JUSTIFICATIVA
Mulheres Guerreiras, Rainhas de Todos Nós. Êh, Baiana! Com Sua Benção, a Leandro Conta Sua História e Celebra o Centenário do Samba.
"Falar de guerreiras do samba é falar de baianas, que são as cabeças coroadas pelos cabelos brancos, simbolizando a sabedoria africana dos mais velhos" (Helena Theodoro)
Mulheres guerreiras!
Quem vive no mundo das escolas de samba sabe a importância das baianas para a manutenção dos fundamentos da nossa cultura. São as mães e avós dos integrantes das escolas, são líderes das comunidades, organizam eventos, relembram de onde o samba veio e impedem que os desfiles percam o que tem de mais puro e essencial.
As baianas são alas obrigatórias nos desfiles das escolas de samba. Mas são muito mais do que isso: são fontes de inspiração, de arte, representam a garra feminina em sua plenitude. A Leandro de Itaquera pretende mostrar na passarela a força dessa história – uma história que vem de longe, que tem suas raízes fincadas na África, das mulheres negras que chegaram ao Brasil e contribuíram para a formação da nossa cultura.
Assim, a Vermelho e Branco da Zona Leste de São Paulo, com suas raízes e ancestralidades africanas, recebe as bênçãos das mães baianas, com seu axé e sua magia que encanta a passarela, para homenagear o filho maior dessas guerreiras: o samba, que completa 100 anos desde sua primeira gravação.
Axé!!! E Boa Sorte aos Compositores!!!
SINOPSE
SETOR 1 – Herança Africana
África.
Berço da vida e de toda a criação. Do tronco do Baobá, a árvore da vida, das divindades Iabás. Divindades essas que guiaram os caminhos das guerreiras africanas ancestrais, as Candaces, as “rainhas-mães”. Na África Antiga, a tradição respeita a força da mulher. Vem lá o sopro de Oduduwa e Obatalá, que deram início a vida.
A “Etiópia”, na época, na verdade, era a designação dada a Núbia, região que englobava toda a região do Vale do Nilo, o sul do Egito e parte do Sudão. Cabe salientar que o traje de baiana mais comum, predominantemente branco, por estudiosos chamados de “Baianas Muçulmanas”, tem sua origem justamente na forma como se vestiam as mulheres sudanesas.
Na África antiga, elas, as mulheres, eram parte importante de todos os momentos da vida em sociedade, inclusive chefiando governos, caso da rainha Amanisha-Kheto, do reino de Cuche, no Império Méroe, reino abençoado por Apedemak, o Rei Leão, que chega a ser citada na Bíblia:
“E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração Atos 8:27”
SETOR 2 – A Arte do Recôncavo Baiano- O Berço no Brasil
Na Bahia, mais precisamente na região do Recôncavo Baiano, a garra da mulher africana, que chegou ao Brasil durante a escravidão, deixou marcas profundas e criou uma identidade cultural tão forte com o meio que se tornou essencial para entender a própria história local. Trazendo consigo, suas raízes e sua fé, trabalhavam nas lavouras de cana e também no centro urbano – eram as chamadas “escravas ganhadeiras”, que faziam trato com os proprietários para venderem, nas feiras, o excedente da produção. Depois, essas mulheres pagavam, com o lucro, a própria alforria e de sua família.
Marcaram, também, as manifestações folclóricas locais, fruto do sincretismo e da mistura com as tradições de origem portuguesa. A encenação do “nego fugido”, tradição nas ruas do Acupe, remete à luta pela liberdade nos tempos de escravidão. Temos também o “lindro amor”, que é o petitório feito pelas baianas em benefício da festa de Nossa Senhora da Purificação. Durante a festa, é feita a lavagem do adro da Igreja, que leva milhares de turistas para Santo Amaro todos os anos.
SETOR 3 – A Influência das Baianas no Samba
Após as festas religiosas de cunho religioso, era a hora da festa do povo negro, e aí, entra em cena o samba de roda. Ligado à capoeira, à culinária típica baseada no azeite de dendê, e trazendo a viola e de tradição portuguesa, a música de roda é elo perdido entre os ritmos africanos e o samba carioca.
Os negros baianos migraram para o Rio de Janeiro no final do século XIX, e fixaram-se nos bairros situados entre o canal do Mangue e o Cais do Porto, onde a moradia era mais barata. Foi onde o samba carioca nasceu, em meios aos tipos urbanos, aos marinheiros e malandros. Lá, os baianos reproduziram sua cultura. Da evolução da música de roda nasceu o samba carioca.
Na Praça XI, no quintal de Tia Ciata, os músicos se reuniam e plantaram a semente do que hoje se tornou o desfile das escolas de samba. Ligadas às religiões de origem africana, as baianas se tornaram mães, biológicas ou “adotivas” (através do apoio e incentivo), de vários compositores, razões pelas quais também podem ser chamadas “mães do samba”.
SETOR 4 – Homenagens às Baianas – 100 Anos de Samba!
Não é a toa que vários artistas prestaram homenagens a elas. Caymmi deu à portuguesa Carmem Miranda o privilégio de cantar “O que é que a baiana tem? ”, onde são exaltados os balangandãs de seus trajes, inclusive as “pulseiras de ouro”. Mas é na voz de uma mineira, a guerreira Clara Nunes, filha de Ogum e Iansã, influenciada pelas baianas do samba, que o espírito dessas rainhas foi registrado em forma de canção.
Lá vem Clara, braços abertos, sorriso no rosto, abrindo sua boca e soltando a sua voz num grito forte, ditando o ritmo ao som do batuque:
“Ê, baiana
ê, ê, ê, baiana...”
E não pode-se esquecer da herança mais genuína das mães do samba. O próprio samba.
E com a benção de suas mães, e como uma grande homenagem, o samba, que completa 100 anos da gravação da canção “Pelo Telefone”, o primeiro samba gravado, permanece vivo em todas as suas formas. O samba, que fez raiz em São Paulo, e tem como a primeira escola paulistana, a Lavapés. Como uma homenagem as mães do samba, o símbolo maior em seu pavilhão é uma baiana. A ela, devemos muito, a raiz do nosso carnaval.
Não podemos deixar de prestar homenagem a todos os baluartes que mantem o samba vivo até hoje. Em especial, a Juarez da Cruz, o irreverente baluarte que, tantas vezes, trouxe o seu antigo “Bloco das Mariposas” fantasiado de baiana. O irreverente bloco transformou-se na Escola de Samba Mocidade Alegre. Hoje, lá de cima, com seu gorro e seu charuto, ele assiste atento o nosso carnaval paulistano, que ele tanto defendeu e defende. Obrigado, Seu Juarez! Baloarte Mestre!
*Nosso agradecimento e homenagem à Maria Aparecida Urbano, pesquisadora e escritora, que enriquece o carnaval paulistano com suas obras, mas principalmente pela pesquisa feita sobre as Baianas e sua cultura. Pessoas como ela, fazem nosso carnaval permanecer vivo. Muito obrigado (a personagem não faz parte do nosso enredo, por isso, não deve fazer parte do samba, mas merece nossa homenagem pelo engrandecimento ao carnaval paulista)
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