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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.S.E.S. IMPÉRIO DE CASA VERDE - CARNAVAL 2010
Enredo: Itu, Fidelíssima Terra de Gigantes

O Grêmio Recreativo
Autor: Marco Aurélio Ruffinn

 

INTRODUÇÃO

Em mais um salto do Tigre iremos celebrar os 400 anos da cidade de Itu. Vamos conhecer a importância científica deste lugar para o mundo e navegar pelas águas claras e cristalinas do Rio Anhembi, em uma viagem paradisíaca até alcançar as terras dos Karijó, herdeiros legítimos desse chão.

Desde Maniçoba até a fundação da cidade, desvendar os fatos que se entrelaçam e se confundem com a história de São Paulo e consequentemente do Brasil. Glórias e conquistas de uma terra santa, de fé! De um povo gigante que soube fazer da força do trabalho a gênese da evolução de sua terra!

SETOR 1:  DO SUPERCONTINENTE PERDIDO GONDVANA À ERA DO GELO NO BRASIL! VARVITO, RICA FONTE DE SABEDORIA PARA A CIÊNCIA MUNDIAL!

Apesar de ser hoje um país tropical, existem evidências geológicas da ocorrência de pelo menos cinco idades glaciais no Brasil. Uma delas, ocorrida no final da Era Paleozóica, mais ou menos entre 296 e 268 milhões de anos atrás. Fato de extrema importância para a ciência, porque atingiu a região sudeste do Brasil.

O Supercontinente Perdido Gondvana , era formado pela América do Sul, península Arábica, África, Índia, Austrália, Nova Zelândia e Antártida, existiu durante quase toda a Era Paleozóica e começou a fragmentar-se no Período Jurássico, com a separação e migração dos continentes que o formavam. As mudanças de posição geográfica do Gondvana, passando pelo pólo e depois gradualmente deslocando-se para o Equador, durante o tempo geológico, podem ter sido uma das causas principais das mudanças climáticas que aí ocorreram.  O fato é que o manto de gelo formado sobre o Gondvana deslocou-se da África, chegando até o sudeste do nosso país. É a era do gelo no Brasil!

Vestígios geológicos de importância internacional encontrados em São Paulo, na cidade de Itu comprovam que a região vivenciou esse período.  Geólogos descobriram marcas, deixadas pelo atrito de um imenso bloco de gelo, nas pedreiras do Parque Varvito, que foram feitas há cerca de 350 milhões de anos. “O Parque do Varvito foi criado tendo em vista a grande importância dessa pedreira como documentário da História Geológica do Brasil. O reconhecimento da "laje de Itu” como varvito, em 1938, deve-se a Othon H. Leonardos, geólogo do então Serviço de Fomento da Produção Mineral do Brasil”. Vários cientistas estudaram cuidadosamente o varvito (um tipo de pedra sedimentar) e encontraram características sedimentológicas, paleontológicas, paleomagnéticas e de variação da espessura das camadas ou lâminas do varvito que comprovam semelhanças com as varves típicas do Período Pleistocênico. Os indícios também são fósseis de animais e plantas contidos nessas pedras.

Idades do gelo já ocorreram várias vezes na história da Terra, sendo que a última terminou há cerca de 12 mil anos, quando nós, Homo sapiens, já andávamos por aí. Imagine só, regiões imensas congeladas e constituídas por imensas geleiras. Somente a ciência para dar luz à história.

SETOR 2: ERRA DOS KARIJÓ! EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO,  NASCE OUTU GUAÇU PARA A GLÓRIA!

...E por falar em história, fatos notáveis de outrora, coroaram de glórias a cidade de Itu.

Contam, que pelas águas calmas, claras e cristalinas do Anhembi – rio de principal acesso ao interior (atual rio Tietê), um grupo de jesuítas liderados por padre Manuel da Nóbrega, alcançam uma região fascinante. Onde o verde se mostra em todos os tons. E que crescem pelos campos, concorrendo com a paisagem verdejante, orquídeas, avencas, begônias...verdadeiro deslumbre multicolorido da natureza! Concorrem também, árvores frondosas e milenares que fornecem tinta negra para a tatuagem dos índios, e cujos ramos curvam-se para o rio e seus frutos maduros, quando caem, desperta a gula voraz dos peixes – principal alimento das Anhumas, pássaros típicos das margens do Anhembi. O cantar da passarada desperta os Carijós, herdeiros legítimos desse chão! Dóceis, trabalhadores e até certo ponto de fácil relacionamento, atraíram logo a atenção dos jesuítas.

