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::.. SINOPSE DO ENREDO ..::
G.R.C.E.S. MOCIDADE ALEGRE - CARNAVAL 2006
Enredo: Das Lágrimas de Iaty Surge o Rio, do Imaginário Indígena a Saga de Opara. Para os Olhos do Mundo um Símbolo de Integração Nacional: Rio São Francisco

Carnavalescos
Carnavalesco: Zilkson Reis

Setor 1
A Grande Invasão e o Despertar dos Maus Espíritos

Setor 2
O Domínio do El Dorado - Escravizando e Catequizando os Filhos de Tupã

Setor 3
O Vapor Encantado e as Lendas do Velho Chico

Setor 4
Povos Ribeirinhos - Fé, Arte e Cultura do Homem Sertanejo... Surge a Identidade Nacional

Setor 5
O Velho Chico e a Consciência de Preservação - O Caminho para a Integração Nacional e o Sol Reluzente da Ordem e do Progresso

Introdução

A Morada do Samba hoje vem exaltar um dos maiores símbolos naturais do nosso país. Sinônimo de nacionalismo, brasilidade e integração. Apropria-se da visão indígena para contar uma história na qual todos estão convidados para, juntos, fazermos essa viagem fantástica pela memória indígena, desvendando, em meio às crenças e rituais, os conhecimentos mais ancestrais da habitação da espécie humana sobre o solo brasileiro. E, assim, revivermos os encantos místicos de Opara, nome indígena dado ao Rio São Francisco, ou mais afetivamente falando "Velho Chico".

Devido à sua extensão gigantesca, muitas páginas da história do Brasil foram escritas em suas margens. Em meio à miscigenação sócio-cultural, a fé, a arte e a cultura dos povos ribeirinhos fizeram do rio um dos elementos responsáveis por dar uma cara, rosto e perfil ao brasileiro. Era o Rio São Francisco contribuindo para a construção da identidade nacional.

Pelas águas bravias e envolventes desse Rio, navegaremos na mais pura vocação para o progresso. Alcançaremos o despertar do índio adormecido dentro de cada brasileiro. Então, a consciência de preservação trilhará os caminhos para a integração nacional.


"... Vai comigo meu projeto entre sombras, minha luz de bolso me orienta ou sou eu mesmo o caminho a procurar-se?"

Carlos Drummond de Andrade, `Canto Brasileiro'

Avante Família Mocidade !!!

Origem do Rio no Imaginário Indígena

No imaginário indígena o rio teria se formado pelas lágrimas da bela Iaty, uma linda índia que fora prometida a um forte guerreiro. Porém, houve uma guerra nas terras do norte e todos os guerreiros se foram para a luta. Entre eles estava o prometido da formosa índia que tomada de saudades pelo seu amado chorou copiosamente. Como eram muitos, seus passos afundaram a terra formando um grande sulco. As águas passaram a percorrer o caminho aberto pelos guerreiros, escorrendo até o norte para então, encontrar-se com o oceano, e assim teria se formado Opara - nome dado pelos filhos de Tupã, os verdadeiros donos da terra - ao Rio São Francisco.

Setor 1

A Grande Invasão e o Despertar dos Maus Espíritos

Às margens de Opara, os donos da terra consagravam Kuat (Sol) e Jacy (Lua) em louvor à fartura da terra quando ouviram um intenso ruído vindo das águas. Só poderia ser ela, a Cobra Grande, entidade maléfica, voraz e com capacidade de transformar-se em outras formas para enganar os nativos.

Naquele dia, no imaginário indígena tomava a forma de uma imensa nau - embarcação até então estranha aos índios que habitavam as margens de Opara. Mas só até aquele momento, pois a visão da chegada de uma nova espécie humana, o homem branco, transformaria para sempre a saga indígena em solo brasileiro.

Aquela embarcação, que aos olhos dos índios se apresentava como um espírito maléfico, era o navio de Américo Vespúcio e sua chegada mudou definitivamente o destino da habitação indígena no Novo Mundo. A chegada do homem branco invasor causou o despertar dos maus espíritos que habitavam as profundezas de Opara.

