Lendária
China, ano 264 a.C.
A milenar sabedoria chinesa uma vez mais, da mostra de toda sua
concentração de pensamento, provando que as citações de Buda sempre
estiveram carregadas de filosofia e verdade. Verdade esta que faz deste
povo um mestre na arte de pensar, e ter na sua paciência toda força
necessária, para através da concentração do pensamento, realizar
grandes descobertas.
Iluminados pela milenar sabedoria chinesa, no terceiro milênio anterior
as nascimento de Cristo, em uma província da China central, uma
princesa deixou cair em uma bacia contendo água quente, alguns casulos
que enfeitavam as amoreiras plantadas no jardim e verificou que deles se
desprenderam fios finíssimos, resistentes, brilhantes e muito longos,
com quais os camponeses passaram a produzir o mais suave e sensual
tecido.
Estava assim descoberta a seda pelo lendário país da Grande Muralha.
Segundo uma lenda muito antiga, a descoberta do maravilhoso fio de seda
é atribuída a Sun-Lin (Dragão da Neve), esposa do Imperador
Hunang-Ti, que viveu no século XVIII a.C.
Foi o Dragão de Neve que ensinou os chineses a criar o bicho da seda.
Essa lenda conta que a imperatriz foi discípula da Celeste Fiandeira,
que um dia desceu a terra para ensinar o segredo da fiação a Dragão
da Neve.A celeste fiandeira é filha de Shang-Ti, o Pai do Universo;
nasceu de uma gotinha de suor de sua fonte e teve por tarefa tecer,
desde pequenina, com suas próprias essências luminosas, as roupas dos
deuses.
Entre as damas da corte de Huang-Ti, havia uma jovem muito bela, de
quinze anos, chamada suave fragrância. Um dia, ela saiu para colher
folhas de amoreira para bichos da seda. De repente, apareceu-lhe um belo
cavalo branco que de súbito transformou-se num lindo príncipe.
Apaixonaram-se e juraram amor eterno. Quando passado algum tempo, a família
quis casá-la, Suave Fragrância recusou-se a obedecer. Seus pai,
desconfiado, mandou segui-la quando ia à floresta e assim descobriu o
segredo. Ordenou imediatamente a um lenhador que a matasse. Cumprida a
ordem, quando vieram busca-lhe o corpo para enterrar, uma pele de cavalo
branco pendurado em uma árvore, com um fio luminoso à sua volta. A
morte de Suave Fragrância havia desencantado o príncipe, tendo ambos
se reunido no País das fontes amarelas.
Ao saber do ocorrido, Dragão de Neve mandou fazer oferendas em
homenagem a sua ex-dama da corte. A partir de então Suave Fragrância
passou a ser venerada pelos chineses como Deusa da Seda.
Lendas a parte, historicamente é certo que uma grande rede, um
emaranhado de caminhos terrestres, marítimos e fluviais desde a mais
remota antiguidade, fazia a ligação do extremo oriente com o ocidente.
A rota da seda entretanto, passou a ser explorada no século XVI a.C.,
graças ao valor monetário que aquele tecido representava nas operações
oficiais de troca.
Passo a passo, nesse caminhar a Rota da Seda não apenas difundiu a
comercialização do sensual tecido, bem como, tornou popular grandes
regiões que nasceram no extremo oriente, como confucionismo, o shintoísmo
e o budismo, assim como as religiões originárias do Oriente Médio,
como o judaísmo, cristianismo e o islamismo.
Do ponto de vista geográfico, a Rota da Seda tem sua origem nas aldeias
da China Central, as margens do Rio Amarelo (Yang Tse Kiang).
Daí então, o caminhar da seda, foi galgando seus passos, fosse no
lombo dos lendários camelos ou também no lombo dos místicos
elefantes. Não importava o meio de transporte, nem o sacrifício a ser
transportado. Porque como diz o ditado: "Os fins justificam os
meios".
Sendo assim, estrada a fora chegamos ao Himalaia, trilha milenar que
passa por cenários sagrados e de natureza surpreendente, onde monges e
caminhantes de todo o mundo se cruzam em meio ao Himalaia, o topo do
mundo.