Em 1553, antes mesmo da fundação de São Paulo de Piratininga, estabeleceram um aldeamento para evangelização do “bom selvagem”. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo nascia Maniçoba. Provável origem do futuro povoamento de Outu-Guaçu, se não fosse constante os ataques de tribos rivais, que levou a aldeia, anos mais tarde, a sucumbir. Com a intensificação da colonização brasileira e a fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, a história seguiria outro curso.

O paulista se aventurava rumo ao interior do país. Navegando pelas mesmas águas, o objetivo agora é a expansão territorial do Brasil! No caminho do ouro e da prata, é a época das Bandeiras! Desbravando e conhecendo o vasto território à cata de índios para escravizar. E Outu-Guaçu, a “Boca do Sertão”, passagem obrigatória rumo ao porto de Araritaguaba – ponto de partida das expedições, seria o palco de disputas sangrentas entre índios e brancos, até 1595. Feroz crueldade contra os índios Carijós. Manuel Fernandes Ramos, valente e destemido bandeirante, conquistou as terras dos Carijós e anos mais tarde a deu em doação a seu filho, o também bandeirante Domingos Fernandes que com sua família fundou em 1602 um pequeno povoado, Outu-Guaçu (que em tupi-guarani significa cachoeira ou salto grande). Os Fernandes ficaram conhecidos na genealogia das famílias paulistas com o título de “povoadores dos sertões”. Em 1610 construiu uma capela e a consagrou, por honra e glória, à Nossa senhora das Candeias.

Os poucos habitantes dedicavam-se à agricultura e à pecuária de subsistência. No ano de 1653 foi elevada à Freguesia de Santana do Parnaíba. E em 1657, à Vila da Capitania de São Paulo, crescendo de importância e atraindo pessoas de expressão. Com o surgimento das monções – expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá, o povoado se expandiu e tornou-se importante posto de abastecimento.

SETOR 3: PUJANÇA ECONÔMICA NA FIDELÍSSIMA BERÇO DA REPUBLICA!

A vida no povoado ia se transformando, e quem deu vida à localidade foram os artesãos sapateiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, costureiras e fiandeiras, os quais ocupavam 119 casas. Os comerciantes interessados na venda de tecido, colchas e cobertores para outras regiões, promoveram o cultivo de algodão, e a produção caseira de tecidos.

As décadas se passavam. A fertilidade da terra impulsionou o desenvolvimento da cana de açúcar. Nascia a burguesia agrária, influenciando hábitos e costumes. A partir de 1776, o número de fazendas e engenhos de açúcar multiplicavam-se. O produto era exportado para a Europa implicando diretamente na demanda de mão de obra, que nesse período utilizava o tráfico negreiro para suprir a falta. Em pouco tempo o número de africanos em terras ituanas era quase a metade da população. Não demorou para que surgissem quilombos e histórias sobre a escravidão. Estava formada a gênese do povo ituano.Filho do índio, do branco e do negro!

Os anos seguiram... No fim do século a Vila achava-se à vanguarda da produção açucareira, fabricando mais de 1/3 de todo o açúcar fabricado em São Paulo. Enquanto isso, o desgaste da política colonialista no país já era notório. Em São Paulo a insatisfação ocasionou desordem na Província, a tal ponto, de ser necessário a vinda do Imperador Dom Pedro para acalmar os ânimos. O grito de independência seria inevitável. Com a lucratividade dos negócios, os produtores do interior paulista, vão ganhando espaço nas decisões econômicas do Império, e Itu, era contrário aos acontecimentos ocorridos em São Paulo, gerando um posicionamento político favorável ao Imperador. Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil; e por sua lealdade, Itu foi agraciada com o título de a “Fidelíssima”. O título aumentou ainda mais o prestígio da Vila, que em 1842, torna-se cidade; e com o decorrer dos anos a região mais rica de São Paulo, consolidando definitivamente todo o seu crescimento.

A crise internacional do açúcar, ocorrida em 1860, afetou diretamente o Brasil e consecutivamente os produtores rurais. A economia açucareira entrou em decadência. Agora o cafezal cobria o nosso chão! Gradativamente, a cana era substituída pelo plantio do café. Os próximos anos seriam de opulência! A expansão cafeeira motivou a implantação da Companhia Ituana de Estrada de Ferro revolucionando o desenvolvimento da produção. Surgia uma elite com novas idéias, de mentalidade vanguardista, interessada na reestruturação do país. Eram eles os cafeicultores de Itu e do interior paulista, que juntos compunham o grupo econômico mais poderoso do Brasil. Fundam o núcleo republicano e organizam na cidade a Primeira Convenção Republicana do país; tratava-se do posicionamento de Itu, perante a implantação de um novo sistema de governo. É criado o PRP, Partido Republicano Paulista. E em 1889, é Proclamada a Republica. A liberdade abriu as asas sobre o nosso país! E Itu notabilizou-se “Berço da Republica Brasileira”. Anos mais tarde, o ituano Prudente de Moraes é aclamado o Presidente da Republica, o primeiro Presidente Civil da história do Brasil.

