“Aquele
que nunca seguiu um “cortejo
(que
nunca “celebrou”, “brincou”, “festejou”), que nunca foi
“folião
que
atire a primeira pedra!
(mas
eu prefiro que me atirem moedas)
(J.
Ivo Brasil – 2014)
Faz
parte da história da humanidade CORTEJAR (acompanhar ou seguir
alguém por ocasião de uma cerimônia ou “manifestação”) da mesma
forma que faz parte do ser humano “galantear”.
Quando
cortejamos, CELEBRAMOS, e para isso não existe situação ridícula
ou trágica, perfeita ou imperfeita, grande ou pequena, vigorosa ou frágil,
charmosa ou mágica.
O
que existe é a vontade, ou sabedoria, de um povo que luta pela sobrevivência
de sua própria cultura (caso ele queira se perpetuar), sendo que, todo
cortejo é atemporal, faz parte de qualquer época ou tempo, onde a
realidade pode brincar com a ilusão (ou vice-versa).
O
nosso desfile é uma grande celebração, um grande CORTEJO. Cortejo
em prol da sobrevivência de nossa cultura, que em pleno século XXI, é
mais ou menos popular. Popular
ou não, o fato é que a GRANDE ÓPERA, o grande teatro a céu
aberto, segue pelas ruas da cidade, pois, aquilo que temos (do sagrado
ao profano) é fruto de uma grande miscigenação e precisa
sobreviver.
CENA
01 - O
FIM É SÓ O COMEÇO.
O
Brasil é um dos poucos países que passaram por uma miscigenação tão
intensa, o que nos dá um legado amplo de atuação em diversos
segmentos. Com a sua colonização seu processo de povoamento é
realizado pelos povos ameríndios, portugueses, negros, imigrantes asiáticos
e europeus, essa é a “base” da “Terra Brasilis”.
Com
os portugueses veio um legado secular de integração genética e
cultural de povos europeus (Celtas, Romanos, Germânicos, Lusitanos....)
e partindo desse “primórdio” de formação de identidade cultural
brasileira, um dos festejos trazidos pelos portugueses ao Brasil é a
FOLIA DE REIS (uma das manifestações populares mais difundidas do
Brasil e rica em ritos e crenças próprias).
A
Folia de Reis está ligada a comemoração do culto católico do Natal e
que ainda hoje se mantêm viva nas manifestações folclóricas de
muitas regiões do país. Seu caráter é profano-religioso e faz parte
do ciclo natalino (24 de dezembro a 06 de janeiro), período relativo às
comemorações do nascimento de Jesus.
A
palavra “FOLIA” se refere a: brincadeira, festejo, diversão...(coisas
que o carnaval tem de so
bra)
Nessa
“brincadeira” são encenadas as passagens dos Reis Magos em busca do
menino Jesus, com muita dança e cantoria. Dependendo da região o nome
pode mudar para: Pastoral do Senhor Menino, Lapinha, Companhia de Reis.
Além
das figuras dos Reis Magos e de muitos outros personagens (coro, mestre
ou embaixador, bandeireiro ou alferes da bandeira e festeiro), umas das
figuras essenciais ao “cortejo” é a figura do BASTIÃO (nome dado
àqueles que se vestem de palhaço e acompanham a “folia” exercendo
a função de soldados de guarda).
Eles
saem à frente, com suas máscaras e danças, seus saltos acrobáticos e
facões, divertindo a todos e afastando os males, deste e do outro mundo
(personagens curiosos, intrigantes, sagrados, guerreiros e responsáveis
pela proteção da bandeira e da folia).
CENA
02 - ABRAM
ALAS QUE EU TAMBÉM QUERO PASSAR
“...Em
fevereiro (em fevereiro) Tem carnaval (tem carnaval)...”
(País
Tropical – Jorge Bem Jor)
Mais
uma herança portuguesa. O CARNAVAL no Brasil iniciou-se no período
colonial com o “entrudo” uma festa que era praticada pelos escravos
que saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e
bolinhas de água de cheiro nas pessoas, mas tais bolinhas nem sempre
eram cheirosas e a prática era considerada violenta e ofensiva, em razão
dos ataques às pessoas com os materiais, mas apesar de tudo era
bastante popular (até certo ponto).
