Em 1840 o Brasil era um grande Império,
cercado de Repúblicas por todos os lados. Após o conturbado período das
Regências, os liberais viram na antecipação da maioridade do pequeno Dom
Pedro II, uma forma de garantir a estabilidade. O povo via no menino o
consolidador da nossa independência, como o monarca que, nascido em solo
brasileiro, iria se voltar para os interesses da pátria. No dia 18 de
julho de 1841 foi realizado o ritual de sagração e coroação de D. Pedro
II. Nos trajes de gala do Imperador, os símbolos da terra: o manto
verde, como a nação, era bordado com as estrelas do céu do Brasil, e
suas principais riquezas; o cacau, o café e o tabaco. Dois anos depois o
Monarca do Brasil casava-se com D. Tereza Cristina de Bourbon, princesa
napolitana.
Aos 18 anos o Imperador já era muito
popular, e se revelava um estadista atuante. Para trazer autonomia
cultural ao Império, e colocá-lo na vanguarda do progresso, criou o
primeiro selo postal brasileiro, o olho-de-boi, implantou no país as
novidades da tecnologia, como o telégrafo, a fotografia e o telefone.
A estabilidade do Império assentava-se no
funcionamento do sistema parlamentarista, e, de acordo com a
constituição, negros e índios não faziam parte do conjunto de cidadãos
brasileiros. Sendo propriedade de outrem, o escravo não possuía qualquer
direito, não podia adquirir propriedade nem reter para si os frutos do
seu trabalho. Mas com o decorrer do Segundo Reinado, alguns direitos
foram adquiridos. Em 1881 foi aprovada a reforma eleitoral, instituindo
o sufrágio universal, garantindo a integridade dos direitos políticos
aos libertos. Quatro anos depois foi assinada a Lei dos Sexagenários.
A NOBREZA, A BURGUESIA E O PRÍNCIPE DO
POVO
No Segundo Reinado o quadro era de rigidez
social, e as possibilidades de mobilidade eram poucas e controladas pelo
segmento dominante. A nobreza, que tinha em seus títulos nobiliárquicos
nomes indígenas, buscava regras de comportamento na tradição européia. A
realidade local oscilava entre o conforto dos bairros burgueses e uma
cidade negra com hábitos africanos. A concentração de negos nas ruas
estendia-se desde o Valongo, local de venda de escravos, até a cidade
nova sobre o mangue, região que ficaria conhecida como a África Pequena
do Rio de Janeiro. Aí vivia D. Obá II d'África, Príncipe do Povo. Filho
de africano forro, o alferes Galvão, que lutou na Guerra do Paraguai,
era considerado amalucado pela "boa" sociedade, mas respeitado pelo
Imperador, que lhe reconhecia o valor e a bravura. Era reverenciado por
escravos e negros livres, que, em nome de sua soberania e do seu cetro
imaginário, dobravam o joelho no pó das ruas para receber a sua bênção.
D. Obá II, o príncipe das ruas, seria até o fim do Império, o mais fiel
vassalo de D. Pedro II.
O ROMANTISMO
Na literatura, adotou-se aqui um
romantismo de cunho nacionalista. Esse país imenso e de natureza
exuberante, era cenário ideal para romances com heróis indígenas e
amores silvestres. Mesmo não se sabendo muito sobre o índio, o
indianismo foi a manifestação mais "brasileira"do romantismo. Em 1857
José de Alencar publicou O Guarani, e 8 anos depois, Iracema, "A Virgem
dos Lábios de Mel", o romance ícone da geração.
Gonçalves Dias publica I-Juca Pirama, obra
prima da poesia indianista, de conteúdo épico-dramático, e o célebre
poema Canção do Exílio.
O poeta baiano Castro Alves foi a voz do
povo e dos escravos, em "O Navio Negreiro" o poeta desfilou os horrores
do tráfico e invocou a liberdade.
Com o mecenato de D. Pedro II, a Academia
Imperial de Belas Artes adaptou-se ao projeto romântico. O Imperador
passou a distribuir prêmios e bolsas para o exterior, aos artistas
(pintores e escultores) de maior destaque.
Também na música o Imperador encontrou um
pupilo: Carlos Gomes, paulista nascido na cidade de Campinas.
Impressionado com o seu talento, D. Pedro II mandou-o à Itália para
fazer aperfeiçoamento musical. Sua ópera mais conhecida é o Guarany,
inspirada no livro de José de Alencar.
