Os
versos que inspiram os nomes que a recém-nascida Escola de Samba recebeu são
assim:
“Vai ter que amar a liberdade, só vai cantar em TOM MAIOR, vai ter felicidade
de ver um Brasil melhor“.
(MARTINHO
DA VILA)
Isso acontecia em fevereiro de 1973...
O G.R.E.S Tom Maior é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 14 de
fevereiro de 1973, por sambistas dissidentes da escola de samba Mocidade Camisa
Verde e Branco e diversos estudantes universitários, frustrados com a realidade
política da época, surgindo então para expressar a vontade de um grupo de
pessoas descontentes, unindo-se com antigos e experientes sambistas formando uma
comunidade eclética.
Na reunião de fundação da Tom Maior, haviam pessoas com diferentes idades,
origens e experiências de vida: negros, brancos e mulatos. Várias expectativas
também, mas todos tinham a vontade de construir juntos uma Escola de Samba que
pudesse se tornar um espaço novo para o samba paulistano.
Muitas transformações ocorreriam no universo do samba e do carnaval, assim,
como no próprio Brasil. Para uns, a Tom Maior significava ruptura e revolução
no samba, pois, como dissidentes da co-irmã Camisa Verde e Branco, buscavam
construir um espaço de liberdade. Para outros, a Tom Maior significava
participação num projeto novo na vida. A possibilidade de realizar algum
projeto coletivo, mas também de liberdade. A Liberdade era o ponto em comum dos
diferentes indivíduos que o destino juntou naquele dia 14 de Fevereiro de1973,
na Rua Brigadeiro Galvão, Barra Funda.
O Carnaval de São Paulo era bem diferente do que é hoje e do que era no Rio de
Janeiro, que sempre foi uma referência importante. Diferente não só no
estilo, na batucada, no ritmo, no visual, nas técnicas como também nas
origens. Havia necessidade de mudar. O Brasil estava mergulhado na falta de
liberdade. Era a ditadura, mas, a ditadura não podia nos calar todas as
possibilidades de liberdade. O Brasil estava mudando lentamente e o carnaval
estava deixando de ser relativamente espontâneo, para se tornar empresarial.
Do grupo que participou da reunião de fundação, muitos deixaram os caminhos
árduos do primeiro ano de trabalho, que colocou a Tom Maior na avenida em 1974,
seu primeiro carnaval. Mas em compensação, a partir daí a Tom Maior nunca
mais deixou de agregar as pessoas que em sua maioria, sempre afluíram à Escola
de Samba para participar e trazer algum tipo de contribuição que o carnaval
possibilita.
As dificuldades enfrentadas faz a Tom Maior crescer com espírito de luta e
garra num ambiente onde se busca conciliar as mais ousadas propostas de enredo e
de carnaval: Chão de estrelas, A Feira, Pirulito que bate-bate na cabeça de um
sonhador, Cordões e Gafieiras, Trânsito: Sinal de Alerta, Made in China, A
Vida por um Fio, e tantos outros “novos” enredos novos...
A Tom Maior nunca teve sede própria. Desde o início, enfrenta as ruas do
bairro que foi escolhido para se tornar seu berço: Pinheiros, Vila Madalena,
Sumarezinho, Cerqueira Cézar, Jardins, Sumaré...chame quem quiser.
Nunca se fixou exatamente o nome do lugar, mas é nas ruas Cristiano Viana,
Oscar Freire, Galeano de Almeida, Amália de Noronha, Alves Guimarães, João Moura,
Dr. Arnaldo e adjacências que se realizavam os ensaios de Carnaval, enfrentando
várias resistências e dificuldades. Muitas famílias se juntam a Tom Maior.
Os pais, os filhos e amigos vêm para participar. Não são pessoas só de
bairro, mas de todo lugar. No decorrer da história, a Escola de Samba vem se
firmando pelo trabalho incansável de inúmeras pessoas que, sem pretensões
pessoais, dedicam sua energia e criatividade para realização dos ideais da Tom
Maior.
No cenário de mudanças que ocorreu no mundo do samba paulistano, a Tom Maior
se destaca também pela inovadora presença da mulher. No início a presença da
mulher, não era apenas participativa como ocorria em outras agremiações, mas
sim efetivamente a mulher dirigia e organizava a TOM MAIOR. Virgínia foi a
presidente dos primeiros tempos. Amélia foi a presidente dos tempos difíceis,
porém, não deixou o samba cair...
A Tom Maior se destaca no cenário de mudanças que ocorre no mundo do Samba
Paulistano também pela presença da juventude. Foram e são os jovens que levam
o projeto. Assim, a juventude sempre foi marca da Tom Maior.
Talvez
nenhuma outra escola tenha a localização da Tom Maior, que está em uma área
nobre da cidade de São Paulo. E talvez nenhuma tenha tido tantos atritos com a
vizinhança, que não tolera o som dos ensaios e já obrigou a escola a mudar de
sede diversas vezes. Grandes sambistas paulistanos começaram na escola, como Nelson Dalla
Rosa, compositor que ganhou muitos sambas em escolas paulistanas e na Estação
Primeira de Mangueira em 1998, quando esta homenageou Chico Buarque e levou o
campeonato.
A
primeira vez que a Tom Maior foi promovida para o Grupo Principal foi em 1976,
quando venceu o Grupo 2. Permaneceu entre as grandes em 1977 e 1978. Tornou a
ser promovida em 1995 e em 1996 e 1997, de volta ao Grupo Especial, apresentou
em ambos os anos, sambas que teve Ideval Anselmo como um dos autores. São bons
sambas, diga-se de passagem. Retornou ao Especial novamente em 2000, para as
comemorações dos 500 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, mas
alguns problemas técnicos no desfile fizeram com que a escola não permanecesse
no grupo para o carnaval de 2001.
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