O
ano de 2004 marcará mais um jubileu do município de São Paulo.
Celebraremos os 450 anos de uma cidade capaz de desafiar o poder das
palavras.
São
Paulo é concreto! Poesia! Abstrato! Ter! Poder! Prazer! Grito! Independência!
Revolução! Feroz! Antropologia! Gastronomia! Liberdade! Ditadura!
Democracia! Pajés! Jesuítas! Babalorixás! Barões! Café! Matarazzos!
Indústria! Proletariado! Reivindicação! Riqueza! Pobreza! Luta de
Classes! Idéias! Artes! Monumentos! Subversão! Ciência! Coração e
descoberta! Saúde! Feminismo! Máquinas! Saudades, européias e
nordestinas! Migrantes! Imigrantes! Desterrados! Bandeirantes! Aço! Moda!
Elegância! Camelôs! Arquitetura! Modernidade! Neurose! Teatro! Arena!
Shopping Center! Direito! Passeata! Progresso! Musicalidade! Choro! Oração!
Palavras
tentando definir o indefinido! - Compulsão! Apelidos...Paulicéia
Desvairada! Terra da Garoa! Jardins de Luxo! Boca do Lixo! Terra em
Transe! Cinema Novo! - Dias nova-iorquinos: cotação da Bolsa... Noites
tropicais: túneis e minhocões...
Aqui
Tudo aconteceu! Aqui Tudo acontece! E o porvir é parido pelas praças e
esquinas! Daqui sopram os ventos que inflam as velas dos “ships” que
fazem o Brasil navegar...
São
Paulo, a crítica cruel: se não está aqui não existe!
Cidade
das exclamações, onde nada nasceu para ficar escondido!
Argumentação
Pensando
na grandeza desta cidade-gigante, e no seu momento histórico, sui generis
em que celebramos os seus 450 anos bem vividos, o Império de Casa Verde
optou por um enredo comparativo. Afinal, a cidade vive mergulhada num
universo de comparações e metáforas.
Buscamos
na Grécia Clássica elementos capazes de ilustrar a magnitude desta
cidade-encanto. Fomos buscar no berço da civilização ocidental, mitos e
heróis capazes de refletirem a magia desta cidade nascida aos pés do
cruzeiro e adorada como divindade pagã.
Trata-se
de um enredo livre, permitindo margem ao delírio, respeitando assim, a
essência dos desfiles carnavalescos: fazer sonhar.
Será
a fusão entre mitos gregos e as grandes personalidades de São Paulo.
Desejamos dar uma visão panorâmica e alegórica da cidade, sem fazer de
desfile uma simples enumeração de fatos e personalidades, É uma
homenagem através dos olhos de uma Agremiação carnavalesca.
Por
que a Grécia Clássica?
Porque
é São Paulo!
Nesta
cidade tudo é discutível, tudo é possível de realização. Aqui a arte
ainda se deixa encontrar! Quando tentam prende-la as regras acadêmicas
ela subverte os conceitos e passa a pichar os monumentos num misto de
rebeldia e inovação.
São
Paulo se permite interpretar de todas as maneiras, e nós escolhemos o
fantástico.
A
Grécia Clássica é o pano de fundo por ser considerada o berço da
civilização ocidental moderna e contemporânea. São Paulo é um grande
quando pós moderno, mas sua moldura é clássica. Rmos de Azevedo e o
Teatro municipal são a prova desta nossa necessidade carnavalesca de
fundir o real com o mágico. Ramos de Azevedo fez a moldura Neo-cládo
quadro que vinha sendo pintado, e as gerações seguintes deram
pinceladas, mas a tela ainda continua aceitando contribuições, novas
tendências, novas atitudes.
É
importante lembrar que esta cidade foi fundada sob a luz da cruz, da
espada e do teatro.
A
Cruz hoje convive com a estrela de David, o alcorão, os pontos da
umbanda, as pembas do candomblé e todos os símbolos religiosos.
A
espada se transformou em capitalismo, ufanismo, neo liberalismo e 11 de
setembro. Punhais para se continuar dominando com uma crueldade travestida
de globalização.
O
teatro, a principio foi usado como maneira de conversão-dominação, mas
libertou-se. O aparelho ideológico de José de Anchieta (o Apostolo e Rei
dos baixinhos do Brasil) para converter os curumins abandonou os átrios e
ganhou as ruas. Tornou-se libertário, mas não surtou. Manteve-se fiel a
sua vocação. Aqui Édipo e Macunaíma animam os palcos e questionam
inteligências. Conflituam-se, sem jamais se confrontarem.
Na
Grécia Clássica se vivia a democracia. E para se gozar deste privilegio
era preciso ser varão e livre. E hoje, quem é livre? Quem pode ser
chamado de cidadão?
São
Paulo é o berço da civilização que ainda está por vir. Aqui existe a
efervecência humana que se mostra através dos repentistas na praça do
falecido Mappim que ressuscitou como Extra. A vida é reinventada pelos
colombianos vendedores de artesanato do Vale do Anhangabaú, pelo brilho
dos prédios da Berrine e pelo colorido das cruzes da vila formosa. São
Paulo exala conceitos, cheira a eternidade e tem os olhos voltados para o
novo conservando uma tradição quatrocentona.
São
Paulo é um grande caledoscópio colorido expandido beleza seja através
dos cultos do Pai Élcio de Oxalá, nos confins da Zona Leste ou nos
desfiles de Herchcovitch em pleno Faschion Week.
São
Paulo é uma cidade grávida de futuro. Nosso modus viventi é o útero
onde crescem os fetos da nova civilização em forma de tribos coloridas.
Somos a cidade brasileira que influenciará as civilizações que hoje são
apenas devaneios futuristas.
A
Grécia no Enredo sobre São Paulo
Um
ponto que nos levou a crer na Grécia como excelente pano de fundo para
homenagear São Paulo foi a Mitologia. Histórias fantásticas, na verdade
quase enredos de Escolas de Samba, que tinham como finalidades esclarecer,
de forma alegórica, os segredos do humano.
São
Paulo possui mitos como Francisco Matarazzo. Mario de Andrade, Dr
Zerbinni, Cacilda Becker, Berta Lutz, Airton Sena...Heróis que se
transformaram em mitos. Eles serão homenageados em comparações com
mitos e heróis gregos. Nosso enredo é uma apologia a eternidade desta
Paulicéia Desvairada.
Ainda
colocaremos na avenida o Hades. Senhor dos subterrâneos. Nós filhos da
paulicéia tivemos que viver nos subterrâneos todas as vezes que
ditadores tomaram as rédias deste país. Ironicamente nenhum deles era
paulistano. Somos os heróis da resistência: 32, 64, 72, 84...
A
Grécia Clássica caracterizou-se também pelo respeito e incentivo aos
esportes. São Paulo é o celeiro dos heróis-atletas. As grandes festas
do Olimpo se repetem todos os finais de semana nos estádios e nos ginásios
desta cidade.
Todo
paulistano é um Hércules
Fechando
o motivo principal pelo qual a Grécia será o pano de fundo de nosso
enredo em homenagem a esta cidade-Logos é porque São Paulo é habitada
por Hércules. Cada morador desta cidade precisa vencer não apenas 12
trabalhos, mas 365 trabalhos por ano. Somos milhões de divindades anônimas
refletidas neste novo espelho de Narciso; a cidade-flor de concreto e aço,
a cidade de São Paulo.
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