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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
A.C.S.E.S. MOCIDADE CAMISA VERDE E BRANCO - CARNAVAL 1987
Enredo: Barra Funda Estação Primeira

O Grêmio Recreativo
Autores: José das Flores e Ronaldo de Souza

 

O Bairro do futebol, do samba e do feitiço.

No início, em meados do século XIX, era a várzea, alagada pelas cheias do rio Tietê. Vieram os imigrantes italianos - artesãos, carpinteiros, sapateiros, barbeiros e alfaiates - formaram as chácaras e o bairro foi criando seus contornos. Com os trilhos da Santos-Jundiaí e da Sorocabana, a Barra Funda, então tipicamente operária, ganhou novo impulso. Um marco nessa caminhada rumo ao desenvolvimento foi o palacete construído na Chácara do Carvalho, a maior do bairro, onde se hospedaram personalidades internacionais como o Príncipe de Gales.

Dominada por pequenas fábricas de fundo de quintal, a Barra Funda desenvolveu-se mais fortemente com a virada do século, quando se instalou no local indústrias de maior porte, como a Matarazzo, e evoluíram as culturas do café, da cana-de-açúcar e do algodão. Surgia então uma próspera e florescente classe média. Os mesmos trilhos que trouxeram o progresso serviram-lhe de fronteira. A Barra Funda ficou dividida em duas: a de baixo e a de cima.

Entre as muitas divergências entre os moradores das duas regiões está inclusive a origem do nome do bairro. Para as de cima, uma alusão a um local conhecido na Itália como Barafonda, cuja tradução significa "muita confusão". Para os de baixo, a origem está no fato de os carroceiros que retiraram areia para construções das margens das lagoas, que ficavam mais fundas.

Essa parte de baixo era conhecida como México, assim chamada ou porque ali existia um posto de gasolina da Gulf Mexican Petroleum ou porque dois soldados desceram de seus cavalos para manter a ordem numa quermesse e foram presos aos postes, como acontecia nos filmes de guerra entre americanos e mexicanos, mostrados na época. No México morava a Turma dos Cabeleiras, famosa pelas brigas com os rapazes da Barra Funda de cima.

A vida na Barra Funda ganhou corpo. Soirées nas casas, sessões de cinema no Cine Teatro São Pedro, no Cine Santa Cecília e no Cine Paris. Bailes populares do Estadão (hoje São Paulo Chic), no Campos Elíseos, no Anhanguera, e de gala no Royal. O Cine Teatro São Pedro foi palco de artistas como Grande Otelo, Trio de Ouro, Nelson Gonçalves, Dercí Gonçalves, Mário Lago, Wilza Carla, Virgínia Lane e tantos outros destacados artistas. Isso sem falar nas matinês do Circo Yolanda (conhecido como "peneira", porque chovia dentro), do palhaço Rabanete, e no Circo Piolim.

Pelos campos de futebol da várzea espalhavam-se os times gloriosos como o Anhanguera, o Garibaldi (depois Grajaú), Flor do Bosque, São Jorge, Natal, São Luiz, Santa Cecília, XV de Novembro e Carlos Gomes. Espalhavam-se também os terreiros de umbanda, candomblé e quimbanda, tendo à frente grandes cortesãs do samba. O samba, aliás, foi sempre a alma da Barra Funda, "o gigantesco coração subterrâneo". Os imigrantes italianos organizavam o "Carnaval em Veneza", desfilando com seus barcos enfeitados pelas lagoas da várzea. Depois faziam nos salões os bailes de máscara.

Nas ruas os malandros da época formaram os cordões. Desfilaram o Geraldinho, o Campos Elíseos e também as Baianas Caprichosas. Dionísio Barbosa criou o cordão "Camisa Verde" e Inocêncio Tobias mais tarde o reergueu, fazendo de sua própria casa a sede daquela que se transformou na escola de samba Mocidade Camisa Verde e Branco, campeã de tantos carnavais paulistanos.

A Barra Funda teve o primeiro bonde elétrico da cidade. Foi a primeira a ser iluminada com bicos de gás. Cenário das primeiras reivindicações de trabalhadores pela diminuição da jornada de trabalho, influência dos anarquistas italianos, foi também o quartel-general do Modernismo. Na rua Lopes de Oliveira morava um dos principais articuladores do movimento, o poeta Mário de Andrade. Além do cineasta Primo Carbonari, que na rua Boracéia montou um acervo com mais de 40 mil rolos de documentários sobre o Brasil, foi o berço do consagrado sambista Vassourinha, que conquistou fama até no Exterior.

Na Barra Funda das casas de alto padrão, construídas pelos capomastris (mestres de obras), que mais tarde transformou-se em cortiços, tinha também o Largo da Banana, o porto de abastecimento paulista e mais famoso local do bairro. Era ali que se misturavam trabalhadores e malandros, corria solto o jogo e o samba. Os trens carregados de frutas, verduras e alimentos faziam seu ponto final no largo e os que ajudavam na descarga dos vagões recebiam como pagamento uma parte das mercadorias, vendidas para os moradores do bairro ali mesmo. No local foi criada inclusive a Sociedade dos Bananicultores.

Nas estufas das frutas, um providencial esconderijo da polícia, jogavam-se o bozó (dados), a ronda e o jogo de caipira. Tanto em briga quanto em lazer os freqüentadores jogavam a tiririca (algo semelhante à capoeira). Figuras constantes no Largo da Banana eram: Mulata, Horácio, Bobó, Bizoca, Zé Cara Torta, Feijó, Braço, Boca Rósea e o não menos famoso Zezinho, do Conjunto Águias da Meia-Noite.

Essa Barra Funda tradicional, ainda hoje das pequenas oficinas e da camaradagem entre os moradores, vai enfrentar o desafio novo. Apesar de suas duas faculdades, parou, depois da quebra do café, no tempo. O progresso vem chegando com o Metrô, que deverá mudar a fisionomia econômica do bairro, trazendo benefícios para seus moradores. A ESTAÇÃO PRIMEIRA DA BARRA FUNDA, estação terminal Oeste da linha Leste-Oeste, será um ponto de integração entre moradores de vários bairros da cidade. Um complexo viário composto por metrô, ferrovias e ônibus com 82 mil e 700 metros quadrados e capacidade para 75 mil passageiros/hora. Com o metrô virão os grandes supermercados, magazines, a melhoria da assistência social e um aspecto mais moderno para o bairro. Virão os empregos, os cinemas, os restaurantes e as butiques. A BARRA FUNDA se prepara, como no começo de sua história, para receber a nova era.

 


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