Abreu afirmar que no sul também houve uma "época do couro".
Fechamos o círculo de influências do boi nos folguedos do Brasil na região sul. O boi de fita, o boi de mamão e o boi místico ladeiam outras festas para a celebração do homem do campo e das suas terras, seu sustento.
Parte 4: O “Nelore”, A grande vitória brasileira
Na primeira metade do século XIX já há registros de chegadas esporádicas de zebuínos originários da Índia. Muito ceticismo e uma corrente fortemente contra a aquisição e desenvolvimento de novas raças, fez com que por vezes, estas empreitadas se tornassem fracassos ou verdadeiras tragédias.
Várias espécies de zebús chegaram ao Brasil , entretanto, vamos nos concentrar no Nelore.
De Ongole na Índia ao Nelore brasileiro várias dedicadas empreitadas se sucedem. D. Pedro I foi um dos responsáveis pelo inicio do processo de importação dos Bos-Indicus, pois, transformou um antigo convento jesuíta, em Santa Cruz ,no Rio de Janeiro, em fazenda para criações e desenvolvimento de produtos agropecuários.
Todas as condições da época eram favoráveis, porque em pleno ciclo do café o “Rio” era o lugar mais próspero e rico do país, portanto, todo o investimento a médio e longo prazo certamente teria apoio financeiro e teria lucro.
Um pouco antes disso, no ano de 1868, um navio britânico aporta em Salvador e sua carga, incluindo um casal de Nelores é vendida, porem, não havendo o cuidado e o desenvolvimento, mesmo que isolado, esses exemplares não vingariam em criação, o que realmente acabou por acontecer.
Manoel Ubelhart Lemgruber era um entusiasta e estudioso das raças indianas. Esteve no zoológico de Hamburgo, na Alemanha no ano de 1878. Agradou-se de espécimes Nelore e promoveu a importação de um pequeno grupo para o Brasil, que chegou em outubro de 1878.
A Segunda partida chega em 1880, desta vez vinda diretamente da Índia e uma terceira oriunda também de lá aporta no Rio de Janeiro em 1883, formando assim o plantel da fazenda Santo Antônio em Sapucaia, sua propriedade.
De lá saem exemplares para formação de três criações que darão inicio efetivo a rebanhos de melhor qualidade e que, com o tempo ganham notoriedade, tal o entusiasmo e apuro técnico de seus produtores.
Em apenas três décadas o Nelore se espalha em toda a região sudeste e centro-oeste, reunindo cada vez mais entusiastas da raça que, como nenhuma outra adaptou-se tão bem ao clima e as pastagens diferenciadas do país.
As últimas importações de reprodutores aconteceram entre os anos de1960 e 1962. Atualmente estão proibidas, como aconteceu diversas vezes na primeira metade do século passado.
A indústria do campo no que tange a criação de gado, vive hoje uma sofisticação logística e tecnológica tão evoluída ,que, com capins de sementes importadas da maior qualidade, solo balanceado,( isto é comparado a uma plantação em larga escala) preparam o terreno para receber e alimentar um gado superior, que só ganhará mais qualidade.
A excelência do Nelore vem de décadas de dedicação no aprimoramento da raça, aliada as mais modernas técnicas de seleção genética e a reprodução “in vitro” manipulados dos bancos de sêmen de campeões “true type”, quer dizer, espécimes perfeitos obedecendo as formas e dimensões convencionadas. Implantação nas melhores fêmeas , sempre com o intuito de conseguir o melhor resultado da raça e alavancar a produção aliado ao custo benefício.
O produto final depois do abate, gera um lucro muito superior em comparação com os resultados de poucas décadas atrás. Na retaguarda da cadeia de sub produtos encontraremos algo em torno de quarenta indústrias , as quais processarão todo o animal.
Um dos grandes beneficiados são os laboratórios químicos, tanto na área de lubrificantes quanto na área médica, com produtos para equipamentos ou remédios como a insulina, para diabéticos.
As empresas de processamento de alimentos recebem também matéria prima de alta qualidade e pouca toxicidade já que o zebú é criado em condições próximas das ideais, levando até o consumidor final uma carne saudável ou um embutido de sabor excepcional.
Seu couro e seus pêlos fornecem subprodutos para a moda, vestuário e calçados, industria automobilista e mobiliário, peças de precisão e musicais além de pincéis e trinchas de toque delicado.
Ossos, tutano e todos os produtos gerados pelo seu abate, tem rendimento superior em qualidade, pois , a matéria prima continua ser aprimorada.
Terminaremos com os dados mais importantes e que fazem do Nelore um orgulho nacional. Temos no campo, no momento, 170 milhões de cabeças onde, 90 milhões são Nelores.
Somos hoje o maior exportador de carne bovina do mundo, com um mercado em franco desenvolvimento ,pois cada vez mais o consumidor procura afoito os produtos mais naturais e saudáveis como o nosso, pois o Nelore come capim.
Tecnicamente o Nelore tornou-se o preferido dos criadores por vários motivos, mencionaremos apenas alguns; a vaca ao parir não precisa em condições normais de auxílio veterinário, muito pelo contrario, é comum bezerros aparecerem simplesmente do lado de suas mães que por sua vez é extremamente protetora e carinhosa com o seu rebento. Falando ainda do filhote, este ao nascer imediatamente levanta-se e vai de encontro ao colostro que sairá na primeira mamada, já protegendo-o contra as primeiras doenças.
O seu tempo de crescimento e engorda chega a ser 2/3 mais rápido que a média dos novilhos de outras raças.
Seu grande porte e boa distribuição de desenvolvimento muscular fornecem até 55% de aproveitamento de carne em relação ao seu peso total.
Sua carne muscular é entremeada com gorduras dando um gosto mais saboroso, além de maior maciez e aparência mais agradável.
Por fim a sua maior virtude é a facilidade de criação, um dos motivos óbvios se encontra na sua fisiologia, pois é um ruminante com quatro estômagos, transformando literalmente capim em carne saudável e saborosa. Do Boi Mítico, chegamos ao Boi Real. Nelore, a raça vitoriosa do Brasil.