Setor 2

O Domínio do El Dorado - Escravizando e Catequizando os Filhos de Tupã

A presença da Cobra Grande era tão ameaçadora aos índios que até mesmo Kuat (Sol), sob a influência dos maus espíritos, teria se acovardado. No entanto, corajosamente Jacy (Lua) se apresentou para proteger aquele paraíso tropical e seus habitantes dos olhos de cobiça do homem branco invasor. Foi então que a natureza presenciou a Grande Noite, que durou três dias.

Porém, Jacy (Lua) imaginava que a presença daqueles novos seres, conduzidos à aldeia pela Cobra Grande, seria passageira. Mas ao verificar que o destino daquele sagrado templo da natureza havia sido modificado eternamente, convocou Kuat (Sol), já liberto das influências dos maus espíritos, para juntos protegerem a fauna e a
flora, e assim se restabelecia o ciclo natural do dia e da noite.

Após o despertar do deus Kuat (Sol) e com a luminosidade natural vinda dos céus, as riquezas naturais daquele paraíso tropical estavam evidenciadas e na obcecada busca pela conquista do Novo Mundo, o homem branco invasor lançava seus sentimentos de cobiça e ambição, até então totalmente desconhecidos dos povos indígenas. Estava iniciada uma nova página na história do Rio São Francisco. O índio passara a presenciar e sofrer as conseqüências do desbravamento do Rio realizada pelos bandeirantes em busca do "El Dorado", terra prometida que, na visão do Velho Mundo, oferecia fartura de riquezas animais, vegetais e minerais.

A luta pela posse da terra fora feroz. Após sangrentas batalhas, o dono da terra, já escravizado, sustentara a exploração e o acúmulo de riquezas do branco opressor. E, com a descoberta de ouro, diamantes e outras pedras preciosas no Alto São Francisco, a colonização desta área consolidara o domínio sobre a inocência e fragilidade indígena.

Como se isso não bastasse, surgiram as Missões Católicas que na verdade não passavam de mais uma manobra violenta. Na ânsia de facilitar o domínio do habitat, o branco propagava a fé católica ignorando assim toda e qualquer crendice do real dono da terra. Este por sua vez, vira sua fé invadida tanto quanto sua terra.

Os filhos de Tupã (Deus Maior), de almas puras e totalmente integradas à natureza passaram a clamar aos seres encantados da floresta pelo fim das mazelas originárias do Velho Mundo. Pediam pelo fim das dores e sofrimentos trazidos pelos Filhos do Trovão (nome que os índios deram ao branco invasor).

Setor 3

O Vapor Encantado e as Lendas do Velho Chico

Todos os seres vivos do Universo estão interligados e os povos indígenas sabiam, pela intuição e o coração, que teriam de dividir eternamente sua terra com o invasor. Pelo fato de possuir uma íntima comunhão com tudo que existe no Universo e saber relacionar-se com os mistérios da natureza, o índio libertou-se das influências do invasor e passou a buscar um reencontro com seu destino na imensidão das matas. Manteve-se integrado às forças que movem a existência da vida. Não abandonou a celebração da fauna e da flora, tesouros estes que garantia e cobria-lhe de farturas.

Fora justamente este movimento indígena voltado à natureza e seus fenômenos que contribuiu para que o Rio São Francisco exercesse fascínio entre o espírito humano. Tornara-se um berço de lendas, mistérios e encantos carregados de reminiscências ancestrais. Seus povos aprenderam a explicar o surgimento da vida projetando na
natureza a própria imagem do homem.

O índio desejara encerrar um período sangrento e traumático de sua saga às margens de Opara. Para isso, promoveu o Toré, ritual de purificação aonde seus participantes buscavam, na dança e magia do grande Pajé, expiação para minimizar seus males e sofrimentos. Ainda que com a ameaçadora presença bandeirante, foi tomado por um sentimento de esperança que o fortaleceu, pois sempre acreditou que mais forte que a morte era o respeito e o amor que ele sentia pela natureza. Sendo assim, estava recriado o elo com os segredos que permeavam o rio.

