Crença milenar e
universal, o mau-olhado incorporou-se à cultura
brasileira onde se espalha através de numerosas
crendices e práticas de sentido mágico, benéficas e
maléficas. Amuletos e talismãs, figas e gnomos
desmancham possíveis desastres ou oferecem
esperanças aos que dessa forma preenchem suas ânsias
de caráter religioso.
Olho grande,
mau-olhado ou olho gordo são crendices populares
atribuídas a certos indivíduos de influir sobre
pessoas, animais, plantas e objetos causando-lhes
perda, morte e mal-estar, que na linguagem do povo é
sinônimo de maléfico magnético, por acreditar-se que
alguns mortais tenham a faculdade de transmitir,
através do olhar, fluídos perigosos e nocivos.
Tal poder é conhecido
sob muitos nomes: fascínio, feitiço, jetatura,
mal-de-olho, meu-olho, olho gordo, olho grande, olho
grosso, olho-de-mata-pinto, olho ruim,
olho-seca-pimenteira, olho-seca-telha, quebranto,
etc...
É uma doença
inexplicável que aparece de repente, entra no corpo
e não se sabe como tem início nem mesmo se percebe
no começo, mas quando chega ao conhecimento já é
tarde. O desfalecimento, a indisposição, o
emagrecimento, a moleza, e a sonolência são sinais
reveladores. A depender da pessoa visada, muito
quebranto é logo cortado de imediato, neste caso
diz-se que a pessoa está com o corpo fechado ou
curado contra o mal.
Quando se pretende
tomar precauções contra o mal, deve-se por atrás da
porta da frente da casa uma ferradura de sete
pregos, ou dois galhos de arruda em forma de cruz e
presos por uma ferradura, ou ainda, um copo virgem
com água atrás da mesma porta e mudar a água de sete
em sete dias, e mais, fazer uma cruz com os dedos ao
cruzar com alguém capaz de tal prática.
Dizem que o mal olhado
é um fenômeno não muito bem esclarecido, mas o povo
já os classificam em três categorias. Primeiro o
olho da inveja e cobiça, mais conhecido como o "olho-seca-telha",
que põe o olhado por vontade própria, sem sentir o
que está fazendo, o segundo é não olhar o Santíssimo
na hora da missa. Quem assim procede tem olho mau
por querer, e o último e mais inocente é o que nasce
em ano bissexto, trazendo consigo uma série de
fatores contrários, bota olhado nos outros, mas não
pega de ninguém.
Quem possuí o mal
olhado não deve se culpar, pois ele nasce com o
indivíduo e está nos olhos ou no sangue e não deixa
o portador ir para adiante, nem permite que os
outros sigam o seu caminho.
As benzedora são
geralmente os meios mais procurados pelas pessoas
para se livrarem desse mal. Os benzedeiros
geralmente são pessoas idosas que usam raminhos de
certas ervas para esses ensalmos e pajelanças, além
dessa prevenção usa-se correntes com diversos
fetiches, amuletos e talismã: corninhos, meia-luas,
corcunda, elefante, figa, isola, etc.
A figa é dos amuletos
o mais vulgar, tem formato de mão fechada, colocado
o polegar entre o indicador e o dedo médio - é uma
representação do ato sexual e pode ser de várias
cores: preta que livra do mau-olhado; a vermelha dá
sorte, amarela boa para memória; a rosa significa
recordação e a verde cor de arruda e da esperança.
O isola ou mão cornuda
é uma mão fechada com os dedos indicador e mínimo
estirados paralelamente, imitando os dois cornos ou
chifres, imagens da força, da potência, da
fecundação, da abundância e do crescimento.
O amuleto é um objeto
mágico passivo, defendendo seu possuidor contra
influências maléficas e o talismã é uma força ativa,
suscetível de ser dirigido pelo dono e determinando
uma ação direta, pondo à disposição do seu portador
o serviço de entidades mágicas, ou facilitando a
realização de todos os desejos.
Para muitos, essas
forças do mal são explicadas pela sugestionalidade e
para o comum dos homens, só podem ser causadas por
espíritos maus ou são artes do diabo e seus bruxos e
feiticeiros.
A partir de então
muitas experiências científicas de modernos
laboratórios de psicologia vêm rompendo preconceitos
e tabus, chegando à conclusão de que o mau-olhado
que se lança como olhar de inveja, de ódio ou de
vingança nada mais é que a energia mental fluindo
dos olhos do malfeitor em direção ao objeto ou
pessoa que se deseja o mal.