Metamorfose (transformação) Banto trata-se
de uma metamorfose Africana, ocorrido com o Orixá de nome Iemonja ou
Iemanjá que na África, é considerada a mãe da criação dos Orixás. Nossa
história começa na África, com as tradições do culto, através das lendas
atribuídas a esse Orixá e transmitidas pelos povos negros que, para este
país, vieram escravizados.
São lendas ricas, de povos que emergem do
fundo dos mares e convivem com os povos da terra. Esses seres
mitológicos, para os povos africanos, tiveram vida em alguma época e
encantando-se em formas elementais, continuaram a conviver, mesmo de um
plano elevado, com os povos da terra, por todas as gerações futuras.
Assim aconteceu com Iemanjá, a Senhora das Águas, dona das cabeças,
abençoada por Oxalá, e mãe de todos os Orixás. Iemanjá era simbolizada
por uma negra ajoelhada, de grande ventre e seios enormes, sustentada na
cabeça uma gamela.
Entende-se, portanto, que a partir desses
primeiros dados, de grandes riquezas, de lendas e cultos desses povos,
começa o início da metamorfose que iria processar-se com esse Orixá.
Pois, Iemanjá viria nos porões dos navios negreiros residindo, quer no
Ori (cabeça) de seus filhos de santo presos a correntes pesadas, quer
nos cantos e clamores de piedade de seus filhos de fé, pois acreditavam,
que por estarem sobre o reino das águas da própria mãe dos povos
africanos, que se ela não os salvassem do processo escravo a que estavam
submetidos, pelo menos os conduziriam vivos a terra firme e segura.
Havia nessa travessia, uma grande guerra
cultura: de um lado, para os negros o mar era habitado por seres amigos
que os conheciam, do outro lado os brancos acreditavam que o mar era
habitado por dragões gigantescos, monstros, netunos e sereias
endiabradas, atribuídos inclusive como protetores do continente do novo
mundo.
Tal era esse conflito de pensamentos que
os brancos em tempos de tempestades em alto mar, lançavam negros fora da
embarcação, com o intuito de acalmar a ira desses monstros marinhos.
O culto a Iemanjá no Brasil foi trazido
pelos povos Iorubanos, que na Bahia detinham o domínio religioso e
cultural desses deuses africanos. Porém, foram os povos Bantos os
responsáveis pelo início do processo de metamorfose desse Orixá, por se
tratarem de um povo alegre e festivo. Responsáveis também por outras
transformações, como a indumentária das baianas que até hoje conhecemos
e as vestimentas dos Orixás africanos com luxo e requinte digno de reis
africanos.
Nas senzalas, longe dos olhares dos
senhores, os negros africanos cultuavam seus Orixás. Preces, lamentos,
cantos e oferendas eram ofertadas nos dias festivos concedidos aos
negros, afim de acalmá-los para que não houvessem grandes rebeliões ou
fugas. Porém, nas senzalas, não só haviam cultos africanos, haviam
também cultos indígenas, pois eram também escravos os índios nativos.
Entre os cultos indígenas aos deuses da
mitologia ameríndia, havia o de uma mulher de pele morena, cabelos
longos e sedosos, de corpo escultural, meio mulher, meio peixe, de nome
Iara ou Oiara. A esta deusa que a todos encantava com seu lindo canto,
era atribuído o domínio e poder sobre os rios, os mares, as marés, as
enchentes e o luar, sendo, inclusive, em noites de lua cheia, as
oferendas feitas a essa deusa de tamanha formosura e poder.
Entende-se que a cultura africana
original, mesclada com os mais variados tipos de culto, de acordo com a
origem dos negros que aqui chegaram, mesclados com a cultura da
pajelança dos povos aqui existentes, mais o sincretismo religioso que
sofreram os Orixás africanos em terras brasileiras, nasceu a cultura de
nossa umbanda brasileira, que cultua hoje uma Iemanjá que de negra vira
branca de cabelos longos, que de formas e beleza duvidosa, torna-se bela
de corpo escultural. Sua metamorfose física é visível aos olhos de todas
as raças, porém com a mesma responsabilidade materna que lhe era
atribuída como Orixá, unindo todos os filhos em um só abraço maternal.
Este processo metamórfico fez do Orixá
Iemanjá, um dos mais importantes representantes dos cultos sincréticos
de nossa nação. A sua ligação com a água, elemento de tamanha
importância em nosso planeta a intitula Rainha do Mar, festejada em dois
de fevereiro tem sua expressão máxima registrada no litoral de todo
nosso país no "Reveillon".
Iemanjá é mais que um Orixá de duvidosa
existência em qualquer crença. Ela não é tão somente a mãe da criação,
radicou-se entre nós e irradiou seu amor de mãe a todo o povo
brasileiro, dando a eles um sentido que só a uma mãe, ou a uma mulher
pode ser dado, um sentido de amor, esperança, alegria e
confraternização.
"Odoya... Mãe Iemanjá
A Colorado do Brás pede licença
Para lhe homenagear." |