Por
volta de meados do século XIX, depois de uma campanha difamatória, por
parte dos jornais, o entrudo passa a ser criminalizado e a elite do Império
passa a criar os bailes de carnaval ou Bailes de Máscaras, Bailes à
Fantasia ou Bals Masqués (o primeiro baile de máscaras público do
Brasil, por ocasião do carnaval foi realizado no Rio de Janeiro, por
volta de 1840). A partir daí, para a elite, o festejo passa a ser sinônimo
de luxo (danças, cantos, banquetes, músicas e especialmente máscaras).
Ainda
no século XIX, em 1899, foi composta a primeira marchinha de carnaval:
Ó abre alas, primeira marcha-rancho da historia do carnaval, composta
pela musicista brasileira Chiquinha Gonzaga para o cordão carnavalesco
Rosa de Ouro (a marcha de Chiquinha antecipou um gênero que só veio a
se firmar duas décadas após).
CENA
03 - SAI
O MOMO ENTRA O COELHO. SAI O COELHO ENTRA O DIVINO
Depois
da festa “momesca” (a festa da carne, para alguns) vem a Páscoa,
evento religioso cristão que celebra a Ressurreição de Jesus Cristo e
que significa “passagem”.
Vamos
aproveitar o ensejo e “passar” de um cortejo a outro, pois, nesse
aspecto religioso, comemorando a descida do Espirito Santo sobre os apóstolos,
aproximadamente sete semanas depois do Domingo de Páscoa, temos a FESTA
DO DIVINO.
Para
os hebreus, por exemplo, a Festa do Divino é um eco das remotas
festividades das colheitas e é no inicio da Baixa Idade Média que a
“festividade” vai se cristalizando e depois de muitos séculos,
provavelmente lá pelo século XVII, é que ela chega em “Terra
Brasilis”.
No
período colonial, apesar do caráter popular, o “cortejo” não
figurava entre as quatro festas oficiais celebradas por ordem da Coroa,
entretanto, no início do século XIX seu prestigio era tão grande que
em 1822 o ministro José Bonifácio escolheu para Pedro I o título de
Imperador, em vez de Rei (isso segundo Luís da Câmara Cascudo).
MOTIVO:
era muito grande a popularidade da figura do Imperador do Divino (criança
ou adulto escolhido para presidir a festa). De acordo com alguns
historiadores, em certas cidades ou vilas do interior, o Imperador do
Divino, com sua corte solene, chegava a dar audiência no Império, como
se fosse um soberano (ostentando as insígnias imperiais: coroa e cetro
de prata).
CENA
04 - O
CORTEJO DO BOI.
O
boi é um dos folguedos (festa popular) mais representativos da cultura
brasileira, pois, reúne traços de três grandes ramos da formação do
nosso povo (europeu, indígena e afro-negro), assim define Américo
Pellegrini Filho, folclorista da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar
de o bumba-meu-boi ser uma manifestação típica do folclore brasileiro
e de sua origem ser bem antiga, só em 1840, é que aparece o primeiro
registro da festa, no jornal O Carapuceiro, em Recife, sendo que sua
apresentação ocorre principalmente em festas juninas e mostra as relações
desiguais entre senhores de engenho, escravos e indígenas, numa sutil
crítica social.
Existem
enredos diferentes, entretanto, o mais aceito e representado, é a história
de um casal de escravos (Catirina e Nego Chico, também conhecido por
Mateus) que matam um boi da fazenda onde vivem e depois enfrentam a fúria
do senhor de engenho que exige que o animal seja ressuscitado.
CENA
05 - O
CORTEJO DOS SANTOS JUNINOS.
Santo
Antônio (o santo casamenteiro), São João (o santo festeiro) e São
Pedro (o santo porteiro).
Santos
populares cujas comemorações, FESTAS JUNINAS, são celebrações católicas
também vindas de Portugal (parte da tal miscigenação).
Elas
acontecem em vários países e são, historicamente, relacionadas com a
festa pagã do solstício de verão (no hemisfério norte) e de inverno
(no hemisfério sul).
Além
do BRASIL, essas celebrações são particularmente importantes em
outros locais: Dinamarca, Estónia, Finlândia, Letônia, Lituânia,
Noruega, Suécia, França, Itália, Malta, Portugal, Espanha, Ucrânia,
Canadá, Estados Unidos, Porto Rico, Austrália e muitos outros locais.
Aqui,
em Terra Brasilis, as comemorações foram inseridas aos costumes das
populações indígenas e afro-brasileiras, o que deu um tempero a mais
ao cortejo popular.
