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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.E.S. COLORADO DO BRÁS - CARNAVAL 2003
Enredo: Metamorfose Banto

O Grêmio Recreativo
Autor: Lucas Pinto

 

Metamorfose (transformação) Banto trata-se de uma metamorfose Africana, ocorrido com o Orixá de nome Iemonja ou Iemanjá que na África, é considerada a mãe da criação dos Orixás. Nossa história começa na África, com as tradições do culto, através das lendas atribuídas a esse Orixá e transmitidas pelos povos negros que, para este país, vieram escravizados.

São lendas ricas, de povos que emergem do fundo dos mares e convivem com os povos da terra. Esses seres mitológicos, para os povos africanos, tiveram vida em alguma época e encantando-se em formas elementais, continuaram a conviver, mesmo de um plano elevado, com os povos da terra, por todas as gerações futuras. Assim aconteceu com Iemanjá, a Senhora das Águas, dona das cabeças, abençoada por Oxalá, e mãe de todos os Orixás. Iemanjá era simbolizada por uma negra ajoelhada, de grande ventre e seios enormes, sustentada na cabeça uma gamela.

Entende-se, portanto, que a partir desses primeiros dados, de grandes riquezas, de lendas e cultos desses povos, começa o início da metamorfose que iria processar-se com esse Orixá. Pois, Iemanjá viria nos porões dos navios negreiros residindo, quer no Ori (cabeça) de seus filhos de santo presos a correntes pesadas, quer nos cantos e clamores de piedade de seus filhos de fé, pois acreditavam, que por estarem sobre o reino das águas da própria mãe dos povos africanos, que se ela não os salvassem do processo escravo a que estavam submetidos, pelo menos os conduziriam vivos a terra firme e segura.

Havia nessa travessia, uma grande guerra cultura: de um lado, para os negros o mar era habitado por seres amigos que os conheciam, do outro lado os brancos acreditavam que o mar era habitado por dragões gigantescos, monstros, netunos e sereias endiabradas, atribuídos inclusive como protetores do continente do novo mundo.

Tal era esse conflito de pensamentos que os brancos em tempos de tempestades em alto mar, lançavam negros fora da embarcação, com o intuito de acalmar a ira desses monstros marinhos.

O culto a Iemanjá no Brasil foi trazido pelos povos Iorubanos, que na Bahia detinham o domínio religioso e cultural desses deuses africanos. Porém, foram os povos Bantos os responsáveis pelo início do processo de metamorfose desse Orixá, por se tratarem de um povo alegre e festivo. Responsáveis também por outras transformações, como a indumentária das baianas que até hoje conhecemos e as vestimentas dos Orixás africanos com luxo e requinte digno de reis africanos.

Nas senzalas, longe dos olhares dos senhores, os negros africanos cultuavam seus Orixás. Preces, lamentos, cantos e oferendas eram ofertadas nos dias festivos concedidos aos negros, afim de acalmá-los para que não houvessem grandes rebeliões ou fugas. Porém, nas senzalas, não só haviam cultos africanos, haviam também cultos indígenas, pois eram também escravos os índios nativos.

Entre os cultos indígenas aos deuses da mitologia ameríndia, havia o de uma mulher de pele morena, cabelos longos e sedosos, de corpo escultural, meio mulher, meio peixe, de nome Iara ou Oiara. A esta deusa que a todos encantava com seu lindo canto, era atribuído o domínio e poder sobre os rios, os mares, as marés, as enchentes e o luar, sendo, inclusive, em noites de lua cheia, as oferendas feitas a essa deusa de tamanha formosura e poder.

Entende-se que a cultura africana original, mesclada com os mais variados tipos de culto, de acordo com a origem dos negros que aqui chegaram, mesclados com a cultura da pajelança dos povos aqui existentes, mais o sincretismo religioso que sofreram os Orixás africanos em terras brasileiras, nasceu a cultura de nossa umbanda brasileira, que cultua hoje uma Iemanjá que de negra vira branca de cabelos longos, que de formas e beleza duvidosa, torna-se bela de corpo escultural. Sua metamorfose física é visível aos olhos de todas as raças, porém com a mesma responsabilidade materna que lhe era atribuída como Orixá, unindo todos os filhos em um só abraço maternal.

Este processo metamórfico fez do Orixá Iemanjá, um dos mais importantes representantes dos cultos sincréticos de nossa nação. A sua ligação com a água, elemento de tamanha importância em nosso planeta a intitula Rainha do Mar, festejada em dois de fevereiro tem sua expressão máxima registrada no litoral de todo nosso país no "Reveillon".

Iemanjá é mais que um Orixá de duvidosa existência em qualquer crença. Ela não é tão somente a mãe da criação, radicou-se entre nós e irradiou seu amor de mãe a todo o povo brasileiro, dando a eles um sentido que só a uma mãe, ou a uma mulher pode ser dado, um sentido de amor, esperança, alegria e confraternização.

 

"Odoya... Mãe Iemanjá

A Colorado do Brás pede licença

Para lhe homenagear."

 


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