A GUERRA DO PARAGUAI
A despeito da imagem de país pacífico, o
Brasil manteve, ao longo do período de apogeu do Segundo Reinado, sérios
e constantes conflitos com os países limítrofes. A Bacia Platina era de
importância capital, sendo a principal responsável pelo comércio da
Argentina, do Uruguai e do Rio Grande do Sul, e o único escoadouro para
o Paraguai e o Mato Grosso.
Solano López, o líder paraguaio, entrou
rapidamente em choque com o exército brasileiro, aprisionando o vapor
Marquês de Olinda e penetrando em Mato Grosso. Em abril de 1865 invadiu
a Argentina, investindo em seguida sobre o Rio Grande do Sul. A 1º de
maio do mesmo ano, o Império do Brasil e as Repúblicas da Argentina e do
Uruguai celebraram entre si o tratado da Tríplice Aliança, se
comprometendo a lutar contra o Paraguai até a derrota de suas forças e a
deposição de Solano López. Em 1866 o comando das tropas aliadas foi
entregue ao Duque de Caxias, que acabou vencendo o exército paraguaio.
O BRASIL AGRÍCOLA, O COMÉRCIO INFAME E
A INDUSTRIALIZAÇÃO
A grande propriedade agrária, monocultura
e escravista foi o núcleo da vida econômica no Brasil monárquico. Após
intensa pressão internacional, foi proibido o tráfico negreiro. Como boa
parte do capital disponível era imobilizado na compra de escravos, com a
extinção do tráfico uma massa de recursos financeiros ficou disponível
no país.
Para alguns historiadores esse foi o
momento de maior transformação econômica na história brasileira, e um
dos maiores responsáveis por esse progresso foi Irineu Evangelista de
Souza, o Barão de Mauá, que decidiu apostar sua fortuna para fazer uma
revolução industrial no país. Abriu fábricas, bancos, construiu a
primeira ferrovia brasileira, criou companhias de navegação e implantou
a iluminação a gás no país.
Estando bem a economia do país, a 2 de
julho de 1851, através do Decreto 801, vinte e dois após a liquidação do
primeiro Banco do Brasil, o Império viu abrirem-se as portas de outro
com o mesmo nome, resultado de uma iniciativa particular do Barão de
Mauá.
O café era a base da economia brasileira,
e a partir de 1850, a produção estendeu-se pelo interior paulista, após
ter ocupado todo o Vale do Paraíba. Com a necessidade de mão de obra o
aumento da produção de café, e proibido o tráfico de escravos, o governo
passou a financiar a vinda de imigrantes. O futuro das lavouras ficava
nas mãos dos colonos europeus, e o Império mudava sua imagem, se
"branqueando".
O Ciclo da Borracha foi o primeira
empreendimento levado no Brasil sem o auxílio de mão de obra escrava. A
vinda dos imigrantes, que chegavam na esperança de enriquecimento
rápido, causou a ocupação do imenso espaço amazônico, iniciando o
desbravamento e povoamento das terras do Acre, que, pretendidas pelo
Peru e pela Bolívia, seriam incorporadas ao Brasil.
O MOVIMENTO ABOLICIONISTA
Com a vitória na Guerra do Paraguai, o
país viveria um período de aparente tranqüilidade. Mas como acreditar em
tranqüilidade e paz, se a escravidão era a pior das mazelas, que devia
ser combatida em prol da justiça e da liberdade. Artistas, intelectuais
e estudantes, voltando da guerra, engrossaram as fileiras do movimento
abolicionista. Sob a liderança de José do Patrocínio, filho de escrava e
senhor, reúnem-se as associações abolicionistas em uma confederação, que
apresenta um manifesto ao parlamento do Império. No dias 13 de maio de
1888 os abolicionistas recebem a recompensa pela longa luta. Sob uma
chuva de rosas, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a
escravidão no Brasil.
O BAILE DA ILHA FISCAL
Em 1889 o clima era de tensão no Império.
O movimento republicano conseguia a adesão dos fazendeiros, e ganhava os
quartéis. O Império precisava mostrar a sua imponência, e resolveu
realizar um grande baile. O palácio da Ilha Fiscal foi transformado em
um salão iluminado por milhares de velas. No carnê de danças, a
seqüência rigorosa de estilos: quadrilha, valsa, polca, mazurca e
galope. Reuniram-se no mesmo salão liberais e conservadores, a corte e
toda a nobreza, e até mesmo o primeiro-tenente da Marinha, José Augusto
Vinhaes, que teria um importante papel no golpe que selaria a sorte do
Império, seis dias depois. A 15 de novembro de 1889, é proclamada a
República. O Imperador parte com toda família para o exílio na Europa.
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