A
gênese de Heliópolis é apresentada em diferentes versões. É provável que
todas sejam verdadeiras e retratem fragmentos desse nascimento. Jovens
da comunidade preparam um histórico do assentamento, baseado em
conversas com antigos moradores. No início dos anos 90, a profª. Maria
Ruth Amaral de Sampaio, apresentou tese na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde reúne dados mais precisos
sobre a propriedade da gleba e como teria se dado sua ocupação.
O
terreno era de propriedade do conde Sílvio Álvares Penteado. Em 1942 foi
adquirido pelo IAPI - Instituto de Aponsentadoria e Pensões dos
Industriários, que perdeu em 1966 a pose da gleba, sendo transferida
para o IAPAS - Instituto de Administração Financeira da Previdência e
Assistência Social, a partir de então, o terreno foi dividido e
negociados em frações, além de construir, numa parte da área, o Hospital
Heliópolis, inaugurado em 1969. O instituto também vendeu as casas do
conjunto habitacional Vila Heliópolis, que haviam sido construídas pela
Família Álvares Penteado. Um trecho do terreno original foi negociado
com a Petrobrás e outra porção foi desapropriado pelo estado para a
Sabesp.
Heliópolis esta entre as maiores cidades nordestinas, com 125 mil
habitantes, com a diferença de que fica em São Paulo e aquele milhão de
metros quadrados entre os córregos Independência e Sacomã, destinados a
alojar,em 1970, famílias despejadas da Vila Prudente, constituem hoje a
maior favela da cidade. Favela, não – comunidade, corrigiria com justo
orgulho aquela cacofonia de sotaques paraibano, pernambucano, alagoano.
Em
1979, teve início as disputas de terra pelos grileiros, que pretendiam
impedir as ocupações e, assim comercializar a terra que não lhes
pertenciam. Os anos 80 marcam início das melhorias nas áreas com a
chegada de luz e água encanada. As ocupações ocorriam desgovernadamente,
mas já organizadas com apoio dos funcionários do Hospital Heliópolis e
da Pastoral de Terra. Outro marco importante para a comunidade,
aconteceu em 1983, quando três mil moradores reuniram-se em assembléia
para traçar estratégias de luta contra a ação violenta dos grileiros. A
partir daí, a comunidade passou a pesquisar a propriedade da terra e
pressionar o poder público para encontrar soluções para o problema
habitacional ali existente. Depois que a prefeitura instalou em
Heliópolis os primeiros alojamentos provisórios, novos moradores foram
chegando gradativamente e, construindo seus barracos nas proximidades.
Os próprios operários que trabalharam na construção do hospital e do
posto de atendimento médico acabaram ali se estabelecendo. A Cohab –
Companhia Metropolitana de Habitação comprou do Iapas algumas da áreas,
mas não conseguiu evitar que novos construções fossem feitas. Em 1986,
seis mil famílias foram cadastradas com a promessa de que a área fosse
urbanizada, o que não ocorreu. A prefeitura construiu casas e outras
foram erguidas no sistema de mutirão. Surgiu o conjunto habitacional
Delamare e a favela consolidou-se.
Foi
na luta e resistência contra a grilagem, que surgiu um importante
personagem na historia de Heliópolis, “JOÃO MIRANDA”. Este nordestino
que como tantos outros, saíram de sua cidade natal, para tentar a vida
em São Paulo. João Miranda é um grande líder comunitário pela sua
consciência social e política e nunca deixou de buscar seus direitos e
melhorias para toda comunidade. Chegou na década de 70, mas instalou-se
em 1980 com a esposa e seu filho que trouxera de Pernambuco, em um
descampado, numa antiga fazenda próximo a Estrada das Lágrimas. O local
era vazio mas havia alguns barracos amontoados e muitos campos de
futebol. A água brotava em abundancia com muitas minas, a maior delas,
onde as mulheres lavavam roupas e podia-se nadar, hoje é conhecida Rua
da Mina, ponto central da favela, assim como a Rua Paraíba local da
tradicional festa junina da comunidade. Hoje João Miranda é o atual
presidente da UNAS – União de Núcleos Associações e Sociedades de
Moradores de Heliópolis e São João Clímaco, o principal órgão
representativo da comunidade local. A entidade está organizada em
comissões de trabalho, que tratam de tema como saúde, educação, arte,
cultura, cidadania, esporte, lazer, prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis, reciclagem, etc. Entre tantos projetos de inclusão
social, coordenados pela UNAS podemos destacar:
-Biblioteca Comunitária: acesso a leitura
e cultura.
