1ª parte
A história registra que o vinho surgiu na Ásia Menor, por volta do ano 6000 a.C. Uma origem, portanto, quase tão antiga quanto a da humanidade. Inicialmente as uvas cresciam ao acaso na costa sul do Mar Negro, atual Turquia, e dali esse néctar dos deuses iniciou sua jornada de conquista de uma legião de admiradores nos quatro cantos do mundo.
Diz a lenda que no Olimpo vivia Dionísio, o deus do vinho e da embriaguez, da colheita e da fertilidade. Com a morte de sua mãe, foi entregue por seu pai, Zeus, para ser educado pelas ninfas de Nisa, na Turquia. Certa vez, passeando pela região, Dionísio deparou-se com as uvas e descobriu que delas se poderia produzir o vinho. Filho de pai divino e mãe mortal, ele não era aceito como deus. E, tão logo percebeu os efeitos da bebida que criara, decidiu utilizá-la para impor sua divindade aos homens e deuses.
Junto dele estava sempre seu cortejo mítico de ninfas, sátiros, bacantes e centauros. Viajavam pela Grécia, propiciando alegria e felicidade aos devotos. Das festas solenes em honra a ele nasceu o teatro – a tragégia. E das festas populares nasceu a comédia. Nestas celebrações, as pessoas vestiam-se com peles de bode, saíam em procissão ruidosa, cantando, dançando e declamando poemas pornográficos. Levavam falos gigantes — símbolo da fertilidade. E bebiam muito vinho.
Foi provavelmente casual a descoberta de que o suco de uvas esquecido em uma vasilha passava a ter um gosto diferente e que provocaria uma sensação prazerosa e inebriante. Por esse motivo, costumava ser usado em cerimônias religiosas. O efeito alcoólico, considerado mágico, era ligado às divindades. Na Mesopotâmia o vinho tornou-se a bebida favorita dos reis e símbolo de fecundidade.
Por volta de 1000 a.C., os fenícios difundiram a cultura da vinha pelo mundo antigo. Foram eles que levaram a uva para a ilha de Creta e para o arquipélago grego. O império romano fez chegar a cultura da vinha a Aquitânia, Ibéria, Gália, Germânia e a todas as suas colônias.
A Bíblia mostra que a bebida já fazia parte da cultura judaica no momento em que narra o milagre da transmutação da água em vinho, numa festa de casamento. Lá está também a frase mais célebre de todos os tempos em relação ao vinho. Durante a última ceia, Jesus disse aos seus apóstolos: “Tomai e bebei, este é meu sangue, que é derramado por vós”.
Com o fim do império romano e o advento das invasões bárbaras, a vinicultura foi preservada e desenvolvida nos mosteiros e abadias da Europa. Os franceses inventaram o barril de madeira e revolucionaram o mundo dos vinhos.
2ª. Parte
Atualmente a França é o maior produtor em variedades de vinhos finos do mundo, vindos principalmente da região de Bordeaux. O cultivo da uva já havia se iniciado na época da colonização romana. A partir do século 12 os monges encarregaram-se desta indústria — até a Revolução Francesa, no final do século 18, os vinhedos pertenciam aos mosteiros e à nobreza.
A Itália é o maior produtor de vinhos do mundo. Quem chega a essa terra sente de imediato a força de sua cultura milenar. É rica em tradições e abençoada com um clima ameno e propício ao cultivo da uva. No período em que o império romano começava a surgir, no século 5 a.C., os etruscos habitavam a região central da atual Itália. Prósperos comerciantes e hábeis artesãos, eles já plantavam uvas e produziam vinho, prática levada para lá pelos fenícios.
Na confluência dos rios Reno e Mosela foi fundada pelos romanos, no ano 14 a.C., a cidade de Confluentes, hoje denominada Koblenz. É a mais importante da região conhecida como Vale do Reno, maior produtora de vinhos da Alemanha. Naquele vale fica o mosteiro de Aberbach, onde se realiza anualmente um leilão dos melhores vinhos do país, seguindo a tradição de quase 200 anos.
Foi por seus vinhos licorosos que a Espanha se fez respeitada no mercado vinícola internacional. As primeiras vinhas chegaram pelas mãos dos fenícios. Rioja é a maior região produtora do país. Entre os vinhos que exporta, nenhum é mais famoso que o xerez. Trata-se de uma bebida forte, com personalidade própria.