Dentre os rituais de celebração às bênçãos de Tupã (Deus Maior) está a sagração ao eclipse, fenômeno natural que na visão indígena representa a fertilidade da terra. Tal fenômeno é um sinal de que a Mãe Natureza, tornara-se novamente fértil e seu espírito materno e acolhedor, oferecera fartura de fontes de vida e riquezas. Momento mágico e propício à união entre Jacy (Lua) e Kuat (Sol), selando com as bênçãos dos seres elementares (água, terra, fogo e ar) a essência da presença humana sobre a Terra.

Mais tarde, lendas e mistérios originados do imaginário indígena sobre o Rio São Francisco ultrapassaram as barreiras do tempo e povoaram a mente do homem sertanejo, que colonizou e encontrou às margens do Velho Chico o seu meio de subsistência. Na cultura do homem ribeirinho surgiram mitos originados da visão indígena. Segundo as crenças dos homens do lugar viveriam, nas profundezas do rio, seres aquáticos em convivência pacífica, porém, sempre sob a ameaça do despertar dos maus espíritos (Cobra Grande).

Mas, nenhum outro fenômeno natural carregou tantos mistérios como as noites de lua cheia. Tal fenômeno seria propício aos seres mitológicos do lugar: como por exemplo a Mãe D´água (Iara) e o Pescador Encantado. Conta a lenda que, na figura de uma mulher muito atraente, Iara atraia os pescadores, e os levavam para as profundezas do rio tornando-os seres encantados. Segundo essas histórias, muitos foram os atraídos pela mãe d'água e que desapareceram misteriosamente quando pescavam em noites de lua cheia.

E em sua mais célebre lenda, o Velho Chico acolhe a estória do Vapor Encantado. Tal embarcação, transportando fidalgos e vassalos que rumavam para o Alto São Francisco numa das várias missões de colonização, teria naufragado numa noite de lua cheia enquanto sua tripulação dançava e festejava. Pratarias, tecidos nobres e objetos valiosos daquela gente que nunca chegara a seu destino, desceram ao fundo do leito do rio. Segundo o relato dos povos ribeirinhos, em noites de lua cheia, o navio retorna a superfície no trecho entre Januária e Bom Jesus da Lapa para reviver os momentos de glória e festejos. Todos afirmam ver um navio iluminado que desaparece numa intensa névoa quando algum sertanejo curioso dele se aproxima. Vale ressaltar que nessas visões, o vapor nunca chega a porto algum.

Setor 4

Povos Ribeirinhos - Fé, Arte e Cultura do Homem Sertanejo... Surge a Identidade Nacional


Para o índio, tudo tem seu real brilho e valor, e o ser humano existe para dançar e festejar esse brilho. Daí a razão das muitas festas e das intermináveis danças, cheias de alegria. Essa capacidade de festejar foi sendo transmitida ao homem ribeirinho, produto da mistura do índio e do luso, com laivos de sangue negro. O sertanejo são-franciscano ou nordestino é a perfeita encarnação do tipo bandeirante rijo, que lutou com a natureza, devassou os sertões intransitáveis, dominou os selvagens, repeliu o elemento estranho e fez prevalecer suas características muito próprias através de ricos exemplos de fé, arte e cultura regional.

No coração do Brasil, o rio presencia, em suas margens, o surgimento de um legado cultural de valor inestimável. Por meio da formação e estabelecimento dos povos ribeirinhos, surge a verdadeira nacionalidade. Esses homens e mulheres souberam resguardar as riquezas culturais tanto da própria terra, quanto as de outros continentes. Estava criada a cultura sertaneja que passou a deixar marcas que jamais serão apagadas na maneira do sertanejo sentir e ver o mundo. Dentro de sua alma e sangue vive uma poderosa energia capaz de interferir na linguagem, nos conteúdos de seu imaginário e nos costumes que caracterizam seu cotidiano. A fé, a cultura e a arte ribeirinha fizeram com que o Rio São Francisco contribuísse para a construção da identidade nacional.

