O Unidos do
Pé Grande vem contar parte de nossa história sem fugir das nossas raízes
e etnia.
Exatamente
como hoje, o Sol levantando-se todas as manhãs iluminando a Terra e se
pondo ao final da tarde: a Lua fazendo sua silenciosa caminhada pelo céu
à noite também acontecia quando Luiz Gama vivia.
A única
diferença é que naquele tempo, os homens pintavam os acontecimentos com
as cores da sua imaginação. Foi neste devaneio que o nosso herói se
deixou levar pela imaginação, e acabou adormecendo.
E sonha que
se encontra em uma mata e a Mãe Natureza mostra-lhe as trilhas. Chega a
um castelo feito de espelhos e estátuas africanas fica extasiado: é dia
de festa, é a consagração máxima:
Homenagem à
Iansã Guerreira
Luiza Mahim,
Senhora das Guerras e das Tempestades
Em seu
cortejo tem 12 guerreiras e 12 ministros, com seus trajes maravilhosos.
No seu sonho, Luiz vê coisas que somente hoje poderiam existir, como
fonte iluminada com repuxos de água e com esculturas africanas. Num dado
momento, um arauto anuncia a presença dos Grandes Deuses Africanos:
Xangô, rei
dos Iorubas;
Oxossi, rei
do Queto, caçadores e da caça;
Ogum,
general das guerras, senhor dos ferros;
Oxum, deusa
do dengo, elegância, do fausto, das águas e fontes;
Obá,
guerreira do Rei do Rio Obá;
Oxalá,
senhor da África unida.
Muitas
tribos africanas estão presentes: mandingas, fulas, gegês, malês,
cafundis, rebolos e outras. Presentes e mais presentes de toda África:
animais, bebidas, comidas, flores, ouro, diamantes, etc.
Luiz Gama
fica mais extasiado ainda quando é convidado a comparecer a presença da
Rainha Guerreira Iansã e acorda subitamente.
E começa a
lembrar de sua origem.
Luiza Mahim,
símbolo de luta da mulher negra pela liberdade, a etnia gegê, nasceu
livre na Bahia por volta de 1812. Era uma época bastante conturbada com
levantes que negros livres e escravos levavam a cabo desde 1807, na
história conhecido como Revolta dos Malês. Malê deriva de Mali, nome de
um Reino da África de onde vieram um número reduzido de escravos para o
Brasil. Associam-se também a este nome aos que o governo da época
chamava os negros Sem Lei ou Malei.
Luiza cresce
à época dos levantes de 1813 à 1830. Neste último ano ela encontrava-se
grávida, dando a luz a um filho que viria se tornar um dos maiores
abolicionistas da história do Brasil: Luiz Gama. Ele cresce
politicamente, organiza e participa ativamente de todas as revoltas
desencadeadas na cidade de Salvador e arredores contra o regime de
escravidão.
Começam os
preparativos para a Grande Insurreição dos negros de todas as raças:
minas, tapas, gegês, mandigas, iorubás, hausás se juntam para a grande
luta. Sob a liderança dos escravos Diogo, Ramires, Cornélio, Tomás,
Conrado e Aprígio e de negros alforriados Belchior Silva Cunha, Pacífico
Licustã, Manuel Calafate, Elestão Dandara, Luiz, as negras Engrácia e
Luiza Mahim.
O plano foi
elaborado e as tarefas distribuídas, mas não foi cumprido na integra por
delação. A cidade ficou em pé de guerra, a pressão era brutal.
Estabeleceu-se a devassa completa com invasão das casas dos africanos e
senzalas. Muitos foram tiveram castigos de açoites em praça pública e 5
condenados à força, embora o governo não encontrasse carrasco que os
executasse. Luiza Mahim conseguiu escapar da repressão e teve destino o
Rio de Janeiro aonde continuou sua luta pela liberdade.
Mulher
magra, bonita, cor negra retinta, sem lustro, dentes alvíssimos como a
neve. Altiva, generosa, sofrida, vingativa. Era quitandeira laboriosa.
De 1837 a 1861 viveu ativamente na Corte. Em 1862 disseram que ela, em
companhias de Malungos Desordeiros em busca da fortuna foi posta em
prisão. Neste tempo foi deportada para a África, uma forma do governo
conter os negros revoltosos.
Mas esta
mulher negra tornou-se pela sua força de luta, auto determinação e de
liberdade um símbolo que é homenageado neste enredo.
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