-Rádio Comunitária: a comunicação dentro
da comunidade.
-Projeto Agente Jovem: oficinas
profissionalizantes de marcenaria, escola de moda, produção de maquetes,
grupos de debates sobre temas como meio ambientes entre outros.
-Projeto Lata na Favela: inserção social e
ampliação do universo cultural através da música.
-Orquestra Bachareli: formada por
moradores ta comunidade e conhecida internacionalmente.
-Futuros Projetos estão em andamentos, como a arena cultural que
abrigará o cineminha, a feirinha para incentivar a criação do artesanato
e outras manifestações, galeria de exposições e pátio externo para a
realização de festas populares.
Um
novo capítulo na história da comunidade de Heliópolis começaria a ser
escrito no inicio de 2004, o da Inclusão Espacial, idealizado pelo
arquiteto Ruy Ohtake. Foi elaborado por ele e as lideranças da
comunidade, o projeto – Identidade Cultural de Heliópolis, que visava
valorizar os moradores e proporcionar uma expectativa concreta aos
jovens. E a cor foi escolhida como uma forma de identidade. A Rua da
Mina e a Rua Paraíba foram escolhidas como pilotos dessa missão. Após
pesquisa feita por jovens da comunidade e estagiários do escritório do
arquiteto, moradores dessas ruas puderam escolher a partir de um mosaico
de dezesseis cores, a preferida para suas casas. Ohtake projetou um
painel cromático, respeitando a cor que cada um fez, mostrando o estado
com que as casa se encontravam, a proposta cromática e a cor preferida.
Muita festa e alegria na apresentação. Selecionaram oito pintores
desempregados na comunidade, que iniciaram curso de capacitação
ministrado pela BASF, dona da marca Suvinil, que além de sua preocupação
social, foi fundamental, pois também doou as tintas previstas no painel.
Outra empresa que teve papel importante para a realização do projeto foi
o Banco Panamericano. O trabalho da pintura foi então iniciado e ao seu
final, comemorado com muita festa.
Começa então o novo desafio: a comunidade quer a continuidade das
fachadas coloridas, mas, de fato, a pintura não representa apenas uma
alteração na estética das Ruas das Minas e Paraíba. O trabalho realizado
demonstra o poder transformador da arte. As cores colocadas lá são uma
provocação aos moradores da comunidade e a toda a cidade. Tem o sentido
de alerta em favor das mudanças e é uma prova de que é possível alterar
a realidade. É claro que outras condições são indispensáveis: obtenção
de documento de posse, obras de infra-estrutura urbana, pois, ainda
existem os precários barracos de papelão e madeira amontoados às margens
e sobre o curso da Independência e Sacomã, córregos completamente
poluídos que percorre parte da área abrangida por Heliópolis.
Em 03
de Outubro de 2005, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da
Silva, acompanhado pelo ministro da cultura Gilberto Gil, visita
Heliópolis.
No
dia 22 de Outubro de 2005 é inaugurada a 6ª Bienal Internacional de
Arquitetura em São Paulo: o projeto Identidade Cultural de Heliópolis
faz parte do evento.
A
escola de samba Flor do Morro de Vila Alpina, tem a honra de homenagear
com esse enredo, a comunidade de Heliópolis, mostrando que é possível
através de luta e união, a transformação para um Brasil com mais
igualdade social e alcançar sonhos e esperanças para seus jovens.
Dedicamos este documento á Biblioteca
Comunitária de Heliópolis, através de seu coordenador Edson Arthur, que
nos forneceu importante material histórico, que nos proporcionou a
pesquisa.
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