Sob a influência católica, surgiram tradições e rituais de fé como a Romaria ao Senhor dos Navegantes , a Festa do Divino Espírito Santo e a Folia de Reis. Em Alagoas, estabeleceu-se o Quilombo dos Palmares que fomentou a presença africana nas margens do Rio São Francisco. Os quilombolas consolidaram e difundiram a cultura negra na região. Constatando a miscigenação cultural ocorrida na região são-franciscana, surge a festa dos Caboclos, Marujos e Catopês. Há ainda a apresentação do grupo de Bacamarteiros onde atiradores de bacamarte detonam grandes cargas de pólvora seca, em homenagem aos santos padroeiros.

No entanto, na vida sertaneja nem tudo são festejos e comemorações. O nordestino, deteriorado pelo tempo, massacrado pelo descaso, insiste em permanecer forte. Caminha sobre os trilhos do sol em busca da estação felicidade. Sua crença em dias melhores define o destino dessa gente que vê no Velho Chico uma possível solução para sua "Vida Severina".

Quanto à arte ribeirinha a diversidade é enorme. A arte em barro e as rendas do nordeste caracterizam de forma única o artesanato popular dos povos ribeirinhos e os repentistas e as bandas de pífanos traduzem sua musicalidade. Porém, a maior demonstração de arte regional são as "carrancas do Rio São Francisco" que personificam a eminente presença de seres encantados cuja função era a de proteger as embarcações, espantando os maus espíritos que habitavam as profundezas do Velho Chico. Desenvolveu-se na região do São Francisco uma arte própria e os artistas populares denominados "carranqueiros", apoiados na idéia de esculpir um enfeite de proa, criaram soluções plásticas próprias, de elevado conteúdo artístico e emocional, provocando verdadeiro impacto.

Setor 5

O Velho Chico e a Consciência de Preservação - O Caminho para a Integração Nacional e o Sol Reluzente da Ordem e do Progresso

Se olharmos para as riquezas e possibilidades de desenvolvimento que o Rio São Francisco nos oferece, entenderemos que é chegada a hora de encarar a responsabilidade do homem contemporâneo de explorar com responsabilidade os recursos do rio. Nos mitos indígenas, seres humanos, cobras, peixes e plantas interagem, convivem. Por tanto, é preciso preservar a Biodiversidade (variedade de espécies vivas) da região do Vale do São Francisco, instituindo o que sabemos pela ciência empírica (que se apóia exclusivamente na experiência e na observação, e não em uma teoria): todos formamos uma cadeia única e sagrada de vida.

Todos devemos, assim como os índios, nos tornarmos "ecologistas". Devemos preservar a verdadeira ilha de recursos que o Rio São Francisco possui. Devemos torná-lo um santuário ecológico, preservando o que de certa forma foi plantado, cultivado e colhido pelos índios. Temos de respeitar a terra como mãe a fim de encontrarmos o equilíbrio entre o Homem e a Natureza.

A complexidade da vida gera sentimentos de prisão e angústia. O Homem precisa reencontrar o espírito da paz que tanto o índio cultivou às margens do Rio São Francisco. É preciso encontrar a liberdade, o dom mais precioso, pelo qual construímos a nossa identidade e moldarmos nosso destino. Com isso, o Brasil deixará de sonhar com o futuro para tornar-se um Brasil, país com futuro.

E quando o povo brasileiro passar a valorizar e preservar suas riquezas naturais com responsabilidade propiciará o surgimento de uma verdadeira integração nacional, gerando e dividindo os frutos do desenvolvimento, alimentando a esperança de uma nação verdadeiramente digna para que possa reluzir o sol da ordem e do progresso, iluminando o solo brasileiro e as águas bravias desse rio, que mais parece uma artéria a pulsar no coração desse país, levando amor e fartura aos guerreiros de uma tribo chamada Brasil !!!

Autor do Enredo: Sidney França


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