Em todas as criações do mundo, há um ou
mais elementos que ajudaram a civilizar, colonizar e a estruturar um
povo e sua cidade. Elementos são aclamados, enaltecidos e reconhecidos
como Deus ou até mesmo seu próprio filho. Muitos históricos se perderam
no tempo da memória, e o que restou se transformou em lendas, e
dependendo da forma como foram contadas se tornaram até surrealista; mas
como por traz de panos e lendas existe sempre um fundo de verdade,
desperta no homem o interesse em desvendá-las, e o Império Inca não
poderia ser diferente, pois é cercado de lendas, estórias e histórias
maravilhosas, graças aos padres espanhóis que as recolheram e
escreveram-nas.
Incas, um povo sem tribo e sem nação, um
punhado de índios vivendo desordenadamente, tendo como seu criador a
divindade Ínti o Deus Sol, e o seu filho Virachocha. Este, vendo o modo
bárbaro e selvagem que vivia seu povo, decidiu mandar para as
Cordilheiras seus dois filhos prediletos Ayar Manco (Divindade do Sol) e
Mama Ocllo (Divindade da Lua), para doutrinar e civilizá-los, e
transformando-os em uma família; e para tanto teriam que fundar uma
cidade onde abrigasse o templo de adoração ao Deus Sol e dos elementos
naturais (fogo, água, árvore e dos animais). Sabedor de uma terra de
difícil acesso, dá ao seu filho Aymar Manco um bastão de ouro o qual
deverá enfiar no solo, e se a terra for fértil e de fácil penetração,
ali será erguida a cidade sagrada.
Logo ao amanhecer chegaram ao Lago
Titicara, no exato momento em que o sol surgiu no horizonte. A riqueza
das jóias que brilhavam como estrelas de ouro, seus trajes riquíssimos
contrastavam com a paisagem árida e com a pobreza do lugar, e os índios
estavam doutrinados, faltava agora a segunda missão, e os irmãos não
encontravam o território ideal para erguer a cidade, até que uma certa
manhã onde o sol brilhava de maneira especial em um vale esplendoroso,
cercado de duas montanhas majestosas (Machu Picchu Velho e o Jovem),
Ayar finca o bastão no solo, o qual penetra sem nenhum esforço, surpreso
solicita ao povo uma pedra, a qual seria a pedra fundamental da
construção da cidade, e proclama: Nasce aqui Cuzco - O Império do Sol.
Dia e noite o povo Inca trabalhava na
edificação da cidade, com muita garra e determinação, tudo estava sendo
erguido com muita rapidez, mas com a mesma rapidez também era destruída
devido a altitude em que estavam e do vento forte que soprava. Viracocha
vendo as dificuldades ordena a Aymar Manco que prenda o vento e amarre o
sol com uma corrente de ouro, mas pra isso teria apenas mais um dia;
assim esperou o sol passar entre as montanhas, e o aprisionou, como
também o vento, prolongando assim o dia, e sem perder tempo Aymar e seu
exército de súditos conclui a cidade templo. Certificando-se, se tudo
estava pronto e firme pedra sobre pedra, canto por canto, liberta então
o sol e o vento, e em seguida esposa sua irmã Mama Ocllo, que são
aclamados pelos seus súditos, dando início a primeira Dinastia Inca, e
para completá-la Viracocha envia a Cuzco centenas de homens ricos,
mulheres nobres, ourives, tecelões e oleiros.
Séculos se passaram e os Incas se tornaram
um povo de cultura avançada, onde estudavam o sistema solar, a medicina,
a plantação de milho, o cultivo de begônias e orquídeas e sobretudo
muito ricos. Em 1531, à frente de soldados espanhóis montados a cavalos
e portando armas de fogo, o espanhol Francisco Pizarro chega ao Império
Inca, atraídos por história que falavam de imensas riquezas e um número
incalculável de reservas de ouro. Durante os primeiros meses foram
gradualmente conquistando o território Inca, acabando por se defrontar
com todo o exército Inca, um período negro de pestes, doenças,
emboscadas e aprisionamentos, muitos guerreiros morreram, tornando
iminente a decadência do império, como também a fuga de muitos outros
pelas encostas das duas montanhas (Machu Picchu), uma ligação entre o
Império Inca com a Planície Amazônica.
Quando da invasão espanhola, Machu Picchu
foi encontrada vazia, supõem-se que toda a sua população fugira para a
Planície Amazônica entrando em território brasileiro, e com o passar do
tempo seus costumes, vestimentas, rituais e forma de vida foram se
modificando devido as altas temperaturas, moldando-se a nova terra, mas
mantendo suas crenças.
Nos elevados planaltos dos Andes, ali onde
nascem alguns afluentes do Rio Amazonas, existem lagoas sagradas, é
nelas que se fazem rituais em honra à Caoaraci Deus Sol, e num desses
rituais o Cacique Araguari realiza seu ritual, quando foi informado pelo
Pajé da tribo que sua mulher e sua filha haviam sido tragadas pelo
Dragão da Lagoa. Desesperado pede ajuda ao Pajé que em transe começa a
visualizar o fundo da lagoa, e bem no centro avista sua mulher e sua
filha em companhia do Dragão, inconformado pede para que o Pajé solicite
ao dragão pra devolve-las, mas em vão e o cacique insiste até
enfurecê-lo, este bravejando diz que: quem chegasse próximo à lagoa
avistaria uma gigantesca serpente. Assustados os índios da aldeia pedem
ao cacique para que ofereça oferendas preciosas ao dragão para demovê-lo
da desgraça, e sem pensar muito ordenou que fosse recolhido todos os
objetos de ouro e esmeralda que encontrassem, que cultivassem toda a
resina que escorria das árvores, que preparassem uma grande quantidade
de ouro em pó, que caçassem pássaros cor de fogo, para seu cocar
semelhante aos raios de sol; madeiras para construir uma jangada. Alguns
dias depois, quando tudo estava pronto, Araguari segue para as margens
da lagoa, acompanhado por todos da aldeia. Quando atingiram a margem, o
cacique pede ajuda para quatro índios, dois seguraram as pontas das
cordas, uma ao norte da lagoa e o outro ao sul, o terceiro ao leste e o
quarto a oeste certificando que estivesse bem no centro da lagoa.
Tudo pronto restava apenas o dia raiar e
quando surgiu os primeiros raios, Araguari começou a se preparar, untou
o corpo com resina e salpicou da cabeça aos pés com o pó de ouro. Pôs na
cabeça o cocar de penas de fogo, prendeu guirlandas em volta dos joelhos
e pendurou nas orelhas seus imensos brincos em forma de disco, um colar
de ouro que cobria seu peito, e em seguida sobe na jangada, e nela
estava todo o tipo de objetos de ouro e esmeralda, e lentamente os
índios soltaram as cordas levando a jangada para o centro da lagoa. De
repente, o Sol aparece no meio das duas montanhas e o ilumina. Foi um
deslumbramento. O homem dourado, ou El Dorado, lançava para todos os
lados objetos de ouro, que brilhavam como fogo, mas sua mulher e sua
filha não retornaram, e por milhares de anos o cacique Araguari faz o
mesmo ritual ao nascer do Sol na esperança de um dia tê-las de volta.
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