No final da década de 30, Alberto Alves da Silva, “Seu Nenê” acompanhado
do irmão Didi e Zé da Cuíca, entre outros, fazia rodas de samba no Largo do
Peixe, na Vila Matilde, entre as pernadas e a tiririca, herança dos escravos.
Estavam por lá Zaira, Zefá, Nenê, Didi, Aiaia, Cida e Odete (que acabaram
sendo as primeiras passistas da escola). Tókio, um menino talentoso da área,
deu a idéia de criar uma escola de samba. No ano novo de 1948, “seu Nenê”
foi tocar numa orquestra, desceu do trem na Vila Matilde e foi andando até o
Largo do Peixe. A idéia da formação da escola começava a ser delineada.
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Nenê de Vila Matilde foi fundado em 1º de
janeiro de 1949 na Rua Joaquim Marra, no Largo do Peixe, Vila Matilde, por um
grupo de sambistas liderados por Alberto Alves da Silva, o Nenê, um dos últimos
cardeais do samba, como são chamados os fundadores das escolas tradicionais
criadas nas décadas de 40 e 50. O nome é uma homenagem do professor Mário
Protestato dos Santos (o Popó) a esse grande sambista que, aos 76 anos, recebeu
o título de Presidente Imortal da agremiação. Antes de ser batizada como Nenê
de Vila Matilde a escola teve dois outros nomes que duraram apenas um dia, 31 de
dezembro de 49. Os nomes eram 1º de Janeiro e Unidos do Marapés. Seus
fundadores foram seu Nenê , Antônio Alves de Almeida "Tókio", Júlio
Francisco, Juvenal Tomaz, Geraldo Albertino, Geraldina Alves de Silva, Benedito
Alberto da Silva e também Balbino de Paula Sodré.
A
fundação da Nenê de Vila Matilde teve um episódio um tanto quanto divertido
e inusitado: um grupo de sambistas decidiu fundar uma escola, já que todos os
anos, na região de Vila Esperança havia muitos foliões que saíam às ruas
fantasiados para poderem brincar o carnaval. Quando foram registrá-la, o
responsável pelo registro perguntou ao grupo qual o nome que a escola teria e,
para surpresa geral, eles tinham esquecido de tratar deste assunto antes. O
funcionário, então, deu uma sugestão. Apontou para um dos membros do grupo
que era o mais falante, o mais comunicativo e não parava de batucar um só
momento. Perguntou "qual é o nome do rapaz que não para de sambar?" e o responderam "esse aí é o Nenê". "Então -
sugeriu o funcionário - por que não colocar o nome da escola de Nenê?". Na hora a sugestão foi aceita e a escola foi fundada com o nome
de Nenê de Vila Matilde.
Seu
Nenê - Alberto Alves da Silva - foi durante toda a vida da escola o seu
presidente. Só passou o comando em 1996 para seu filho, Alberto Alves da Silva
Filho, em razão da idade, mas continua a desfilar na sua escola. A casa do Seu
Nenê fica na mesma rua da quadra e ele é um grande personagem não só do
samba paulistano, mas de toda a Zona Leste, a mais populosa da cidade.
Outra data inesquecível
para a agremiação, foi em 10 de janeiro de 1970, quando foi batizada pela
Portela em sua própria quadra. "Foi a primeira roda de samba
televisionada", diz Nenê, o grande "Cacique", como é
carinhosamente chamado pelos integrantes da escola. Ele conta que estava no
teatro Santana, em São Paulo, assistindo a um show do sambista Paulo Benjamim
de Oliveira, (que enfatizava a marcação do surdo na marcha do samba), quando
se apaixonou pelo azul e branco das roupas dos integrantes. "Fiquei
fascinado pelas cores, então resolvi adotá-las para a Nenê", explica o
Cacique.
Em 1985 aconteceu aquilo que é a maior glória até hoje para uma escola de
samba paulistana: como campeã da cidade, a Nenê de Vila Matilde foi convidada
a pisar no chão sagrado da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, para
participar do desfile das campeãs, ao lado da Mocidade Independente e da
Beija-Flor, respectivamente campeã e vice daquele carnaval. E lá foi o pessoal
da Zona Leste mostrar o seu valor e a sua arte, comandados pelo Seu Nenê e
embalados pela voz do seu grande intérprete Armando da Mangueira. Tal feito
mereceu até uma menção no samba de 1988, "E o poeta falou: Zona Leste
somos nós!!!". O primeiro refrão diz "Está tudo aí para você
curtir / do Largo do Peixe à Sapucaí". Assim como a sua madrinha Portela
- de quem herdou as cores e a Águia como símbolo - a Nenê é tradição
quando o assunto é samba. Uma tradição que será preservada a cada carnaval
pelo povo de uma região inteira da cidade de São Paulo.
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