CENA
06 - O
CABOCLO VENCE O DRAGÃO DA TIRANIA
Nem
só de circo, pão ou vinho vive o homem. Nem tudo são flores, mas
Terra Brasilis, “tamu junto”, até que a morte nos separe, pois, um
filho teu não foge à luta.
Se
existe o “monstro da tirania” assombrando a “relação”, existe
o "verdadeiro brasileiro", o dono da terra, que soma seus
esforços aos demais “guerreiros”, insatisfeitos com a situação, e
vão à luta pela liberdade.
No
início da colonização brasileira é fato que os portugueses se
“miscigenaram” com os “índios” dando início a um processo
muito importante para a formação de nosso País, tanto que em 04 de
abril de 1755, D. José, rei de Portugal, assinou decreto autorizando a
miscigenação de portugueses com índios.
Mas
é fato também que estes mesmos portugueses aprisionaram, torturaram,
escravizaram e é claro que chega uma hora que é hora de LUTAR pela
nossa independência.
A
SABER:
A
importância do caboclo nessas LUTAS é tão importante que sem a sua
figura, o Dois de Julho (Dia da Independência da Bahia) seria uma festa
sem graça, sem fertilidade simbólica (como dizem o povo baiano). Tanto
é que a festa também é conhecida como a festa do Caboclo e da
Cabocla.
CENA
07 - INDEPENDENCIA
OU MORTE – O DIA DO BRASILEIRO!
O
dia 07 de setembro, Dia da Independência do Brasil, geralmente é
marcado por “cortejos cívicos”, na maioria das cidades brasileiras.
O mais famoso desses “cortejos” ocorre em Brasília, na Esplanada
dos Ministérios e em São Paulo no Sambódromo do Anhembi.
Manifestações
similares também ocorrem em outros países, onde há, teoricamente,
grande concentração de brasileiros, como é o caso do BRAZILIAN DAY
que atualmente acontece em: Nova Iorque, Toronto, Tóquio, Londres,
Luanda, Flórida, San Diego e Califórnia.
Entretanto
a “tal independência” teve um preço, e nós pagamos por isso.
Primeiro
pagamos a Portugal, que para reconhecer a “tal independência”
exigiu receber dos cofres públicos uma indenização de dois milhões
de libras esterlinas.
Depois,
mais caro que o valor financeiro, pagamos o preço das vidas dadas em
troca da “tal liberdade” e, até os dias de hoje, pelas ruas da
cidade, segue “cortejo fúnebre”.
CENA
08 - O
CORTEJO FÚNEBRE É PATRIMONIO DA HUMANIDADE
No
Brasil comemoramos o Dia de Finados, geralmente como algo triste, mas em
outros locais o dia de finados, ou DIA DOS MORTOS, é um dia celebrado
com muita festa.
No
México, por exemplo, essa é uma festa bem característica da sua
cultura e atrai muitos turistas de todo mundo às festividades.
Ou
seja: O tema pode ser mórbido para nós brasileiros, mas, para eles, é
uma animada celebração, cheia de tradições desde os tempos pré-hispânicos
e serve como atração turística.
A
festa conta com música, doces, bolos e as já tradicionais caveirinhas
de açúcar, que são as preferidas entre os mais jovens (as caveirinhas
com um manto e adornadas por flores tornaram-se símbolos da cultura
mexicana para outros países).
A
data é tão importante que é considerada pela UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como um
dos PATRIMÔNIOS DA HUMANIDADE.
CENA
FINAL
“CORTEJO
é qualquer acompanhamento que se faz a alguém por
ocasião
de uma cerimônia, seja civil ou militar, religiosa ou pagã”
(Dicionário
Online Português)
Independente
do século ou do país, se é pagã ou não, estamos falando de CULTURA,
seja ela popular ou não. E quando falamos em CORTEJO, estamos
defendendo todas as formas de culturas espalhadas por esse mundão de
Deus. Estamos falando da base da colonização brasileira. Estamos
falando, SIMBOLICAMENTE, de todas as raças que ajudaram a construir
nossa “Terra Brasilis”.
Desejo
a todos um excelente carnaval e que a “fogueira da paixão” possa
nos “iluminar” e nos livrar do “purgatório da ignorância”
pois eu quero mais é CORTEJAR.
BATAM
PALMAS QUE O CORTEJO VAI PASSAR.
HOJE
E SEMPRE QUE HOUVER OS “BASTIÕES” GUERREIROS E DEFENSORES DE NOSSA
CULTURA, POIS, O “CORTEJO DESLUMBRANTE TUDO ENVOLVE AO
DESPERTAR”.
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