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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.B.C. FLOR DO MORRO - CARNAVAL 2009
Enredo: Heliópolis - Cidade do Povo e das Cores

O Grêmio Recreativo
Autor: Cássio Roberto Passaes

 

A gênese de Heliópolis é apresentada em diferentes versões. É provável que todas sejam verdadeiras e retratem fragmentos desse nascimento. Jovens da comunidade preparam um histórico do assentamento, baseado em conversas com antigos moradores. No início dos anos 90, a profª. Maria Ruth Amaral de Sampaio, apresentou tese na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde reúne dados mais precisos sobre a propriedade da gleba e como teria se dado sua ocupação.

O terreno era de propriedade do conde Sílvio Álvares Penteado. Em 1942 foi adquirido pelo IAPI - Instituto de Aponsentadoria e Pensões dos Industriários, que perdeu em 1966 a pose da gleba, sendo transferida para o IAPAS - Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social, a partir de então, o terreno foi dividido e negociados em frações, além de construir, numa parte da área, o Hospital Heliópolis, inaugurado em 1969. O instituto também vendeu as casas do conjunto habitacional Vila Heliópolis, que haviam sido construídas pela Família Álvares Penteado. Um trecho do terreno original foi negociado com a Petrobrás e outra porção foi desapropriado pelo estado para a Sabesp.

Heliópolis esta entre as maiores cidades nordestinas, com 125 mil habitantes, com a diferença de que fica em São Paulo e aquele milhão de metros quadrados entre os córregos Independência e Sacomã, destinados a alojar,em 1970, famílias despejadas da Vila Prudente, constituem hoje a maior favela da cidade. Favela, não – comunidade, corrigiria com justo orgulho aquela cacofonia de sotaques paraibano, pernambucano, alagoano.

Em 1979, teve início as disputas de terra pelos grileiros, que pretendiam impedir as ocupações e, assim comercializar a terra que não lhes pertenciam. Os anos 80 marcam início das melhorias nas áreas com a chegada de luz e água encanada. As ocupações ocorriam desgovernadamente, mas já organizadas com apoio dos funcionários do Hospital Heliópolis e da Pastoral de Terra. Outro marco importante para a comunidade, aconteceu em 1983, quando três mil moradores reuniram-se em assembléia para traçar estratégias de luta contra a ação violenta dos grileiros. A partir daí, a comunidade passou a pesquisar a propriedade da terra e pressionar o poder público para encontrar soluções para o problema habitacional ali existente. Depois que a prefeitura instalou em Heliópolis os primeiros alojamentos provisórios, novos moradores foram chegando gradativamente e, construindo seus barracos nas proximidades. Os próprios operários que trabalharam na construção do hospital e do posto de atendimento médico acabaram ali se estabelecendo. A Cohab – Companhia Metropolitana de Habitação comprou do Iapas algumas da áreas, mas não conseguiu evitar que novos construções fossem feitas. Em 1986, seis mil famílias foram cadastradas com a promessa de que a área fosse urbanizada, o que não ocorreu. A prefeitura construiu casas e outras foram erguidas no sistema de mutirão. Surgiu o conjunto habitacional Delamare e a favela consolidou-se.

Foi na luta e resistência contra a grilagem, que surgiu um importante personagem na historia de Heliópolis, “JOÃO MIRANDA”. Este nordestino que como tantos outros, saíram de sua cidade natal, para tentar a vida em São Paulo. João Miranda é um grande líder comunitário pela sua consciência social e política e nunca deixou de buscar seus direitos e melhorias para toda comunidade. Chegou na década de 70, mas instalou-se em 1980 com a esposa e seu filho que trouxera de Pernambuco, em um descampado, numa antiga fazenda próximo a Estrada das Lágrimas. O local era vazio mas havia alguns barracos amontoados e muitos campos de futebol. A água brotava em abundancia com muitas minas, a maior delas, onde as mulheres lavavam roupas e podia-se nadar, hoje é conhecida Rua da Mina, ponto central da favela, assim como a Rua Paraíba local da tradicional festa junina da comunidade. Hoje João Miranda é o atual presidente da UNAS – União de Núcleos Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco, o principal órgão representativo da comunidade local. A entidade está organizada em comissões de trabalho, que tratam de tema como saúde, educação, arte, cultura, cidadania, esporte, lazer, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, reciclagem, etc. Entre tantos projetos de inclusão social, coordenados pela UNAS podemos destacar:

-Biblioteca Comunitária: acesso a leitura e cultura.