SETOR 4: EBULIÇÃO CULTURAL E RITUAIS DE FÉ, EM UMA ROMA BRASILEIRA

Paralelamente aos fatos históricos, que coroaram de glória a cidade de Itu, o fausto orientado pelos ciclos econômicos, principalmente da cana de açúcar, proporcionou uma pujança cultural inigualável, favorecendo o desenvolvimento urbano. Para satisfazer os gostos e hábitos de uma elite em ascensão, foi construído o primeiro teatro do Estado de São Paulo o “Theatro São Domingos” palco de diversas apresentações de peças teatrais, balé, óperas e operetas. E por falar no assunto, em Itu foi escrito a primeira ópera brasileira, intitulada de “A Noite de São João”, de Elias Álvares Lobo em 1859, e encenada um ano depois, tendo inclusive a música regida por Carlos Gomes.

Um período de ostentação, luxo e riqueza proporcionando construções, reformas de casas, casarões, Igrejas, impulsionando inclusive as artes, decoração de altares e capelas, pinturas sacras e imagens religiosas. A materialização da fé! Itu cresceu à sombra da Igreja. Sua cultura reflete esta influência nos hábitos e costumes de sua gente. O espírito caipira, expresso no folclore e nas tradições: a cantarola dos violeiros, a boa prosa do povo, o sabor das iguarias de lá, procissões, festejos. Celebrações de fé. Na redenção dos pecados! A comunhão do pão... fiéis à “Santa Sé”! Igrejas colégios, conventos, ordens religiosas e irmandades, eram o centro da vida intelectual. Padres, franciscanos, carmelitas......, a crença definiu o perfil espiritual, “onde a paróquia é a célula máter da sociedade ituana”.

Roma Brasileira! Título que a cidade ganhou pela devoção de sua gente e pela representatividade do patrimônio arquitetônico das construções eclesiásticas. As marcas dessa religiosidade estão por toda a parte. As obras, daquele que é considerado o maior representante do barroco paulista do país: o padre Jesuíno do Monte Carmelo, ornamenta e decora várias igrejas. A Igreja Matriz é exemplo real, maior monumento do barroco paulista e uma das mais antigas paróquias do Brasil. Em conjunto, as cinco igrejas centrais formam um patrimônio que não existe em todo o Estado. A religião sacramentando o destino do lugar!

SETOR 5: DA INDUSTRIALIZAÇÃO À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL, ITU MUNICÍPIO VERDE!

Ainda fazendo história e movimentando a economia do país, no final do século 19, as altas cotações internacionais estimulavam a expansão da cafeicultura, permitindo que os fazendeiros fossem buscar na Europa, imigrantes para substituir a mão-de-obra escrava. O tráfico havia sido proibido em 1850 e a escravatura abolida em 1888.  O ouro verde gerava divisas, o que permitiu a importação de máquinas e equipamentos destinados ao nascente processo de industrialização nacional. A riqueza gerada por todo esse tempo irá favorecer outro momento da economia da região, o ciclo industrial.

O cultivo do algodão também tinha destaque na economia ituana e fomentou a construção, da primeira fábrica de tecidos da Província de São Paulo, a Fábrica de Tecidos São Luiz; possibilitando a presença de uma série de inovações tecnológicas para a transformação em fibras e fios. No rastro vieram a Tecelagem São Pedro e a Fabril Redenção, tornando-se importante centro têxtil do país. Grande foi a migração rural em busca de trabalhos nas fábricas, o homem do campo alcança o perímetro urbano.

O aspecto rural da cidade aos poucos deixa de existir. Em 1950, indústrias de cerâmicas se instalam na cidade que e a partir de então começa a receber empresas de diversos setores. Após 1970, com a construção da rodovia Castelo Branco, indústrias de fundição e cervejaria instalam-se em Itu, principalmente às margens de suas estradas de acesso; confirmando a vocação industrial desse chão.

Novos tempos se abrem para Itu. A cidade onde tudo é grande , fama imortalizada graças ao saudoso Simplício, tem um potencial turístico incrível. Conhecer os cantos, encantos e recantos é um convite a mergulhar em quatrocentos anos de história. Um encontro com nossa brasilidade e com os fatos que marcaram a evolução de nosso país. Uma cidade que não pára! E que está permanentemente buscando novos desafios. De natureza preservada, é “Município Verde” de responsabilidade sócio-ambiental pensando nas futuras gerações. Em permanente desenvolvimento, equilibra-se na sustentabilidade de suas ações e valoriza-se por cultivar a semente do trabalho, a gênese de toda sua evolução.

 


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