Mas a Rota da Seda não para. Segue firme e forte, predestinada e
objetiva. Já nos sentimos mesmo ao longe, impregnados pelo cheiro dos
incensos vindos da Índia, o país dos deuses. País onde a marca dos
deuses não está impressa somente nos templos, palácios e mausoléus
de valor inestimável. Ela parece também, nas pessoas, nos animais e
nas árvores, como também em cada turbante, cada adereço, cada sari de
seda, ricamente bordado, como os da princesa de Jaipur, carregados com
muito sentido místico. Nossa rota segue em frente. E já podemos
pressentir, localizados em pleno coração da Rota da Seda, dois países;
o Uzbequistão e o Quirguistão, donos de riquezas históricas e
naturais que ainda permanecem escondidas, e outras visíveis não só
pela sua razão histórica, mas também, pela sua beleza artística e
visual, como a mesquita de Samarkand, coberta de azulejos.
Da majestosa mesquita, sem perder a majestade, chegamos a Pérsia, o
reino dos tapetes e reino ao culto de Joroastro, baseado na adoração
das forças da luz.
Iluminado nosso caminho, a Rota da Seda segue destemida. Calculando
passo a passo nosso destino, chegamos a Babilônia, terra dos números,
dos cálculos, da astronomia e de uma das sete maravilhas do mundo: os
jardins suspensos da Babilônia.
Mas, a rota não para. Já podemos sentir o ar impregnado do perfume das
mil e uma noites.
Já podemos notar sob o véu suave da seda, o olhar profundo de mulheres
místicas. Já podemos observar os tapetes mágicos, alçando vôos sob
o céu azul da terra da sedução, a Turquia.
Da terra da sedução, nossa rota encaminha-se sob a proteção dos
deuses do Olimpo, para a Grécia, berço da arte, berço da filosofia,
berço do desporto, berço da medicina e senhora de todas as batalhas.
E seguindo vamos a nossa caminhada percorrendo a Rota da Seda, nossa próxima
para é Roma imperial. De imperadores destemidos e sagazes como Justiano. Da cultura da arte como, esplendor de beleza e estética.
Cidade que ouviu muda a queda, sob os acordes da lírica harpa, a
sinfonia do fogo.
E nossa Rota da Seda continua firme em sua caminhada. Desta feita, não
mais iluminada pela luz do fogo, mas sim pela luz da arte.
Chegamos à França, berço de muitas artes. De Paris a cidade luz, de Motiére o contemplador, de Pierre Cardin, Christian Dior, Channel que
fizeram da seda, a matéria prima da verdadeira obra de arte francesa:
"a moda".
Contudo a Rota da Seda não para. Segue seu caminho destemido e belo
cruzando fronteiras, e deixando patente por onde passa, a descoberta da
imperial e milenar sabedoria chinesa.
Mas, foi cruzando fronteiras que vimos com muito orgulho o Brasil na
Rota da Seda. Estender, então, a Rota da Seda até o Brasil foi um fato
histórico da maior relevância para nossa economia.
E foi com José Pereira Tavares, que deu-se então a Gênese Seropédica
de Itaguaí, resultado de muito trabalho, dedicação e entusiasmo.
A Gênese Seropédica nada mais era que uma pequena cidade abrigaria o
cultivo das amoreiras, árvores estas que serviam de berço para a criação
de casulos dos quais se extraiam os fios de seda.
Razão porque, o então Imperador Pedro II, homem culto e um permanente
estudioso de tudo que fosse do interesse do império, e sensibilização
com as razões da Gênese Seropédica de Itaguaí, ordenou que fosse
constituída em 1854 uma comissão da qual fizeram parte, Barão de Mauá,
Visconde de Barbacena e Visconde de Sepetiba, com a incumbência de
organizar a "Imperial Companhia Seropédica Fluminense", com
um capital de quinhentos contos de réis.
Estava portanto, a partir desta data, inserido no contexto da Rota da
Seda o Brasil, e tremulando estava portanto, sob o pátio sagrado verde
e amarelo, a alma bendita do país da cruz: o Brasil. |