Portugal tem seu lugar de destaque entre os maiores produtores. Seu vinho do Porto é único no mundo. As uvas são colhidas no final do verão, pelos vales dos rios Douro, Torto, Pinhão e Corgo. A monocultura da uva permite uma paisagem de sonhos, que na época da vindima ecoa cantos imemoriais. Depois de pronto, o vinho era transportado pelos barcos rabelos até os depósitos de envelhecimento em Vila Nova de Gaia. Por alguns anos ele descansa nas antiqüíssimas adegas, em tonéis seculares.
3ª. Parte
Há relatos de que as primeiras vinhas chegaram ao Brasil em 1532, com Martim Afonso de Souza, em sua capitania de São Vicente. Sabe-se que, em 1626, o padre jesuíta Roque González levou as primeiras mudas de uva para a região das Sete Missões, que passaram a ser cultivadas pelos índios guaranis. Quando as Missões foram destruídas, todas as culturas de alimentos que lá existiam foram exterminadas, inclusive as vinhas.
Por isso, a história do vinho no Brasil é mais recente, começa com a chegada dos primeiros imigrantes italianos, no final do século 19. Mal eles se enraizaram no país, logo brotaram as primeiras vinhas, frutificaram as uvas e o vinho nasceu sob os pés desses pioneiros. Nas adegas caseiras sempre se encontra uma mostarola, recipiente onde as uvas são depositadas para, em seguida, serem pisoteadas por um homem descalço, até se transformarem em mosto. Durante o processo habitualmente se canta uma canção da região de Trento, na Itália, que ajuda a manter o bom humor dos duendes que moram nos porões das adegas. São eles que filtram o mosto denso e o transformam em vinho. O Rio Grande do Sul é nosso maior produtor dessa bebida.
4ª. Parte
O vinho, bebida dos deuses, deu ao homem um derivado tão divino como ele mesmo — o vinho espumante. Essa bebida mágica tem como origem a região vinícola de Champagne, na França. Reza a lenda que no ano de 1670 o monge beneditino Dom Pérignon era responsável pela adega da abadia de Hautvilleres, na diocese de Reims. Tão amante das virtudes quanto dos bons vinhos. Foi surpreendido um dia com o pipocar das rolhas de suas garrafas de vinho. Surpreso, tratou logo de provar a bebida e, maravilhado, gritou para os outros monges: “corram, corram, venham ver, estou bebendo estrelas!” Dom Pérignon experimentou garrafas mais fortes e amarrou as rolhas com arame. Assim surgiu um vinho espumante delicioso, que depois seria batizado de champanhe. Quando se abre uma garrafa de champanhe o que sai dela é pura magia em forma de borbulhas. Essa mágica fez do champanhe a bebida escolhida para as celebrações.
A fama desse vinho espalhou-se por toda a Europa. Desde que os reis da França Luiz XIV (rei Sol) e Maria Teresa, após serem coroados na Catedral de Reims, brindaram os convidados com champanhe, ela passou a ser a bebida dos reis. No reinado de Luiz 15 esta bebida gerou muitas fofocas e uma delas dizia que o formato arredondado das taças foi inspirado nos seios de sua amante, madame Pompadour. Ela, depois de beber taças e mais taças, dizia: “O champanhe é o único vinho que deixa a mulher mais linda depois de bebê-lo”. Napoleão Bonaparte também foi um grande admirador da bebida: “Bebo champanhe na vitória para comemorar e na derrota para me consolar”.
O champanhe é um vinho vivo, borbulhante e possui uma característica bombástica: a retirada de sua rolha é uma verdadeira explosão. No Brasil, o hábito de tomar champanhe intensifica-se nos finais de ano. Delicioso e charmoso, esse vinho espumante tem o seu lugar garantido nas festas. A delicadeza de seu sabor, o glamour e o sentimento de alegria, fazem com que a bebida seja companhia indispensável nas comemorações. Símbolo da alegria e da esperança num futuro melhor, o champanhe é praticamente obrigatório em todo o país na noite de réveillon. A entrada de um ano novo sem aquele estouro da rolha não tem a mesma vibração.
Timtim! Feliz Ano Novo !