-Rádio Comunitária: a comunicação dentro da comunidade.

-Projeto Agente Jovem: oficinas profissionalizantes de marcenaria, escola de moda, produção de maquetes, grupos de debates sobre temas como meio ambientes entre outros.

-Projeto Lata na Favela: inserção social e ampliação do universo cultural através da música.

-Orquestra Bachareli: formada por moradores ta comunidade e conhecida internacionalmente.

-Futuros Projetos estão em andamentos, como a arena cultural que abrigará o cineminha, a feirinha para incentivar a criação do artesanato e outras manifestações, galeria de exposições e pátio externo para a realização de festas populares.

Um novo capítulo na história da comunidade de Heliópolis começaria a ser escrito no inicio de 2004, o da Inclusão Espacial, idealizado pelo arquiteto Ruy Ohtake. Foi elaborado por ele e as lideranças da comunidade, o projeto – Identidade Cultural de Heliópolis, que visava valorizar os moradores e proporcionar uma expectativa concreta aos jovens. E a cor foi escolhida como uma forma de identidade. A Rua da Mina e a Rua Paraíba foram escolhidas como pilotos dessa missão. Após pesquisa feita por jovens da comunidade e estagiários do escritório do arquiteto, moradores dessas ruas puderam escolher a partir de um mosaico de dezesseis cores, a preferida para suas casas. Ohtake projetou um painel cromático, respeitando a cor que cada um fez, mostrando o estado com que as casa se encontravam, a proposta cromática e a cor preferida. Muita festa e alegria na apresentação. Selecionaram oito pintores desempregados na comunidade, que iniciaram  curso de capacitação ministrado pela BASF, dona da marca Suvinil, que além de sua preocupação social, foi fundamental, pois também doou as tintas previstas no painel. Outra empresa que teve papel importante para a realização do projeto foi o Banco Panamericano. O trabalho da pintura foi então iniciado e ao seu final, comemorado com muita festa.

Começa então o novo desafio: a comunidade quer a continuidade das fachadas coloridas, mas, de fato, a pintura não representa apenas uma alteração na estética das Ruas das Minas e Paraíba. O trabalho realizado demonstra o poder transformador da arte. As cores colocadas lá são uma provocação aos moradores da comunidade e a toda a cidade. Tem o sentido de alerta em favor das mudanças e é uma prova de que é possível alterar a realidade. É claro que outras condições são indispensáveis: obtenção de documento de posse, obras de infra-estrutura urbana, pois, ainda existem os precários barracos de papelão e madeira amontoados às margens e sobre o curso da Independência e Sacomã, córregos completamente poluídos que percorre parte da área abrangida por Heliópolis.

Em 03 de Outubro de 2005, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, acompanhado pelo ministro da cultura Gilberto Gil, visita Heliópolis.

No dia 22 de Outubro de 2005 é inaugurada a 6ª Bienal Internacional de Arquitetura em São Paulo: o projeto Identidade Cultural de Heliópolis faz parte do evento.

A escola de samba Flor do Morro de Vila Alpina, tem a honra de homenagear com esse enredo, a comunidade de Heliópolis, mostrando que é possível através de luta e união, a transformação para um Brasil com mais igualdade social e alcançar sonhos e esperanças para seus jovens.

Dedicamos este documento á Biblioteca Comunitária de Heliópolis, através de seu coordenador Edson Arthur, que nos forneceu importante material histórico, que nos proporcionou a pesquisa.

 


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